E lá estavam eles, na velha quadra de basquete ,curtindo o sol de um domingo a tarde.

      Brooke estava sentada em uma cadeira de praia a beira do canal ,com óculos escuros em forma de coração, estava em silêncio como Maria não achava ser possível.

      Ela e Miguel estavam sentados na velha arquibancada. Também estavam em silêncio ,olhavam para o brilho da água, se sentiam satisfeitos por estarem ali.

      Maria fechou os olhos e sentiu o vento contra sua pele ,seu cabelo foi levado para trás e naquele momento ela se permitiu apenas sentir.

       Não pensou no pai, nem nas perdas, nem em Rachel ou Dyllan. Não pensou em ninguém. Esvaziou a mente e sorriu ,com a sensação do vento fazendo carinho em seu rosto.

         Se não fosse por Miguel ela não estaria ali ,e logo sua mente estava cheia dele. Mas não se importava ,porque isso era muito bom. Abriu os olhos e se virou para ele ,ficou em silêncio o admirando. Ele estava de olhos fechados, relaxado ,a cabeça voltada para cima como se estivesse olhando para o céu. Tinha um leve sorriso nos lábios. Era o cara mais bonito que ela já tinha conhecido, e achou engraçado como só percebeu isso agora.

       – Como você descobriu esse lugar ? - perguntou querendo conhecê-lo mais.

        – Meu pai me trazia para jogar aqui quando era pequeno. Ele praticava aqui quando estava no colégio ,só com isso você já pode perceber o quanto ela é antiga. - deu risada ainda de olhos fechados.

       Maria deu risada com ele ,o som das risadas dos dois se misturou pelo ar em perfeita harmonia. Como que por mágica.

       – Miguel, eu ainda não me desculpei por aquele dia.

       – Que dia ?

      – Aquele em que você tentou me fazer perguntas para o trabalho e eu fui rude com você.

        Ele a olhou com um lindo sorriso nos lábios.

        – Não tem problema ,já tinha até esquecido disso.

       – Bem ,se você quiser ... eu .. eu posso responder suas perguntas de novo. - prendeu o cabelo atrás da orelha tentando não encará-lo.

        – Eu ia gostar muito.

        – Quando ?

         – Quando você quiser ,estou ao seu dispor madame. - pegou a mão dela e depositou um beijo ali, ela riu.

        – Muito bem! Então ,podemos nos encontrar aqui amanhã a tarde ? - disse mantendo sua mão junto da dele.

       – Tudo bem ,amanhã a tarde então. - meio que sem perceber entrelaçou seus dedos nos dela.

        Depois disso o resto da tarde passou rápido ,ficaram conversando sobre coisas banais e davam muita risada um com o outro. Logo Brooke se juntou a eles e o papo ficou mais divertido ainda.

      Quando o céu já estava ficando escuro voltaram para casa e relutante ,Maria entrou dentro do porshe e se despediu dos novos amigos. Sentiu seu rosto esquentar ao se despedir de Miguel e logo estava dirigindo calmamente ,voltando para casa.

       Quando chegou Berta já não estava mais lá ,não viu Jack e subiu direto para seu quarto.

          Dormiu com muita facilidade ,pensando no anjo de olhos azuis.

         (...)

Na segunda de manhã quando o despertador tocou ela praticamente pulou da cama e se arrumou correndo. Queria chegar cedo ,queria vê-lo logo. Nem por um segundo pensou em todos os outros que também veria ,somente nele.

    Desceu as escadas correndo ,deu um abraço apertado em Berta e praticamente correu para o carro. Ouviu suas músicas preferidas no caminho para a escola e dirigiu com calma, ao estacionar procurou a picape vermelha de Brooke em algum lugar ,mas nada.

        Suspirou desanimada ,mas não iria desistir de ficar feliz.

       Continuou dentro do carro ,ligou o sistema de ar condicionado e continuou ouvindo suas músicas.

        Até que batidinhas no vidro do carro chamaram sua atenção.

        – Rachel . - suspirou desanimada ,forçando um sorriso.

        Baixou o vidro ,ainda sorrindo.

      – Você não vai sair do carro ? - de repente a voz de Rachel parecia tão irritante.

          – Eu ... eu vou sim . - gaguejou.

      Fechou o vidro ,desligou o som,pegou suas coisas e saiu do carro. Fechou a porta e ficou encostada ali, de braços cruzados.

