Meu Vampiro De Estimação escrita por Eica


Capítulo 8
Todas as minhas lágrimas




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Enquanto a piscina de azulejo não era finalizada, Eric e Caio compraram uma piscina intex easy set com capacidade para mais de dez mil litros. Montaram a piscina no jardim e começaram a enchê-la logo de manhã. Sébastien observou a tudo pela janela. Abriu a vidraça e apoiou os braços no peitoril.

- Vocês estão gastando muito dinheiro.

- Não enche, Sébastien. - disse Eric, de bom humor. - Compramos a piscina para nós três. Não vai querer entrar também e se refrescar? Tem feito muito calor.

- Compramos uma bermuda pra você. - disse Caio.

- Teria sido uma sunga, mas achamos que você não ia querer usar.

- Por que?

- Por nada. - respondeu Eric.

Ele e o irmão se olharam e riram.

Durante dois dias, Sébastien observou os irmãos, da janela, se refrescando na água da piscina. Colocaram o aparelho de som para tocar músicas animadas. Usando apenas shorts, ficavam sentados na piscina, às vezes a mergulhar todo o corpo, às vezes a molhar somente a cabeça. Sébastien os espiava. Nesses dois dias, quase não estudou. Ver os garotos na piscina era mais interessante.

- A água nem está mais gelada. - comentou Caio, no terceiro dia, dentro da piscina.

Eric, que estava boiando na água ao seu lado, concordou.

- O sol tá tão ardido.

- Cadê o Sébastien?

- Não está na janela? - respondeu Eric.

- Não, parece que saiu. Coitado. Não pode aproveitar o sol. - murmurou Caio.

- Podemos fazer uma cobertura pra ele, né? Que acha?

- Boa ideia.

Ao anoitecer, Eric e Sébastien ficaram sozinhos após Caio ser levado para a escola. Um pouco depois das oito da noite, Thibaut apareceu. Eric abriu o portão para ele.

- Boa noite.

- Boa noite.

- Estão todos em casa?

- Só o Caio que não. Está na escola.

- Ah!

Entraram na sala. Sébastien estava lá, sentando num dos sofás a ver televisão.

- Boa noite, meu querido.

Thibaut aproximou-se, pegou sua mão direita e a beijou como sempre fazia.

- Como está?

- Péssimo.

Thibaut riu.

- É a primeira pessoa que é sincera quanto a isso. E você, Eric?

- Bem, eu acho. Eu vou pra cozinha. Quer alguma coisa?

- Não, obrigado.

Eric saiu. Thibaut sentou ao lado de Sébastien.

- Por que você está péssimo? Não é por que eu estou aqui, não é? Você é tão importante para mim que deixei meus afazeres para depois.

- Você veio por causa do Caio.

- Também, não nego, mas vim para te ver.

- Já contamos todas as nossas novidades. Não tenho mais nenhuma. Minha vida se resume a ficar trancado nesta casa. Você deve fazer mais coisas do que eu.

- Trabalho. Apenas trabalho. Diversão também, claro, afinal, o que seria da vida sem diversão? Por que não vem conhecer minha casa? Vai gostar dela. Coleciono obras de arte, carros... Quero mostrá-los a você.

- Sylvian está vivendo com você?

- Naturalmente. Não irá se ele estiver lá?

- Não quero reencontrá-lo.

- Pobre, Sylvian. - riu. - Contei-lhe sobre você e ele disse que não se importaria de te reencontrar.

- Mesmo? Então quem lhe disse isso não foi Sylvian.

Thibaut riu de novo.

- Sylvian já teve todos os cortes de cabelo que pode imaginar. Nunca os raspou totalmente, devo ressaltar. Nunca gostou de cabelos curtos. Já foi ruivo, já foi moreno, já deixou o cabelo ao natural... Adoro sua personalidade. Vocês dois seriam bons amigos se deixassem essas besteiras de lado. Odeiam-se sem motivo.

O vampiro olhou para a televisão. Ficaram em silêncio por um tempo. Quando Eric veio para a sala, Thibaut conversou um pouco com ele, já que Sébastien não estava muito comunicativo. O chegado foi embora um pouco depois das nove.

