Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 28
Coronel Chicão


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários, dessa vez vocês me deixaram tão feliz, já que o capítulo teve um monte de comentários kkkk. Esse capítulo é dedicado a todas que comentaram, mas a dedicatória especial para a Larissa Andrade do RN, que recomendou a história. Eu fiquei tão feliz com isso. Veleu.Agora com certo receio vou deixar o capítulo



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“Só tem um motivo para a Laura não querer se casar com um moço tão bonito quanto o Edgar. Outro moço tão bonito ...”

Celinha em Lado a Lado

Por Lauro

Francisco Pontes, ou como era chamado, Coronel Chicão era um homem que devia ter em volta dos 40-45 anos. Tinha os cabelos, e os olhos escuros, com orgulho ostentava um bigode. A pele era um pouco morena, provavelmente por causa do tempo que passava ao Sol devido a seu trabalho. Ele era fazendeiro e como dizia gostava de comandar as coisas no cabresto.

Mas não era um homem plenamente autoritário. Ele passava autoridade sim, mas era extremamente simpático, tinha a capacidade e o desprendimento de falar com todos, e mesmo rico não era esnobe, sempre tratando bem as pessoas, até quem tinha bem menos. E também não evitava sorrir.

Não havia muito tempo que morava na cidade. Era viúvo, com um punhado de filhos, sendo que resolveu deixar os mais velhos no Nordeste, cuidando das suas fazendas de cana de açúcar. Trouxe os mais novos, e comprou uma fazenda nas redondezas, se aventurando no cultivo de café. Ele queria estar mais próximo de escolas para matricular as crianças e ao mesmo tempo lhe agravada a ideia de desenvolver um novo cultivo.

Nesse dia, Coronel Chicão apareceu no armazém, para disfarçar ele comprou algumas coisas, mas eu percebi que seu maior interesse não eram as compras e sim uma conversa comigo:

– Sabe, Lauro, a professora Laura me intriga – ele iniciou o papo

Laura era a professora da sua filha mais nova. E eu já percebera o interesse dele por ela, pois no dia anterior, eu saíra do trabalho mais cedo e passara na escola para voltarmos a pensão juntos.

Ele elogiava a xará, enquanto ela lhe respondia de maneira educada. Percebia-se que ela estava um pouco constrangida. Mas Coronel Chicão não era ofensivo, então ela era gentil com ele.

Cordial, ele insistiu em nos levar para casa, assim eu, ela, a menina dele, e ele voltamos em sua carroça, enquanto ele conversava com Laura. Parecia bem interessado na Xará, era gentil no modo de flertar, apesar de percebemos de longe as suas intenções.

– A Xará? - perguntei sorrindo

– Sim, você é amigo dela, não é? Moram na mesma pensão... A conhece há anos

– Sim, o que lhe intriga, coronel?

– A professora é uma mulher arretada. Jovem, bonita e acima de tudo, percebemos só de olhar, ela tem fibra. Eta, uma mulher assim...- ele abriu um sorrisão

– Ela te encantou.

– É o que quero, Lauro. Uma mulher assim ao meu lado, forte, um desafio. E não uma bonequinha sem graça. Uma companheira para me ajudar na lida!- ele falava satisfeito

– Mas onde está a intriga? - perguntei

– Aí é que tá... Eu pedi ela em casamento hoje...- ele foi direto

– Já? - perguntei surpreso

– Quando se conhece uma mulher assim não podemos perder tempo.

– E ela? - perguntei sorrindo já imaginando a resposta

– Ela não aceitou. Disse que já era casada – ele falava intrigado – Me diga, Lauro, ela é mesmo casada? Eu andei me informando por aí e … pensei que era viúva.

– Você sabe que ela tem filhos, não é? Não se importa com isso? - perguntei para investigar o terreno

– Sim, eu a vi andando com os galeguinhos por aí. Lindos os dois, um menino e uma menina. E por que me importaria? Eu tenho um monte de bacuris também, e sei que meus meninos iriam adorar. Aliás tenho certeza que a minha caçulinha, a Luizinha, iria amar dois irmãozinhos para brincar. - ele disse sincero e e não consegui conter uma risada

– Coronel, então vou te responder. Mas aviso que é um assunto delicado. Algo que pode prejudicar a minha xará e peço que o senhor não conte a mais ninguém – falei firme

– Tem a minha palavra. E a minha palavra vale muito!

– Sim, ela é casada.

– E onde está o marido dela? Que jegue é esse que vive longe da professora?

– Essa é a parte delicada, a situação entre Laura e ele era complicada, estava prejudicando ela e os filhos. Ela foi embora, fugiu, por assim dizer.

– Sabia que ela era uma mulher de fibra. Um homem tem ser muito jumento para perder uma mulher como essa ... – ele falou admirado e depois continuou pensativo- È claro, ela é uma mulher direita, e mesmo longe do marido não se arrumaria com outro.

