Left 4 Dead - Morte à Espreita escrita por ghost of Sparta


Capítulo 8
Deixada para morrer - Parte 7




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– ... meu nome é William Overbeck, mas pode me chamar de Bill. Todos me chamam assim mesmo. Cheguei bem na hora. Este Hunter estava prestes a fazer picadinho de você.

Bill puxa Zoey pelo braço, forçando-a a correr no mesmo ritmo que ele.

– Seu namoradinho acabou de levar o carro que eu estava abastecendo. É melhor torcer para que ainda haja outro funcionando, menina.

– Ele não é meu namorado. E você pode me chamar de Zoey.

Uma forte explosão consome o mercado. Zoey é lançada novamente ao ar, colide com um carro, cai no chão e rola no chão várias vezes. Sentindo a urgência da aproximação dos mortos-vivos, Zoey logo tenta se levantar, mas sente que seu ombro direito estava fraturado.

– Droga!

– Vamos, Zoey. Não podemos perder tempo. Seu comboio aparentemente foi seguido por uma horda até aqui.

– Eles nos emboscaram? Isso é impossível. Eles estão mortos!

– Mortos, mas ainda mantém seus instintos básicos e um nível baixo de intelecto. Não é preciso ser muito inteligente para correr atrás de comida.

Os dois seguem correndo pelo estacionamento do mercado, vasculhando todos os carros que encontram e verificando se estão funcionando. Bill vai estourando os miolos dos zumbis que chegam mais próximo garantindo tempo para a procura. Repentinamente um motor ronca e Bill nota que Zoey conseguira fazer uma picape funcionar. O veiculo acelera e Bill se joga na capota.

– Vá para a auto-estrada, depois entre no parque!

– Entrar no parque? De carro?

– Faça o que estou falando, Zoey!

A picape acelera é passa por cima de dois corpos sem vida. Ela segue pela auto-estrada em velocidade média, andando em zigue-zague para evitar veículos destruídos ou abandonados na pista. Ainda havia muitos zumbis seguindo o carro e Zoey não podia acelerar o bastante para despistá-los.

– Eles estão vindo, Bill. E não está fácil dirigir com o braço e a perna ferrados.

Bill dispara contra a perna de um zumbi com trajes de bombeiro, fazendo-o cair e derrubar dois zumbis que vinham logo atrás.

– Já dá pra ver as cercas do parque! Suba na calçada e arrebente elas!

– Jogar o carro contra a cerca?

– Acelere, Zoey!

Zoey acelera e a picape arrebenta as grades e o muro lateral do parque a toda velocidade. A jovem perde o controle do veiculo por um instante e ele colide com uma estátua de anjo que fazia parte de uma fonte. Bill perde o equilíbrio e quase perde sua escopeta.

– Mais cuidado, garota! Se ficarmos sem armas estaremos mortos!

– Foi mal! Estou fazendo o melhor que posso!

O parque era imenso. Tinha duas fontes, três coretos e diversos bancos em toda sua extensão. Tinha uma variedade impressionante de flores que davam um colorido agradável ao ambiente. Possuía diversas árvores que forneciam sombras onde muitos casais faziam piqueniques.

Numa das saídas laterais do parque haviam dezenas de cadeiras alinhadas de maneira simétrica, rodeadas por diversos pôsteres e bandeiras com as cores azul e vermelho. Havia também um grande palco de madeira onde havia um retrato gigante de um homem gordo num terno pouco elegante com um sorriso extremamente falso e uma faixa com os dizeres: “Barney para prefeito de Fairfield!”. Provavelmente o ultimo evento daquele parque fora um comício. O ultimo evento antes de tudo ir pro inferno.

– Vá em direção ao palco, Zoey. Atraia eles para lá e depois sai do parque pela saída atrás do palco.

– Como é que é?

– Faça o que eu disse. Eu nunca vou a um lugar sem um plano de fuga.

Zoey obedece e a picape passa por cima das cadeiras e vira repentinamente ao ficar bem próxima ao palco. Então o veículo começa a dar a volta no palco. Zoey nota galões de gasolina espalhados entre as cadeiras e vê Bill disparar contra eles com sua escopeta. Logo um incêndio é iniciado e os zumbis, derrotados por seu intelecto limitado, acabam consumidos por ele.

A picape segue viagem e pára aproximadamente uns 10 KM depois, com o indicador de combustível próximo ao zero. Bill desce do veículo primeiro e abre a porta para ajudar a jovem a descer. Entretanto acaba com uma pistola magnum apontada para sua cara.