O vampiro de longos cabelos voltou nos dias posteriores, quase sempre no mesmo horário. Só revelou que era o admirador de Caio no sábado, quando trouxe-lhe mais um presente caro – um perfume que ele disse ter sua personalidade. Caio ficou muito agradecido e também muito surpreso. Neste dia, Thibaut convidou o jovem para um passeio. Sébastien protestou.

- Acalme-se, ranzinza. - sorriu Thibaut. - Em primeiro lugar, não é você quem decide, e em segundo lugar, Caio ainda não deu uma resposta. Não insistirei se ele não quiser.

Caio olhou do vampiro para o irmão, que estava perto. Procurou na expressão de Eric qualquer sentimento que lhe ajudasse na decisão. Não achava Thibaut uma pessoa ruim, todavia, não queria ficar sozinho com ele unicamente por ser um vampiro. Primeiro pensou em perguntar a Thibaut se Eric não podia ir junto, mas achou que não estaria sendo educado. Talvez o vampiro percebesse o seu desconforto.

- Tudo bem. - respondeu, com toda coragem que conseguiu reunir.

Sébastien ficou perplexo. Thibaut alargou o sorriso de felicidade.

- Meu carro é espaçoso. Vai gostar dele. Poderemos passear de carro pelo bairro. Não nos afastaremos da casa. Não se preocupe.

Quando os quatro foram para a calçada, Caio mandou um olhar para Eric, que por sua vez dirigiu-lhe um olhar de segurança. Caio entrou no carro de Thibaut e os dois se afastaram. Sébastien e Eric observaram o carro distanciar-se.

- Você é um estúpido!

- Que? Por quê?

- Deixar Caio ir com Thibaut?! - exclamou Sébastien.

- Achei que ele fosse seu amigo. Não podemos confiar nele?

- NÃO!

- Por que não?

- Ele está interessado no Caio.

- E isso é problema?

- Sim, é um problema.

Eric seguiu Sébastien pelo jardim.

- Você o está influenciando mal.

- Como é que é? Eu ouvi direito?

- Caio te vê envolver-se com qualquer um que aparece e quer fazer o mesmo.

Eric riu de surpresa.

- Não acredito que está dizendo isso! Quer dizer que eu não valho nada?

Sébastien virou-se para o rapaz e respondeu firmemente que sim.

- Achei que tivesse sido claro. - disse ainda.

- Não acho que Thibaut fará mal a ele. - disse, controlando-se para não dar um tapa na face do insolente.

- Eu o conheço melhor do que você. Neste caso, sei o que é melhor ao seu irmão e se digo que o melhor é ficar longe de Thibaut, então ele tem que ficar longe!

- Está certo. Diga isso ao Caio e ele decidirá.

Quanto aos outros dois, bem, Caio impressionou-se com a amabilidade do vampiro. Thibaut foi bastante gentil e em nenhum momento deixou-o desconfortável. Perguntou-lhe sobre muitas coisas: seus planos, seus gostos, suas amizades e inimizades. Thibaut tinha um jeito particular de se portar. Era muito charmoso e cheirava muitíssimo bem. Caio ficou meio sem jeito ao lado de um homem como ele. “Será que todos os vampiros são provocantes assim?”, pensou, divertido.

No dia seguinte, Thibaut apareceu e como o vampiro foi gentil da última vez, Caio passeou com ele novamente. Voltou para casa às nove e quinze. Neste mesmo domingo, conversou com o irmão – em particular, pois Sébastien fazia muitas perguntas - sobre o passeio, e só mais tarde, foi dormir. Lá pela meia noite, os três moradores do casarão de número 3145 estavam em sono pesado. Caio viu tanto Thibaut esses dias que acabou tendo um sonho com ele. Sébastien, dentro de seu caixão, não teve sonho algum. Mexeu-se por um momento, para acomodar-se melhor no acolchoado. Já Eric, estava tendo um sonho maluco e interessante quando precisou levantar para ir ao banheiro. Saiu da cama, muito desanimado, entrou em seu banheiro, usou o vaso e depois apertou a descarga. Quando terminava de lavar as mãos, ouviu um barulho confuso, difícil de descrever. Fechou a torneira, secou as mãos e fez silêncio, para ouvir melhor. Sim. Agora sim compreendeu. Eram passos. Sons de passos. Vindos lá de fora.