        – Onde você se meteu? Passei o fim de semana todo te ligando !

     – Engraçado... Não tem nenhuma ligação perdida sua. - Maria sorriu se sentindo... diferente.

         Rachel deu de ombros ,indiferente como sempre.

     – Então deve estar com defeito ,hora de trocar de celular querida. - cantarolou.

          – Você fala isso todo mês Rachel .

          – Maria Santino o que você tem ?! Fizeram lavagem cerebral em você ? - disse cutucando a cabeça de Maria .

      Maria Flor afastou o dedo da "amiga" irritada e antes que pudesse responder a altura ,um fusca azul passou por elas e estacionou bem ao lado de seu carro.

         As duas ficaram esperando quem ia sair daquele carro engraçado.

        Até que Miguel Collins saiu do carro ,todo sorridente,olhando para todos os lados. Procurando por ela.

         Até que se viram ,e sorriram como se fosse a primeira vez.

       E foi ai que Rachel percebeu. Olhando para os dois agora era óbvio o que estava acontecendo. Ela iria perder Maria a qualquer momento ,isso era certo. Esse menino que anda em fuscas ,iria arrancar Maria de suas mãos e levá-la embora. Isso não podia acontecer, durante todos esse anos juntas, Maria foi seu passaporte para o sucesso. E não iria perde-la agora. De jeito nenhum.

        Antes que Maria pudesse dar dois passos para ir até ele ,Rachel agarrou seu braço e a puxou pelo estacionamento. Primeiro Maria encarou Rachel de cara feia ,imaginando o porque dela estar fazendo aquilo. Mas depois percebeu que estava perdendo tempo ,podia estar olhando para ele.

      Quando virou o rosto ele ainda estava olhando para ela. Mas não sorria ,parecia confuso. Apenas acenou e então Maria não conseguiu mais vê-lo ,já que tinha entrado no colégio. Rachel a puxou pelos corredores da escola ,que estavam começando a lotar de alunos.

        Maria começou a tentar se soltar ,mas Rachel mantinha seu aperto. Até que entraram no banheiro e pararam frente a frente.

        – O que você está fazendo?! - Maria perguntou irritada.

        – Eu que te pergunto! O que tá rolando com aquele cara?!

        – Quem?!O Miguel? Ele é meu amigo.

     – Seu amigo?! Maria ele dirige um fusca! - jogou os braços para o ar indignada.

         – E o que tem demais?! - elevou o tom da voz.

         – Ele não é um de nós! - gritou.

         – Um de nós ? - perguntou baixinho.

         – Você não vê? Ele não se encaixa ,acabou de entrar no time de basquete e não serve pra andar com a gente. No máximo ele vai te usar pra conseguir popularidade!

         Maria permaneceu em silêncio. Miguel faria isso ? Não.. não né ?

        Permaneceu calada ,encarando Rachel. Sem voz ,sem resposta. E isso fez Rachel se sentir vitoriosa ,primeiro cruzou os braços. Depois pôs a mão sobre os ombros de Maria.

       – Sou sua amiga ,só quero te proteger. - falou "solidária".

       Maria continuou a encarando. Mil perguntas vindo a sua mente. Até acordar de seu transe, quando meninas começaram a entrar no banheiro. Se afastou do toque de Rachel e saiu do banheiro sozinha. Queria chorar ,queria colo, queria sua mãe. Andava pelos corredores robótica,mas se sentiu um pouco melhor ao sentir que Rachel não a acompanhava.

     Passou o resto do dia se sentindo um robô, no inicio ficou sozinha ,mas a partir da segunda aula Rachel se pendurou em seu braço e se encarregou de puxá-la pelos corredores da escola.
 
     Falaram com as mesmas pessoas, riram das mesmas piadas, fizeram as mesmas coisas,sentaram na mesma mesa na hora do almoço. Porém ,Maria não se sentia na obrigação de sorrir ou fingir estar gostando de tudo aquilo.

      Durante o horário de almoço ,enquanto fingia comer um pedaço de pizza ,Maria viu Brooke e Miguel passando pelo refeitório com suas bandejas carregadas. Eles conversavam e sorriam ,mas Miguel parecia distraído. De vez em quando dava uma olhada em todo o local ,até prender seus olhos nos dos dela. E por aquele breve momento, Maria sentiu vontade de sorrir, levantar daquela mesa e ir junto com eles. Junto com ele.