– Vou dizer o que eu acho, Coronel . A xará é uma mulher muito direita sim, mas esse é só um dos motivos. Eu tenho para mim que ela ainda ama o marido. Mesmo separada há anos e com os problemas, ela o ama, e por isso, não deixa, nem deixará nenhum outro se aproximar dela.

– Entendo. Sei quando uma batalha está perdida. Ela é uma mulher arretada, mas não tentarei mais- ela falou decidido e saiu

Ainda naquele dia quando cheguei a pensão, percebi um clima pesado. Laura e Isabel pegaram as crianças brigando com outros meninos na rua. Eles não quiseram falar com elas sobre o motivo da briga, e elas acabaram colocando todos de castigo. Cecília e Pedrinho estavam na casa, mas Neto acabara fugindo do castigo e Isabel estava preocupada.

Resolvi procurá-lo. Na verdade, eu já imaginava onde ele estava. Fui até uma árvore alta e frondosa nos fundos da pensão e consegui avistar bem no topo, quase não dava para vê-lo, mas eu o identifiquei:

– Neto, desce daí que eu já te vi. - ele não se mexeu, tinha escutado a minha voz mas achou que eu estava jogando verde

– Neto, desce. Ou eu vou ter que subir para te pegar... - falei de modo autoritário

Ele desceu e já no chão perguntou:

– Você vai me levar pra minha mãe? - ele parecia triste

– Vou, ela está preocupada – mas antes resolvi puxar o assunto da briga, para mim algo a mais tinha acontecido – Mas me diga... Vocês não são de brigar... Por que arrumaram confusão com os meninos na rua?

– Por nada...

– Neto... Não precisa esconder de mim.

– Eu sou um mulato sujo? Eu sou pior do que eles ? - eu já começava a entender

– Você é mulato sim. Mas não é sujo, e nem pior do que ninguém por isso- eu fiz cócegas nele para melhorar o clima e ele riu

– O que é ser mulato, tio Lauro?- Neto perguntou

– O tom da sua pele, seus traços como o cabelo, Neto. Quer dizer que eles veem em você traços de brancos e negros. E isso é verdade, pois sua mãe é mulata e seu pai é branco. Assim você tem sangue negro e branco correndo em suas veias. Eu também tenho, e tenho orgulho disso.

– Então eu sou branco ou negro?

– Olha que legal... Que interessante! Você é uma mistura dos dois – falei sorrindo

– E qual é melhor, tio. O branco ou negro?

– Neto, há homens brancos bons e ruins, assim como homens negros. Nenhum é melhor do que o outro por causa da cor. Isso depende do que está no coração. Vê a tia Laura, os seus primos, a vovó Amália, eles são brancos e são muitos bons, já os meninos que brigaram com vocês não pareciam ruins? Com os negros também é assim, você já conheceu os dois tipos, né? O caminho não é a separação, é a união. Não é olhar alguém e pensar que por sua cor ela é ruim ou boa. Melhor ou pior. È olhar para ela e pensar na sua alma além da aparência. Não é procurar não conviver com a pessoa pois ela é diferente de você, é fazer o contrário, é tentar conviver, é gostar dessa diferença. Há rosas de várias cores no mundo e todas são tão belas, e quando fazemos um buquê usando rosas de cores diferentes ele fica tão bonito, por que não pensarmos assim em relação aos homens? Tenha orgulho do sangue negro que corre em suas veias e do branco também.

Neto ficou comovido e eu percebi que estava pronto para se abrir. Assim acabou me contando: ele, Pedrinho e Cecília viram os meninos brincando na rua e pediram para participar. Eles disseram que Pedrinho podia brincar, mas Neto não, pois era um mulato sujo e Cecília também pois era uma menina.

Pedrinho não aceitou e começou a discutir com os meninos. As crianças eram muito unidas, e sem o primo, que era como um irmão, e a irmã, ele não brincaria. Chamou os garotos de burros. E os meninos continuaram com os insultos. Falaram que eles não tinham pai, que haviam sido abandonados. Cecília ficou com raiva e disse que não, que o pai dela não a havia abandonado e que era mais bonito que o pai de qualquer um deles. E a mãe também era mais bonita e muito legal.

Um deles acabou empurrando Cecília. Mesmo em minoria, Neto e Pedrinho foram para cima deles mesmo. O que acabou ocasionando uma briga grande. Com muita sujeira e arranhões em várias das crianças.

Falei um pouco sobre o pai com ele. E disse que podia contar comigo sempre.

Voltei com ele para casa, e veladamente conversei com Isabel. Não entrei em detalhes sobre a motivação da briga, sabia que a parte sobre os pais poderia ferir tanto ela quanto Laura. E pedi que pegasse leve com as crianças.

Conversei com Cecília, e ela não parecia estar tão chateada. Ela me mostrou a foto do pai, e falava que ele era muito bom, e também muito bonito. Era a menor deles, e tinha uma visão mais ingênua das coisas, de certa forma, para ela parecia que havia passado por uma aventura.

