O Desabrochar Do Lírio escrita por Kátia Oliveira


Capítulo 2
2 Pertencer.


Notas iniciais do capítulo


Quem consegue perceber os sentimentos de Sesshoumaru por trás de seus olhos frios?

*Erguendo a mão*



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Era uma visão estranha a qualquer viajante com quem cruzassem pelos campos.

O youkai de longos cabelos prateados seguia na frente, seu passo imperturbável, o olhar sempre fixo no caminho. Atrás deste, o pequeno e feio youkai com aparência de lagarto carregando um bastão de duas faces.

            Isso não era surpreendente, em uma época conturbada como aquela, viajantes youkais eram comuns entre os campos e florestas, as pessoas simples sabiam que bastava não cruzar seu caminho e a vida prosseguiria.

            O espanto era causado pela bela moça que seguia atrás, sentada no dragonete de duas cabeças.

            Sentada de lado na criatura, Rin olhava para frente, exatamente para as costas de Sesshoumaru, as vezes algo na paisagem chamava sua atenção, uma borboleta, um pássaro, uma criança correndo a margem de um regato, mas teimosamente seus olhos se voltavam para o daí-youkai, lembrou da noite anterior.

A primeira que passava junto a ele depois de tantos anos.

Haviam andado muito, Sesshoumaru se desviava do cheiro dos homens o máximo que podia, aos poucos as vilas foram diminuindo, as casas isoladas se tornaram mais e mais esparsas e por fim até os templos haviam sido deixados para trás. Finalmente pararam em meio a um bambuzal, os pés de Rin doíam, mas ela estava feliz demais para notar, mal pararam e Sesshoumaru se virou para ela.

            _Você ainda deve procurar sua própria comida Rin.

            Ela não se sentiu ultrajada, ou desanimada, essa era a rotina. Ao pararem era função dela buscar comida e função de Jaken recolher lenha para uma fogueira, uma vez que era a única no grupo a comer comida humana Rin entendia isso. Com um sorriso no rosto cansado ela respondeu alegre.

            _Hai! Sesshoumaru-sama!

            Começou a caminhar entre o bambuzal se afastando, olhando atentamente em busca de cogumelos e os brotos mais tenros de menma.

            Jaken tentava se afastar na ponta dos pés, não tinha um bom pressentimento sobre isso, estava quase conseguindo se esgueirar quando a voz de seu mestre chegou até ele no mesmo tom baixo de sempre.

            _Jaken... A ajude a achar comida.

            O pequeno youkai  baixou a testa até o chão varias vezes enquanto uma imensa gota de suor se formava ao lado de seu rosto.

            _Imediatamente Sesshoumaru-sama!

            Jaken se afastou bons passos procurando o rastro da menina que já havia sumido de suas vistas, quando se achou o suficientemente longe resmungou.

            _Porque manda ela pegar comida e depois me manda ajudar? No final das contas eu acabo fazendo todo o trabalho pesado.

            Ainda resmungando ele perambulou por vários minutos recolhendo lenha até finalmente encontrar as pegadas da moça, ela havia encontrado cogumelos pelo visto, continuou seguindo os rastros, até uma moita de bambus novos, admirado percebeu que Rin havia conseguido arrancar alguns bons brotos, se admirou porque o bambu não entrega seus brotos com muita facilidade, mais que isso ela havia sido rápida, continuou resmungando:

            _É claro que ela é rápida, agora é uma moça, quase uma adulta, se tornou mais forte.

            Estava contornando as ultimas moitas de bambu quando finalmente a encontrou dentro do riacho com o kimono erguido e amarrado até o meio das pernas, ela cercava os peixes do manso riacho com os pés muito concentrada no que fazia.

            Na margem já havia um peixe colocado placidamente sobre uma folha grande, juntamente com os cogumelos e os brotos de bambu, o youkai arregalou os olhos e deixou sua carga de lenha no chão.

            _Ohhh vc já tem seu jantar quase pronto! Onde aprendeu a ser rápida assim para buscar comida Rin?

