Meu Tesouro escrita por Camí Sander


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Reflitam na história... Não morram chorando.



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POV Edward

Tudo o que eu mais tinha sonhado, de um dia para o outro, virou um pesadelo.

Naquela tarde, eu estava chegando do trabalho sorridente. Eu havia sido promovido à gerente do banco, quase falido, de Portland. Mas meu sorriso se esvaiu assim que o elevador parou no décimo andar do prédio onde eu morava. Ouvi os gritos familiares e tive a certeza de que Bella estava brava com as crianças. De novo.

Dei um passo em direção à porta, mas não para ouvir melhor, pois, o prédio inteiro poderia ouvir os berros dela e entender exatamente o que ela queria.

–Que vida de inferno essa! DEUS! Vocês não fazem nada o dia inteiro e ainda querem assistir essa PORCARIA de televisão? – eu podia imaginar o quanto ela estava vermelha. – QUANDO é que vocês vão parar de serem monstrinhos e me ajudarem com essa MERDA dessa casa?

Cheguei mais perto. Agora eu poderia, simplesmente, abrir a porta e acabar com a cena toda. Eu estava prestes a fazê-lo, quando ouvi o que me destruiu.

–Vocês! VOCÊS DOIS E AQUELE QUE VOCÊS CHAMAM DE “PAPA” VÃO EMBORA DESSA CASA! HOJE! Só esperem ele chegar e vocês vão TODOS OS TRÊS morar bem longe daqui!

...

Deixe-me explicar. Bella e eu nos conhecemos quando tínhamos cinco e sete anos de idade, respectivamente. Ela era a menininha mais meiga e perfeita que eu já conhecera. Desde aquela época, era impossível nos separar. Exceto quando eu fiquei “velho demais” para brincar de casinha com ela – eu era o papai e ela a mamãe e éramos felizes – ou quando entramos na fase ridícula da transformação corporal na adolescência. Bem, éramos adolescentes, ainda. Irresponsáveis, até diria.

Ela sempre fora de classe média alta e eu sempre um tanto mais pobre, mas isso nunca nos incomodou, porque Bella era a melhor e mais doce menina de todas, e ela não se importava com o dinheiro que tinha. Ela se sacrificava para conseguir as coisas dela.

Agora tínhamos “casado”. Esse fora um dos melhores dias da minha vida. O dia que ela disse sim perante aquele Elvis falsificado que tinha o poder de nos unir perante a lei. Se passara apenas um ano. Eu com 20 anos e Bella com 18. Eu trabalhando e Bella com depressão. Ainda tentava achar o dia em que tudo mudou tão drasticamente.

Eu não sabia dizer. Não foi quando Maggie e Benjamin nasceram. Nem antes. Nem mesmo depois. Nossos gêmeos foram motivos de alegrias desde quando descobrimos que ela estava grávida. Os pais dela ficaram um pouco receosos, afinal, ela tinha pouco mais de 16 anos, mas sabiam que ela queria e ela batalharia para que desse tudo certo.

Bella fez isso durante muito tempo. Não sei por quanto tempo ela conseguiu camuflar os objetos cortantes no lixo até que eu chegasse em casa e, por inconveniência pisei num caco transparente. Naquele dia ela disse que o copo havia escorregado de sua mão.

Ainda consigo me lembrar com perfeição os olhos marejados de culpa, ela ajoelhada de frente para o sofá, segurando meu pé com aquelas mãos macias, e tentando, sem sucesso, estancar o sangramento por uns minutos. “Apenas porque eu não consigo te carregar no colo, amor” soluçou enfaixando mais uma vez com gaze. “Eu dirijo até o hospital, prometo não arranhar seu carro também”

Depois daquele episódio, comecei a perceber coisas pontiagudas no lixo. Coisas básicas como vasos, pratos, copos..., mas Bella era azarada demais. Sempre fora. Só vi a gravidade daquilo quando, conseguindo chegar um pouco mais cedo em casa, ouvi as lamúrias insondáveis dizendo que ninguém a amava. Abri a porta para ver Bella atacando um abajur na parede e pegando um pedaço da porcelana, ergueu o pulso.

–Bella? – chamei baixinho. Ela assustou-se e largou o que tinha na mão, desatando a chorar e pedindo perdão.

A situação foi camuflada até o dia em que Maggie começou a falar. Ela disse uma vez mamãe com um sorriso. Apenas uma vez. Logo após, todas as vezes que ela pronunciava a palavra, vinha carregada de tristeza e lágrimas nos olhinhos mel. Ben andava, de um lado pra o outro.

Por vezes, cheguei em casa com Bella dormindo e as crianças quietinhas, se olhando, nas caminhas em seu próprio quarto. Eu ia para dar boa noite e saber como foi o dia deles. Os dois choravam baixinho. Enquanto Maggie resmungava, Benjamin se movia para interpretar o que a irmã falava.

Não sei quantas vezes cheguei em casa e a história era: mamãe pegou uma coisa qualquer de vidro e jogou na parede, depois pegou uma coisinha pequenininha e passou no braço. Quando Ben ia imitá-la, ela brigava com ele até todos chorarem.

...

Então, naquela tarde, já que Bella queria tanto se livrar de nós, eu fiz o que ela pediu. Pela última vez. Quando abri aquela porta, vi que eu realmente não tinha escolha alguma. As malas estavam ao lado da porta, juntamente com três passagens de avião para...

–BEM LONGE DE MIM! – gritou ela, tacando uma almofada em mim. – Você destruiu a minha vida! Você e esses monstrinhos! ODEIO-OS! ODEIO TODOS! – chorava no meio de tantos gritos.

–Mamã – chamou Maggie com os bracinhos estendidos para a direção de Bella.

–CALE A BOCA, CRIATURA DOS INFERNOS! – replicou, marchando para o quarto.

Peguei as crianças no colo, beijando-lhes a testa, sussurrando baixinho que tudo iria dar certo, que não havia motivos para ficarem com medo, pois eu sempre estaria com eles.

Soube quando os passos raivosos entraram na cozinha, deixei as crianças no sofá e fui atrás. Para ver Bella com a maior faca que tinha, olhando para a lâmina faminta. Vi ela estender o braço novamente. Vi as cicatrizes fundas perto dos pulsos, de tantos e tantos talhos na região.

–Você não está bem – coloquei, chamando a atenção dela. A faca já encostava-lhe levemente a pele alva. – Precisa ser tratada.

–Tratada como louca? É o que acha que eu sou? – ignorei o escárnio lacrimoso dela.

–Acho que você se perdeu no caminho.

–Me perdi para que caminho? Minha vida é uma merda desde... desde que os meus pais se separaram!

–Bella, você não tinha quatro meses de vida.

–EXATAMENTE!!! DESDE ESSE DIA, MINHA VIDA FOI UM INFERNO!

–Isabella...

–CHAMA DE NOVO! – ela apontou a faca para o meu abdome, com raiva.

–Pensei que eu valesse algo para você.

–Deixou de valer. Como seus filhos. Como seus pais. Como MEUS pais. Como o MUNDO INTEIRO! – ela, que havia começado calma e tristemente, voltava a gritar.

–Façamos um último trato, sim? – joguei. Eu sabia que ela era inclinada a desafios. Os olhos brilharam com empolgação. – Eu vou sair da sua vida. Prometo nunca mais voltar para essa cidade. Pedirei transferência do banco para uma filial em outro país, se for possível. Senão, deixo meu emprego e parto para onde você nunca mais me verá. Eu e as crianças. Isso é uma promessa e você sabe que eu cumpro minhas promessas.

–O que eu tenho que fazer? – ela mordia o lábio inferior. Uma graça.

–Se deixar ser tratada por um psicólogo. Fazer EXATAMENTE o que ele pedir. Você deve parar com essa aversão ao mundo e viver. De preferência com um sorriso no rosto.

–Como Pollyanna? – um sorriso divertido passou pelo rosto dela.

