Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 5
Escolha


Notas iniciais do capítulo

acho que acabei nem demorando duas semanas dessa vez *-* cap meio seilá pq eu tava meio loka quando escrevi, mas espero que esteja legal



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D­ou passos firmes e confiantes; ninguém pode me impedir de fazer o que estiver afim, agora. Caminho junto com os iniciandos em uma área mais coberta, aparentemente foi toda feita de pedra. É realmente espantoso perceber que nossos vigilantes morem em um abrigo subterrâneo. Eles chamam a sede da Audácia de Fosso, mas acho que o lugar em que estamos agora parece mais com uma caverna. Há lâmpadas de luz amarelada que iluminam o local, e não existe luz solar aqui.

Vejo espaços pequenos cavados em cada rocha e há várias pessoas que passam correndo por nós, o garoto que está na minha frente para bruscamente e bato minha testa em seu ombro, ele consegue ser mais alto que eu. Deve ter sido uma reação em cadeia, pois sinto alguém esbarrando em minha coluna.

O nosso guia para e mostra todos os locais. Percebo que ele é o mesmo cara que me recepcionou após a queda. Alguém cutuca meu ombro, e eu prefiro ignorar. Não estou com humor para falar com Adam, não agora.

–Com licença. – eu me enganei. A voz não é de meu ex-companheiro de facção, mas ainda sim me é familiar. Viro-me de costas e encaro aqueles olhos acinzentados, e ainda não sei o seu nome. –Acho que perdeu uma coisa. - ele passa as mãos pálidas pelo cabelo castanho escuro, e sua outra mão mostra um sapato feminino preto. O frio da pedra me faz erguer meu pé nu. Toda essa adrenalina deve ter me feito esquecer minha perda. Estendo a mão para o garotinho e jogo o sapato no chão, calçando-o logo em seguida.



–Obrigada, Hm...



–Gus, e disponha. – ele bate continência e eu rio dele. Ele nem aparenta ter 16 anos, seu jeito infantil o faz parecer mais novo que minha irmã; sem falar na sua altura. –E o seu nome?- bato meu pé recém-calçado no chão de pedra, nós deveríamos estar prestando atenção no cara de moicano. Mas eu respondo baixinho:

–Meu nome é Carl. – se ele pareceu surpreso, não demonstrou.

–E como sempre, tenho um bom dia, Carl.



Avançamos por vários “casulos”, como eles o chamam, e estão sempre em movimento. Alguns membros da Audácia pouco mais velhos que nós, passam correndo pela gente. Suas peles geralmente cobertas de tinta de tatuagens e anéis de metal cravados pelo corpo. Não entendo o que isso tem a ver com sermos corajosos e ajudarmos a proteger Chicago, mas, de qualquer forma. Bato minha cabeça no ombro do garoto alto de azul novamente, e ele parece irritado.



–Desculpe. –e dou uns tapinhas em seu ombro. Eu deveria ter mais atenção, mas, que seja.


–Sabem onde estamos?- pergunta o homem de cabelo preto e moicano, o anel prateado em seu nariz cintila. Ninguém ousa responder, então o homem sobe em uma grade, que dá para... Aí é que está, eu não consigo ver. O garoto de azul irritadinho está na minha frente, mas eu tento desviar de sua figura e ser mais atenta. Ser desatenta é algo que naturalmente sou, quando eu era pequena meus pais me levaram ao médico que me diagnosticou com déficit de atenção.



Ouço o barulho de água batendo contra pedra, e a corrente contínua de água roncando. Algumas gotículas da cachoeira espirram no cabelo de nosso guia, deixando-o com o que perece ser uma película protetora na cabeça.

–Aqui, caso não saibam, - e que por acaso não sabemos – é o Abismo. Um lugar bastante divertido, com toda certeza. – o instrutor pula para a estrutura de metal que reveste o chão. –Ah, sim. Me chamo Tyler. E devo dizer que em algum momento, alguns de vocês poderão achar esse lugar extremamente atraente. Esses, que aproveitem. Se pensaram em tal possibilidade, não são um de nós. Então, se você sabe que vai sentir uma vontade enorme de se atirar no Abismo, por favor, faça as honras da casa.

Ele ficou maluco? Nossa. A possibilidade de cometer suicídio nunca me veio à cabeça, mesmo tendo “motivos”. E, bem, não é mais alguma pressãozinha que vai mudar minha opinião. Seguro meu braço esquerdo com a ponta de meus dedos.



–Não? Ótimo.- ele esfrega as mãos. –Agora , acompanhem-me. –e foi isso. Seguimos o mentor até um lugar um pouco mais escurecido, com pequenas luzes amarelas e andamos por aquele caminho em menos de uns cinco minutos. -Aqui é onde vocês, os iniciandos transferidos vão ficar durante as fases da iniciação. – ele encosta a mão na porta de madeira ao seu lado. – E por enquanto, é o que devem saber. Estejam acordados antes das oito. O restante das informações lhes será dada durante o início da primeira fase. Agora, - ele abre a porta – descansem. Oito horas, não esqueçam.

