Letícia entrou no quarto e examinou cada centímetro de sua extensão. "Estranho" ela pensou "O quarto está diferente do que era antes". Mesmo com esse pensamento na cabeça, não se importou. Continuou andando e andando, até se deparar com uma mulher que falava no telefone. Felizmente, esta não percebeu a presença de Letícia.

– Tio! Será que dá para parar?! Eu já disse que está tudo sobre controle! Não precisa se preocupar com isso!

O homem com qual a mulher falava resmungou alguma coisa do outro lado da linha, algo que Letícia não conseguiu entender.

– Pode deixar! - a mulher insistiu revirando os olhos - Eu sei o que estou fazendo!

O homem mais uma vez resmungou alguma coisa.

– Olha, eu não quero perder tempo. Sei o que estou fazendo e eu vou acha-la. Sim, sim. Ah, por favor! Vou desligar. Já disse que vou encontra-la!

A mulher desligou o celular com certa brutalidade e atirou-o em cima da cama.

– Não dá pra entender - ela resmungou enquanto pegava um casaco que estava dentro de um armário - O meu tio me manda aqui, quando ele que poderia vir, e ainda fica me enxendo. Já disse que vou encontra-la! Isso não está bom para ele?!

– Quem você vai "inconta"? - Letícia surgiu do nada, assustando a mulher

– AHHHHH!!! - um agudo, fino e estrondoso grito ecoou por todo o hotel - DE ONDE ESSA MENINA VEIO?! ELA SURGIU DAS TREVAS!

A menininha riu.

– Eu não vim das "tevas" - Letícia correu até a mulher e agarrou seu braço - Quem é você?

– Sou Clarice Montez Arantes, uma produtora de nível nacional. Procuro estrelas para trabalharem como cantoras em minha empresa - Clarice tentou esconder seu próprio orgulho - E você? Por que está no meu quarto?

– Sou Letícia - a menina abriu um sorriso sapeca - Letícia Castillo Vargas.

– CASTILLO VARGAS?! - Clarice segurou a menina pelos ombros e quase a jogou no chão - Você conhece Violetta Castillo?

– Ela é minha mãe! - Letícia bateu pequenas palmas - Você conhece ela?

– Era ela quem eu estava procurando! - Clarice jogou-se na cama completamente feliz - Fiquei sabendo à alguns dias atrás que ela estaria aqui, no Caribe. Eu preciso falar com ela! Onde ela está?

– Saiu com meu pai! - Letícia correu até a janela e apontou para a praia que se estendia lá fora

– Ótimo! - Clarice comemorou - Assim que ela voltar poderemos conversar. Agora, por que está no meu quarto?

– Achei que esse era o meu "quaito" - Letícia deu ênfase a palavra "eu"

Clarice abriu a boca para explicar que aquele era seu quarto, que o quarto não era dela, quando as duas conseguiram ouvir um grito de alguém que estava no corredor.

– O QUE FOI ISSO? - Clarice correu para fora do quarto e espiou pela porta, tentando identificar onde havia ocorrido o assassinato

– É a minha babá! - Letícia riu se esgueirando por trás de Clarice

A babá olhou em volta e, quando viu a menina ali, abriu um enorme sorriso. Pegou em sua mão e começou a arrasta-la para o quarto.

– "Paia"! - Letícia sacudiu os braços tentando fazer a mulher solta-la, mas como ela não entendia português não houve efeito

– Volte pro seu quarto, Letícia - Clarice acenou - Não esqueça de avisar sua mãe de que eu quero falar com ela.

........................................................................

– Leon, você é muito bobo!

Leon e Violetta corriam por toda a extensão da praia, como duas crianças que brincam de pega-pega. Leon havia cismado de que iria jogar água em Violetta.

– Para! - ela tentava se proteger - A água está fria!

– Se você não vai, entrar por bem, vai ser por mal!

Leon avançou mais e conseguiu alcança-la. Pegou em sua cintura e a segurou-a em seu colo.

– Me solta!! - Violetta se debatia e ao mesmo tempo ria - Para com isso!

Ele correu até o mar e entrou nele correndo, espirrando água para todos os lados. Quando finalmente chegou em uma parte razoavelmente funda, jogou Violetta, que afundou. Segundos depois, ela levantou-se e começou a ir atrás de Leon, que já corria novamente para a areia dando gargalhadas.