Deixei-me rir também. Aquele havia sido o livro que me amparara quando meus pais tiveram que me deixar sob os cuidados de Esme e Carlisle, amigos da família. Meus pais haviam morrido há muito, mas os outros dois eram considerados pais a mim.

–Sim. Como Pollyanna. Promete? Jogue o “Jogo do contente”. Ensine-o ao seu psicólogo e faça ele adotar o método. – eu estava feliz em ver o rosto rosado de vergonha ao invés de vermelho de choro ou raiva.

–Para sempre Pollyanna! – ela gargalhou alto, levantando a faca como se levantasse uma espada num ato de bravura.

–Agora, pelo bem da minha sanidade, largue essa faca – pedi com cautela.

Ela colocou a faca na pia, pegou o celular do bolso e me estendeu, sorrindo.

–Disque o número do consultório de Alice, por favor! – ela pediu manhosa.

–Vai deixar a minha irmã te tratar? – franzi o cenho, mas feliz com a ideia.

–Quero uma orientação de quem escolher, Edward – ela deu de ombros – quero que acabe o mais cedo possível. Não sendo ninguém que você conheça, estará bem para mim. Afinal, não quero me deparar com uma foto sua assim que chegar para a consulta.

...

Passaram-se cinco anos. Apenas cinco anos, alguns diriam. Esses alguns não sabem o quanto dói não viver junto da pessoa amada. Porque, mesmo que Bella fosse doente, eu ainda a amava com loucura. Da última vez que a vi, eu estava sendo expulso de casa, com dois bebês de ano e três meses que precisariam da mãe por perto sempre, com um sorriso estranho vindo dela.

Eu sentia falta dela todas as noites, quando chegava em minha casa, em Nova York. Sim, quem diria que aquele banco falido havia sido integrado em uma rede grande enquanto eu estava brigando com a mulher da minha vida?! Por sorte, as três passagens que ela dera eram um voo direto para a cidade de Nova York. Deixei-a pensar que eu iria apenas gastar seu dinheiro mal-empregado. Pensar que eu nem sairia do aeroporto, já engataria uma viagem para outro país e sumiria de vez.

Mas aqui estávamos, em Nova York. Por cinco anos. Sendo dono de uma das filiais de uma das maiores redes monetárias do mundo. Mas isso não era fato conhecido por todos. Não houve nenhuma nota de que o estabelecimento passou para a minha mão. Foi melhor assim. Para golpistas, bastava dizer que eu trabalhava em um banco.

Não havia necessidades em mim, tampouco. Em cinco anos, não me senti atraído por ninguém nas ruas apinhadas da cidade. Nem mesmo uma turista. Houvera o tempo em que me senti sozinho. Nesse tempo, minha pequena conseguia mostrar-me eu sempre teria duas pequenas companhias. Companhias essas que conseguiam me deixar de cabelos para cima, de tão levadas. Porém eu não tinha vontade de deixá-las com a vizinha para sair e curtir como qualquer cara de vinte e poucos anos. Eu era apegado demais nas únicas coisas que me restaram de Bella.

Hoje era sábado. Eu estava de folga e o tempo pedia um passeio.

Senti a mão feminina em meu coração e sorri quando a dona da mão gemeu baixinho, querendo acordar. Olhei para meu anjinho de cabelos encaracolados e afastei-lhe as mechas que teimavam cair sobre o rostinho redondo. Maggie resmungou, esticando o bracinho de seis anos até estar de barriga para cima e com a mão estirada no rosto do irmão. Beijei-lhe a testa e levantei-me para preparar o café da manhã.

Algumas horas mais tarde, discutíamos sobre qual seção do cinema pegaríamos depois de brincar. Nada muito tardio. Nada muito cedo. Estávamos num impasse para achar o meio termo. Para mim era tremendamente tardio ir ao cinema às 18 horas. Para eles era cedo demais.

–Podemos ir lá pelas sete, papaizinho – sugeriu Benjamin. – A gente vai assistir desenho mesmo. Esse é o nosso horário de assistir desenho em casa, lembra?

–Mas é perigoso – expliquei novamente. – E se um de vocês sair da minha vista? Nessa hora já está noite. Vamos mais cedo. Afinal, o que vocês querem fazer de tão interessante que vai levar o dia todo no parque?

–Brincar! – os dois reviraram os olhinhos.

–E tomar sorvete – completou Maggie.

–Veremos isso mais tarde. Agora, por que não nos arrumamos para ir ao parque?

–Papai, nós vamos de carro até o parque? – Ben fez um biquinho pidão.

–Claro que não, campeão, por que iríamos? O parque é logo ali! – apontei para a janela onde o Central Park se estendia por quilômetros a partir de poucas quadras.

–Você disse que ali é perigoso. Vai nos deixar ir onde é perigoso?

–É perigoso ir apenas vocês dois. Eu vou estar lá. Agora vá achar algo para vestir, senão ninguém sai de casa! – ordenei sorrindo. – Ouviu Maggie? Ninguém sai de casa enquanto vestir pijamas!

Ouvi passinhos apressados virem ao meu encontro, estendi os braços para pegá-la no colo, mas sua intensão era outra. Ela segurou uma de minhas mãos e me puxou para o quarto. Se ela fosse forte, teria me arrastado pelos cabelos, eu diria.

–Você vai trocar essas roupas, porque eu quero ir para o parque! – ordenou-me séria.

Não contive-me. Gargalhei de sua carinha brava, mesmo que isso apenas fizesse-a fechar ainda mais a carranca. Ela ficava adorável como a mãe quando estava bravinha. Beijei-lhe a bochecha e fui procurar por roupas decentes.

...

–Vamos, papai, tente me pegar! – gritava Benjamin correndo na minha frente.

–O papai não me pega! – cantarolava Maggie, em uma direção diferente do irmão.

–Eu vou pegar os dois e fazer cócegas até que vocês morram de rir! – ameacei rindo, correndo atrás deles enquanto gritavam e corriam ainda mais.

Estávamos nos divertindo enquanto outras famílias nos olhavam. Algumas mulheres pareciam suspirar ao longe, mas eu não ligava. Realmente estava me divertindo com minhas duas pequenas coisinhas brilhantes à minha frente.

Consegui alcançar Maggie e derrubei-a no chão enchendo-a de cócegas. Ela gritava, esperneava e ria muito, além de chamar pelo socorro de Ben, que veio prontamente, apenas para ser jogado ao lado da irmã e sofrer minhas atitudes também.

Olhando-os assim, brincando e rindo, nem parecia que já haviam suportado tantas coisas. Passados cinco anos e eu ainda sentia a dor de ver os olhinhos assustados, demonstrando os atos da mãe. Eles ainda tinham pesadelos com uma mulher sangrando e estendendo os braços em suas direções. Mas eles não conseguiam ver o rosto dela. “Pelo menos isso!” eu pensava quando me contavam, chorando, o que ocorrera.

Eu não era mais um menininho, estava cansado de correr e fazer tanta força para controlar as tentativas de fuga. Deixei-me cair ao lado deles, olhando para o céu azul, rindo como uma criança travessa.

–Vamos brincar no parquinho, Maggie? – gritou meu menino, num rompante, se levantando.

–Pode, papai? – ela me olhou pidona. Como a tia. Por Deus, Alice conseguira transformar minha princesa em uma arma de tortura, como ela era.

–Claro que sim, linda. – respondi sorrindo. Os dois gritaram de alegria e partiram. – Só não corram – murmurei sozinho enquanto via um tropeçar no outro, rindo e brincando e, principalmente, correndo em direção do parque.

Levantei-me com uma agilidade que não era minha e dirigi-me a um banco para mais perto de onde eles estavam. Havia uma jovem senhora ao lado. Ela vigiava, acalorada, três belas meninas loirinhas correndo e brincando. Passei rapidamente os olhos nela, tentando averiguar se ela fazia-me sentir uma remota atração.

