Atravessei a porta do vestiário. Meu corpo estava trêmulo, mas não era de frio. Kallen veio ao meu encontro e parou em minha frente. Verificou o celular e soltou um sorriso.

– Ainda temos quinze minutos antes de o sinal tocar – falou com uma voz doce – vamos, vou te mostrar um lugar.

Ela pegou em minha mão me guiando. Atravessamos o pátio da escola, que estava cheio de alunos. Reconheci alguns rostos e os cumprimentei com um maneio de cabeça. Caminhamos além da quadra rumo a uma casa abandonada nos fundos da escola. Paramos e ela olhou para os lados verificando se ninguém nos via, empurrou a porta que para minha surpresa estava aberta. A porta abriu com um barulho estridente. Kallen soltou um sorriso adentrando o local mal iluminado e me puxando consigo. Fechou a porta atrás de nós.

Estava realmente muito escuro lá dentro, a não ser por duas frestas de luz que invadiam do alto por pequenas janelas arredondadas. Subimos uma escada e caminhamos cerca de dois metros até uma segunda porta que também estava aberta. Kallen puxou a porta trazendo consigo uma enxurrada de luz que me cegou momentaneamente. Entramos na sacada e foi aí que fiquei impressionado. Ali, do outro lado do muro da escola, havia um lado da cidade que eu jamais vira, era um campo aberto com algumas árvores de Ipê repletas de flores roxas e o chão gramado coberto por elas também.

– Uau! – foi o que consegui dizer para demonstrar o quanto estava surpreso.

– É lindo não é?! Descobri esse lugar quando ainda estava no sétimo ano, venho aqui sempre que quero fica sozinha e pensar um pouco.

Um silêncio desconfortável caiu sobre nós. Tudo estava acontecendo rápido demais. Uma explosão de felicidade e confusão queimava dentro de mim. Virei-me para ela segurando seu queixo fazendo com que seu rosto se levantasse e voltasse para mim.

O vento tocou seus cabelos castanho-claro balançando-os para trás, deixando seu rosto ainda mais visível. Suas expressões pareciam ainda mais suaves quando vistas de perto. Acariciei seus lábios com o polegar e falei finalmente.

– Nem acredito que estou aqui com você – toquei seus lábios com os meus iniciando um beijo calmo porém com ternura. Meus braços envolveram sua cintura e senti que ela me abraçava pelo pescoço.

O momento que imaginei por tantos anos estava finalmente acontecendo. Mas porque eu estava tão calmo? Senti um leve cheiro de perfume de hortelã me invadir o nariz enquanto eu abraçava seu corpo e o puxava mais para mim. Quando parei o beijo e finalmente abri os olhos fui tomado por um terror dominante. Dei um passo para trás assustado. Kairo estava ali, bem em minha frente. Eu o havia beijado? Como isso acontecera? Não é possível que... Fui interrompido de minha alucinação com a voz de Kallen.

– O que foi? – sua expressão demonstrava confusão – fiz algo errado? Foi tão ruim assim?

– Não, não é isso – disparei. Eu havia imaginado aquilo? Por quê? Por que algo tão sujo se passava em minha cabeça? Senti uma onda de náusea percorrer meu corpo. Minha cabeça girava. Me aproximei dela novamente, abri a boca pra tentar me explicar mas não consegui, a única coisa que consegui dizer foi – Preciso ir, desculpa – e saí correndo dali.

A aula passara demoradamente e eu não conseguia olhar para Kallen, que se sentava do outro lado da sala. Eu estava envergonhado, mais que isso, estava confuso.

Kairo se sentava bem em minha frente e sempre dava um jeito de me provocar, as vezes eu tinha a impressão que ele piscava pra mim. Quando o sinal tocou, ele me mandou um beijinho e gesticulou com a boca “Nove horas, te espero baby”.

Idiota.