Levante-me assim quando o sol se pôs, como de costume, -mais um dia comum como todos os outros, tem sido muito solitário aqui depois que Mary Magdalene se foi...
Fui ao túmulo de minha amada e sentia angústia em ver seu nome esculpido na lápide, - se eu tivesse sido mais rápido, um ou dois dias, ela estaria aqui comigo; era o único pensamento que tinha há anos, centenas de anos. Não há porque ter vida eterna quando não se tem motivo para viver.
Pensei em traze-la algumas flores, lembro como ela adorava enfeitar seus cabelos com belas flores do campo quando passeávamos juntos pelos arredores do castelo, mas eu estava fraco e já não conseguia voar até o jardim, há alguns anos só tenho saído do castelo para visitar Mary.
Ouvi alguns barulhos, o que era estranho pois há séculos não via ninguém ali, com muito esforço consegui voar até o cemitério aonde avistei uma moça. Por um momento vendo sua silhueta esguia de longe pensei ter visto Mary, mas não era possível: ela estava morta, -Mary nunca usaria roupas assim, aliais quem usaria?
–Tem alguém aqui? Onde eu estou? –Dizia a moça chamada Catherine.
Recuei para o castelo, custava acreditar no que vi, -Mary Magdaleine não pode estar viva! Seu corpo está sepultado! Todos os dias eu estava lá ao seu lado... Preciso ir ajudar a moça que vi no cemitério, ela pode morrer como Mary, não suportarei mais uma morte por minhas mãos; pensei.
Pensando na bela moça bebi uma taça de sangue de coelho que havia colhido há alguns dias, não gostava da ideia de sacrificar pequenos mamíferos para saciar minha sede de vida, mas era a única maneira me manter nesse estado semivivido que permaneço.
Olhei pela janela e vi a garota sentada em uma raiz de árvore, chorando, naquele momento voei para atrás do grande carvalho e me aproximei sorrateiramente e perguntei:
–Quem é você?
–Sou Catherine, por favor... me ajude!
Foi a primeira vez em centenas de anos que Mary saiu de minha mente, eu só conseguia pensar na linda moça que via na minha frente...
–Como você veio parar aqui, jovem donzela?
–Eu não sei... –Disse Catherine com os olhos de cheios de lágrimas.
Nesse momento me curvei até a moça, segurei sua mão, passei meus dedos sobre seus olhos para secar suas lagrimas e só ouvia dizendo “por favor me ajude”. Eu podia sentir o calor de sua pele era como estar vivo novamente...