Era morena, com a tez azeitonada e olhos dourados. Os cachos estavam presos para trás com um prendedor de ferro. Sorri ao lembrar-me de certos cachos escuros que cheiravam a morango. Perdia-me em tantos cabelos cheirosos de Isabella.

–Ei! Papai, papai!! – gritava Maggie pendurada em uma barra de ferro. Entre seus pés e o chão havia uma altura de dois palmos maior que a própria Maggie, mas ela parecia feliz cm a ousadia. Sorri em resposta e ela pulou corajosamente. – Papai! Viu como eu fiz? Você viu? Eu vou ser a melhor puladora de lugares altos do mundo! – ela vinha falando esbaforida, entretanto, ainda correndo.

–Vi sim, minha pequena filhote de canguru! – eu ri do jeitinho atrapalhado dela.

–Sou demais, não sou, papai? – ela ajeitou os ombros, estalando a língua.

Um riso baixo chamou minha atenção e, consequentemente, a de Maggie, também. Viramos para a moça ao lado e ela tinha uma expressão engraçada enquanto tentava segurar o riso. Maggie deu um passo na direção dela.

–Oi, tia. Eu sou a Maggie. Como é seu nome?

–Carmem – sorriu a estranha, estendendo a mão para minha pequena, que pegou sem hesitar. – Desculpe-me por interromper sua exibiçãozinha linda ao seu papai.

–Pfff, não faz mal, papai não liga em me dividir um pouquinho. – ela deu de ombros. – Eu já estou indo procurar outros lugares mais altos. Já venho. Juízo vocês dois! – Maggie apontou para nós com um olhar enviesado, mas divertido.

–Se não for logo, eu vou ter de fazer cócegas em você – rosnei ameaçador, divertido.

Ela correu novamente para dentro do parque.

–Um anjo – disse Carmen.

–Sim. Agradeço poder tê-los comigo todos os dias. E as suas?

–As minhas?

–Você estava olhando três garotinhas quando cheguei. Ou pareceu-me.

–Ah, sim, as minhas sobrinhas. Irina, Tanya e Kate. Nada a ver comigo – ela riu. – Estou cuidando delas nesse final de semana. Os pais estão em uma conferência importante em Toronto e não podiam ficar com elas.

–Odeio essas conferências – resmunguei e ela riu. Estendi a mão – Edward Anthony.

–Carmen Esposito. Prazer. Mora na cidade?

–Sim. Nova York agora é meu lar. Digo; moro aqui há benditos cinco anos.

–E mora sozinho?

–Posso considerar morar com duas crianças travessas de seis anos, um morar sozinho? – ri, brincando. Ela estreitou os olhos. – Sim, moro “sozinho”.

–Como é que eu nunca te vi na vida? – fingiu indignação.

–Nova York é um pouquinho grande, não acha?

–Muito gigantesca. Eu nunca conseguiria sair de Portland para viver aqui.

–Pertinho da minha casa também. Conhece a cidadezinha minúscula de Forks?

–Meus parentes moram lá. Falando em parentes, tenho que ligar para eles logo.

–Qual o nome de seus parentes? Conheço todos que moram lá. Ninguém nunca entra e sai, então...

–Carlisle e Esme Cullen. São parentes do meu marido, na verdade. Parentes distantes.

Daí então, eu ri alto, pendendo a cabeça para trás e fechando os olhos. Imaginei que Carmen estaria confusa, mas pouco me importei com isso. Abracei-a apertado.

–Bem-vinda a família, Carmen. Imagino que seja a nova esposa do tio Eleazar.

–Tio Eleazar?

–Meu pai, Carlisle, o considera um irmão, consequentemente, tenho-me como sobrinho.

–Filho prodígio de Carlisle! Mundinho pequeno esse! – ela riu, me abraçando também.


POV Bella



O que eu estava fazendo no Central Park a essa hora? Era o que eu me perguntava desde que cheguei à cidade. Quer dizer, Edward não viveria mais aqui. Claro que não! Ele tinha arranjado dinheiro e ido para a Dinamarca, se possível. O mais longe de mim possível. Alice não me falava dele. À meu primeiro pedido. Mesmo que eu implorasse, ela apenas dizia que ele estava ótimo e que meus filhos não podiam estar melhor.


Eu não matei Alice ainda porque ela é minha melhor amiga desde que eu me conheço por gente, senão já teria matado apenas por dizer que eu era a trouxa da história. Porque eu sabia bem que os meu filhos poderiam sim estar melhor, se eles estivessem comigo, seria muito melhor para todos.

Nesses anos sem o Edward, eu amadureci muito. Confesso que sempre fui um pouco mimada, embora não tenha virado uma vaca louca por compras, tudo o que eu queria, simplesmente, eu conseguia. Tentei ser normal. Isso me matou por dentro. Grávida aos 16 anos, mãe aos 17, sozinha e doente aos 18. Minha grande vida até cinco anos atrás.

Sofri de depressão. Principalmente quando Edward me deixou de vez. Ele foi porque eu quis. Pude ver isso em seus olhos naquela época, tinha certeza disso hoje. Mas, diferente de hoje, eu achava que ele estava cada vez mais distante na época. Achava que ele não me amava mais. Eu, simplesmente, achei que meus filhos preferiam ele a mim.

Quando era bem pequena, quando eu me importava com essas coisas, vi meus pais em pé de guerra todas as vezes que se encontravam. Vi eles brigando por mim. Vi-os jogando a culpa um para o outro. Vi-os sendo mortos pelos próprios corações e jurei – veja bem, eu JUREI – a mim que quando eu tivesse filhos, não me separaria do pai deles porque, primeiro, eu o amaria eternamente; segundo, eu sabia o quanto doía levado de um lado para outro; terceiro, eu não queria que os meus filhos sentissem falta do carinho de um de nós. O que eu fiz? LARGUEI minhas preciosidades na rua, com apenas uma passagem de ida para cada um para Nova York! Eu gritei com eles. Pratiquei mutilação na frente de seus olhinhos inocentes.

Por que tudo isso? Então, me pergunto hoje. Eu não tinha uma razão, apenas agi porque me pareceu certo naquele momento. Quis voltar atrás uma hora depois, mas as passagens já tinham sido usadas... em Forks eu sabia que ele não estava. Resolvi fazer o que tinha prometido a ele. Tratei-me com uma amiga de Alice, minha ex-cunhada, e pratiquei à risca o jogo de Pollyanna. Essa foi a tarefa mais difícil. Ser contente sabendo de tudo o que eu havia aprontado com as pessoas que mais me amaram em minha vida.

Fui retirada de meus devaneios por uma trombada em minhas pernas. Olhei para baixo e pude ver um menininho caído sentado na grama, sacudindo a cabeça, provavelmente desorientado. Agachei-me e ajudei-o a se estabelecer sentado na grama.

–Está tudo bem com você, amorzinho? – sorri para ele.

–Desculpa, tia – ele fez um beicinho adorável. O que me fez rir.

–Ah, amorzinho, não foi culpa sua. Eu estava distraída. Venha, vamos ver se machucou alguma coisa nesse garotão. – levantei-me e fi-lo ficar de pé também. – Não machucou nada. Você é um garoto forte.

–Obrigado, tia. – ele sorriu, logo depois pareceu lembrar-se de algo e arregalou os olhinhos castanhos chocolates. – Ish, tia, não posso ficar conversando com estranhos! Papai vai ficar furioso comigo se me vir conversando com a senhora.

–Ah, anjo, não seja por isso. Eu me chamo Bella e qual é o seu nome?

–Benjamin, mas me chame só de Ben. É mais maneiro – ele deu uma piscadela.

Fiquei um pouco mais atenta a ele. Meu Benjamin teria mais ou menos aquele tamanho, não teria? E, olhando bem, ele tinha um jeitinho meio Edward de se mover. Os cabelos eram de um tom castanho acobreado... ah, deixe disso, Isabella, vai ficar encontrando semelhanças entre vocês só porque ele tem o nome do seu príncipe? Nova York é gigante, quantos Benjamin's não devem existir nessa cidade?!

