Logo o Argo 2 estava decolando para um destino incerto.

A tensão instalava-se no ar, apenas os rangidos de Festus eram escutados devido ao silêncio total.

-O que há de errado com vocês? Perguntou o treinador Hedge de repente. Animem-se, até parece que matar monstros é algo ruim.

Leo olhou em sua direção transmitindo uma mensagem silenciosa ao velho sátiro, que olhou para mim e Annabeth.

-Ele vai ficar bem, eu garanto, conheço aquele menino, é um garoto forte e esperto, vai conseguir se manter vivo a tempo de nós o salvarmos.

-Eu espero que sim, falei tristemente me lembrando dos sonhos que tive.

-A propósito, Percy, qual é exatamente o nosso destino? Perguntou-me Leo.

-30317512.

Todos me olharam sem entender absolutamente nada.

Dei de ombros.

-São coordenadas de latitude e longitude, para ser mais específico, elas nos levam ao triângulo das bermudas, onde se localiza o mar de monstros.

-Mar de monstros é? Perguntou Hedge bastante interessado. Estou gostando cada vez mais desta missão.

-Mas Percy, onde exatamente ele está? Não me diga que é na ilha de Polifemo? Perguntou Annabeth que até então estava quieta.

-Isso eu não sei, vamos depender da sorte.

Em seguida os outros foram para suas cabines, Thalia e Nico ficaram com os antigos quartos de Frank e Hazel, Leo e o treinador Hedge ficaram no comando do navio e eu? Bem, eu fui para os estábulos.

Estava com tanta dor de cabeça que achei que fosse explodir, sentei-me no feno e observei a paisagem lá embaixo pela grande placa de vidro que havia no chão.

Meus olhos pesavam, mas eu me recusava a dormir, não queria sonhar novamente.

Lembrei-me de algo, seja lá quem fosse aquele menino que me enviou o sonho, eu com certeza tinha que agradecê-lo um dia.

Ninguém sabe o porquê das coisas acontecerem, elas simplesmente acontecem por algum motivo, penso nas escolhas que fiz e me pergunto se foi o certo a fazer, Atena me disse uma vez que eu destruiria o mundo para salvar quem amo, consegui mostrar a ela na segunda guerra contra os Titãs como era possível fazer os dois.

Mas dessa vez, fico pensando, será que conseguirei novamente? Não sou o mesmo garoto de antes, estou mais velho, passei anos fora do acampamento, continuei treinando é claro, mas não o suficiente, não quando a vida do meu filho depende disso.

Confesso que não sou, nem fui o melhor pai do mundo para ele, afinal, não faz muito tempo que o conheço e por minha causa ele está em perigo, definitivamente, quem iria querer um pai como eu?

Antes mesmo de eu perceber, lágrimas escorreram pelo meu rosto, poupei-me o trabalho de contê-las, não adianta mais fingir estar tudo bem porque infelizmente não está.

Fiquei tão concentrado em meus pensamentos que nem percebi quando alguém se aproximou de mim e tocou meu ombro.

Não quis olhar para trás, não conseguiria encarar ninguém naquele momento.

-Percy, reconheci a voz de Thalia. Não se martirize, sei o que deve estar pensando, ficar aqui se culpando e chorando feito uma garotinha que acabou de derrubar o sorvete no chão não vai ajudar em absolutamente nada!

Encarei-a, era estranho olhar para ela e ver aquela mesma garota punk de 15 anos que conheci há muito tempo.

-Por isso trate de limpar o rosto e tirar esse traseiro gordo do chão imediatamente! Antes que eu mesma faça isso! Continuou ela gritando. Com certeza você não pretende ajudar o Tiago desse jeito não é?

-Mas...

-Sem reclamar.

Obedeci e levantei-me.

-Espera, eu não sou gordo!

-É sim.

Controlei um pouco da água que havia em um barril ali perto e acertei no rosto de Thalia.

-Você não devia ter feito isso, falou ela tão calmamente que fiquei com medo, mas resolvi brincar mais um pouco.

-Feito o que? Isso? Um esguicho de água a atingiu novamente no rosto.

-PERSEU JACKSON!

Ouvimos passos apressados descendo as escadas.

Voltei meu olhar para os degraus e em seguida para Thalia, seus cabelos estavam encharcados e água pingava de seu queixo.

Olhei novamente para as escadas a tempo de ver os outros chegando, mas de fato não foi uma boa escolha, considerando que no segundo seguinte, fui atingido por um raio que me fez voar 3 metros e bater as costas na parede.

-PERCY! Ouvi alguém gritar. Thalia viu o que você fez, eu avisei para não deixarem vocês dois sozinhos por muito tempo, disse Annabeth.

Minha cabeça doía e minha visão estava embaçada, mesmo assim, me levantei com dificuldade, olhei para minhas roupas, estavam em farrapos.

-Porque vocês adoram fazer isso? Perguntei para ninguém específico.

Nico riu.

-Thalia e Jason você quis dizer? Perguntou ele com um sorriso sarcástico. Eu sou inocente.

-Engraçadinho você.

-As crianças podem se comportar, por favor? Perguntou Annabeth sarcasticamente. A propósito Percy, vá tomar um banho você está fedendo a queimado.

-Isso foi um elogio?

Ela revirou os olhos com meu comentário e subiu as escadas em direção ao convés, junto com os outros, deixando somente eu e Nico.

-Vamos gasparzinho, está na hora do banho.

-Cale a boca Nemo.

Entreolhamos-nos e corremos escada acima.

...

Logo chegamos ao mar, Leo colocou o navio em modo aquático e pediu que eu assumisse o comando, segundo ele a situação pedia um especialista e nada melhor do que um filho de Poseidon.

Fiquei perto de Festus, apenas observando, o mar parecia tranquilo, a não ser por uma luz brilhante ao longe, aquilo não era o sol, ou melhor, Apolo, tanto faz, enfim, a luz aproximava-se rapidamente em direção ao navio.

Gritei chamando os outros que estavam lá embaixo.

Logo eles chegaram correndo.

-O que foi Percy? O que aconteceu? Perguntou Annabeth.

Apenas apontei para a luz que chegava cada vez mais perto.

Todos observavam silenciosamente, apenas esperando.

Quando chegou ao convés, a luz se dissipou, deixando em seu lugar uma mulher.

Eu a conhecia, e não era uma deusa, mas também é imortal.

Pensei que nunca a veria novamente, mesmo sabendo que algum dia ela viria atrás de mim, eu estaria feliz em vê-la, mas não agora, não quando há coisas mais importantes a serem feitas, e nesse caso, é urgente.

Não fazia ideia de como Annabeth iria reagir, afinal, nunca falei nada a ela, mas considerando o fato de ser uma filha de Atena, eu tinha uma pequena suspeita de que ela sempre soube.

Mesmo assim, eu não esperava que fosse daquele jeito.

Eu estava sem palavras, completamente mudo, não conseguia dizer nada, os outros estavam parados olhando, sem saber de quem se tratava a bela jovem, acho que a única, além de mim é claro, que a conhecia era Annabeth, ela olhava para a mulher com raiva, ódio talvez, lançando-lhe o pior olhar mortal que eu já vira, eu definitivamente não estava gostando disso.

A mulher sorriu para mim.

-Você!? Perguntou Annabeth um pouco alto demais.