Anencefalia escrita por Minori Rose


Capítulo 7
Talvez eu seja pequena


Notas iniciais do capítulo

Inspiradíssima com Anencefalia. Não vou dar justificativas dessa vez, okay... mas estou me esforçando u.u Vamos ler.



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"Talvez eu seja pequena. Lhe cause tanto problema. Que já não lhe cabe me cuidar. Talvez eu deva ser forte. Pedir ao mar por mais sorte. E aprender a navegar."

Marceline gostou do jeito que Allan a segurou; sentiu as suas mãos por cima de seu vestido, apertando a sua cintura. Mesmo com sua confusão mental, com a ardência fora do comum que irritava seu rosto, e os batimentos descompensados, ela sentiu e notou sim, quando Allan se afastou. Não abriu os olhos, não. Os segundos foram muito rápidos. Sentiu o impacto quente do sorriso dele. Allan achou que podia continuar... achou que seu coração fosse explodir de felicidade, achou que valeu a pena a vergonha e o medo da rejeição. Achou que podia continuar.
— Allan! — a garota tentou dizer sem que sua voz saísse com aquele esguicho nervoso — o que está fazendo?
Ele piscou, nervoso. Depois mordeu os lábios e foi para trás. De repente sentiu uma pontinha de raiva ou pior ainda, arrependimento. Marceline tirou o óculos e passou os dedos de fina tez sob os olhos,ao passo em que os olhares dele a estava deixando louca de vergonha. Então Allan percebeu como havia sido apressado.

— Eu não devia ter feito isso, não é?

Line respirou fundo. Sentia—se muito boba. Na sandice da sua mente podia até sentir os risos internos dele, e de quem mais estivesse a sua volta. Allan por sua vez não soube o que fazer; sempre achou Marceline tímida e contida, mas não ao ponto de... ah, nunca ter beijado alguém. Achou que era melhor desculpar—se depressa, e desse momento em diante ele descobriu—se cada vez mais sincero.

— Perdão, Marce. Se não quiser falar sobre isso, tudo bem. Só diz que me desculpa.

A garota não olhava para ele. Não conseguia. De novo aquele medo exorbitante assombrava as suas palavras; de novo esse sentimento ruim pos em sua mente o quanto Allan só queria a sua presença, só queria conquistá—la para tal, para um beijo qualquer em uma praça idiota como aquela. O quanto ela seria zoada pelo resto da vida.

O vento começou a tornar—se ameaçador, balançando a copa das arvores, balançando o vestido de Marceline. Foi um ótimo jeito de quebrar aquele momento ruim, na verdade. Porque o tecido que a cobria foi ousadamente alto, fazendo Allan rir e ela empurrá—lo de um jeito bobo. E mesmo assim ele continuava sendo "daquele jeito"; olhando—a daquele modo bobo e meloso, não contendo seus impulsos sob coisas simples também.

O polegar do rapaz dançou sob o contorno dos lábios da moça. Ele disse que havia borrado seu gloss, ou seja lá o que for, durante o beijo. Marceline só conseguia ficar ainda mais corada, no entanto, percebeu que havia relaxado, até. Allan a deixou calma novamente. Pois ele tinha uma voz mansa com ela, e sorria devagar. Um lampejo rápido passou por Marceline: Allan era bem diferente do que ela havia pensado.

— Você não deveria ter feito isso — ela finalmente disse.

Ele somente balançou a cabeça, concordando.

— Não foi tão ruim, foi?

— Não! — disse exaltada demais. Allan comprimiu a boca para não sorrir. — mas, não é como se eu fosse a garota mais experiente para poder lhe responder.

Ela arqueou as sobrancelhas e Allan, céus, percebeu que Marceline sabia responder de um jeito sacana. O moço a convidou para ir andando... uma chuvinha de verão de aproximava, com certeza. Então eles foram. E de repente Allan começou a mostrar seu lado divertido com algumas piadas. Marceline respondeu todas a altura. Como ele estava encantado com ela!

Por ela ter escolhido ainda ter os lábios puros, por ser tão meiga e engraçada, por ser ela. Compraram um sorvete; ele fez questão de pagar. Começaram a falar sobre a escola, mas nenhum assunto ruim rondou a conversa.

— Como foi... o seu primeiro beijo?

Allan pensou. Quis mentir, mas não o fez. Só não queria que Marceline pensasse algo que não existia mais entre ele e a Carol.

— Foi idiota. Não houve sentimento nem nada. Ela era uma amiga da minha mãe e estávamos a sos. Dois adolescentes curiosos sozinhos. E foi. Só isso.

