Duas crianças pequenas, inocentes...Mas um sentimento diferente do que a amizade, um sentimento novo toma conta de Ana, algo que ela nunca sentiu. Seria isso o amor? Mas Bruno era somente um amigo. Ou isso teria mudado?

O sentimento que Ana sentia era forte, não via Bruno como antigamente...

Ao vê-lo seu coração disparava, suas mãos suavam e seus olhos tinham um brilho que só se encontrava quando eles se cruzavam com os de Bruno.

Os amigos percebiam a diferença. Ela percebia. E ele? Notara a diferença?

Nada mudava entre os dois. As conversas eram as mesmas, as brincadeiras também. Tudo era normal, menos para Ana. Ela se sentia diferente. Não era normal aquilo.

Após uns anos, quando estavam um pouco mais velhos, Ana continuava com seu sentimento. E isso ficava cada vez mais forte.

Bruno também estava diferente. Seus olhares se encontravam cada vez mais. Andavam mais juntos. Brincavam juntos... E muitas conversas.

Conversas sobre a vida, sobre amor, e...sobre eles.

Pequenos adultos falando sobre sentimentos. Pequenos sonhos de um futuro sendo construídos. Uma promessa feita:

_ Quando crescermos, você vai querer namorar comigo?

_ É lógico! Eu prometo!

Pequenos amantes... Crianças inocentes... O que entenderiam sobre amor?

Mas agora, Ana cresceu, e está aqui, contando esta história para você.

Tudo começou após a volta das aulas.

Ele estava lá, lindamente, como sempre, me esperando para subirmos juntos.

Veio sorridente me cumprimentando, percebi o nervosismo em seu rosto. Quem não estaria nervoso. Primeiro dia de aula do ano de formatura, oitava série.

Nós fomos andando, conversando normalmente, como simples amigos... Nada havia mudado. Ele não lembrava mais da promessa, só eu. Guardando meu amor para mim.

Por azar, caímos em sala diferentes. Ele não deixara de falar comigo, mas eu via que já começávamos a nos afastar. Na hora de voltar embora, contávamos as novidades do dia um para o outro. Mas quando chegávamos na escola, nosso assunto morria. Eu podia compreender, ele havia achado algo mais interressante.

Os dias foram passando... ele conheceu novos amigos, que por sinal, não gostei nenhum pouco. Esses amigos chegavam comprimentando as garotas normalmente, só que com um beijo no rosto. Um sentimento de raiva e medo tomavam conta de mim quando via outras garotas falando com ele. Ele estava mudando. E eu? Continuaria a mesma?

Quando fui para a escola, descobri que ele não estava mais lá, me esperando; e vi ele com seus amigos na frente. Ele havia se esquecido de mim. Resolvi esquecer um pouco ele também.

Quando cheguei na escola, meus olhos o caçavam na multidão, mesmo eu querendo evitar. Vi que não era só os meus que procuravam alguém. Nossos olhares se encontraram mais uma vez. Mesmo de longe eu vi seus olhos azuis brilhando para mim e aquela sensação voltou a tomar conta do meu ser. Ele veio andando, se aproximando, cada vez mais. Chegou, olhou para mim e me deu um abraço. Nesse instante meu mundo parou.

Eu estava imóvel. Seus braços abraçando meu corpo, e sua boca perto de meus ouvidos. Do jeito mais doce que alguém poderia falar, ele me disse:

_ Desculpa não ter te esperado hoje. Meus amigos passaram na minha casa. Amanhã prometo que te espero, minha Ana.

O soar de suas palavras ecoaram em meu coração. “Minha Ana...Minha Ana...”

Descobri que ele estava se afastando de mim para se aproximar de outra maneira. Finalmente, algo havia mudado. Minha única reação foi ficar parada, sentindo seu abraço.

Não posso dizer os minutos que ficamos abraçados, pois meu tempo havia parado. Foi curto e ao mesmo tempo eterno. Meu momento de magia terminou quando seus amigos o chamaram, ele sorriu para mim e foi.

No outro dia cedo ele estava mesmo lá, me esperando para irmos juntos para a escola. Ele veio me cumprimentando, normalmente; até que eu vi ele se aproximando, e me deu um beijo no rosto. Para mim foi diferente sua atitude, e não consegui esconder meu sorriso bobo; mas para ele, deveria ser normal, já que cumprimentava todas as garotas assim.

Quando chegamos na escola, cada um foi para o seu grupinho. Nesse dia, houve filme na escola. As duas oitavas reuniram-se para assistir. Ele veio com seus amigos e me viu sentada com minhas amigas. Nessa hora, eu vi ele chegando perto de mim, colocando uma cadeira ao meu lado e sentando junto comigo.

_Posso me sentar aqui?

Afirmei com a cabeça. E passado alguns instantes, ele já estava com a cabeça encostada em meu ombro e sua mão junta da minha.

Não consegui prestar muita atenção no filme. Minha mente viajava em pensamentos, onde a imaginação estava virando realidade. Ele ainda gostava de mim. Foi isso que percebi após esse momento. Quando o filme já estava no seu fim, ele virou-se para mim, passou a mão em meu rosto e me disse:

_Obrigado pela companhia, Ana.

