– Admita que ainda ama ele.

Neguei com a cabeça novamente. Annabeth estava desde a hora que chegamos da escola até aquele momento tentando fazer com que eu falasse a verdade pra ela, mas era impossível. Nossos pais eram amigos dos pais de Luke, e na infância vivíamos um na casa de um, ou de outro. Até os pais de Luke se mudarem para Europa. Quando voltaram – a um ano atrás - Luke já tinha virado essa pessoa idiota que ele era.

Vivi muitas coisas boas com Luke. Coisas que eu luto para esquecer todo o dia. Ele foi a primeira pessoa no qual eu beijei, foi o meu primeiro amor. Annabeth sabia disso, mais do que qualquer outra pessoa. Mas não podia admitir a ninguém o que eu sentia.

Seria como contar sobre meu medo de altura.

– Okay, desisto - Ela deitou na beirada da cama pegando o celular e mandando uma mensagem para Percy. Suspirei e sentei do lado dela, mexendo em seus cachos dourados. Eu queria falar, queria mesmo. Mas não podia. Aliás, não conseguia. Era como se algo me impedisse de falar, alguma coisa bloqueava a minha voz na hora de dizer a verdade. Ou um sentimento, uma recordação...

Era isso. Eu guardava mágoa de Luke. Mágoa de todos os momentos que vivemos juntos, de todas as promessas de amor, todos os “eu te amo”. Ele foi meu primeiro amor... Foi nele que eu confiei pra ter minha primeira vez. Semanas depois disso, eu o vejo ficando com outra, dizendo que a amava. Logo depois ele vai embora por dois anos para a Inglaterra, e volta o pior do que antes. Só pensando em dinheiro e fama.

Coisas que não valem nada perto do verdadeiro amor.

E sabe o que me irritava mais? Irritava-me saber que eu ainda o amava. Amava o modo como ele sorria, como ele ajeitava o cabelo, como ainda tinha um pouco de sotaque inglês e fazia questão de continuar com ele porque –eu acho – ele sabia da minha fascinação pela Inglaterra, e me irritava saber que isso me seduzia também.

Ele me irritava.

– Percy pode vir pra cá? – Annabeth perguntou.

– uhum.

Ela sorriu, voltando a digitar.

– Shippo Percabeth.

(N/A = shippar é o ato de torcer por um casal)

– am?

– Percy + Annabeth.

Annie riu, botando o celular ao lado dela.

– E por incrível que pareça, eu shippo Thaluke. Mesmo sabendo quem Luke é.

Rolei os olhos.

– Se você admitir que ama ele... Eu admito que amo o Percy.

Comecei a rir. Annabeth entendeu o que tinha acabado de faz e botou a mão no rosto, rindo envergonhadamente. Até que resolveu contar tudo, a primeira vez que se beijaram, a vez que Percy teve que acordar no meio da noite e ir na casa dela matar uma aranha (Annie tem fobia a aranhas) e os dois acabaram ficando, e algumas outras coisinhas que não sei se devo contar.

– Dessas coisas eu não sabia – comentei. – O que é um absurdo! Sou sua melhor amiga!

– É... – Annie se defendeu do travesseiro que eu taquei na cabeça dela - Nós combinamos de ficar só entre nós.

– Não entendo... Já rolou isso tudo, e vocês não tão namorando?

Ela se mexeu desconfortável na cama.

– Pra ele a gente já estava namorando, mas eu quero um pedido oficial... E ele é lerdo demais, é provável que só perceba isso quando estivermos saindo da faculdade,

– É verdade – nós duas rimos. E rimos mais ainda quando Percy entrou no quarto alguns minutos depois, com aquela cara de “por que diabos vocês tão rindo?”.

Passamos a tarde conversando sobre o primeiro dia de aula, sobre como a calça branca do professor de português tinha uma mancha marrom na bunda, de como a Selena Beauregard tinha diminuído o tamanho de sua saia, em compensação aumentando a quantidade de maquiagem e chapinha no cabelo. Vivos filme depois do assuntou faltar, e vi pelo canto do olho Annabeth encostar a cabeça no ombro de Percy, e eles entrelaçarem as mãos.

Não ia ficar de vela, então levantei com a desculpa de que ia fazer mais pipoca. O motivo maior não era só de ficar de vela, boa parte era de que eu sentia falta de viver o que eles viviam. De ficar perto da pessoa, abraçada ou de mãos dadas, conversando ou até em silêncio. Se sorrir ao ver a pessoa, mesmo que seja contra a vontade.

Peguei a pipoca, e quando cheguei na sala, Percy estava beijando Annabeth. Era um beijo sincero, e os dois sorriam. Senti mais falta ainda de tudo. Deixei os dois serem felizes na sala, e sai sentando na escada da varanda, comendo a pipoca. No outro lado da rua pude avistar um rapaz loiro com um casaco vermelho que em uma das mãos segurava uma garrafa de alguma bebida alcoólica e na outra jogava um cigarro no chão.

Luke.

Ele sorriu se aproximando de mim.

– O que você quer, Castellan? – disse em alto e bom som fazendo com que ele parasse antes de pisar no primeiro degrau da escada. Ele estava irritantemente bonito, o cabelo bagunçado, o casaco vermelho, a calça jeans com a cueca aparecendo, o tênis all star preto. Um conjunto perfeito que o deixava infelizmente mais belo do que já era.

– Vim conversar – ele foi ousado o suficiente para subir alguns degraus e sentar do meu lado, me oferecendo um gole da bebida.

– Só bebo em ocasiões especiais.

– Mas é uma ocasião especial, Thalia! – ele riu obviamente bêbado.

–Por que seria uma ocasião especial se o cara mais idiota de todo colegial tá sentado ao meu lado claramente bêbado?

– Eu não estou tão bêbado quanto você acha que eu estou – ele sorriu torto – mas estou bêbado o suficiente pra fazer uma coisa.

Agora quem foi ousada fui eu em perguntar.

– O que?

– Isso – Luke me beijou.

Isso mesmo. Me beijou. Com todas as seis letras, com toda a troca de saliva, com direito a mão na cintura e língua. E sabe o pior de tudo?

Eu retribui.