Os sons estavam tão próximos que parecia que alguém caminhava pela parede. Seu susto foi maior quando tentaram abrir uma das janelas de seu quarto. Na ponta dos pés, abriu a porta, fechou-a atrás dele e entrou no quarto de Caio. Trancou a porta por precaução. Inclinou-se ao lado do irmão e tocou-lhe no ombro.

- Caio. Caio.

O menorzinho abriu os olhos quando seu ombro foi sacudido de leve.

- Que foi?

- Levante. Tem alguém lá fora. Alguém querendo entrar. Levanta.

Depois deste alerta, Caio levantou-se rapidamente, com o coração aflito e, de mãos dadas a Eric, saiu do cômodo e entrou no quarto de Sébastien. Eric trancou a porta. Levantou a tampa do caixão e sacudiu Sébastien.

- Sébastien. Sébastien. - sussurrou.

O vampiro acordou.

- Tem alguém tentando entrar na casa. Estava forçando a janela do meu quarto.

Sébastien levantou-se do caixão.

- Fiquem aqui. Não abram a porta.

Saiu do quarto. Eric trancou a porta e pegou o atiçador da lareira. Pediu a Caio que ficasse no canto da parede. Ficaram ali. Sébastien abriu a porta do quarto de Eric e viu uma janela aberta quando ligou a luz. No entanto, não havia ninguém ali dentro. Ao debruçar-se sobre o peitoril da janela, viu, muito rapidamente, uma sombra correr pelo jardim em direção a fachada. Sem demora, fechou a janela, saiu do quarto e correu até a escada. Quando descia os degraus, viu alguém em frente da porta aberta do hall. Lembrou-se do sujeito. O homem, de jaqueta e jeans, tirou um revólver do bolso e disparou cinco vezes contra Sébastien. O vampiro não conseguiu desviar a tempo. Recebeu os tiros. Com grande fúria, desceu o restante dos degraus e atacou o homem com toda sua força.

Enquanto isso, Eric e Caio tiveram que sair do quarto do vampiro, pois uma das janelas foi totalmente destruída por um homem. Correram para o quarto de Caio e trancaram-se lá. Com os corações descontrolados e mãos trêmulas, recolheram-se num canto do cômodo. Eric ficou em frente ao irmão, com o atiçador em punho, pronto a defender-se de quem aparecesse. Não demorou para que uma das janelas fosse quebrada pelo mesmo sujeito estranho. O homem entrou no quarto e caminhou em direção aos meninos.

Eric preparou-se para atacar. Quando o homem já estava bem próximo, deu o primeiro golpe. Ele desviou. Não desviou do segundo golpe, porém, que o feriu no braço direito. No terceiro golpe de Eric, o sujeito agarrou o atiçador e pegou o rapaz pelo cabelo. Agarrou-o com tanta força que o couro cabeludo do rapaz ardeu. Jogou-o contra a cômoda. Caio, para tentar salvar o irmão, foi para cima do estranho, que apenas empurrou-o em direção à cama. Eric foi derrubado no chão quando tentou levantar-se e recebeu uma golpeada nas costas. O ferro do atiçador perfurou-lhe a carne de maneira brutal. Caio sentiu a dor do irmão quando ouviu seu grito. Tentou salvá-lo outra vez, mas foi repelido com outro empurrão violento. O sujeito, não satisfeito em fazer um furo nas costas do rapaz, quis fazer outro, mas antes preferiu esmurrar-lhe nas costas com o objeto pontiagudo. Intercalou arranhadas com a ponta afiada e golpes bem dados. Qualquer tentativa de fuga era infrutífera. O homem não dava nenhuma chance de escapada, o que só aumentou o martírio de Eric.

Não suportando a situação, Caio lembrou-se de uma tesoura que guardava no banheiro. Como o homem estava ocupado, correu até o banheiro, apanhou a tesoura e, segurando-a firmemente, acertou-lhe na nuca. Desesperadoramente, o sujeito não pareceu sentir dor alguma, mas sua surpresa em receber tal golpe foi a chance de Eric para levantar-se, recuperar o atiçador e acertar-lhe no rosto. Desta vez o desconhecido caiu no chão.