         Porém se sentiu congelada na cadeira, e somente sorriu.

       Mas por um breve momento, já que Rachel percebeu e logo se meteu no meio de seu campo de visão ,impedindo que se vissem. Isso só fez Maria se irritar mais ,e na última aula do dia já não suportava mais ouvir a voz de Rachel. Tanto que fez questão de se sentar bem longe de seu normal grupo de amigos.

      Enquanto o professor de espanhol enrolava a língua ,numa tentativa frustada de ensinar seus alunos a pronuncia correta. A mente de Maria vagava para longe.

         Pensava no sorriso dele ,em como ele falava seu nome ,no jeito que ficava sem graça quando tinha que arrumar o cabelo ou quando ficavam olhando muito tempo para ele. Era engraçado como depois de um único dia, ela já fosse capaz de captar tantos detalhes sobre ele. A maior das certezas ,é que ele era diferente. E era exatamente por isso que gostava tanto dele ,só por ele ser diferente.

        Olhou para Rachel e sentiu pena. Aquela menina bonita ,de longos cabelos ruivos que sempre sorria ou tentava conquistar alguém não tinha muitos planos para o futuro. Não existia depois para Rachel ,só agora. E em seu caso ,isso era muito ruim.

        Se sentiu inflar por dentro ao perceber que Miguel não era mesmo "um deles" ,e se fez a seguinte pergunta: Será que ela queria ser um deles? Queria fazer parte daquilo?

          Ela já sabia a resposta ,só faltava coragem para por tudo em prática.

          O sinal bateu ,as aulas tinham acabado. Sem pensar muito, Maria pulou da cadeira e juntou suas coisas rapidamente. Correu para fora sem se dar ao trabalho de olhar para Rachel. Passava apertada por entre os alunos que saiam ,correu para o estacionamento.

       Queria chegar logo ,queria vê-lo ,queria sair dali. Queria ir para a velha quadra e conversar horas com ele.

        Avistou primeiro o amarelo de seu carro ,diminuiu o passo e deu uma olhada em volta. Nem sinal de Rachel, suspirou aliviada. Parou na frente do fusca e ofegante encolheu os ombros. Ele ainda não estava ali ,talvez não chegasse logo e se Rachel a encontrasse... ah que droga!

          – Ora ora ora, que bela visão. - aquela voz.

        Se virou e sorriu entusiasmada ao vê-lo se aproximando ,carregando seus livros abaixo do braço.

        – Eu posso dizer o mesmo.

      – Sei que sou bonitão ,mas você não está exagerando no entusiasmo? - parou a sua frente, com uma sobrancelha erguida.

         – Temos um encontro ,lembra ? - olhava para cima ,balançando os ombros animada.

         – Um encontro? Isso é bom né ? - deram risada um do outro e tudo parecia bem.

         Até Maria ver Rachel se aproximando ,parecia furiosa. A procurava pelo estacionamento ,até que os viu e pode ver claramente ela bufar de raiva.

       – Estamos em modo de fuga ,quando eu falar corre ,você vai entrar dentro do seu fusca turbinado e dirigir para a quadra sem olhar para trás entendeu ? - falou baixinho ,mantendo os olhos em Rachel.

        – Sim, senhora. - Miguel fingiu estar tenso e isso arrancou um riso dela.
 
    Maria esperou até Rachel estar mais perto ,estava até gostando da adrenalina daquilo .

         – CORRE! - gritou jogando os braços para o ar.

       Os dois dispararam para seus carros e por um minuto Rachel não sabia o que fazer. Miguel jogou os livros pelo banco e deu a partida primeiro ,sabendo que Maria iria alcança-lo facilmente com o porshe.

       Ele saiu do estacionamento seguido por Maria que dava risada dentro do carro ,principalmente depois de conseguir desviar de uma Rachel furiosa e descabelada que praticamente se jogou a frente do carro.

       Respirou aliviada ao sair do estacionamento ,abaixou os vidros do carro sentindo o vento levar seu cabelo na direção que bem entendesse.

        Ao parar em um sinal vermelho ao lado do fusca azul ,ela olhou para Miguel ,que também a olhava sorridente. Mike ,seu irmão ,se sentiria orgulhoso da decisão que Maria tinha acabado de tomar.

           Decidiu que Miguel seria seu recomeço.

        E com esse pensamento que os dois se direcionaram, sem saber ainda ,que estavam começando um novo capítulo em suas vidas.