O Gelo e o Fogo escrita por Sídhe


Capítulo 6
Capítulo 4 (Parte II) - Presos


Notas iniciais do capítulo

Então, o que acharam da nova capa? Foi a Areals que fez! Eu adorei. Enfim, aqui vai a outra parte do capítulo, e já vou escrever o próximo para compensar o tempo que passei sem postar...



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Leo empilhava as caixas junto de Thalia, ambos vestindo aventais azuis e lado à lado. Ele lançava alguns olhares curiosos para a garota, e às vezes ela o pegava fazendo aquilo. Leo só queria dizer algo para quebrar o gelo, uma piada ou qualquer outra coisa, mas ela o interrompeu.

– Pare de me olhar - Ela disse, colocando uma caixa de comida enlatada na prateleira do armazém. Eles estavam num pequeno depósito aos fundos da loja de conveniências, reabastecendo-o. - É irritante. - Falou, passando a mão na testa, retirando o suor dali. Leo entregou outra caixa a ela e a garota a colocou em seu lugar.

– Uou, está certo, Srta. Delicadeza - Disse para Thalia, tentando se sentir confiante ao fazer um trocadilho. Ele apontou por cima do ombro para a porta entreaberta do depósito com o polegar - Só não espere que eu pare de olhar para você caso essa porta fe...

Clac.

– ... che. - Completou, arregalando os olhos castanhos. Eles se viraram e foram em direção à porta, mas ela não tinha fechadura, apenas um cadeado a fechava pelo lado de fora. O que eliminava as chances de Leo conseguir destrancá-la. Ele poderia simplesmente tirar os pinos que prendiam-na às paredes, mas aquela coisa tinha um peso grande demais para os dois juntos suportarem, fora que ele não tinha nenhuma ferramenta por perto.

Thalia olhou para ele esperando que fizesse alguma coisa.

– O que foi, madame? Eu não sou obrigado a consertar tudo o que aparece na minha frente. - Leo disse, levantando as mãos em desistência - Não tem saída, vamos ficar aqui até que alguém nos ache. Vamos comer ervilha enlatada e tomar banho com água com gás.

Ela revirou os olhos e tirou o avental, que não tinha nada a ver com a roupa que usava por debaixo dele, nos seus jeans surrados típicos e camiseta do Green Day. Thalia andou até o fundo do depósito, jogando o avental num lugar qualquer, e tirou de detrás de uma grande caixa uma guitarra vermelha e branca.

– Você toca? - Leo disse.

– Não, é só de enfeite - Falou, ironicamente. Ele riu e se sentou ao lado dela, no chão. - Alguma sugestão?

– Baby, qualquer coisa que você tocar é perfeito - Leo piscou um olho. Thalia apenas o encarou, meio incrédula.

Suspirou, começando a tocar alguns acordes.

– Você é sempre assim? - Falou, crispando os lábios.

– Irresistível? - Ele brincou, dando um de seus sorrisos loucos, mas sem realmente se aproximar dela. Leo era nervoso em relação à garotas, o humor era sua válvula de escape. - Insuperável? Impressionante? Inigualável? - Passava a mão nos cabelos em um ato soberbo.

– Insuportável. - Disse, e Leo ao invés de se deixar abater, levou na brincadeira. Você perde umas, ganha outras. Mas, de qualquer forma, aquilo só o faria cair ainda mais por Thalia.

A garota começou a tocar, e Leo apenas a observava cantar baixinho enquanto sentia seu coração bater mais forte.

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– Rua Petersburg, próxima à lanchonete do Karl. - Sr. Russel disse, ajudando-a a colocar um pacote embalado na bicicleta. Ele coçou o bigode branco - Está tudo aí. Entregue o mais rápido possível.

Reyna suspirou, preparando-se para a primeira entrega.

– Está bem, senhor - Ela falou, e montou na bicicleta. O trabalho não era tão ruim assim, apesar de bicicleta não ser o seu objeto de locomoção preferido.

Já era final de tarde, e o sol se pondo fazia com que o céu ganhasse um tom alaranjado vibrante entre as nuvens. Reyna estava pedalando próxima de um pequeno rio que havia ali em Houston, à beira do declínio que levava até ele.

Ela ainda tinha em mente as palavras de Jason no outro dia. Havia algo que a incomodava naquilo, alguma coisa faltando. Jason deveria ter algum motivo para recusá-la. Não que fosse seu ego a puxando para seu lado, mas a hesitação dele foi tamanha que haveria alguma causa. E Reyna sabia qual era. Ela não havia mencionado um detalhe à Leo na noite passada...

Reyna voltou sua atenção para a entrega novamente, querendo deixar para trás aquilo, apesar de esquecer não ser uma opção. No momento, pelo menos, ela desejava não pensar em quanto doía ser rejeitada por quem amava. Mas ela não desistiria tão fácil, algo ainda a motivava.

Chegou rapidamente ao destino e, ao ver o dono do negócio na porta, logo entregou o produto e recebeu o dinheiro, seguindo no caminho de volta para a loja de conveniências. Observou mais a paisagem. Houston era uma cidade bonita, e quase totalmente industrial, havia fábricas de minérios e tecnologia em todos os cantos, mas ainda assim, tinha um ar de que nunca deixaria de encantar. As casas eram diferentes, contrastantes, mas harmoniosas. O rio ao seu lado era limpo e a grama verde. O pôr do Sol de tirar o fôlego. Para ela, aquilo tudo era um vazio dentro de si.