–Hmm, bem, agora estamos devidamente apresentados, senhor Ben. Então, por que não me conta o que andava fazendo correndo por aí? – fingi irritação, colocando as mãos na cintura e arqueando uma sobrancelha.

Ele riu gostosamente.

–Você parece a mamãe! – comentou, enquanto gargalhava com a cabeça pendida para trás.

–E você parece o meu filhinho – sussurrei um pouco triste. Ele não era o Ben. Ele tinha mãe. – Qual é o nome da sua mãe?

–Não sei – ele deu de ombros. – Sempre a chamamos de mamãe. Esse é o nome dela!

Ri. É, seria a cara do Edward ficar se referindo a qualquer um como um de seus filhos se referiria. Eu devia parar de pensar em Edward, agora. Ele se fora, para sempre.

–Você tem filho, Bella? – Ben me olhou curioso.

–Sim. Tenho dois – puxei a correntinha de ouro que continha os pingentes de um casal de crianças. – São meus maiores tesouros.

–Eles estão aqui? Eles vieram com você? – agora seus olhinhos brilhavam de expectativa.

–Não! Porque tesouros são para serem guardados – expliquei evasiva.

–Onde você os guardou?

–Com o pai deles. Junto com o meu coração. Ele é o meu banco. Sabe, daqueles que você guarda tesouros importantes – sussurrei, como em segredo.

–Meu pai trabalha num banco! – ele sorriu largamente.

–Então você coloca seus tesouros no banco do seu pai?

–Não. Ele disse que o nosso maior tesouro está guardado dentro de outra pessoa e nossa vida é para que possamos encontrar esse tesouro.

–E ele disse qual tesouro é esse?

O menino se inclinou para frente, olhando para os lados, como em segredo, e me chamou com o indicador. Abaixei-me para ficar na altura correta, e inclinei-me em sua direção. Pude sentir seus dedinhos quentes em minha orelha, afastando meus cabelos com gentileza. Segurei sua cinturinha pequena e olhei para frente, tendo uma ampla visão do parque.

–É o amor – ele sussurrou muito baixinho.

Nesse momento, percebi uma figura conhecida sentada em um dos bancos do parquinho. Infelizmente, reconheci a pessoa exatamente quando meus olhos e os dele se encontraram. Mesmo que à distância, eu sabia perfeitamente de quem se tratava. Também percebi que ele fez um esforço para visualizar melhor em minha direção. Deixei o cabelo cair por meu rosto e me separei um pouco da criança.

–O que aconteceu, Bella? – o menino percebeu minha estranheza.

–Vi alguém que não passava de um fantasma – murmurei, enquanto analisava quem vinha para cá. O homem, uma mulher e quatro menininhas.

–Você viu um fantasma?! – ele desesperou-se e se agarrou a mim. – Ele é muito feio? O que ele quer? Ele vai me roubar? Papai não está aqui para cuidar de mim...

–Seu pai não lhe trouxe? Você veio sozinho? – agora eles estavam um pouco mais perto.

Perto o suficiente para eu ver que o casal tinha as mãos dadas e as meninas eram todas diferentes, no entanto, tinham as mãos dadas também. Pareciam uma grande e feliz família. Eu sentia falta de uma família.

–Calma, pequeno – afaguei suas costas e virei para esconder o rosto com as árvores, deixando o menino de frente para as pessoas vindo. Eu reconhecia aquele andar. – Eu vou proteger você do fantasma. Não fique com medo.

–Bella, eu não estou mais com medo, meu pai está vindo! – ele sorriu para mim, pegou meu rosto entre as mãozinhas e piscou carinhosamente – Eu vou cuidar do meu tesouro agora. – ele beijou minha bochecha – Agora, com o meu pai, eu sou mais forte do que o fantasma e vou bater nele até ele sair correndo e deixar você, meu tesouro, em paz.

–Benjamin Anthony Swan Cullen, venha agora para cá! – esbravejou uma voz masculina.

–Mas, papai... – o menino disse manhoso, enquanto eu fazia menção de colocá-lo no chão. Coisa que ele não deixou-me fazer.

–Nem mais uma palavra! Venha AGORA para perto de... MAGGIE! – ele gritou.

Senti um puxãozinho em minha calça e desci o olhar para a menininha de cabelos encaracolados que tinha lágrimas nos olhos.

–Tia, pode me devolver o meu irmãozinho? Ele é meu tesouro mais precioso e eu preciso dele para viver – vi uma lágrima escorrer pelo rostinho de porcelana.

Abaixei-me e, num átimo, puxei a menina para um abraço apertado, beijando a bochecha dos dois, já em lágrimas grossas. Como se pressentissem, eles retribuíam ao carinho. Ainda pude ver Maggie chamando as outras meninas para um abraço coletivo ao meu redor. Senti-me amada novamente. Até Edward ficar furioso e vir arrancando criança por criança de cima de mim.

–Querida, chame aquele guarda lá, por favor! – pediu Edward para a mulher que viera com ele. – Vão, lindas, vão com a Ca.

Eu não vou! – choramingou uma loirinha que estava agarrada aos ombros de Maggie.

–Kate... – lamentou-se “Ca”.

–Eu cuido dela. Prometo, Carmen. Por favor, querida, pelos meus anjos... – suplicou Ed.

–Com certeza, amorzinho. Vamos meninas, vamos ver quem chega no policial primeiro.

Ouvi passinhos frenéticos atrás de mim. Já não aguentava mais, chorava quase descontroladamente. Meu Edward tinha seguido com a vida. Meu Edward chamava alguém de querida. Alguém que o chamava de amor...

–Por favor, meu tesouro, não chora assim – pedia Ben, entristecido.

–Vai com o papai. Antes que ele pense que estou roubando você, meu amor. – pedi baixinho entre soluços. – Por favor. Diga que eu nunca separaria vocês. Nunca.

Paaaai – choramingou Maggie. – Por que você está sendo malvado com ela? Ela só precisa de um pouquinho de carinho. Vem aqui, papai, vem dar carinho para ela também!

–Solte-os, mulher! Eles não são seus! Terei que arrancar seus braços para que devolvas meus filhos? Saiba que, se chegar a ser presa, tenho contatos nos quais adorariam deixá-la na cadeia por anos. Quem sabe uma vida – ele estava bravo, mas podia-se notar a tristeza em sua voz. Agora ele estava parado em minha frente.

Edward achou mesmo que eu tiraria as preciosidades de seus braços? Pela voz, sim. Pela postura, com certeza. Ele estava com medo, notei. Tanto ou mais medo do que eu!

Afrouxei os braços das crianças e pude ouvir um suspiro de alívio vindo dele. Sussurrei para que Maggie fosse abraçá-lo porque ele estava com medo. Ela foi calmamente. Ouvi os beijos que ele depositou em nossa pequenina. Abracei Ben um pouco mais e ergui os olhos. O arquejo dele em reconhecer-me foi mais aterrorizante do que o meu quando o reconheci. Ele estava pálido e, eu jurava que, a gota de suor que escorria de sua testa era doentia. Seus olhos estavam lacrimejados e vermelhos de antes.

–Não posso mais receber carinho dos meus filhos, agora? – perguntei irônica, mas a voz saiu entrecortada e triste. A pergunta saiu manhosa sem que eu tivesse essa intensão.

–Papai, você está bem? – perguntou Maggie em seu colo, olhando-o nos olhos.

–Vi um fantasma, amorzinho – falou alto o suficiente para que eles escutassem.

Kate agarrou-se às suas pernas enquanto Maggie escondia o rosto em seu ombro. Ben apenas estremeceu, mas virou-se para o pai e tentou sorrir.

–A Bella também viu esse fantasma, papai. Mas não precisa se preocupar. A gente está em mais de um. Ele vai ficar com medo e fugir – seu sorriso era sincero.

