Gif do capítulo: http://data.whicdn.com/images/35885393/tumblr_m9dvuhyYAu1qiqy8mo1_500_large.gif

Mãe: Filho? Quando você chegou?

Eu abri os olhos e vi minha mãe num vestido preto, sentada na minha cama.

Eu: Não sei. Eu perdi o almoço do Natal, né?

Mãe: Nem teve, querido. Seu pai ainda não voltou da delegacia.

Eu: Que horas são agora?

Mãe: Oito da noite.

Eu: Eu dormi o dia todo?

Mãe: Acho que sim, eu não vi você chegar.

Passei a mão no rosto e sentei na cama.

Eu: Alguma notícia?

Mãe: Não. Seu pai só falou que talvez chegue tarde, porque ele está preparando a ficha do Carlos. E eu não consegui ver a Márcia, ninguém atende o telefone e eu fiquei com medo de aparecer lá e ela estar muito nervosa.

Eu: Acho que é melhor irmos amanhã.

Mãe: É. Ah! Tem uma carta do colégio pra você.

Eu: Já? Você acabou de me matricular no Alpha.

Mãe: Deve algum bilhete de boas vindas, ou algo assim. Vou mandar a Lígia trazer junto com seu jantar.

Eu: Tá. Valeu.

Ela beijou minha cabeça e saiu do meu quarto. Minha mãe era muito bonita, mas ela estava com olheiras e era óbvio que tinha bebido o dia todo. Ela devia estar péssima com tudo o que estava acontecendo.

(…)

A Lígia entrou no meu quarto e deixou uma bandeja com macarrão com molho branco e a carta da escola na minha cama.

Eu não tava com fome, apesar de não ter comido o dia todo.

Abri o envelope da escola e li a carta.

“Senhor Pedro Gonzales:

O Colégio Alpha está organizando uma viagem de Ano Novo com destino à Londres aos alunos do terceiro ano de 2012. Todos os alunos que passarão a cursar os terceiros anos (alunos novatos ou veteranos rematriculados) estão convidados a passar o Reveillon em Londres.

OBS: 

O local da hospedagem dos alunos alunos será o Hotel The Lanesborough.

A viagem será dia 29/12/2011 e terá retorno em 08/01/2012.

Todas as despesas (exceto consumo próprio - compras) serão pagas pela escola e pela companhia de turismo.

Para os alunos que participarão da viagem: mandar o comunicado assinado até dia 27/12.”

Londres? Tipo, Inglaterra, Reino Unido… Londres?

Com tudo isso que tava acontecendo uma viagem a Londres até que era uma boa.

Comi um pouco do macarrão, só pra não fazer desfeita e levei lá pra baixo, na cozinha.

Lígia: Por que não me chamou, Pedro?

Eu: Você é a empregada, Lígia. Não a escrava. Cadê minha mãe?

Lígia: No quarto dela.

A Lígia era empregada da minha família desde antes de eu nascer. Eu a via como uma segunda mãe. Quando eu precisava de alguma coisa que minha mãe não pudesse saber era ela quem me ajudava.

Corri pro quarto da minha mãe e bati na porta.

Mãe: Entra.

Abri a porta e a vi deitada na cama, com aquela máscara nojenta verde dela.

Mulheres e seus tratamentos estúpidos de beleza. É só dormir que resolve.

Eu: Mãe eu… li a carta da escola.

Mãe: E…?

Eu: É tipo um convite. Pra Londres.

Mãe: E você quer ir?

Eu: Bom…

Mãe: Você sabe que pode, principalmente nos acontecimentos recentes. Quanto é?

Eu: É tipo um presente de boas vindas.

Mãe: Presente? É de graça?

Eu: É. Só vai ter que pagar as compras que eu fizer por lá.

Mãe: Tem que assinar alguma coisa ou ligar na escola?

Eu: Só assinar esse papel e levar pra lá.

Mãe: Pega uma caneta na minha bolsa.

Ela assinou, me deu um abraço e eu voltei pro meu quarto.

Em três dias eu ia viajar pra Londres com uma escola nova, onde eu não conhecia ninguém. Mas eu sei que não seria o único naquela situação.

Peguei meu notebook e fui pro porão.

Coloquei Skrillex no máximo e entrei no Facebook pra ver se o Alpha tinha alguma página, ou alguma coisa assim, só pra eu ver as caras dos alunos. Tá, admito. Eu queria ver as alunas.

Achei uma página. Vamos às fotos…

Só eventos da escola, reuniões, fotos de professores e merdas desse tipo.

Vamos ver quem curtiu a página? Vamos…

Olha só, tem umas garotas interessantes nessa escola… Deixa eu ver, Mariana Rinaldi. Não, valeu. Muito metida.

Olha, ela tem um clone, Juliana Rinaldi. Não, valeu. É gêmea da Mariana.