            Ela havia pegado outro peixe e devagarzinho caminhou novamente para a margem, muito satisfeita consigo mesma.

            _Eu treinei bastante! Sango-chan me ensinou muitos truques para sobreviver, achar comida e fazer um bom fogo... Não vou mais ser um fardo para você Jaken-Sama! Olhe até peguei um peixe para você!

            O pequeno youkai ruborizou, pensando por um momento que a menina havia ouvido suas queixas, mas ela estava tão sorridente  que não seria possível.

            O remorso caiu com força sobre os ombros do pequeno youkai que falou sem pensar:

            _Menina burra! Fique sabendo que você nunca foi um fardo para mim ou para Sesshoumaru-Sama, se fosse, nós teríamos te deixado na primeira vila que vimos no caminho.

            Muito tranquilamente  ela colocou o outro peixe sobre a folha e se sentou novamente na margem, massageando os pés doloridos.

            _ Mas foi o que vocês fizeram Jaken-sama. Vocês me deixaram para trás porque eu atrapalhava não foi?

            Jaken não sabia o que responder, como explicar a essa moça que ela fora deixada para trás porque sua segurança era importante demais para o mestre?

            Em um momento a jovem estava recolhendo a comida que havia conseguido e sorriu:

            _Não se preoculpe Jaken-sama, eu entendo...E sinto muito por todas as vezes que te dei trabalho quando era menor. Gomen.

            Ainda sem uma resposta apropriada para dar  o pequeno youkai a viu arrumar o kimono e novamente caminhar em direção ao acampamento, ele esfregou a cabeça com uma das mãos e recolheu a lenha a seguindo, resignado.

            Sesshoumaru estava placidamente sentado, as costas apoiadas em grossos caules de uma moita de bambus quando ambos finalmente se aproximaram dele, num salto Jaken tomou a dianteira, o remorso ainda o cutucando.

            _Rin! Sente-se um pouco ao lado de Sesshoumaru-sama enquanto ascendo o fogo e faço seu jantar.

            _Mas não quero dar trabalho Jaken-sama.

            Ela deu dois passos para trás  as mãos delicadas ainda segurando a folha grande onde ela havia colocado a comida, a voz de Sesshoumaru cortou a obstinação dela.

            _Rin, faça o que Jaken disse.

            Derrotada ela baixou a cabeça e entregou os alimentos a Jaken, andou ainda de cabeça baixa até onde Sesshoumaru estava e se sentou ao lado dele as mãos juntas sobre o colo.

            O silencio se prolongou entre eles por longos momentos, Sesshoumaru parecia realmente muito interessado na posição das poucas estrelas que podia entrever entre os ramos das arvores, sem tirar os olhos do céu ele murmurou:

            _Você era feliz na vila dos homens?

            O coração de Rin estremeceu, ele estaria pensando em enviá-la de volta com apenas um dia de caminhada?

            Ela ergueu o rosto, o coração batendo como uma ave engaiolada dentro do peito.

            _Eu gostava de lá... Mas não era o meu lugar... Sesshoumaru-sama... Posso perguntar uma coisa?

            Ele baixou os olhos para ela, mas nada disse, apenas a encarou, a mesma frieza de sempre nas pupilas douradas.

            _O senhor vai me deixar novamente para trás?

            A mão feminina se agarrou a armadura dele enquanto os grandes olhos castanhos o observavam, lentamente ele olhou a mão aferrada a ele e novamente a encarou.

            _Não.

            O sorriso voltou aos olhos dela, Rin largou a armadura de seu youkai e passou a olhar o céu também, ele ainda a encarava.

            _Onde é seu lugar Rin?

            Ela ainda olhava as estrelas, mas os ouvidos de Sesshoumaru não se enganavam, o coração dela voltou a bater como o coração de uma ave. Ela respondeu ainda olhando para cima.

            _Todos tem o seu lugar no mundo Sesshoumaru-sama, aves tem ninhos, raposas tem tocas, borboletas vivem nas flores... O meu é onde Sesshoumaru-sama estiver.