– O que pensa que está fazendo, garota?

– Você... você ia roubar o carro-forte... ia nos deixar para morrer naquele mercado...

Zoey sentia todo seu corpo gritando de dor, principalmente seu braço e sua perna. Ela também podia sentir sangue escorrendo por seu rosto. Provavelmente machucara a cabeça. Zoey se esforçava ao máximo para não desmaiar de tanta dor e sua mão tremia um pouco enquanto empunhava a pistola. Ela se perguntava se seria capaz de acertar o tiro naquelas condições.

– Você... ia nos matar... por que deveria confiar em você?

– Eu vi seus amigos serem fritados quando o posto de gasolina explodiu. Pensei que eram os únicos que estavam no carro-forte e resolvi pegá-lo para mim. Enchi o tanque com alguns galões que não haviam pegado fogo e estava pronto para ir quando ouvi tiros de dentro do mercado. Entrei para verificar e vi que o lugar estava sendo atacado por uma horda. Foi aí que seu namoradinho saiu correndo e levou o carro-forte.

Zoey continuava olhando firme para Bill e não baixara a arma.

– Ah, claro. Não era seu namorado, certo? Se você deveria estar com raiva de alguém, esse com certeza seria ele, não?

Zoey continuava imóvel.

– Eu salvei seu traseiro, mocinha. Se a quisesse morta teria deixado aquele Hunter te estripar. Você está certa em sempre ficar com um pé atrás com todos. É o tipo de atitude que vai te manter viva nesse inferno. Porém acredito que já dei uma prova de minha boa vontade, não?

Então Zoey começa a baixar a pistola, os braços tremendo.

– Zoey? Você está bem? Zoey?

Zoey viu seu mundo girar uma vez mais e tudo ficou escuro.

Dia da Infecção + 10

Zoey vai voltando a consciência lentamente. Azul foi a primeira cor que viu e, quando sua visão finalmente entrou em foco, percebeu que estava olhando para uma cortina de plástico azul e envelhecida, estendida de forma a criar uma espécie de telhado improvisado. Ela estava deitada sob uma pilha de caixas de papelão e protegida do frio gélido daquela noite por três lençóis estampados com personagens infantis.

– Finalmente acordou, bela adormecida.

Bill estava sentado próximo a ela. Ele havia feito uma mesa improvisada com algumas caixas de madeira. Sobre esta mesa, coberta por uma longa toalha verde, haviam diversas armas, caixas de munição, garrafas d’água, pacotes de biscoitos, latas de feijões e de ervilhas, kits de primeiros socorros, frigideiras, um taco de beisebol e um velho rádio.

Zoey se levanta devagar, ainda sentindo seu corpo um pouco dolorido.

– Bill? Quanto... Quanto tempo eu apaguei?
– Três dias, minha jovem. Eu a trouxe para cá e cuidei de seus ferimentos.
– E onde exatamente nós estamos?
– No terraço de um prédio onde minha neta vivia. Eu vim para a cidade me certificar de que ela estava bem e não consegui sair.
– E ela está bem?
– Eu... eu não sei... espero que esteja.

Zoey começa a andar pelo terraço e nota um grande SOS pintado no chão, de forma que fosse visível para qualquer avião ou helicóptero que por ali passasse. As únicas entradas do terraço eram uma escada de incêndio velha e uma porta que estava bloqueada por um sofá e uma geladeira. Haviam latas de tintas vazias e pincéis sobre o sofá. Várias tábuas de madeira estavam jogadas ali próximo bem como galões vazios de gasolina. Zoey vai até a beira do terraço e vê a rua e os prédios e casas vizinhos completamente em ruínas. Um ruído de estática atrai a atenção de Zoey. Bill estava mexendo no velho rádio.

– O que você está fazendo, Bill?
– Tentando encontrar alguém que possa nos ajudar em qualquer uma das freqüências.
– Algum sucesso?
– Não. Nada. Apenas estática.

Zoey puxa um banco e senta-se próximo a Bill.

– E qual é o plano?
– Nós ficamos por aqui e sobrevivemos até alguma ajuda chegar.
– Mas não podemos ficar parados! Esses zumbis estão por toda a parte! Eles logo vão nos pegar aqui!
– E o que você sugere, minha jovem?
– Vamos pegar um carro e dirigir até encontrarmos um centro de evacuação ou algo do gênero.
– E você acha que eu já não pensei nisso, Zoey? Todos os centros de evacuação que encontrei estavam destruídos. A maioria das estradas da região estão bloqueadas e é difícil encontrar carros que ainda estejam funcionando. Aquela picape em que fugimos foi um dos poucos veículos funcionando que encontrei.
– Então podemos usar ela para fugir. Deve haver algum posto de gasolina aqui por perto e...
– E para onde iríamos, Zoey? Não temos contato com ninguém em nenhum outro lugar nem por telefone, nem por qualquer outro meio. Se fugirmos a esmo podemos ir parar em algum lugar de onde não poderíamos fugir...