Depois fui falar com Pedrinho. Disse que ele tinha agido certo ao defender o primo e a irmã. Mas que devemos evitar brigas. Puxei o assunto do pai e ele pareceu se fechar, não queria conversar:

– Pedrinho, seu pai não está aqui. Mas...- ele me interrompeu

– Não precisa falar bem dele, tio Lauro. Ele não está aqui, mas não importo. Prefiro ele longe do que ser mal comigo.- ele falou direto, e eu fiquei assustado com aquela declaração

– Pedrinho, seu pai não é mal. - disse

– Você nem conhece ele...

– E você era muito novo quando …

– Ele não gostava da mim, tio. Gostava só da Melissa. Eu lembro.– ele me deixava mais assustado ainda, era uma frase muito rancorosa vindo de um menino tão pequeno

– Não é bem assim – eu sabia do que ele falava, não tinha muitas formas de explicar, já que não vivenciara, mas podia tentar – Seu pai …

– Não precisa, tio – ele me abraçou carinhoso – eu sei que você, a mamãe, a tia Isabel, a vovó, a Cecília e o Neto gostam de mim. Ele não importa.

Preferi não mexer mais naquilo. Fui falar com minha xará, sabia que esse assunto era doloroso. Mas talvez fosse melhor ela conversar com Pedrinho, tirar aquele sentimento do seu peito, comecei falando de outra coisa para quebrar o gelo:

– Soube que você foi pedida em casamento hoje, xará– eu ri

– Verdade, mas eu já sou casada – ela sorriu

– Coronel Chicão é um bom homem – comentei

– Sim, mas … - a interrompi

– Uma pena que ele não é o Edgar, né? - sugeri

– O que você está insinuando? - ela parecia incomodada

– Você sabe... Você não o esqueceu.

– Ele é o meu marido, Lauro, o pai dos meus filhos...

– O seu amor?- eu ri

– Sim, o meu amor... - ela não resistiu mais

– Laura ..- era o momento de falar o assunto mais sério, mas tinha medo de feri-la – Falando nele... Converse sobre ele com Cecília e Pedrinho. Ele era um bom homem, não era? Fale sobre isso – preferi não contar as coisas que ouvira de Pedrinho

– Eu falo. - ela respondeu

– Fale mais...

– Por que? Aconteceu alguma coisa? - ela estava desconfiada

– Nada, mas acho que os meninos podem sentir falta de ter um pai, um bom pai. E se você conversar sobre isso com eles. Talvez …

– Eu vou conversar … Obrigada por se preocupar com eles, Lauro. Você os ajuda muito assim.

– Eu me importo com eles, você sabe.

– E se importa com a Isabel também – ela começou outro assunto

– Para com isso, Xará.

– Fala a verdade, você era como um cigano, vivia se mudando, agora faz anos que mora aqui. - ela continuava

– As vezes, eu sinto aquele comichão de mudar, me aventurar, conhecer novos ares, mas …

– Mas você fica aqui!

– Tem você, as crianças, a D. Amália …

– A Isabel – ela sugeriu

– Claro, a Isabel – eu falei

– Por que você e ela …

– Xará, ela não quer nada comigo. Me falou isso.

– Foi há um bom tempo, né? Por que não tenta de novo?- ela perguntou

– Não vi muitas mudanças, não vi abertura. Aí, tentei ...

– Lauro, sei que você se relacionou com outras mulheres, mas fala a verdade, elas tiraram Isabel da sua cabeça?

– Não. Mas se a Isabel não quer, o que posso …

– Talvez você só precise tentar de novo, se esforçar mais, correr um pouco atrás dela – ela insinuava

– Você acha? - eu sorri

– Acho - ela parecia certa

Talvez ela tivesse razão, talvez eu devesse tentar e com mais esforço dessa vez.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Sei que muitas preferem as narrativa de Laura ou Edgar, mas é que eu tinha propósitos com ela. Que seria mostrar um outro lado. O primeiro ponto seria mostrar que Laura teve pretendentes, mas não deu chance a nenhum por amar Edgar, achei que na visão de uma terceira pessoa ficaria melhor. Outro ponto também era fazer uma pré apresentação das crianças crescidas, no proximo capitulo narrado por Laura teremos uma apresentação maior. Mas esse detalhe do Pedrinho ela não vai saber, esse sentimento dele por enquanto não chegará a ela, assim outra pessoa é que tinha de mostrá-lo. O outro ponto também era mostrar o lado paternal de Lauro com as crianças, a amizade dele com Laura e até a conversa sobre Isabel. Assim, só ele podia narrar. Espero que tenham gostado, mas fiquem tranquilas, que nessa fase esse é o ultimo capitulo narrado por ele. O resto dos capítulos dessa fase serão narrados por Laura ou Edgar. Espero que tenham gostado que compreendam os meus objetivos, que comentem muito, recomendem, mostrem que estão aí. Me mantenham animada para escrever sempre mais kkk.