Vejo que o cômodo é como um grande quarto, com camas em cada parede. Todos entram e logo ele bate a porta. Vejo que são cerca de seis beliches, que exagero. Somos cerca de nove. Três vindo da Erudição, três vindos da Franqueza, duas vindas da Amizade e um da Abnegação. Todos que estão no quarto escolheram suas camas e eu fiquei por último. Vejo que as gêmeas de vermelho e amarelo decidiram ficar próximas, o que pode vir a ser estranho.

Adam passa por mim e divide um beliche com um cara quieto vestido de cinza*, acho que não o ouvi falar nenhuma vez, e tampouco sei seu nome. Não me sinto a vontade para pegar uma beliche vazia, então olho ao redor e vejo um par de óculos familiares.

–Ei, você! – chamo-o. –Gus, certo? – sei que ter amizade com outros iniciandos não é uma coisa muito esperta de se fazer. Mas, como minha mãe sempre disse, eu nunca fui muito inteligente, de qualquer forma.


–Sim. – ele vira a cabeça para baixo e me olha. –Quer dividir? – ele tira os óculos.




–Claro. Mas eu fico com a de cima.

–Você não costuma ter muitos pesadelos à noite, costuma?



–Sempre. – ele ri e de alguma maneira consegue se jogar na cama de baixo.

–Toda sua. -Faço sinal positivo e me afasto, preciso resolver uma coisa antes. Passo os meus olhos por todos os iniciandos e nenhum deles parece excepcional. Pelo menos, é isso que eu acho. O garoto de cinza* e cabelo extremamente curto vai ao banheiro algum tempo depois, e eu não vejo, mas sei que há olhos em mim. Ando mais a frente e cruzo os braços. –Explique-se. – meu talvez antigo melhor amigo aperta os olhos e responde, atordoado.–Explicar o quê?

–Não banque o engraçadinho. Explique o que foi que você fez, droga. – ele soltou um longo suspiro.

–Não sei o que você está achando, mas...



–Você não pode, não poderia! Não é simplesmente ir lá e derramar seu sangue. É a sua vida, mas que porcaria! Que droga, que droga, Adam! – acho que acabei me exaltando, e alterando um pouco demais meu tom de voz, pois Gus me encarou de olhos arregalados, mas sorri nervosa e o dispensei com a mão.



–Carlyn, você precisa saber, além de tudo que... – ele engole em seco. Obviamente espera que o interrompa novamente. Mas não o farei, ele pode falar. –Eu sei muito bem o que você está pensando, e, sim, talvez tenha sido uma burrada. É, talvez. Mas olha, mudamos de facção.



–Carl.- corrijo secamente.

–Carl, - ele repete, com os olhos ternos nos meus. –Por que não deixamos o passado no passado, pra lá. Ou então, pomos de uma vez uma pedra nisso? – penso em todas essas possibilidades, e não, não dá. Ele entregou a própria vida, seu lugar era na Franqueza. Preto no branco, sangue no vidro, verdades postas a limpo. A verdade nos fará inextricáveis, e todas essas... Coisas, que jamais me serviriam. Não sou da Franqueza, ele é. E na verdade, também não sou Abnegação, ou Audácia, e muito menos –graças a santidades inexistentes- Erudição. Eu sou Divergente, e não posso ser controlada. Pensar nisso me faz rir. E se eu tivesse gritado “Não posso ser controlada!” todas as vezes que meu pai levantava a cinta. Hmm, sei lá. O tratamento recebido por meu pai sempre me feriu. Mas agora, vendo de fora, parece algo cômico.

–Mas não dá, Adam. Não dá. Você mesmo disse que precisamos ser corajosos, e tenho minha escolha. Vou te deixar ir. – e levanto da cama onde nem havia percebido que estava sentada e dou uma puxada no meu casaco. Sinto algo pegar minha mão, e dou dois passos para trás.



–Que isso? – ele pergunta, indicando as marcas vermelhas e levemente em relevo. Nunca mencionei esse pequeno detalhe à Adam. Nem a ninguém, na verdade, o jeito como era tratada era um segredo. Agora não passa de uma lembrança.



–Não foi nada... Talvez minha queda, ahn... Tchau Adam.



–Espere. –eu sou obrigada a me virar de novo, mas ele se aproxima. –Tem certeza de que não vai precisar de ajuda?



–Ajuda? Não, obrigada. De nada.



–Carl, -ele enfatiza meu nome novamente – Eu sei o que você quis dizer, pense nisso.


Minha cabeça girava, ele sabia. Acho que a única pessoa que sabia que seu irmão havia me apelidado como um garoto e prometido que nos veríamos em breve. E ele lembrava.

Percebo que ele acariciava o dorso machucado de minha mão, e puxo a mão com força. Não sei explicar o porquê da raiva. Mas não importava, eu havia feito minha escolha.




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Notas finais do capítulo

*: meio óbvio quem ser, se fizerem as contas :3

Apenas uma coisa: fantasmas, apareçam; é meio chato escrever pras paredes, e recebi um comentário apenas no ultimo capitulo e isso me let down um pouco.
Eu não mordo, e é muito bom quando vejo que alguem leu e está curtindo a fic.
Beijos