- Feche os olhos, Caio! - disse Eric, com a voz carregada de ódio.

Caio, com os olhos marejados, corpo trêmulo e coração querendo sair pela boca, encolheu-se no canto da parede, ao lado da porta, e fechou os olhos. Eric espancou o homem com toda sua força, enquanto as costas latejavam de dor e o ferimento derramava sangue numa proporção preocupante. Ao terminar o serviço, quando percebeu que o homem não ia levantar, pôde chorar um pouco e receber um abraço do irmão.

Após recuperarem a coragem, saíram deste quarto, trancaram a porta e desceram a escada do hall. Viram manchas de sangue pelo piso, e também nas paredes. Nem sinal de Sébastien. Atravessaram a porta aberta e chegaram no jardim frontal. Tudo estava quieto. Olharam para a direita, olharam para a esquerda. O carro estava logo em frente. Intacto. O portão estava fechado. Foram para sua esquerda. Não havia ninguém deste lado da propriedade. Foram para a direita. Enfim, encontraram Sébastien. Ele não estava sozinho. Segurava um homem pela cabeça, e mordia-lhe o pescoço. Havia outro homem logo ao lado, caído no chão. Por causa da pouca claridade, não puderam ver o que lhe acontecera.

Assim que terminara de tomar todo o seu sangue, Sébastien largou o corpo do sujeito no chão. Virou-se para os garotos. Como vestia uma camisa branca, foi fácil enxergar os rios de sangue que escorriam de várias feridas espalhadas por seu corpo.

- Vocês estão bem? - indagou, com os lábios vermelhos.

Como descrever o que os meninos sentiram quando viram, pela primeira vez, Sébastien morder outro ser humano como se fosse um animal? A cena causou-lhes forte impacto, mas naquele momento havia outras coisas com que se preocupar.

- Tem outro lá em cima. - informou Eric, com a voz dissonante.

- Onde?

- No quarto do Caio. Eu bati nele com o atiçador... Não sei se ainda está vivo.

Juntos, voltaram para dentro da casa. Sébastien, na frente, entrou no quarto de Caio e viu o vampiro caído no chão. Pediu o atiçador e ordenou aos meninos que esperassem no corredor e tapassem os ouvidos. Obedeceram. No momento em que tudo acalmou, Sébastien levou os três cadáveres ao quintal. Deixou-os em qualquer canto, pois quando amanhecesse, o sol cuidaria do resto. Entrou no hall e encontrou os meninos sentados num degrau da escada. Caio estava agarrado ao pescoço do irmão e chorava em demasia. Eric tentava acalmá-lo, mesmo que não estivesse cem por cento calmo. Sébastien aproximou-se a passos lentos.

- Não tem mais ninguém? - perguntou Eric.

O vampiro fez que não. De repente, Eric verteu lágrimas.

- Vamos ao pronto-socorro. - pediu Caio, soluçando.

- O que houve? Foram mordidos?

- Eric está machucado.

- Onde?

Sébastien pegou Eric pelo pulso, levantou-o e procurou pelo ferimento. Assustou-se quando viu sua camiseta azul ensopada. Ao levantá-la, viu os cortes e a perfuração.

- O que está fazendo aqui, seu estúpido? Vá ao hospital agora!

Caio levantou-se rapidamente, pegou Eric pela mão e foi com ele ao jardim. Sébastien observou-os sair com o carro, deixando o portão aberto. Apesar do alívio por tudo ter acabado, ficara ainda a sensação de que alguma coisa estava errada, e a falta de respostas às suas perguntas inquietavam em demasia.

Os irmãos demoraram a voltar. Já em casa, encontraram Sébastien no jardim. Eric estacionou o carro alguns metros em frente da porta. Caio fechou o portão.

- Está melhor? - indagou o vampiro, ao aproximar-se do rapaz.

- Não.

Eric chamou Caio. Ambos entraram no hall. Sentaram no sofá para descansar. Sébastien apareceu uns momentos depois. Caminhou vagarosamente até eles. Observou-os com atenção. Caio abraçou-se ao irmão, sem tocar em suas costas.

- Calminha, lindo. - disse a voz de Eric. - Está tudo bem agora.