Ela não disse nada. Não perguntou o nome da pessoa; na verdade, não queria saber. A porta da casa de Allan estava logo a frente. Sentiu uma vontade enorme de pedir para que ela entrasse, mas pensando rapidamente bem, o convite poderia ficar para amanhã. Só não queria que ela fosse embora.

— Me passe seu numero — ele pediu.

Eles trocaram os números. Allan queria se despedir.

— Marce... você acredita em mim?

— Que você gosta de mim mesmo praticamente não falando comigo?

Ele balançou a cabeça. Ela apertou o moletom cinza do garoto.

— Estou brincando... — ela encarou—o — você pode me convencer mais.

Sorriu, calma. Não havia ninguém na rua.

— Posso me despedir?

Marceline arrumou, novamente, a trança. Como queria ser mais corajosa. Queria dizer a ele que sim, e ao mesmo tempo a timidez a obrigou a fica na ponta dos pés e beijá—lo na bochecha direita. Disse um até amanhã e obrigada, todos em voz baixa e sem jeito. Ela só não percebia que esse jeito dela, só o deixava mais próximo.

— Quero te pedir uma coisa — Marceline disse, quando já principiava a ir — isso tudo é um segredo nosso.

— Tudo bem. Isso tudo agora é o nosso segredo.

Ela deu dois passos. Ele segurou sua mão.

— Vamos ter mais um... mais um segredo.

— Para.. é sério.

Ela queria. Ele sabia.

— Só um, bem simples.

Marceline só pode deixar as mãos descansando em cima dos ombros do garoto, depois de ele ter se aproximado tanto, deixando—a sem jeito para dizer que não. Allan mentira. Não fora só um, talvez tenham sido três. Não foram simples. Pode experimentar sob os lábios pequenos de Marceline sentimentos que nunca havia sentido antes; percebeu sobre ela um perfuminho gostoso e leve, com um gosto de chocolate vindo de sua língua. Como Marceline estava se sentindo louca! Na rua de casa, com qualquer um podendo ver, somente se preocupou com aquilo. Com aquelas coisas acontecendo em eu corpo, de um jeito forte e desconcertante.

**

Marceline vestia uma jaqueta jeans sobre a camisa da escola. Havia dormido totalmente sozinha. Quando chegou do passeio com Allan, nenhuma alma viva se encontrava sob aquele teto. Ficou um pouco assustada, mas no fundo, ficou feliz. Algo notável foi, como o senhor popular a fez esquecer do trauma que passara mais cedo. E de como a loirinha conseguia ser uma perfeita atriz.

Saiu atrasada. Sem Larissa fazendo barulho, acabou dormindo mais. Correu pela rua com a mochila nas costas e percebeu como o tempo havia ficado horrível durante a noite; mas não se importou. Só ligou para o fato de que a aula já havia começado quando alcançou a porta de sua classe. Ok, todo mundo irá te encarar, mas você pode entrar normalmente e sentar na frente como sempre. Respira, criança.

Bateu na porta e perguntou se podia entrar. O professor era o de história. O cara que escolheu a profissão errada. Ele estava sentado em sua mesa, lendo alguma livro didático ruim; o resto dos alunos pareciam concentrados em uma folha, sentados em dupla, pelo menos até o momento que ela bateu na porta. Marceline sacou bem os olhares. Só não percebeu o motivo de imediato.

— Claro, entre.

Então ela entrou rápido, e procurou um lugar encostado na parede, o primeiro. Acabou sentando do lado de Elisa. A folha era uma provinha para contestar o aprendizado do ano passado, e o professor ainda lhe deu umas instruções sobre as perguntas. Miguel não consiguia desfixar da mente como aquela menina parecia a descrição de Dolores Haze. Marceline começou a assinar a folha, quando o ar ficou tão pesado que foi obrigada a levantar a cabeça, olhar para trás e notar os olhares de espanto no rosto dos colegas. Allan vinha caminhando para frente da sala. Hoje ele vestia um moletom azul escuro. Marceline percebeu que ele havia posto o Piercing no septo novamente; carregava a mochila preta nas costas e a folha da prova na mão.

— Elisa, troca de lugar comigo.

A garota não pensou duas vezes antes de levantar e correr para o fim da sala. A antiga parceira de Allan era Bruna. Esta mesma se encontrava vermelha de raiva! Não era possível. Só podia ser zoação de Allan; ficou realmente brava quando todos os outros colegas ficaram notando os dois. Os boatos eram certos, a confirmação fora dada, a garota da turma 03 não mentira: Allan estava ficando com Marceline.