–Duvido, Ben. Duvido muito – ele respondeu fixado em meus olhos.

Soltei Ben e ele correu para os braços do pai. O semblante de Edward, agora, era de puro e total alívio. Seu sorriso era sincero, mas havia confusão ali. Eu sabia o que ele queria perguntar, mas não tinha coragem.

–Vamos, Katrina, temos que encontrar a tia Ca.

–Mas a titia está tão tristinha, tio Ed.

Tio. Palavra abençoada que me encheu de esperanças. Segundo Edward, ela não era mãe das meninas, porque ele a chamou de tia Ca. E segundo Kate, ele não era seu pai. Olhei novamente para a menina. Sabia que Emmett e Alice estavam casados com Rosalie e Jasper. Dois loiros. Ela poderia ser filha de um deles.

–A titia vai ficar bem sem a gente, aposto – agora, ele alternava os olhares entre nós quatro. – Ela já ficou muito tempo sozinha, com certeza acostumou-se com a solidão.

Kate correu até mim e abraçou-me com força.

–Isso é muito triste, titia. Muito, muito, muito triste! – soluçava.

–Calma, pequenina, agora vai ficar tudo bem.

–Tia Bella – chamou-me Ben do colo do pai. – Por favor, vem com a gente!

–Eu não acho que seu pai vá gostar disso e... – tentei me esquivar.

–Por favor, tia Bella, por favor! – agora ele chorava. – Papai, diz para ela que pode vir. Por favor, papai. Não deixa ela aqui, papai. Ela está sozinha e tem o fantasma...

–Fantasma – chorou Maggie, agarrando-se novamente ao pai.

Edward respirou fundo. O choro das três crianças o amoleceu novamente. Ele aquiesceu. Seu rosto parecia cansado. Então, dando-me as costas, ele disse arrastado:

–Venha conosco, Bella, e não ouse recusar.

Não sei dizer se o que me tomou foi alívio ou medo. Segurei a pequena Kate no colo e comecei a segui-lo. Havia um silêncio estranho entre nós cinco. Maggie e Ben pareciam dormir, um em cada ombro, no colo de Edward; o que deixava-o com os braços ocupados. Kate também estava com a cabeça em meu ombro, mas seus dedinhos finos mexiam em meus cabelos de uma forma carinhosa. Os soluços dela pararam.

–Como vocês estão, Edward? – sussurrei, cuidando para não demonstrar o pavor de qualquer resposta.

Se eles estivessem bem, certamente, eu iria ser deixada de lado. Se eles estivessem mal, eu me culparia por saber que eu tinha feito isso a eles.

–Como acha que estamos, Isabella? – retrucou suave e rude ao mesmo tempo. Edward sabia fazer essa proeza.

–Parecem-me muito bem.

–Sim, é o que parece – ele falou em tom de encerramento. Pouco tempo depois, ele suspirou e me olhou nos olhos. – Teremos que conversar, em algum momento, não é?

Assenti e outro suspiro perpassou pelo seu corpo.

–Bem, melhor levá-los para casa. Mandarei uma mensagem para Carmen para que vá buscar a sobrinha lá. – ele dobrou uma esquina invisível no meio da grama bem-aparada e continuou reto. Segui-o, obviamente.

–Mora aqui perto? – perguntei casualmente enquanto esperávamos para atravessar a avenida.

–Com certeza, sim – ele falou apontando com a cabeça para a estrutura fina do prédio em frente.

–Você mora ali? – arregalei os olhos, espantada. – Como... como...

–Consegui? – terminou ele, lançando os olhos divertidos para mim, com um sorriso torto lindo. Depois deu de ombros. – Promoção atrás de promoção, Bella. Bancos são lucráveis. Principalmente se o dono deixá-lo de herança para o melhor funcionário.

–Sinto-me tão imensamente orgulhosa de você, Edward! – sorri.

Eu estava falando a verdade. Senti-me orgulhosa demais dele. Ele conseguira dar a volta por cima. Conseguira uma boa vida e criara nossos filhos com uma educação impecável.

Foi nesse momento. Ou antes? Não sei exatamente, mas nesse momento, eu tinha certeza de que meus sentimentos por Edward eram maiores do que eu pensava. Ele era um homem de ouro. E eu sabia que não o merecia. Eu nunca o mereci.

Minutos depois, encontrava-me na grande sala do duplex, depois de deixar Kate adormecida em um quarto bege muito lindo. Edward estava fazendo um café para nós dois. Enquanto isso, fiquei de olho na casa. Fotos da família dele estavam espalhados pelas mesinhas e estantes. O lugar era realmente aconchegante.

–Por acaso há algum dedo de dona Esme nessa decoração, não é? – perguntei sorrindo, assim que ele apareceu com duas xícaras.

Ele riu, sentando-se ao meu lado, um pouco longe, mas virado para mim.

–Por acaso, essa casa foi totalmente decorada por dona Esme. Você percebeu. ele parecia surpreso com esse fato.

–Como não perceberia? Ela adora esse tipo de coisa. Também, sendo sua mãe, ela insistiria e não aceitaria um “não” como resposta. Estou certa?

–Certíssima – ele sorriu. Depois de meio minuto olhando, um nos olhos do outro, ele tomou a dianteira. – E então, Bella, o que lhe trouxe até aqui?

–Não sei explicar. Eu só... sabe, senti saudades de algo que eu nunca tive. Você entende?


POV Edward



Entender?? Sim. Eu senti saudades de dividir tudo com ela. Senti saudades do tempo em que eu a via chegando de seu emprego de escritora, senti falta do tempo em que ela me disse que estava louca para mudar de cidade. Senti falta do dia em que ela me abraçou forte ao saber que virei dono do banco. E nada disso acontecera.


–Do que, exatamente, você sentiu falta?

–Levar meus bebês para a creche pela manhã e ouvir como havia sido o dia deles. Senti falta do dia em que comemoramos quinze anos juntos. Senti falta dos abraços sinceros entre nós. Entre nossos filhos. Senti tanta falta de todos! Era como se meu peito tivesse sido comido por traças. – ela sussurrou lamentando.

–Traças não comem peitos, Bella – revirei os olhos.

–Comem tecido! – ela fechou os olhos, altiva. Pensei que iria me mostrar a língua. – e você, Edward, por que ficou aqui?

–Porque pensei que nunca me encontraria aqui. Já que eu falara que iria mudar de país. Quem lhe contou?

–Ninguém me contou. Eu só decidi ver meus bebês numa noite e, no outro dia, já estava pronta para partir pelo mundo, se fosse necessário. Eu teria encontrado vocês. Hoje em dia, ninguém vive sem rede social.

–Eu vivo – lembrei-a.

–Porque é arcaico! – brincou.

Revirei os olhos. Eu, realmente, queria saber o que ela estava fazendo ali. Não que eu não gostasse da situação. Digo: eu a amava muito e tê-la por perto era como se minha vida voltasse a fazer sentido novamente. Ela preenchera um pedaço de mim que eu julgara perdido, ou que nunca existido.

–Fui promovido naquele mesmo dia. Enquanto saía da sua casa... – lembrei-me. Percebi que ela estremecera. – tive que levar as crianças ao meu local de trabalho. Devo dizer que nunca nada os deixou mais alegres. Tentei sair de lá, mas eles disseram que eu poderia continuar com meu emprego mesmo sem estar na cidade. O banco havia se tornado filiado de uma rede federal. Eu poderia ir a qualquer lugar que quisesse do país que meu emprego sempre seria garantido. Quando vim para Nova York, fiquei no lugar de Jasper que, como não tinha nada a perder, exceto Rose, ele mudou-se para Forks, ocupando meu lugar. Ele casou-se com Alice, soube? A baixinha tem marido, mas ainda mora com a mamãe. Emmett o mesmo. Casado com Rosalie, mas vive com a mamãe.

–Seus irmãos nunca foram os mais certos do mundo, Edward – ela riu.