- Não está. - disse a voz trêmula de Caio.

Sébastien parou ao lado do sofá onde estavam. Eric levantou o rosto para ele.

- O que está acontecendo?

- Não sei.

Puseram um colchão num dos quartos vazios e dormiram ali, em companhia de Sébastien, que preferiu manter-se acordado para velar seus sonos. A esta hora, o vampiro já havia limpado seus ferimentos e trocado de roupa. Sentou-se no chão e encostou-se a parede. Não tirou os olhos dos meninos. Caio demorou a dormir porque ainda estava muito choroso e Eric precisou dormir de lado para não sentir mais dores nas costas.

Naturalmente que esta foi a pior noite do vampiro. Pensava a todo o momento se outros vampiros apareceriam para atacá-los novamente. E foi pela proteção de Eric e Caio que se manteve acordado. Ao amanhecer, nenhum dos meninos acordara. Foi por volta do meio dia que Caio mexeu-se na cama. Murmurou algumas palavras ao irmão e saiu do quarto, deixando a porta aberta.

Sébastien levantou-se. Ajoelhou-se do lado do colchão onde Eric estava deitado. O rapaz olhou para ele.

- Você está bem?

Eric acenou positivamente com a cabeça.

- Você deve me odiar. Não lhe culpo. Você está certo. Você tem razão. Sou imprestável.

- Está tudo bem.

- É a segunda vez que você se fere...

- Está tudo bem.

O vampiro debruçou-se sobre o rapaz e encostou o rosto em seu pescoço. Deitou a mão direita sobre seu ombro.

- Perdoe-me.

- Eu não te perdoaria se deixasse algo acontecer ao Caio. - disse Eric, chorando.

Sébastien levantou o rosto e fitou-o nos olhos.

- Não me importo de me ferrar todo... E você? Se machucou muito.

- Minha dor física não é nada... Comparada a dor de meu coração.

O vampiro afagou-lhe o rosto. Eric sentou-se. Moveu-se com dificuldade, pois as costas estavam muito doloridas, e antes que pudesse resolver o que faria em seguida, recebeu um abraço. O vampiro permaneceu-se agarrado a Eric por tanto tempo que este achou que Sébastien não o soltaria. Caio voltou para o quarto trazendo comida. Os irmãos comeram no quarto e continuaram ali por algum tempo.

Mais tarde, precisaram limpar a sujeira e a bagunça. Eric não fez muito, pois não permitiram que ele esforçasse demais as costas. No momento em que os meninos saíram para o jardim, caminharam em direção aos cadáveres dos vampiros e perceberam que deles só sobraram as cinzas e as roupas. Puseram as roupas e as cinzas num saco de lixo e livraram-se de tudo. Limparam a casa quantas vezes acharam necessário e ainda compraram janelas novas para substituírem as quebradas.

Enquanto as novas janelas não eram instaladas, passaram a dormir no quarto onde puseram o colchão. Sébastien levou seu caixão para este mesmo quarto, para estar sempre por perto. No segundo dia após o ataque dos vampiros, permaneceu acordado. No terceiro dia, dormiu em seu caixão, porém, deixou a tampa levantada.

No quarto dia, os meninos aparentavam estar melhores de espírito. Os dias passaram e não acharam que outro ataque viria a acontecer. Eric tentava animar o irmão de todas as maneiras. Assistiu televisão com ele e depois levou o notebook para a cozinha na hora do almoço. Viram vídeos enquanto comiam. Mais tarde, foram à piscina. Sébastien espiou-os pela janela. Somente o machucado mais profundo nas costas de Eric estava protegido por um curativo. Os arranhões estavam todos visíveis. Eram tantos que era difícil contar.

Naquele instante, Sébastien recordou-se de todas as coisas que aconteceram e sentiu uma dor aguda no peito. Doeu-lhe não poder ir lá fora e desbravar a cidade em busca de respostas. A sensação de ter-se tornado um inútil foi tão forte que por pouco não gritou e quebrou tudo a sua volta. Quando sentiu o corpo pesado, sentou no sofá e apoiou a testa nas mãos. Fitou o chão, enquanto o coração sofria.

- Vamos comprar sorvete. - disse Caio, entrando na sala.