Zoey baixa a cabeça sentindo sua esperança escorrer por entre seus dedos. Bill estende um mapa sobre a mesa. Haviam diversas áreas já riscadas.

– Eu andei olhando pelas proximidades, registrando e catalogando todos os pontos interessantes que encontrava. Os círculos em verde são as localizações dos centros de evacuação que encontrei. Como disse, todos destruídos.

Zoey se lembra do centro de evacuação pelo qual ela e os outros sobreviventes resgatados por Gordon e Teague haviam passado. Estava completamente destruído. Bill nota o semblante preocupado de Zoey.

– Calma, minha jovem. Eu sou um soldado aposentado. Fui treinado para sobreviver a todo tipo de coisa por meses, se necessário. Nós temos que esperar por uma resposta, uma indicação de um lugar seguro para onde possamos ir, um sinal de que ainda há pessoas lá fora.
– E você têm esperança de encontrar alguém, Bill?
– Eu encontrei você, não foi?

Zoey resolve, então, manter um pouco de esperança.

– Agora é melhor você voltar a dormir. Amanhã teremos um dia cheio.

Dia da Infecção + 11

Zoey podia ver o ambiente claramente. Seu sogro ainda pendia no cabide para casacos localizado atrás da porta principal. Os corpos ainda estavam espalhados lá, bem como as bebidas, o sangue e as cápsulas de balas. Teria havido uma festa na casa de Teddy? Ou pior, teria Teddy a traído poucas horas depois de a deixar em casa? Quão bem ela conhecia o namorado? A mente de Zoey estava perdida em turbilhão de pensamentos e ela mal notou o corpo de uma prostituta se arrastando até o corpo de Teddy. Os dois se beijam, sangue e tripas escorrendo pelas feridas em seus rostos. Então eles olham para Zoey e sorriem.

– Ahhhhhhhhh!

Zoey desperta de seu sono assustada. Ela nota que havia um corvo pousado sobre ela, encarando-a.

– Sai! Sai daqui!

O corvo levanta vôo e desaparece em meios as nuvens. Zoey seca seu rosto suado nos lençóis. O pesadelo fora assustador, quase real, e trouxera uma questão perturbadora da qual ela estava fugindo desde que aquele inferno começou. E Zoey não tinha certeza se gostaria de saber a resposta. Mas, no fundo, ela pensava que se Teddy tinha realmente a traído, merecia tudo que aconteceu a ele.

– Já era hora de acordar. Tome seu café da manhã. Vou te dar alguma lições de tiro.

– Eu já sei atirar, Bill. Eu acompanhava meu tio em suas caças e ele me ensinou algumas coisas.
– Duvido que o que ela tenha te ensinado possa te ajudar a sobreviver neste inferno.

Bill estava recarregando e limpando as armas. Havia algo em seu jeito que fazia Zoey se lembrar de seu falecido avô. Ele tinha um jeito durão e ao mesmo tempo protetor e afável. Ela se levanta, puxa um banco e começa a comer um ovo frito que estava numa frigideira sobre a mesa improvisada.

– Bill...
– Diga.
– Você já se perguntou por que isso aconteceu?

Bill continua seus afazeres sem ao menos olhar para Zoey.

– Eu prefiro pensar na causa disso tudo quando meu traseiro estiver completamente seguro, Zoey.
– Eu conheci um padre... e ele disse que isso era uma punição de Deus pelos nossos atos... eu acredito nisso em parte... algumas pessoas tiveram o que mereciam... mas e os inocentes que foram pegos também? Será que Deus decidiu castigar a todos pelos erros da maioria?
– Eu não sei, Zoey.
– Você acredita em Deus?
– Deus é um moleque perturbado que brinca com nossas vidas como se fossemos formigas em uma fazenda.
– Se você não acredita em Deus... em que acredita, Bill?
– Eu acredito em minha munição.

Bill engatilha um rifle.

– E no poder que ela me dá. Poder para salvar vidas...

Bill dispara para o céu e derruba um corvo, que cai sobre a cama improvisada de Zoey.

– ... e para tirá-las. Guarde o corvo em uma panela ou caixa. Ele vai ser nosso jantar.