–Nenhum de nós, você sabe. Desde então, vivo aqui. Já que você se deu ao trabalho de comprar nossas passagens... tenho que agradecê-la por isso.

–Eu sei de um jeito – ela mordeu o lábio, como se tivesse falado demais.

–Diga-me e eu farei.

–Fale a eles que eu sou a mãe deles... por favor.

–Nunca escondi esse fato, Isabella – sorri, logo entendi o olhar dela. – Desculpe-me, não queria. Eles sabem que a mãe os ama... ou assim falei. Por favor, não diga a eles que menti. Não diga na carinha deles que você nos expulsou de casa. Por favor, lhe imploro.

Nunca mais repita essa merda, Cullen. Sabe muito bem que eu os quis. Desde o início. Foi só que... só que...

–Apenas porque eu não cuidei de você o suficiente e você adoeceu – completei olhando para baixo. Eu sempre soube disso. Deixara-a cuidando das crianças sozinha, ou cuidava das crianças e quase não tinha tempo para ela...

Vi ela se aproximar um pouco e me senti incomodado com isso. Quer dizer. Eu não sabia se ela estava bem – aparentava estar, mas sempre aparentou, então... – e se ela fizesse aquilo novamente, eu nunca conseguiria tirar a imagem dos olhinhos das crianças...

–Não diga isso, Edward. Você sempre, sempre, sempre, sempre, seeempre foi o melhor amigo que eu tive. Você sempre cuidou de mim. Você sempre foi meu porto seguro, o meu anjo da guarda, o meu confidente. Sempre cuidou de mim como se nada mais importasse do que a minha saúde – ela disse com a voz suave, acariciando meus cabelos.

Bella não sabia, mas ela sempre fora meu primeiro e único tesouro. Sua saúde era a coisa mais preciosa da minha vida. Se ela estivesse doente, eu a daria forças para lutar contra. Eu sempre quisera ser a pessoa mais importante de sua vida, como ela era.

Papaaaaaaaaaaai – chamou Maggie, do andar de cima.

Levantei-me rapidamente, sem coragem de olhar naqueles olhos chocolates. Murmurei algo do tipo “Tenho que ver o que ela quer” e corri escadas acima. Para meu completo desentendimento, Bella veio atrás. Tive que deixar Bella vir, de qualquer jeito. Entrei no quarto salmão, acompanhado, e fui direto ao encontro da pequenina, sentando na cama.

–O que houve, minha pequena? – afaguei seu rostinho.

–Aquele sonho de novo, papai... eu vi – ela se jogou em meus braços. – Eu vi o rosto...

–Você viu, pequena? Quer me dizer?

–Estava manchado de sangue, papai. Tudo vermelho. Dói. Dói muito! Aai...

–Maggie, nada vai acontecer com você, princesa. Eu estou aqui, bebê. – tranquilizei-a afagando seus cabelos encaracolados.

–Era a tia do parque, papai. Ela dizia aquelas coisas horríveis. Dizia que eu era uma chata e que ela ia me deixar sozinha e... papai, ela quebrou o espelho e depois... depois... ela brigou com o Ben. Ele estava sangrando, papai. Ele foi colocar os pedacinhos do espelho no lugar. Ele só queria ajudar e ela brigou tanto... ah, papai, não deixa ela brigar com a gente. Minha mão dói tanto! Eu acho que tem um pedacinho aqui, ainda...

O arfar de Bella chamou atenção de Maggie, e a choradeira aumentou. Agora eram duas das quais eu tinha que consolar. Infelizmente, uma delas chorava exatamente porque a outra estava por perto. Bella correu e caiu de joelhos de frente para nós dois.

–Perdoe-me, minha filha! A mamãe te fez tão mal e você só queria ajudar. Oh, como odeio-me! Vocês três sempre foram tão perfeitos e eu estraguei com tudo! Maggie, pequenina Maggie, eu nunca mais. Nunca, ouviu? Nunca mais vou quebrar as coisas. Você nunca mais vai precisar se preocupar com o Ben ou com o papai. Vocês nunca mais vão se machucar por isso. Eu prometo, minha vida. – chorou Bella, olhando fundo nos olhos de Maggie, totalmente verdadeira.

A menina me soltou e abraçou Bella com força.

–Mas, a gente não quer que você se machuque. Você é importante para a gente. Você é a nossa mamãezinha querida, nunca que a gente ia deixar você se machucar, tia... – ela parou naquela palavra, soltou Bella e olhou com a cabeça de lado – Vou ter que te chamar como agora?

–Como você quiser, amor. Sempre do jeitinho que você quiser.

O sorriso de Maggie ampliou-se, seus bracinhos envolveram desajeitados eu e Bella. Creio que isso fez com que nós três chorássemos um pouco. Eu em silêncio, claro.

–Minha mamãezinha. Mamãe. Mamãe e papai... mamãe... – Maggie dizia.

A campainha soou estrondosa naquele momento, tirando Bella e eu de nossas fantasias. Maggie ainda murmurava o quanto estava feliz e o quanto gostava de ver a mãe inteira.

–Volto já. Creio que seja Ca, não posso deixá-la esperando lá.

Maggie entendeu logo e me soltou, apenas para apertar-se contra a mãe e acarinhar os cabelos da mesma. Dei um beijo na testa da pequena e saí do quarto.

...

Carmen estava há poucos minutos ali. Eu me encontrava com Kate no colo e explicava toda a minha história com Isabella. Com carinho, Carmen entendeu e beijou minha testa, mesmo que, para isso, tive que abaixar a cabeça. Confessar que eu ainda amava desesperadamente a mãe dos meus filhos era algo pelo qual eu vinha evitando.

–Desculpem-me por interromper – sussurrou Bella, no topo da escada. – Edward, já fiz Maggie dormir e vou para casa.

–Sua casa é em Forks – lembrei-a.

–É, eu sei – ela abaixou a cabeça, olhando tristemente para os próprios pés.

–Você não está em um hotel, ou algo assim? – Carmen se preocupou.

–Claro que não! Nunca imaginei ficar em Nova York por mais de algumas horas! – Bella foi um tanto rude com minha “tia” Ca.

–Isabella... – fui calado por seu olhar gélido e isso me lembrou da faca quase cravada em meu estômago. – Bella, Carmen foi gentil com você, por que a trata tão mal?

Bella olhou novamente para baixo, com vergonha, murmurou um pedido de desculpas e disse que estava de saída. Acenou para mim, com um sorrisinho infeliz, e partiu em direção da porta. Naquele momento, um tremor forte tomou conta de meu corpo e, apenas consegui entregar Kate aos braços protetores de Carmen. Caí no chão, fraco.

–Edward? – chamou-me Carmen. – Edward, meu bem, você está bem?

Minha respiração estava desconcertada, meus olhos embaçados. Eu sabia o que acontecia comigo, no entanto não conseguia proferir palavra alguma. Eu estava em estado semivegetativo. Já acontecera antes. Era causado por emoções fortes demais.

–Bella, Bella, pelo amor de Deus, me ajude! – chamou Carmen, sem saber o que fazer, já que carregava Kate adormecida no colo. – Edward! Fale comigo, por favor! Não feche os olhos!

Entretanto, não consegui manter-me sentado, menos ainda de olhos abertos. A última coisa que pensei sentir, antes de cair inconsciente, foi um par de mãos delicadas em meu rosto.

...

Senti-me de volta ao corpo um tempo depois. Um tempo indefinido. Esse tempo deixou-me desesperado. Quem cuidara das minhas crianças enquanto dormi? Como eles ficaram ao ver-me caído no chão da sala? Quem me colocou na cama? De quem eram esses braços ao meu redor? Por que eu sentia meu peito gelado? Por que sentia-me querendo sorrir? Por que eu tinha vontade de ficar ali por mais tempo? Onde estavam meus filhos?!