            E isso foi tudo que conversaram enquanto Jaken terminava de arrumar a comida da jovem.

            Ela comeu com bom apetite, sorrindo de uma coisa ou outra que Jaken dizia, por fim bocejou e segurou os joelhos, o vento arrancou algumas folhas de bambu e as levou para o céu, Rin apoiou a cabeça no braço de Seshoumaru como tantas vezes havia feito no passado e olhou o balé das folhas.

            _É lindo... E triste.

            O daí-youkai acompanhou seu olhar.

            _Porque triste?

            Rin fechou os olhos murmurando:

            _Para poder dançar com o vento, elas saem de onde pertencem, e nunca mais voltam.

            Ele olhou por mais longos momentos o balé das folhas e baixou o rosto em direção a jovem.

            Ela ressonava, as mãos apoiadas no braço dele.

Sesshoumaru tentou se mover, mas isso perturbou o sono dela, que resmungou.

            Com muito cuidado Sesshoumaru segurou os ombros e a cabeça da jovem a deitando em seu colo, estendeu a longa cauda sobre os pés dela para mantê-la aquecida.

            Jaken se sentou diante deles olhando a menina dormir.

            _Ela tem tanto medo de ser deixada para trás que não reclamou nenhuma vez de cansaço.

            Sesshoumaru apoiou uma das mãos sobre a cabeça da jovem adormecida e encarou o pequeno youkai.

            _Jaken, por acaso disse a ela que este Sesshoumaru a abandonou?

            O pequeno demônio ficou lívido, gaguejou por alguns minutos:

            _Não! Não! Sesshoumaru-sama! Mas ela acredita nisso... Ela acredita que era um estorvo.

            O grande dai-youkai voltou a olhar a jovem adormecida.

            _Jaken.

            _Hai, Sesshoumaru-sama.

            _Não permita que ela se canse demais amanha.

            Sesshoumaru ainda pensava nas palavras da menina enquanto caminhava pelos campos na manha seguinte, as vezes olhava sobre o ombro para ter certeza de que a moça estava bem.

            Parou em um declive a frente como se decidisse para que lado ir, Rin deteve Ah Uh ao seu lado.

            _Para onde vamos Sesshoumaru-sama?

            Ele olhou para frente por um longo momento antes de responder.

            _Encontrar Toutousai, minha Tenseiga precisa de reparos.

            _Hai.

            Animada, Rin avistou no campo de grama ao lado diversas flores azuis e brancas, desceu da montaria e passou a colher as flores cantarolando.

            Ele olhou por um longo momento o vento deslizar pelos cabelos escuros da moça e ondular as mangas do kimono feminino.

            _Rin.

            _Sim!

            _Este Sesshoumaru não te considera um estorvo.

            Ela se virou para ele, os olhos  brilhando enquanto o sorriso se tornava maior.

            _De verdade? Sentiu minha falta?

            Ele continuou a encarando por um longo momento, olhando as pequenas flores que ela já tinha nas mãos, o vento ainda brincando com os longos cabelos negros.

            _Não diga bobagens.

            Ela sorriu ainda mais abertamente e rodopiou sobre si mesma, voltando a colher as flores, o cantarolar se tornando mais animado.

            Sesshoumaru a olhou por um longo tempo, acompanhou o cheiro dela se misturar a brisa da manha, ouviu o riso e o gravou junto com todos os outros em sua memória.

            Olhou novamente para frente e decidiu descer o declive, Jaken aproveitou a oportunidade para montar em Ah Uh, chamando a moça para subir também.

            Ela negou com a cabeça e passou a caminhar no campo ao lado ainda colhendo flores e dançando, mesmo enquanto acompanhava os passos de Sesshoumaru.

            Ele não olhou mais pra ela, mas sabia sua perfeita posição pelo som de sua voz e pelo bater de seu coração, murmurou para si mesmo:

            _Pertencer.


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Notas finais do capítulo

Termos em japones:

Menma: broto de bambu, muito utilizado na culinária japonesa.



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