Ao ver Sébastien cabisbaixo, aproximou-se devagar e parou em sua frente.

- Tudo bem?

Sébastien olhou-o e sorriu levemente.

- Tudo.

- Vamos comprar sorvete. Voltamos rápido.

- Está certo.

No sábado abafado e chuvoso, Cléber apareceu. Foi impossível a Eric fugir, pois Caio já havia atendido o rapaz no interfone. Cléber entrou na casa e foi para a primeira sala com Eric. Sentaram no sofá.

- Queria te levar para um restaurante que inaugurou há poucos dias. Estaria interessado em ir hoje?

- Desculpe, Cléber, mas eu quero ficar em casa. Estou com dor nas costas. Estou cansado. Não podemos ficar aqui?

- Tudo bem... Onde está o Caio?

- Foi tomar banho.

- E aquele seu primo estranho? - murmurou.

- Não sei. Deve estar por aí.

Eric recebeu carinhos no pescoço e beijos na bochecha.

- O que você tem nas costas?

- Não sei. Só estão doendo.

- Foi ao médico?

- Ainda não... Podemos ir pro quarto?

- Claro.

Caio saiu do banho, trocou-se em seu quarto e desceu as escadas do hall. Pendurou sua toalha no varal do quintal e foi até a cozinha para ver se encontrava algo gostoso para comer. Resolveu mordiscar um pão caseiro comprado no dia anterior. Cortou um pedaço generoso e caminhou pela casa. Ao passar próximo do escritório, resolveu parar na soleira da porta, e deu-se com Sébastien sentado numa cadeira. Seu olhar estava fixo no nada. Não se mexia.

Antes de entrar, deu uma batidinha na porta para que Sébastien percebesse a movimentação. Assim que o vampiro voltou-se para ele, Caio entrou.

- Você tem andado muito calado.

- Não tenho paz de espírito há muito tempo. - respondeu o vampiro. - Creio ser o responsável pelas desgraças em suas vidas. Estou tão arrependido, Caio.

- Do que?

- Minha mãe devia ter-me matado. Sei que teria feito se eu tivesse pedido.

- Você quer nos deixar?

- Como poderia? Agora não posso partir mesmo que soubesse como fazê-lo. Estou demais envolvido e sei que se eu continuar aqui, mais desgraças acontecerão.

- Você não tem culpa de nada. E o Eric e eu não te deixaríamos ir.

Caio olhou a face amargurada do vampiro, aproximou-se e beijou sua testa.

- Como podem gostar de mim se sou tão desprezível? Às vezes tenho ódio de mim mesmo. Queria ser normal.

- Se fosse, nunca teríamos te conhecido.

Sébastien olhou o sorriso do garoto. Pegou sua mão direita e beijou-a. Em seguida, encostou a bochecha nela.

- Talvez... Talvez tenhamos nos conhecido por alguma razão. Não acha? Não foi algo ruim. Pelo contrário.

- Claro que não.

Sébastien ergueu o olhar para o jovenzinho e sorriu. Levantou-se da cadeira e abraçou-o carinhosamente. Em seguida, beijou-lhe nas bochechas e nos lábios. Caio mal pôde reagir. Enquanto isso, no quarto de Eric, Cléber e ele conversavam a respeito da relação que tinham, e o moço acabou fazendo uma proposta inesperada. Ambos passaram um bom tempo dentro do quarto, conversando e namorando. Hoje, Thibaut não apareceu, mas ligou para Sébastien para perguntar se tudo estava em ordem. Mais tarde, Caio procurou pelo irmão e trancou-se no quarto com ele. Parecia inquieto.

- Que foi? - indagou Eric, que acabara de sair do banho.

- Preciso te contar... O Sébastien... Me deu um beijo. E eu aceitei. Eu não fiz nada. Estou me sentindo mal. Me desculpa.

- Ah, Caio... Você não fez nada errado.

Eric terminou de se secar e vestiu-se.

- Dissemos que seríamos apenas amigos. Prometo que não vai acontecer de novo.

O maior riu.

- Está preocupado à toa. Não foi nada. Deixa de pensar nisso, tá?

