08 – No fim, eu sou uma menina de sorte

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Caro leitor, eu realmente não sei o que dizer hoje, porque aprendi que quando seu cérebro não está bem, é melhor manter a boca fechada. Com amor, Rose Weasley.

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Eu fui à escola na semana seguinte. Mesmo que meus amigos não tenham sentido a minha falta, eu sentia falta deles.

Depois de muito pensar a respeito, enviei um e-mail ao jornal da escola, contendo a redação. Pedi a eles que não colocassem meu nome, e nem nenhum pseudônimo, porque provavelmente meu cabelo seria alvo. Eles não me responderam, então, eu pensei que talvez não estivessem com vontade de publicar as baboseiras que eu escrevi, mas ai eu lembrei que o jornal não tem nada, se não aquilo e a fofoca sobre os alunos.

A matéria havia sido publicada. O jornal estava sendo entregue mais cedo e o título da minha matéria era: “Se você ficar com medo de cair, nunca vai aprender a andar.” A manchete era sobre a brilhante reviravolta no jogo dos meninos.

Sentada sozinha em um dos bancos do pátio, enquanto pegava sol, li a matéria sobre o jogo. Falava sobre os gols de Krum, sobre a virilha do meu irmão, sobre a virada dos meninos no segundo tempo, e sobre... Rose Weasley?

“Fontes nos informaram que Rose Weasley, a ruiva sensação, entrou de penetra no vestiário dos meninos na hora do intervalo e... BOMBA! Não foi para ver os gatinhos trocarem de roupa, mas sim para dar uma bronca no time! E graças a ela, e a promessa – cumprida – de Albus Potter, os nossos meninos conseguiram virar e vencer a Durmstrang. Parabéns aos meninos e a Rosie! Depois tivemos uma festa maravilhosíssima na casa do nosso querido e amado Potter, porém, não podemos dar detalhes, mas...”.

— Rose... – meu nome foi chamado hesitante tirando-me do jornal. Daniel estava na frente do sol, parecendo nervoso.

— Oi Dan. – respondi mordendo o lábio, sentindo meu rosto esquentar. – Hm, senta. – disse chegando para o lado. Ele se sentou e ficou brincando com o zíper de seu casaco.

Parecíamos dois desconhecidos e eu estava me culpando por isso. Daniel era meu amigo, e eu não queria perder isso. Na verdade, eu acho que já havia perdido.

— Rose, eu queria pedir desculpas... – ele começou.

— Você não tem que...

— Sim eu tenho. Porque... – ele mordeu o lábio inferior. – Eu quis te beijar Rose, eu estava sóbrio. Digo, ciente das minhas ações. – o olhei com uma expressão interrogativa. – Você é linda Rose, nunca percebeu? Você pode ter muito mais do que o que tem, não quero dizer que seja eu, mas o que está acontecendo não está certo. O que o Scorpius está fazendo não é certo, ele está... Te usando. Isso não é certo, não com você. – ele disse entredentes.

— Por que ‘não comigo’? – eu perguntei, já sabendo a resposta.

— Porque ele sabe que é apaixonada por ele, e simplesmente está usando isso. – ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e continuou com a mão ali, fazendo carinho em meu rosto.

— Eu não sou...

— Você sempre foi. E não vai conseguir mudar isso, por mais que seja o certo.

E então, ele se levantou e me deu um beijo na testa, me deixando sozinha em seguida.

Eu não sabia o que dizer. Eu não era apaixonada pelo Scorpius. Não é?

Durante o dia, percebi que ninguém havia me magoado, ou pelo menos não demonstrou isso, porque não recebi nenhum jornal. É claro que eu não esperava que tivesse uma grande repercussão, porque fui eu quem escrevi, Rose Weasley, aquela que não escreve nada.

Nas aulas, Daniel tomou o lugar do Scorpius na mesa ao meu lado. Ele estava sendo tão carinhoso e perfeito que eu fiquei me perguntando por que não me apaixonei por ele. Ele estava fazendo de tudo para me alegrar quando Scorpius passava por mim e fingia não me ver, ou quando ele ficava olhando de esguelha nas aulas.

E Lily, Roxanne, Albus, Lysander e até o Lorcan, que não havia ao menos ido a festa, vieram falar comigo, finalmente.

— Eu só queria saber por qual motivo, de repente, vocês me viraram as costas? – perguntei depois que eles se desculparam por “me virar as costas”.

— Na verdade, não estamos falando com o Scorpius também. – Albus respondeu irônico.

— Nós só não queríamos ficar no meio de vocês dois, mas acho que não deu muito certo. – Lily disse mexendo no meu cabelo e ignorando o irmão. – Ele ainda não está falando com você?

— Acho que eu finalmente consegui magoar o coração dele. – respondi ironicamente.

— Não tem culpa do que fez enquanto estava bêbada. – Daniel me apoiou. – Na verdade o errado é ele.

Ninguém se atrevia a discordar. Talvez, nem eu mesma discordasse. O que estávamos fazendo era errado e Scorpius estava realmente se aproveitando do que eu sentia por ele, que na verdade nem eu sabia mais o que era. Ele era meu melhor amigo, ele esteve do meu lado sempre e eu não sabia definir o que sentia por ele. Isso era estupidamente ridículo.

Como Daniel estava ocupando o lugar o Scorpius enquanto ele não voltava a ser o Scorpius, ele andou comigo até a minha casa, rindo das minhas piadas sem graça e carregando a minha mochila contra a minha vontade. Não parecia, mas Daniel era um cara muito legal.

— Entregue, senhorita Weasley. – ele disse sorrindo assim que chegamos à porta.

— Obrigada. – respondi olhando nos olhos dele. Eu não estava agradecendo por me levar em casa.

— Posso fazer isso todos os dias, sua companhia é ótima.

— Estou agradecendo por estar comigo, e por ser meu amigo, quando todos os outros simplesmente se afastaram. – respondi abaixando a cabeça.

— Eu poderia fazer isso a vida toda. – ele levantou meu rosto, fazendo-me encarar seus olhos castanhos. – Você é a melhor amiga que alguém pode querer. E o Scorpius vai perceber isso.

Sorri. Dessa vez, verdadeiramente.

Daniel era um amigo e tanto. E eu estava feliz por tê-lo. Mesmo com tudo dando extremamente errado na minha vida, mesmo com meus amigos afastados de mim, eu estava feliz, finalmente. Eu sou sortuda. Uns amigos se afastam, mas outros preenchem seu lugar, e quando aqueles amigos voltam, você ainda tem amigos a mais.

Eu estava feliz em saber que quando Scorpius voltasse, eu ainda teria Daniel.