**

Veio a aula de matemática e depois a de inglês, antes do intervalo. E os buxixos só aumentavam; não só pelo fato de que Allan não largou Marceline um só momento... mas pelo momento como papeavam: baixinho e com um sorriso no rosto.
Naquela madrugada estranha, Marce teve tanto tempo para pensar nas coisas... em como não queria sentir—se presa. Como queria aproveitar bem a vida. Como havia gostado das sensações que o garoto mostrou a ela. Mas ainda, ainda, não confiava nele totalmente.
— Vem pra minha casa hoje... — Allan disse, descontraído. Mascava um chiclete de menta forte, com calma e consistência.
Ele não conseguiu falar olhando nos olhos verdes dela. O olhar sempre descia, devagarzinho para a boca que morria de vontade de morder.
Marceline pensou um pouco.
— Não é bem assim... vc acha q pode me chamar q irei correndo?
Ele riu.
— O que tenho que fazer então?
As pessoas começaram a sair da sala. Os mais curiosos, as mais irritadas, fizeram hora. Allan realmente não percebia o clima estranho do resto da sala; Marceline decidiu não ver.
— Me bajule.
**
Allan foi jogar com os amigos na hora do intervalo, ao passo que Marceline foi sentar—se com um livro, em um banco mais afastado da movimentação. Agora ela lia A cidade do sol, do mesmo autor de O Caçador de pipas. Distraia—se muito com a historia envolvente, e volta e meia, percebia que teria ter ler o capitulo anterior por devagar demais acerca do mesmo.
Ela observou quando Elisa veio em sua direção e quando sentou—se ao seu lado no banco. A amiga tinha uma expressão divertida no rosto; Marceline fechou o livro e procurou sua garrafinha enquanto Lisa dizia o quanto Bruna estava estressada com alguma coisa.
— É sobre o Allan — Elisa disse entre risos — você sabe alguma coisa sobre?
De uma outra pra outra a loira finalmente aceitou o que acontecia: alguém havia visto ou Allan tinha contado.
— Não... — ela disse hesitante.
Elisa a encarou.
— Caramba, Marce... somos amigas. Você já notou sobre o que estou falando... você ficou mesmo com o Allan?
A moça do rosto de sardinhas claras abaixou os olhos. Nunca fora de se abrir com ninguém, e naquele momento, seu coração a alertou de não faze—lo.
— Quem começou com isso?
Elisa deu de ombros.
— Sei lá... mas me parece que Allan contou pra um dos amigos, ou amigas, se é que você me entende. Mas anda, você pegou o carinha mais disputado da oitavo ou não?
Marceline xingou. Ficou brava. Por aquilo estar acontecendo, pelo fato de que talvez Allan só estivesse armando pra ela, ou até mesmo, estivesse espalhando "o segredo deles por aí". Seu peito queimou de irritação com as perguntas fúteis de Elisa.
— Preciso ir.
**
Marceline saiu trotando com uma garrafa em uma mão, um livro na outra, e uma vontade de ir embora bem estúpida. As suas lentes haviam se danificado, e a partir do dia anterior, voltou a usar óculos. O problema é que havia se desacostumado. Enquanto estava tentando voltar pra classe e aguentar até a hora da saída, alguém esbarrou forte por ela, fazendo suas coisas caírem. Eram muitas pessoas num único corredor, aquela escola parecia o inferno.

A garota pegou tudo depressa, principalmente o óculos, para que ninguém pisasse. Seu grau de miopia era terminantemente alto. Quando levantou, sentou dois pares de olhos preocupados a encarando. Era um dos amigos de Allan, não, era o melhor amigo dele. Rodrigo era seu nome.

— Marceline, Allan pediu que você o encontrasse na biblioteca.

Ela apertou os olhos para conseguir se concentrar.

Marceline não respondeu, só fez menção de ir embora. Mas antes, Rodrigo segurou calma no cotovelo esquerdo da menina para que ela ficasse. Ele não era de se intrometer. O cara mais discreto do universo vivia naquele rapaz, mas simplesmente decidiu dizer:

— Você sempre fez bem pro Allan, mesmo sem saber. — Rodrigo respirou fundo, Marceline arqueou as sobrancelhas de surpresa — Ele parece meio idiota, mas acredite: ele gosta de você. Ele nunca disse, eu só percebi.

Ele soltou-a, e Marceline percebeu que queria fazer-lhe mais perguntas. Mas tudo que ele fez foi concluir seu leve discurso com uma frase antes de sair no meio dos outros alunos.

— Ele está precisando ser feliz; pense nisso.


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Notas finais do capítulo

Digam se gostaram ou não, por favor, é muito importante. Perdão pelos atrasos. A minha história fica pra depois u.u



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