– Quer conversar? – me assusto com Thomas ao meu lado

– Não, estou bem! – respondo, virando as costas e indo em direção ao quarto

– Eu te conheço, Val... O que está acontecendo? – ele pergunta em um tom preocupado

– Está tudo bem, já disse! – paro e viro para Thomas – Só vou... Dormir um pouco, está bem?

– Como quiser...! – Thomas vira as costas, seguindo para a sala

Fecho a porta e me deito na confortável cama, fico um bom tempo sem conseguir dormir, somente me revirando na cama. Desisto de dormir e ligo a TV, procuro por canais e fico assistindo Bob Esponja, um bom tempo depois, Pietro entra no quarto, me olhando com uma imensa cara de bunda. Reviro os olhos e foco na TV, ele fica sem entender e se deita comigo.

– Está tudo bem? – ele quebra o silêncio

– Sim, está! – respondo fria, sem dar real importância.

– Você está estranha. – Pietro, diz com a sobrancelha arqueada

– Pode me dizer com quem você estava falando? – tento não transparecer os meus ciúmes.

– Com quem eu estava falando? Por que quer saber? – ele diz meio nervoso.

– Só estou perguntando, não posso mais perguntar?

– Pra quê tudo isso?

– Não tenta mudar de assunto, Pietro!

– Ninguém, Valquíria, não era ninguém! – Pietro se estressa de vez

– Se você diz... – falo me virando para o lado oposto, com a intenção de dormir

– Val... – Pietro me chama, com certa preocupação estampada em sua voz

– O que foi? – falo, com muita, mas muita raiva

– Não fica assim... Por favor!?

– Durma Pietro, durma!

– Mas...

– Cale a boca, por favor!

– Val, só deixe eu te dizer...

– Chega Pietro, chega! – grito desesperada, segurando o choro

– Val, se acalma!

– Como você tem a cara de pau de me pedir calma? Você sabe que não estou bem... Essa viagem foi para eu tentar me acalmar... Você só está piorando as coisas! Você nem deveria ter tentado se aproximar de mim... Faça o que você quiser!

– Val, aonde você vai? – Pietro diz, me vendo quase sair do quarto com minha pequena mala

– Ir embora, sair de perto de você! – digo e viro as costas em direção a pequena porta de entrada

– Val... – Pietro sussurra parado no meio da porta

– No final, sua mãe estava certa! – digo com lágrimas nos olhos – Estou fugindo de tudo... Justamente como Ângela faz!

Saio dali segurando minhas lágrimas, não acredito em tudo que fiz, em tudo que acreditei ser errado, tudo aquilo que jurei nunca fazer, se tornar minha pura realidade. No final das contas, somos todos iguais em minha família, somos todos ignorantes, incapazes de admitir a verdade... Fracos demais para encarar os nossos próprios obstáculos. Pego um táxi não muito distante da casinha que nós havíamos alugado, sigo para o aeroporto, compro passagem para o próximo vôo de volta para Cuiabá, que seria em duas horas, o que me deixa nervosa, eu não queria passar nem mais um segundo ali, não sabendo que a qualquer hora, poderia encontrar Pietro atrás de mim... Ou não! “Pense positivo, Val! Ele não irá vir atrás de você, essa não é uma daquelas antigas histórias que seu pai te contava!”. Foi como um tapa na cara meu próprio pensamento, talvez por me lembrar muito meu pai... Mas tenho que realmente entender que nada será como eu quero e que nunca será como eu gostaria, nunca foi! Me perco totalmente no horário e vejo que faltam apenas dez minutos para o vôo, saio correndo em direção à área de embarque e sou a ultima a entrar no avião. Me sento e aperto o cinto. Olho na pequena janela e percebo o quão me dói ter tomado essa decisão, finalmente deixo minhas lágrimas caírem, soluço naquele avião, sem ao menos me importar se estava atrapalhando alguém ou se estavam me olhando, somente tentando me aliviar, me dói saber de toda minha realidade e eu acho que o que eu mais precisava, era me esvaziar de tantas lágrimas que eu havia segurado. Chego em Cuiabá e sigo de taxi para casa, chego, pego minhas principais coisas em meu quarto e sigo para algum hotel, planejando ficar sozinha, sem dever satisfações para ninguém, somente para mim mesma... Somente eu saberia onde, como e com quem estarei!