No domingo, choveu quase o dia inteiro e fez muito calor. As obras no jardim precisaram ser adiadas. Na segunda-feira, a chuva deu uma trégua, mas continuava calor. Assim que levou o irmão para o colégio, Eric voltou para casa e chamou por Sébastien. Achou-o na banheira de seu quarto.

- Bem, isso me revelou muita coisa. - disse o rapaz, calmamente, entrando no banheiro.

- Pelo contrário. A espuma me esconde todo. - brincou o vampiro, sorrindo.

Eric parou em frente da pia e recostou-se nela. Cruzou os braços.

- Você não tem o costume de bater na porta antes de entrar, não é?

- Você deixou tudo aberto. Não tenho culpa se gosta de se expor.

Sébastien apenas sorriu.

- Precisamos conversar seriamente. - disse o jovem, de modo tranquilo. - É evidente que você gosta do Caio...

O vampiro soltou uma exclamação de fastio.

- Não comece, Eric.

- Espere, me escute. Não quero te aborrecer e nem nada, só quero que perceba. Eu já percebi. Está claro para mim. É do Caio que gosta de verdade. Então nada mais certo do que ficar com ele. Nada o impede. Ele ficará muito feliz. Ele disse que você não falou nada para ele, por isso acho que já está mais do que na hora, não? E antes que diga alguma coisa, não estou escolhendo por você, porque você já fez a escolha.

Sébastien manteve-se pensativo.

- Fico muito feliz com isso. O Caio é minha alegria. Eu o amo muito e quero vê-lo feliz. Você o fará feliz, Sébastien?

O vampiro fitou-o nos olhos.

- Vai fazê-lo feliz, não é?

Eric descruzou os braços, apoiou as mãos na pia, permaneceu uns segundos nesta posição e depois saiu do banheiro. Ao buscar Caio na escola, contou-lhe sobre a escolha de Sébastien.

- Ele disse que não escolheria ninguém.

- Mas já escolheu.

- Mas você...

- O que tem? Sébastien gosta de você. Não está claro?

- Não me sentirei bem ficando com ele e você...

- Esqueça isso. Na verdade, acho que o único que gostou dele de verdade foi você. No meu caso foi só... Deixa pra lá.

Caio observou-o bem.

- Está mentindo.

- Eu nunca minto.

- Você mente sim. E está mentindo. Não vou acreditar em você.

- Caio, pare com isso. Não fui eu quem decidiu as coisas, foi? Se quer reclamar, reclame com o Sébastien. Ah! Queria te perguntar. Vou passar uns dias na casa do Cléber. Tudo bem pra você?

- O que?

- Acho que só ficarei uma semana. Não quero me afastar muito. Mas vou continuar levando as bolsas ao Sébastien. Também se precisar de mim, é só ligar. Tudo bem?

-... Tudo.

No dia seguinte, pela manhã, Eric preparou duas malas. Colocou-as dentro do carro e despediu-se do irmão no jardim.

- Se precisar que te leve a algum lugar, é só falar, tá?

- Tá.

Beijou o rosto do menor, entrou no carro e se foi. Caio fechou o portão e entrou na casa. Sébastien ainda não acordara. Para não perder tempo, foi à sala de jantar e sentou-se numa cadeira da mesa para estudar. Tinha prova. Só viu Sébastien um pouco antes do meio dia.

- Estou com fome. Onde está seu irmão?

- Acho que ele vai trazer a bolsa. Eu ligo pra ele pra confirmar.

Sébastien saiu da sala. Caio ligou para Eric.

- Eric, o Sébastien está perguntando da bolsa. Quando vai trazê-la?

- Depois do almoço. Lá pelas duas horas. Não sei ainda. Diga pra ele esperar um pouco.

- E se ele ficar irritado?

- Ignore. Tudo bem aí?

- Tudo. Estou estudando.

- Está quase na hora do almoço. Coma alguma coisa.

- Tudo bem.

- Tchau, lindo.

- Tchau, fofo.

Riram e desligaram. Caio foi até o escritório, onde o vampiro estava.

- Eric só vai trazer a bolsa mais tarde. - comunicou.

- Que insolência... Ficarei com fome a manhã toda?

Para alívio de Caio, Sébastien não fez escândalo. Pôde voltar aos seus estudos. Almoçou lá pela uma hora da tarde. Quando era quase quatro horas, Eric apareceu. Estacionou o carro ao lado da calçada. Chegou ao hall e deu-se com o irmão.