Zoey olha enojada para o corvo ensopado de sangue caído sobre os lençóis. Bill joga uma jaqueta rosa com detalhes brancos para Zoey.

– É melhor se proteger desse vento frio. Não temos hospital para te levar se ficar doente.
– É. Tem razão...

Bill pega algumas tábuas de madeira e as usa para fazer uma ponte improvisada para o prédio ao lado, a qual ele atravessa. Zoey veste sua jaqueta e o segue. O terraço ao lado tinha diversos galões cheios de gordura animal. O odor incomodava um pouco ao se passar perto deles, mas não importava muito já que toda a cidade estava envolvida numa nuvem de podridão e morte. Do ponto em que estavam, Zoey e Bill podiam ver uma das principais ruas da cidade e viam apenas zumbis andando por elas.Um carro havia invadido uma loja de vestidos de casamento. Um hidrante fora destruído e havia água transbordando sem parar. Bill se aproxima de Zoey e lhe entrega um rifle.

– Este é um rifle M40A3, com balas de calibre 308. Seu raio de efetividade é cerca de 900 metros. Depois disso você estará gastando munição à toa e não matando ninguém. Entendido?
– Certo. É só apontar e atirar, não é?

Zoey tenta um disparo e erra por muito, acertando um carro em chamas.

– Se fosse tão simples assim, menina, qualquer idiota seria um atirador de elite. Você tem que levar em conta a distância do alvo e a velocidade do vento. Se o alvo estiver em movimento, isso também afetará seus cálculos. Você não terá uma folha para rascunhar nem calculadoras. Tudo terá que ser feito em sua mente. E quando estiver pronta, concentre-se, prenda sua respiração e dispare.

Bill pega um segundo rifle e mira por alguns segundos, disparando em seguida. A precisão de seu tiro é milimétrica e dilacera a cabeça de um zumbi que passava diante do hidrante destruído. Ele engatilha mais uma bala e olha para Zoey.

– Tente novamente. Agora num alvo um pouco mais perto.
– Certo.

Zoey posiciona sua mira sobre o alvo, a cabeça de um zumbi recostado sobre um poste, e aguarda alguns instantes. Ela prende a respiração e dispara. O zumbi é atingido no tórax e cai.

– Foi um bom tiro, menina. Você atingiu o local que desejava?
– Não, Bill. Queria acertar na cabeça e acertei no peito.
– Bem... vamos ter que trabalhar isso. Acredito que um pouco mais de treinamento e controle sobre sua respiração vai colocar sua mira nos eixos.

Bill levanta seu rifle novamente, mas desta vez não dispara.

– Pegue seu rifle. Aponte-o para a loja de CDs cinqüenta metros a esquerda da loja de vestidos de casamento.

Zoey obedece. Através da mira telescópica de seu rifle, ela vê uma mulher ajoelhada em frente a loja, com as mãos cobrindo seu rosto. A mulher era muito pálida, seus cabelos eram rosados e estavam imundos e ela estava vestida com trapos. Seus dedos eram ligeiramente maiores e mais finos do que o normal, assemelhando-se muito a facas.

– Mas o que é isso?
– É uma Witch, Zoey. Um dos tipos de infectados especiais.
– Infectados especiais?
– Também são mortos-vivos, mas por algum motivo a infecção provocou mudanças extras neles, além do estado de decomposição do corpo e da fome avassaladora por carne. A criatura que a atacou no mercado, o Hunter, era um deles. São muito perigosos e devem ser evitados. Não tenho idéia de quantos tipos de aberrações como essa há por aí, então é bom sempre ficar de olhos bem abertos.
– Eu acho que já vi um desses infectados especiais antes... só que era um dos grandes...

Zoey nota que a Witch se levantara e virara o rosto. Agora era possível ver seus grandes e brilhantes olhos vermelhos.

– Bill... É impressão minha... ou ela está olhando para gente?

A Witch começa a gritar, gritos que facilmente se espalham no ar pútrido da cidade. Ela começa a correr e é atingida por um tiro, caindo no chão. Estava morta.

– Uau. Belo tiro, Bill.
– Obrigado. Imagine um triângulo no rosto humano envolvendo nariz, boca e queixo. Se você conseguir atingir esta região com um tiro de rifle, a bala vai atingir a medula espinhal e cortar sua ligação com o cérebro. Dessa maneira não haverão mais comandos nervosos para o corpo. Um tiro bem dado e o alvo estará morto antes de chegar ao chão.
– Bill... eles já estão mortos.
– Então temos que garantir que continuem assim, não?


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