E me deu um leve beijo no rosto e saiu. Sua mão se soltava devagarosamente da minha. Por mim, eu nunca mais largaria de sua mão.

E assim os dias foram passando. E tudo continuava normal. Ele chegava, me dava um beijo no rosto, descíamos juntos e tudo era como sempre. Para mim, era como se tivesse subido um degrau em "nosso relacionamento" mas parado nele. Mas, por mim, estava tudo bem, pelo menos algo havia mudado.

Depois de um tempo entramos de férias. Ele nem se despediu direito de mim. Simplesmente me olhou de longe e foi.

Nas férias eu não vi mais ele. Quando fui no primeiro dia de aula, após a volta às aulas, ele não estava me esperando. Pensei que ele tinha ido com seus amigos na escola, e já estava me preparando para receber um abraço de desculpas por ele não ter me esperado. Mas quando cheguei, não o encontrei. Achei estranho ele ter faltado, mas não comentei com ninguém.

Após uma semana que ele faltava às aulas, descobri que ele havia mudado. Nesse instante, meu coração ficou exprimido. Não sei como dizer o que senti no momento. Era como se tivesse pegado uma faca, e fincado nele.

Meu mundo estava desmoronado. Mas ninguém percebia. Ninguém sabia desse amor. Era meu amor secreto, e ele se foi.

Foi ai que aconteceu.

Como poderei descrever lembranças dessa demonstração de amor por você? Pois começarei por onde me lembro.

Talvez não seja verdade, mas para mim, não há nada de mentira:

Eu estava indo para a escola, e ele não estava lá. Na escola, assim como há tempos atrás, estava tendo cinema. Eu estava sentada, lembrando do último "cinema" que assisti na escola. Até que um som me chama a atenção:

_Psiu! Psiu!

Olhei e o vi sorrindo e acenando para mim. Ele estava vindo em minha direção, me abraçou, e disse:

_Senti muito a sua falta. Mas vim para o cinema com você.

Seus braços em torno de mim, e os meus em torno dele. Eu nunca havia o abraçado, somente ele que me abraçara aquela vez. Meus rosto estava perto do seu, mas não parecia o mesmo. Ele se sentou perto de mim, e assistimos o filme. Mas não como a primeira vez. Normal: sem suas mãos na minha, sem sua cabeça em meus ombros...nada, só assistimos ao filme.

Após o filme, quando todos já haviam saído, ficamos conversando. Ele me contou como era a nova escola e ficamos conversando sentados no banco do pátio. A escola estava cheia de enfeites, bexigas, decorações... Ele pegou uma bexiga começou a escrever em um bilhete. Depois que ele escreveu, deu a bexiga junto com a pequena carta para mim. E nela, estava escrito:

"Já procurei nos olhos de outro alguém o que só você tem; já tentei achar outras pessoas, mais descobri que isso vai além. Já tentei encontrar mil motivos pra voar, mais não tem como resistir, é você que eu sempre vou amar e é só ao seu lado que quero existir."

Não tinha palavras que saíssem de minha boca. Só um simples "obrigada".

Ele olhou, sorriu para mim e pegou em minha mão. Nós saimos da escola de mãos dadas. Quando chegamos no portão, ele me disse sorrindo:

_Então, não vai me agradecer direito?

_ Como posso agradecer?

Sua mão passou por minha cintura e seu rosto chegou perto do meu. E bem baixinho, disse para mim:

_ Eu sei como...A distância entre o amor e a amizade é a distância de um beijo.

E veio se aproximando.

Antes que seus lábios tocassem nos meus, acordei. Chorei ao pensar que era apenas um sonho. Mas, apesar de ti, meu sonho, não serdes real, sinto tua presença quando me lembro, pois mesmo longe, estarás aqui comigo, em meu coração.

Apesar de ti, ser só um sonho.

Decidi voltar para a realidade, por mais cruel que esta fosse. Sabia que não iria te vê-lo, mas meu coração continuava a amá-lo.

No caminho para ir para a escola, nem olhava mais na frente de sua casa, para não ferir mais meu coração. Passei reto, cabeça baixa, sem olhar para os lados. A intenção de não ficar triste não adiantou. Meus olhos encheram de lágrimas ao pensar que sempre o via ali. Mas agora ele não estava mais aqui.

_ Hey! Não vai ir comigo para a escola hoje?

Virei quando ouvi o som de sua voz. Seria mais um sonho? Não, esse não.

Sai correndo em sua direção e o abracei. Esqueci que não podia fazer o que quisesse, pois não era um sonho. Mas não estava nem aí. Comecei a perguntar aonde ele esteve, por que foi embora. Mas ele não respondeu nenhuma de minhas perguntas.

Suas mãos que me abraçavam passaram pela minha nuca e chegaram ao meu rosto que estava abaixado. Ele o ergueu e disse:

_Não iria conseguir ficar longe de você, ja estava com saudades. Eu voltei. Voltei para você Ana.

Dessa vez eu não acordei. Não era um sonho. Vi sua boca se aproximando da minha e seus lábios quentes tocaram nos meus. Me senti tão segura, como que se aquele momento fosse eterno.

Acordei de um sonho para entrar em outro. Mas esse era real.

Apesar de ti,ser mais do que um sonho!