Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 24
Som do coração




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O que você faria se visse o amor da sua vida morto bem na sua frente?
Era muito mais que pânico, muito mais que desespero, superava qualquer dor que já tivesse sentindo na vida. Miguel sentiu suas pernas amolecerem, era como se o chão estivesse pronto para engolí-lo.
Ela não podia estar morta. Não, não podia.
– Não, você não vai me deixar agora. - disse para si mesmo.
De repente uma força sem limites tomou conta de si, porque ele sabia que teria de ser forte por ela. Como ninguém tinha sido antes, ela precisava ser amada. Mas no momento, ela precisava viver.
Miguel ajoelhou-se ao lado dela, e prendeu a respiração por um segundo. Não podia chorar agora, tinha que salvar a amor da sua vida primeiro.
Pôs dois dedos em seu pescoço, procurando algum sinal de pulsação. Tinha que ter alguma coisa, seu coração não podia ter parado. Um fio de esperança surgiu, quando Miguel sentiu a pulsação fraca de Maria. Era fraca sim, mas logo ficaria forte. Precisava de esperança.
Só lembrou de Berta, quando ouviu o grito de horro da governanta que estava parada na soleira da porta, com as mãos sobre a boca, e pálida como papel. Seu rosto banhado em lágrimas.
– Berta eu preciso que você ligue para o hospital, e avise que estamo a caminho. Ela ainda está viva, mas precisamos ser rápidos! - disse rapidamente.
Olhou para todo aquele sangue no chão, precisava estancar o sangramento. Olhou em volta, a procura de alguma coisa que pudesse ajudar. Viu toalhas brancas, perfeitamente dobradas em cima de um pequeno armário também branco, esticou o corpo até pegar todas elas. As enrolou nos pulsos de Maria com muito cuidado e força. Era desesperador, elas logo estavam banhadas em sangue. Envolveu cada pulso com duas toalhas, apertou o máximo que pôde com a preocupação de não feri-la ainda mais.
Foi então que percebeu que Berta ainda estava parada ali, não tinha movido um músculo. Miguel sentiu seu coração apertar, os minutos estavam passando e a fraca pulsação de Maria poderia parar a qualquer minuto.
– Berta,vai! - gritou com força, acordando-a daquele transe.
A governanta correu dali, e Miguel esperava que tivesse ido fazer a ligação.
Então olhou para Maria, e não conseguiu evitar. As lágrimas rolaram por sua face, era muito mais do que podia suportar.
Pôs a mão no rosto de Maria com delicadeza, e procurou lembrar de como eram seus lindos olhos verdes.Imginou seu sorriso e sua risada.
– Você não pode me deixar agora Maria, eu amo você e preciso de você aqui.
Se estivessem em um conto de fadas, seria nesse momento em que ela abriria os olhos, seus ferimentos seriam curados como num passe de mágica e eles poderiam viver juntos.
Mas não era conto de fadas, era vida real.
Ela permaneceu com os olhos fechados, a pele pálida e sem nenhuma vida irradiando de si. Mas, meu caros leitores, quando a felicidade não vem até você; você terá de ir até ela.
Miguel passou as mãos no rosto, limpando as lágrimas. Com muito cuidado segurou Maria Flor em seus braços e saíram do quarto. Miguel gostaria de poder correr, mas precisava ser cuidadoso com ela, muito cuidadoso.
Quando chegou ao topo da escada, respirou aliviado ao ver Berta lá embaixo,com a bolsa sobre o ombro esperando por eles. Como ele, Berta estava atrás da sobrivivência de Maria.
Correram para fora da casa e logo estavam dentro do porshe de Maria. Antes de entrarem no carro, Berta olhou para Miguel que tinha sua menina nos braços. Pensou em pedir para ir perto de Maria, mas só em olhá-lo soube que Miguel não a soltaria. Sendo assim, Berta sentou-se no banco do motorista dirigindo a toda velocidade, enquanto Miguel estava no banco traseiro com Maria ainda em seus braços.
Mantinha sua testa colada na dela, os olhos fechados, os lábios se movendo em uma oração silenciosa. Orar era o que podia fazer agora, precisava pedir a Deus que deixasse Maria ficar, que os dois tivesse a oportunidade de viver juntos e que Miguel pudesse ter a honra de ajudá-la a superar todos os traumas. Deus precisava ouví-lo. Sem ela, Miguel seria reduzido a um ser sem emoções.
Só abriu os olhos quando sentiu o carro parar, Berta saiu do carro com um pulo e abriu a porta traseira para que pudessem entrar logo no hospital.
Não estava tão lotado quanto de costume, assim que passaram pelas portas todos se viraram para olhá-los. Era uma cena brutal, um adolescente de 18 anos vestido com um uniforme de time de basquete manchado de sangue, carregava uma garota com os pulsos cortados e ensopados de sangue nos braços. Ao lado deles uma senhora tão desesperada quanto o garoto. Era uma cena de partir corações...
Um equipe médica logo veio até eles, Maria foi tirada dos braços de Miguel e colocada em cima de uma maca.
A partir dali tudo entrou em uma espécie de camêra lenta. Miguel estava ali, via tudo. Viu quando os médicos tiraram as toalhas manchadas de sangue dos pulsos de Maria, viu a agitação no seu olhar. Viu enfermeiros procurando sua pulsação e a conectando a um aparelho que monitorava seus batimentos cardíacos, tudo ali naquele corredor. Viu tudo, e também ouviu.
Ouviu aquele aparelho transmitindo o som dos fracos batimentos cardíacos de Maria Flor Santino, ouviu a voz dos médicos e enfermeiros cada vez mais alta. Mas sua atenção estava voltada para o aparelho do coração, o som do coração dela. Tinha coisa mais importante?
Miguel viu e ouviu tudo, inclusive quando o coração dela deixou de bater.


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, deixe um comentário com sua opinião. Boa ou ruim é sempre bem vinda. Muuuito obrigada a quem comenta, e muuuuuuito obrigada também aqueles que recomendam. Vocês nem imaginas a importância desses gestos.
Que Deus abençoe a todos, beijo beijo!