- Foi mal pela demora. - disse, segurando a alça da mochila com a mão esquerda.

Com a mão direita, tirou a bolsa de sangue de dentro dela. Sébastien apareceu.

- Pega. - disse o rapaz, estendendo a bolsa ao vampiro.

Este a pegou.

- Está muito atrasado.

- Não deu para vir antes.

- Eu deveria ser prioridade.

Eric fechou a mochila e beijou o rosto de Caio.

- Já vou indo.

Abriu a porta.

- Se comporte, cachorrinho. - disse, olhando para Sébastien.

Caio o acompanhou até a calçada. Os irmãos reencontraram-se de noite, quando Eric insistiu em levar o menor ao colégio. Conversaram pelo caminho.

- E o Sébastien? Está se comportando?

- Está. Teve uma hora do dia em que ele me olhou estudar. Disse que não entendeu nada do que eu estava fazendo. Foi engraçado. Ele é muito burro.

Eric riu.

- Vai ter prova de matemática, né?

- Isso.

Eric parou o carro ao lado da calçada do colégio. Já havia uma grande aglomeração de estudantes em frente ao portão. Caio saiu do carro, acenou e atravessou o portão. Quando era umas dez da noite, Sébastien notou uma ausência que até aquele momento não parecia que iria durar o dia inteiro. Só vira Eric quando este viera trazer sua bolsa. Por isso mesmo, ligou para o celular do rapaz.

- O que está fazendo?

- Por que quer saber?

- Ora, você não está em casa. Onde está?

- Na casa do Cléber. Vou ficar com ele essa semana.

- Ficar?

- Vou passar uns dias na casa dele. Mas vou te levar as bolsas. Não se preocupe.

- Passar uns dias? Por que não fui informado? Quem lhe deu permissão para sair desta casa?

- Aaaah, vá! Permissão? Não está falando da sua, né? - riu.

- Sim, estou falando da minha. Não permiti que saísse.

- Sim, Sébastien. Boa noite.

Eric desligou. O vampiro, irritado com a audácia, ligou novamente para o rapaz.

- Seu fedelho insolente! Não me ignore!

Eric tornou a desligar e Sébastien insistiu mais uma vez.

- Volte para casa imediatamente!

O rapaz desligou o celular. No horário costumeiro, pegou o carro e foi buscar Caio no colégio. Quando chegaram à Avenida Itavuvu, Eric parou o carro em frente do portão da mansão.

- Não vou entrar porque não quero ver o Sébastien. - avisou.

- Tudo bem.

No instante em que se despediam, o portão se abriu e Sébastien apareceu.

- Ah, droga!

Caio saiu do carro e Eric deu a partida. Todavia, o vampiro, muito mais rápido, abriu sua porta, soltou seu cinto e agarrando seu braço, puxou-o para fora do automóvel.

- O que está fazendo? Me solta!

Sébastien carregou-o no ombro como se o jovem fosse um saco de batatas e fechou a porta do carro. Soltar-se do vampiro foi impossível. Ele era terrivelmente forte.

- Caio! Me ajude aqui!

O rapazinho só pôde observar. Como enfrentar um homem grandão daqueles?

- Tranque o portão, Caio. - ordenou o vampiro.

Caio obedeceu, mas só depois de pegar a chave do carro.

- Vou quebrar sua cara, seu idiota! Me solta! Me solta!

- Cale essa boca! Já estou cansado da sua insolência.

- Caio! Me ajuda!

- Se você fizer alguma coisa, será pior. - advertiu o vampiro ao garoto que tentava acompanhar seus passos.

Sébastien entrou na casa, subiu a escada e entrou no quarto de Eric. Jogou-o sobre a cama, esquecendo-se dos machucados em suas costas, foi até a porta, tirou a chave da fechadura e trancou-a por fora.

- Não tem graça, Sébastien! Abre essa porta! AGORA!

- Daqui você não sai! Ficará aí até eu decidir quando poderá sair!

- Caio! Caio!

O menor só acompanhou a ação. Sébastien olhou para ele.

- Se tentar ajudar seu irmão, ficará trancado com ele.


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