Olívia Falcão. Agora sim. Fotos de Olívia Falcão. 

A primeira foto que apareceu foi ela e uma garota loira, parecia irmã dela por causa do cabelo. As duas estavam abraçadas, a Olívia com um óculos laranja em forma de estrela e a amiga com uma máscara acho que do Batman, numa festa. E foi justamente dessa amiga que eu gostei. Natallie Mendes. 

Entrei na página dela e fui direto a dois pontos: relacionamento e fotos.

Solteira. Bingo.

Então agora às fotos.

Caralho, que linda. 

Tatuada, loira, bocão.

Não tinha quase nada ali que indicasse qualquer coisa sobre a personalidade dela. Mas eu já vi que ela gosta de Skrillex, Muse, Slipknot e parece que idolatra Bob Marley, porque de todas as publicações que eu vi, pelo menos dois terços eram fotos ou frases dele.

“Oi Pedro”.

Mensagem da Layza. Minha ex.

Namorada é uma merda. Porque quando você termina ela insiste em querer ser sua amiga, e se você aceita, ela vem falar com você, não importa onde ou com quem você estiver.

Ignorei.

Layza: Fala comigo. Eu sei que você não tá fazendo nada.

Fechei o Facebook sem responder a mensagem dela e desliguei o computador.

Qual era mesmo o nome daquela loirinha? Natália? 

Natallie. Pelo amor de Deus, Pedro. Não esquece.

Fiquei boiando desenhando na parede do porão até que cansei e me joguei no sofá e apaguei ali mesmo.

Será que aquela Natallie vai pra Londres?

(…)

Acordei com alguma coisa peluda andando em mim. Mas que porra era aquilo?

Passei a mão e peguei num negócio comprido. Meu medo era abrir os olhos e encontrar alguma coisa desagradável.

Então ouvi um… miado?!

Ah, nossa que alívio da porra. Era a Luna, minha gata.

Eu: Você me assustou, sua putinha.

Ela miou em resposta, e eu imaginei ela me falando: “otário”.

Mas como a Luna entrou lá?

Calma, eu sei que Luna é um nome estranho, mas eu tinha onze anos quando a ganhei de aniversário e eu era viciado em Harry Potter. Eu ia chamá-la de Gina, mas a Luna de repente se tornou a minha personagem predileta, depois da Hermione. E convenhamos que Hermione não é um nome muito legal pra uma gata.

Levantei e vi que a saída de ar tava aberta. A filha da puta entrou por lá.

Eu deixava ela entrar lá de vez em quando, e acho que esqueci de fechar a grade da última vez.

Desliguei o som, que tava em stop há horas e eu apaguei a luz e saí do porão, com a Luna enroscada no meu braço.

Minha mãe tava tomando café da manhã, sozinha.

Eu: Cadê meu pai?

Mãe: Na delegacia. Saiu cedo. 

Eu: E como você tá?

Mãe: Daquele jeito, meu bem. Mas eu vou ficar bem. Eu preciso ver a Márcia.

Eu: Então vamos juntos. O Victor deve estar lá e…

Mãe: Ele passou aqui mais cedo e disse que ia passar o dia fora, e que você não se preocupasse com ele, que ele está bem.

Eu: Mas onde ele foi?

Mãe: Não tenho ideia.

Terminei de comer e fui pro meu quarto. Peguei o celular e disquei o número do Victor, que atendeu no segundo toque.

Victor: Fala.

Eu: Tá onde?

Victor: Com uma mina. 

Eu: Foi mal. Tá tudo bem?

Victor: Ótimo. Eu vou ficar uns três dias na casa da minha vó no interior junto com a minha mãe, pra ela relaxar por causa dessas coisas. Boa viagem pra Londres. Sua mãe me falou.

Eu: Se você quiser que eu vá pra sua vó eu vou. Foda-se Londres.

Victor: Eu não vou prender você comigo como se você fosse minha namorada. A gente é amigo, mas não exagera.

Eu comecei a rir.

Eu: Então tá, amor.

Victor: Não vem com viadagem. 

Eu: Nossa desculpa.

Victor: Eu tô zuando, sua bicha. Eu vou desligar agora porque eu tenho coisa melhor pra fazer.

Eu: Fica bem aí, mano.

Desliguei e joguei o celular na cama. Eu gostava de fazer isso. 

Se bem que da última vez que eu joguei um celular ele caiu da cama e se espatifou no chão.

Fiquei na varanda olhando pra água da piscina mexendo devagar com o vento. Era meio hipnotizante. 

Então a foto da tal da Natallie voltou nitidamente à minha mente, me fazendo vê-la nadando na piscina. 

Que porra eu tava vendo?

Pisquei algumas vezes e a piscina voltou a ficar deserta.

Eu precisava de um banho. Isso aí.