De repente, freou a bicicleta, segurando o guidão com força. Jason estava à sua frente, um pouco suado e com a calça de moletom. Sem camisa, e Reyna tentou arduamente não olhar para seu peitoral. Ele parecia dourado àquela luz, aparentando ter acabado de sair de uma corrida. Mas ela estava tão próxima ao declínio do rio que, ao frear, a bicicleta tombou e a fez cair ali. Reyna só sentiu um gosto de sangue entre os lábios e borboletas no estômago quando o viu se aproximar dela e a ajudar a se levantar, a segurando por um dos ombros. Ela podia sentir a pele dele quente em suas mãos.

– Você está bem? - Jason perguntou, tentando ignorar que ela o estava tocando sem camisa.

– Sim. - Disse, embaraçada com a situação. - Sim. Vou ficar bem.

Reyna se sentou na grama, passando o dedo no lábio. Uma gota de sangue manchou-o de um vermelho vivo, mas ela não se importou. Jason pegou a bicicleta e deitou o objeto devidamente ao lado dos dois. Ele se sentou perto de Reyna, tirando a toalha do pescoço e entregando-lhe.

– Aqui. - Falou, com os olhos azuis céu a observando - Está um pouco suada, mas deve servir.

– Obrigada. - Reyna colocou a ponta em seu lábio. Pôde sentir o cheiro dele na toalha a entorpecer. - O que faz aqui?

– Treinamento. O time de softball masculino exige um pouco - Ele disse, apoiando os cotovelos nos joelhos. Definitivamente, era impossível não se impressionar com o físico dele. Reyna apenas respirou e não demonstrou nenhuma expressão. - Mas e você?

– Estava fazendo uma entrega no meu novo emprego. - Retirou o pano da boca, ele agora estava manchado de sangue. Ela o mostrou a Jason e ele murmurou um 'Não tem problema'.

– Não gosta muito de bicicletas, não é mesmo?

Reyna o encarou.

– Prefiro cavalos ou carros. Como sabe disto? - Colocou novamente o dedo no lábio para checar, não tirando os olhos dele. Já não sangrava mais.

Jason pareceu um pouco hesitante, mas ela sabia que ele era sincero.

– Estive observando você durante o ano passado - Falou, desviando os olhos dela e não parecendo muito confiante. - Acho que vou indo. Cuide desse lábio.

Ele se levantou, e Reyna continuou sentada, pensando que mais tarde deveria contar à Leo o detalhe que faltava.

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Thalia parou de tocar, parecendo sem paciência ou simplesmente entediada. Ela se levantou e pegou uma garrafa de refrigerante vazia no canto, e pegou uma bola de softball da mochila. Estendeu a garrafa à ele.

– Vamos treinar, se quisermos passar o tempo até nos encontrarem. - Leo pegou a garrafa sorrindo e foi para a extremidade oposta do local, enquanto Thalia se preparava como a arremessadora.

Ele posicionou a garrafa e deu um sorriso.

– O arremessador está com medo - Começou a cantar - Hey, hey hey. O arremessador está com medo!

Thalia deu seu sorriso de lado, mas o olhar dele se prendeu na bola. Um pequeno, quase imperceptível, tremor da mão dela foi notado por ele. Ela estava mesmo... com medo?

Mas as dúvidas dele se foram quando ela arremessou com tanta força que ele mal conseguiu ver a bola e acabou rebatendo somente ar.

– Um a zero para mim, irresistível - Ela tomou a garrafa das mãos dele e Leo pegou a bola no chão.

– Você vai ver só, vou deixar As Caçadoras com inveja de mim. - Ele se preparou para arremessar.

Nunca mexa com uma caçadora. - Thalia faiscou seus olhos azuis elétricos enquanto rebatia certeira a bola que ele lançou.

Barulho de vidro quebrando. Ela havia acertado uma pequena janela próxima ao teto, mas que era muito alta para alcançar. Leo deixou a bola cair no chão e começou a puxar as caixas ali para formar um tipo de escada.

– Voilá, nossa passagem para a liberdade - Disse a palavra liberdade com um pouco de dificuldade pelo peso da caixa - Ajuda para o pobre garoto?

– Se eu quiser sair daqui, mas é claro. - Ela começou a empilhar junto dele.

Em pouco tempo, conseguiram um número bom de altura o suficiente para alcançarem a janela e se esgueirarem por ela. Leo subiu as caixas e levantou o vidro quebrado, tomando cuidado com as mãos.

– Acha que conseguimos sair por ela? - Thalia disse, lá de baixo, enquanto Leo olhava tamanha a altura.

– Sim, dá para passarmos - Mal ele voltou a olhar para a janela e quase caiu de cima com o susto. Dois olhos negros o encaravam dali, bem na frente de seu rosto. Reyna deu um olhar de negação.

Ela suspirou.

– Devo supor que desejam ajuda.

Leo sorriu radiante.

– Garota, você leu a minha mente.


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Notas finais do capítulo

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