Abri os olhos com rapidez. Meus filhos. Onde estavam meus filhos? Mexi-me um milímetro e percebi novamente que não estava sozinho ali. Bella entornava minha cintura, com a cabeça em meu peito e muito, muito perto de mim. Sorri e afaguei seus cabelos cheirosos. Ouvi-a gemer baixinho, aconchegando-se mais em mim.

–Não me deixe mais – murmurou grogue em seu sono. Sim, ela falava dormindo.

–Eu não aguentaria deixá-la novamente – respondi no mesmo tom dela.


POV Bella



Como sempre havia sonhado, consegui fazer a menina, a minha menininha, dormir. Depositei um beijo singelo em sua bochecha. Eu queria ficar. Não disse adeus. Não. Eu nunca mais ficaria sem ter notícias, sem ver, sem participar de sua vida. Eu convocaria Edward para um acordo com relação à tutela. Eu não queria meter advogados nisso, porém faria se fosse necessário.


Saí do quarto de Maggie e fui dar um beijo no meu outro amorzinho. Ben dormia tranquilamente, mas seus olhinhos abriram assim que meus lábios encostaram sua pele. Ele sorriu quando me viu, pegou meu rosto entre suas mãozinhas e me olhou nos olhos.

–Você é minha mamãe, não é, tia Bella? – ele sussurrou.

Assenti.

–Eu vou cuidar bem de você, mamãe Bella – meu nome saiu tão doce por aqueles lábios que tive que segurar as lágrimas. – Porque o papai disse que a gente deve cuidar bem de quem é importante. É por isso que ele cuida da gente. Eu vou cuidar de você, meu tesouro.

–Também cuidarei de você, meu amorzinho, agora, durma, pois seu pai irá brigar com você se o vir acordado – beijei-lhe a testa novamente e cantarolei algo para ele dormir.

Passando pelo corredor, imaginei-me andando em minha casa. Era como eu me sentia ali. Imaginei-me indo de encontro a Edward. Cheguei à base da escada e deparei-me com uma cena que eu daria tudo para tirar da minha cabeça.

Kate estava nos braços de Edward e Carmen fazia-o se inclinar ao seu encontro. Vi Carmen ficar na ponta dos pés e demorar-se com os lábios na testa de meu Edward. Meu, ri mentalmente. Aquela cena só comprovava o quanto Edward não me queria mais. A crise de ciúmes me consumiu e eu me fiz presente.

–Desculpem-me por interromper – sussurrei, sentindo-me nada arrependida. – Edward, já fiz Maggie dormir e vou para casa. – não quero mais sofrer, completei mentalmente.

–Sua casa é em Forks – ele ergueu as sobrancelhas.

–É, eu sei – fitei meus pés. Eu era covarde e, mesmo que não fosse, nunca conseguiria competir com ela. Carmen era linda.

–Você não está em um hotel, ou algo assim? – a outra fingiu preocupação. Falsa.

–Claro que não! Nunca imaginei ficar em Nova York por mais de algumas horas!

–Isabella... – lancei meu olhar mortífero e ele corrigiu-se – Bella, Carmen foi gentil com você, por que a trata tão mal?

Fui assaltada pela voz longínqua de minha psicóloga Ângela. “Por que porta-se mal, nenhum dos dois teve culpa disso, Bella.” Ela tinha razão. Eles não tinham culpa. Eu era a culpada por ter mandado Edward sair da minha vida assim, sem mais nem menos. Corei envergonhada, olhando para o chão novamente.

–Desculpem-me – murmurei, descendo as escadas rapidamente.

Antes de dar as costas à pessoa que eu amava, acenei para ele, com um sorriso forçado, desejando-lhe felicidades. Logo que cheguei na porta, ouvi a voz tremida de Carmen.

–Edward? – chamou-me Carmen. – Edward, meu bem, você está bem?

Aquilo atingiu-me em cheio. Edward estava bem há segundos atrás. Virei-me abruptamente apenas para ver Edward tentando permanecer sentado e com os olhos abertos. Mas ele pendia demais. Logo caiu no chão. Desesperei-me incerta do que fazer.

–Bella, Bella, pelo amor de Deus, me ajude! – chamou-me Carmen, também desesperada. – Edward! Fale comigo, por favor! Não feche os olhos!

Assim, soube que, absolutamente, ela não faria nada. Corri para ampará-lo. Coloquei sua cabeça em meu colo e fiquei afagando suas feições. Ah, quanto eu quiser ter feito isso esse dia todo e, ironicamente, ele nem podia dizer o que pensava disso.

–Coloque a menina no quarto de hóspedes e venha me ajudar a colocá-lo, ao menos, no sofá – pedi, surpresa com a minha própria calma. – Sabe onde é o quarto, não é?

Ela não respondeu. Subiu correndo as escadas e logo voltou para me ajudar. Edward era pesado, admito. Sofremos um bocado para erguê-lo do chão, no entanto, conseguimos levá-lo ao seu quarto. Depois fomos buscar Kate e ir para casa.

–Bella, fique aqui – pediu-me ela.

–Mas sabes que não posso. Essa casa não é minha e você quem é a af​fair dele e...

–O que? – ela riu incrédula. – Achou que Edward fosse meu namorado? Isabella ele é apenas um garoto para mim.

–Um garoto de vinte e cinco anos na cara com duas crianças para cuidar – lembrei-a.

–Esse garoto é meu sobrinho, querida. Sou casada com o tio dele. Eleazar – ela sorriu.

–Tio Eleazar se casou?! – arregalei os olhos, surpresa, feliz e boquiaberta.

–Conheceu Eleazar?

–Mas é óbvio! Eleazar. Tio Eleazar. O melhor de todos os tios que pude ter, além de tio Carlisle, claro. Esse ninguém supera.

Sí, Carlisle es increíble – ela sorriu mais largamente. – Bem, mesmo que não fosse isso. Creio que Edward não tem tanto apreço por mim quanto tem por você. E ainda há a questão de seus filhos. Uma mãe sempre sabe o que é melhor para as crianças. Mesmo que venha alguém substituir, nunca será comparável com a verdadeira mãe.

Suspirei. Edward não iria gostar nadinha quando me descobrisse aqui.

–Eu não sei, Carmen. Edward parece tão decidido. Isso não vai dar certo.

–Bella, querida, você quer se ver livre de seus filhos novamente? – ela olhava-me nos olhos com intensidade. Neguei com a cabeça e ela colocou uma mão em meu ombro. – Então creio que está na hora de desafiar Edward novamente e se impor. Você precisa cuidar deles. Dos três. Não esqueça de que Edward está desmaiado lá em cima. Ele precisará demais ajuda ainda.

Foi com um longo suspiro que concordei com aquilo e despedi-me de Carmen. Ela estava certa. Edward não conseguiria cuidar de tudo sozinho. E eu ainda tinha que descobrir o que fizera a pressão dele cair tanto.

Bellaaa – chamou num gemido e corri para vê-lo.

–Estou aqui, não se preocupe – disse arfante da corrida, feliz por ele ter acordado e surpresa por ele ter me chamado tão prontamente.

Assim que vi seus olhos nos meus, tive uma certeza infeliz de que ele estava delirando. Ele estendeu a mão para mim e eu a peguei. Edward estava com febre. Eu tinha certeza disso também. Meu coração apertou-se ao ver um homem tão perfeito precisando de tantos cuidados. Cuidados esses que passei a noite realizando. Por fim, estava tão cansada que capotei ao seu lado e dormi sem perceber.


POV Edward



Como alguém podia ser tão perfeita? Eu não entendia. Dei uma rápida olhada no quarto, tentando situar-me de como havia chegado até ali. Lembrei-me de Bella virando-nos as costas e tudo ficando preto... como eu vim parar no meu quarto com Isabella minha cama? Ouvi batidinhas fracas na porta e rezei para que esta estivesse apenas encostada.


–Entrem – falei alto o suficiente para Maggie e Ben ouvirem.