– Leonard Vargas! - ela gritou, já correndo atrás dele - Venha aqui agora!

Ele somente ria e continuava a correr. Quando Violetta finalmente o alcançou, ele a fez cócegas e os dois logo estavam gargalhando novamente.

– Será que dá pra você parar de ser irritante? - ela parou e cruzou os braços

– Eu? Eu que tenho que parar de ser irritante? - ele arqueou as sobrancelhas

Ela riu e abraçou-o.

– Acho melhor voltarmos agora - ele disse - A Letícia deve ter destruído o quarto.

Violetta assentiu e os dois correram para o hotel.

........................................................................

– Chegamos! - Violetta abriu a porta com um estrondo, fazendo sua entrada triunfal

Assim que a babá os viu, saiu correndo do quarto, sem pronunciar um único ruído.

– Letícia - Leon riu acompanhado de Violetta - Por acaso você a traumatizou?

A menina deu de ombros rindo.

– E então, como foi a tarde? - Violetta sentou-se na cama e acariciou o cabelo da filha

– Nada de mais - ela mais uma vez deu de ombros - Só encontrei uma moça que "queia" falar "cum" você.

– Comigo?! - Violetta apontou para si mesma

Letícia assentiu com a cabeça.

– E onde ela está? - Violetta começou a se empolgar com a notícia

– No "quaito" ao lado.

Os dois correram até o devido quarto e Leon bateu na porta.

– Violetta Castillo! - Clarice atendeu sem chances para um "Oi!" ou então um "Como vai?" - Eu sou Clarice, uma produtora musical. Entre! Pode se sentar.

Os dois passaram pela porta, um pouco envergonhados.

– Minha filha disse que você queria falar comigo - Violetta sentou-se em uma poltrona

– Sim, sim - Clarice sentou-se na cama - Como já disse, eu sou uma produtora musical, e ficaria encantada se você trabalhasse comigo. Topa?

– Isso é uma proposta? - Leon estava confuso

Clarice assentiu.

– Uau, eu nem sei o que falar... - Violetta realmente estava sem palavras - Eu preciso pensar...

– Por favor - Clarice insistiu - Eu sei que está acontecendo muito de repente, mas seria ótimo ter você como nossa cantora...

Violetta olhou para Leon, indecisa. Ele assentiu enquanto sorria.

– Ótimo! - Clarice interveio, percebendo os olhares entre os dois - Só preciso que você assine isso.

Ela tirou um contrato de sua gaveta e entregou aos dois.

– Você que ler? - Violetta perguntou a Leon

– Ah, não tem nada de mais - Clarice sorriu - Só as mesmas coisas de qualquer contrato.

– Tem certeza? - Leon desconfiou

Ela assentiu.

– Certo - Violetta pegou uma caneta - Eu assino.

Ela entregou o contrato para Clarice.

– Ótimo! - Clarice sorriu - Espero você em Madrid.

– Madrid? - os dois cuspiram as palavras

– Sim! Minha empresa é em Madrid!

– Mas nós somos de Buenos Aires! - Violetta já começava a ficar nervosa

– Não se preocupe - Clarice forçou um sorriso - Só você irá viajar - ela apontou para Violetta - Sua casa poderá se manter.

– Co-como assim só eu irei viajar? - Violetta já estava de pé

– Sua família vai ser uma distração - Clarice falou como se fosse a coisa mais óbvia do universo - Todo seu tempo terá que ser usado conosco. Não podemos ter distrações.

– Você não vai me separar da minha família! - Violetta berrou e avançou, mas Leon a segurou

– Calma Vilu - ele tentou acalma-la. Depois se dirigiu a Clarice - Me desculpe, mas você não vai nos separar.

– O que posso fazer se vocês não leram o contrato?

– Você disse que era um contrato normal! - dessa vez era Leon quem avançava

– Olha, eu tenho um contrato assinado - Clarice levantou-se da cama - A partir de agora, Violetta fará o que ele estiver solicitando. E se ele diz que ela vai para Madrid, ela vai.

– Você não vai me separar do Leon - Violetta forçou um sorriso falso

– Vejo você amanhã no aeroporto - Clarice os conduziu até a porta - Seu vôo sai as dez da manhã. Ah, e lembrando: sozinha.

Ela bateu a porta com um estrondo e os dois se entreolharam, confusos, tristes e com medo.