A maçaneta girou e eles entraram cautelosos e sorridentes ao ver quem estava dormindo ao meu lado. Subiram na cama sem incomodarem Bella e acomodaram-se ao nosso redor. Os dois tinham sorrisos matreiros no rosto. Revirei os olhos, pousando-os em meu criado mudo. Uma tina de ferro com um pano e água dentro. Febre. Quem esteve com febre? Eu ou ela? Ela teria ficado se tivesse febril? Ela estaria bem?

Coloquei a mão sobre sua testa de porcelana e constatei que ela não poderia estar melhor. Ben deu um beijo no rosto da mãe e Maggie afagou-lhe levemente os cabelos.

Hmmm, como isso é booom. Quero acordar todos os dias desse jeito – resmungou antes de abrir os olhos e me encarar rubra de vergonha. – Edward, eu... eu... perdoe-me. Você ficou com febre depois de ter caído. Carmen e eu achamos que precisaria de ajuda com as crianças, mas ela não podia ficar então... – ela falava tudo tão rapidamente que eu pegava apenas alguns flashes do que ela dizia. – Olha, eu não acredito que acabei dormindo aqui com você. Que tipo de idiota de enfermeira imprestável eu sou...

–Sinto-me contente por ter alguém cuidando de mim, Isabella – interrompi-a, sorrindo.

–Papai, o nome dela não é esse – avisou-me Ben.

–É, papai, o nome dela é mamãe Bella. Não Isabella.

Agora que eu ri alto, concordando com eles. Peguei uma mão de Bella e olhei em seus olhos.

–Fico ainda mais feliz sabendo que esse alguém é o tesouro mais importante do mundo. Como dono de um banco, tenho que reconhecer o valor desse tipo de coisa.

–Você...você está que... querendo dizer o que e-eu estou pe...pensando? – ela gaguejou.

–E-eu e-est-tou q-querendo di-zer q-que você é b-bem v-vinda n-nessa c-casa – brinquei sorrindo e afaguei seu rosto. – Agradeço-lhe por ter cuidado de mim, Bella. E, não. Carmen não é minha namorada, nem nada do tipo. Ela é esposa do tio Eleazar.

–Sei disso, meu a... – ela interrompeu-se e respirou fundo. – Edward.

–Beija ela, papai! – gritou Maggie ao meu lado.

–Deixa de besteira, pai, seja homem e beija logo! – reclamou Ben assim que abri a boca para contestar.

Aproximei-me de Isabella lentamente. Pediria desculpas depois, pela invasão de espaço e por beijar-lhe os lábios, mas eu faria aquilo, e não era apenas por meus filhos. Toquei-lhe os lábios com os meus e senti-os formigar por mais. Demorei um pouco para ver que ela tinha mexido a boca contra a minha. Aquilo não seria decente. Separei-me dela e olhei feio para Maggie.

–Satisfeita, senhorita? – fingi estar bravo.

–Nem um pouquinho! – ela fez bico e cruzou os braços. – Eu queria um beijo igual ao da Encantada! Você deu um beijinho de Dama e o Vagabundo.

–Está me chamando... ? – arregalei os olhos, incrédulo. – Quem lhe ensinou isso?

–Não, papai. Nada disso! É que eu vi o filme dos cachorrinhos e achei uma porcaria eles darem só um beijinho de nada! – ela olhou envergonhada para a colcha.

Bella abraçou-a, confortando aquele espírito infeliz.

–Também não gosto daquele filme, minha linda – e beijou-lhe a bochecha. – E você, Ben? Concorda com a avaliação da sua irmã com relação ao beijo?

–Beijo é nojento! – ele fez uma careta que nos fez rir. – Mas o de vocês eu gostei, tesouro.

–Reprise? – arqueei a sobrancelha, sorrindo torto.

–Se eu souber o que é isso... – ele pendeu a cabeça para o lado, sorrindo também.

Dei uma piscadela antes de pegar o rosto de Bella e pressionar seus lábios com os meus. Dessa vez, ela resistiu e me empurrou. Afastei-me confuso e fiquei ainda mais quando sua mão estalou em minha bochecha. Logo depois, ela percebeu o que fizera.

–Oh, Deus! Desculpe-me, amor, desculpe-me! – ela pedia sem parar, beijando meu rosto – eu não sei o que me deu. Num instante, pensei que estava sendo atacada por um maníaco e... ah, amor, por favor, eu não queria machucar-te. Machucou muito?

Eu não entendi uma palavra do que ela dissera depois do primeiro amor que saiu de seus lábios. Não sei se era verdade, mas eu sentia minha bochecha arder e um sorriso imenso em meus lábios. Fora que eu olhava àqueles olhos castanhos com amor.

–Fala alguma coisa, pelo amor de Deus – ela deixou lágrimas virem aos olhos.

–Amo você – sussurrei.

–Edward, não é hora de brincadeiras idiotas. Eu bati em você e ficou muito, muito vermelho. Eu juro que não queria fazer isso. Só que... fazia tanto tempo que...

–Isabella... – interrompi-a. – Bella. Minha Bella. Eu não me importo com isso. Eu sei que faz tempo, mas eu ainda quero que more comigo. Quero que cuide de nossos filhos. Eu quero que você faça parte do meuJogo do Contente. Eu quero que seja feliz ao meu lado. Isso é egoísmo. Sim, eu sei. Mas meu coração está com você.

Um sorriso alastrou-se por sua boca e em seus olhos já úmidos.

–Antes de qualquer coisa... – continuei. – Eu vou repetir o que lhe disse antes de acordar. – esse fato a deixou rubra e eu sorri por dentro. – Eu não aguentaria deixá-la novamente, minha Bella.

Assim que terminei de proferir aquelas palavras, Bella atirou-se contra mim, esmagando seus lábios nos meus. Então, em nossa sincronia perfeita, nossos lábios se separaram e nossas línguas se acariciaram com amor. Puxei-a para mim, sorrindo ainda no beijo.

–Viva! – gritou Maggie, chocando-se contra nós dois, fazendo nosso beijo parar. – Vocês vão ficar juntinhos agora, papai?

–Só se a mamãe quiser, minha pequena – olhei fundo nos olhos de Bella.

–Quer sim, se ela não quiser, a gente vai lá morar na casa dela, não é, Maggie?

–Vão me deixar sozinho e desamparado aqui nesse apartamento tão gigante? – fiz beiço.

–É claro que você vai com a gente, né, papai? – Maggie revirou os olhos.

–Sendo assim, tenho que fazer a pergunta para a sua mamãe – olhei nos olhos lacrimejados de Bella, limpei-lhe carinhosamente o rosto com os dedos. – Minha Bella. Amada e doce Bella. Você aceita casar-se comigo... na igreja com um padre de verdade e nossos filhos?

–Se eu disser que não, vou morrer, não é? – ela riu e abraçou meu pescoço. – Sim, aceito.

...

E, a partir desse dia, eu soube que Bella nunca mais sairia da minha vida. Eu a amava, ela me amava e tínhamos filhos lindos. Filhos esses que gostaram do acréscimo meses depois. Minha mais nova joia preciosa: Renesmee Carlie.

Éramos em cinco, compramos uma casa em Forks, o dono não precisa ficar sempre no banco, apenas pagando as contas e os funcionários já estava de ótimo tamanho. Minha vida resumia-se em quatro Swan Cullen. Benjamin Anthony, Maggie Elizabeth, Renesmee Carlie e, a mais importante, Isabella Marie. Meu precioso tesouro.


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Notas finais do capítulo

E aí? Morreram? NÃO, POR FAVOR, NÃO MORRAM!! Vocês precisam me mandar reviews... :c

Por favor, seus gatos!! Digam-me o que acharam disso tudo!
E, depois, será que dava para vocês darem uma espiadinha na fic da Meg? Tipo, muito boa e eu garanto, viciante! Tá aí o link (ctrl+c e ctrl+v ajudam nesse momento). Gracias!
http://fanfiction.com.br/historia/334118/Uma_Historia_De_Amor