O Gelo e o Fogo escrita por Sídhe


Capítulo 4
Capítulo 3 - O Gelo e o Fogo


Notas iniciais do capítulo

Tão emocionante com gente me cobrando um novo cap no Tumblr *-* Já disse, galera, nunca tenho realmente um prazo. Enfim, aqui vai mais um.



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Quantas vezes mais Leo se perguntou as consequências de estar passando muito tempo com Reyna, eram incontáveis. Primeiro de tudo, as pessoas tinham olhos. Não era de se esperar que um garoto e uma garota ficassem tão próximos assim sem haver nenhum relacionamento entre eles.


Thalia estava sentada na sala 2-C, aguardando o intervalo terminar enquanto mascava um chiclete qualquer que achara no bolso.





– Ei, o que houve com sua melhor amiga? - Perguntou Katie, uma menina de cabelos castanhos que se sentava na carteira da frente, aparecendo ali junto de outras garotas.








O que houve?, pensou ela, Houve que ela e Leo estão andando juntos demais. Não respondeu à Katie, pois ambos de quem falava apareceram na porta. Reyna estava logo atrás dele, murmurando algo como 'Ande logo', pois o garoto estava parado, com todos da sala virando as cabeças para olhá-los.









Silena Beauregard deu uma risadinha, como se estivesse vendo algo muito fofo. Naquela hora, Leo soube que estava realmente perdido no caso, um nó se formava em sua cabeça.









A menina de olhos azuis elétricos se levantou.









– Posso falar com vocês a sós? - O tom sério dela não agradou muito a Leo, e Reyna franziu o cenho em desconfiança.









– Claro - Disse Reyna, e os três saíram em direção ao corredor.









Thalia os guiou até a cobertura do prédio, e Leo a olhava de cima a baixo, quase que em transe enquanto suas pernas a seguiam. Ela usava uma regata branca, sem nenhum detalhe maior, abaixo do casaco de couro e spikes que estava descansando em seus ombros, sem os braços metidos nele. Uma calça jeans escura e rasgada, botas negras gastas, com o olho vibrante delineado por um lápis preto, destacando as sardas e traços do rosto dela. Tudo o que Leo queria era uma garota daquelas, perigosa e independente. Por quê? Bom, porque ele era de outra forma: feio e sem vergonha.









Esbarrou em Reyna quando passou pela porta do último andar. Por um momento seus olhos se prenderam nela, mas então voltou a observar Thalia. Ela agora estava encarando a paisagem dali de cima, com o vento a balançar o casaco sobre seus ombros.









– O que há? - Perguntou Reyna, cruzando os braços.









Thalia olhou para o céu.









– O dia está bem fresco, não é?









– Você não veio até aqui pra dizer que o dia está fresco. - Falou Leo, no seu tom sarcástico de sempre.









– Tem razão, Valdez. - Ele se arrepiou. Valdez. Ela disse Valdez, totalmente no caminho errado, estava o desafiando.









Ela deu um sorriso de canto.









– Cuide bem da Reyna para mim. - Thalia disse, e se o queixo dele pudesse cair mais, quebraria sua mandíbula. Reyna ficou incrédula. - Ela é minha melhor amiga, está ouvindo?









– Thalia! - A outra a recriminou.









– Me deixe terminar, okay? - Disse para Reyna. - A faça feliz.









– Espera aí, mulher. Isso é um grande engano! - Leo falou, tentando por um fim na conversa, mas foi parado por uma risada vinda do canto do local.









Jason estava ali e eles nem sequer haviam percebido.









– Então é isso - Ele falou, sorrindo.









– Que droga você está fazendo aqui, superman oxigenado? - Leo falou, se controlando para não bater em si mesmo ao tascar a palma da mão na própria testa. Por tudo que era mais sagrado, eles não ouviam o que ele tinha a dizer?









– Eu estava pensando porque estão tão juntos ultimamente. Mas agora olhando, vocês combinam muito bem. - Falou Jason, e Leo pôde ver o quão Reyna parecia que iria enfiar a própria cabeça num buraco.









Thalia se aproximou de Leo e o olhou nos olhos.









– Se você a fizer chorar, eu nunca te perdoarei. - Por mais dois segundos ela continuou o encarando, para então descer as escadas para voltar a seu andar, com Jason a acompanhando. Os olhos de Reyna seguiam todos os passos de Jason até a saída. Ela o encarou, meio que com raiva.









Leo olhou para Reyna e deu um sorriso amarelo, rindo sem graça alguma.









Já era fim de tarde, sua rua vazia e deserta era iluminada em tons de laranja pelo sol se pondo. Os postes já estavam com suas lâmpadas acesas, mas ainda não eram necessárias, fazendo sua luz ser ofuscada. Leo gostava daquele lugar.









– Me perdoe - Reyna disse enquanto caminhavam de volta para suas casas, ele não esperava por aquilo. Era a primeira vez que ele ouviu um pedido de desculpas sair da boca dela. - Foi minha culpa.









Leo a observou bem durante a caminhada. Uma calça preta, tênis confortáveis, junto de uma blusa roxa qualquer, com a manga largada sem importância, deixando o ombro exposto e livre para abrigar sua trança. A mochila carteiro no ombro livre. Mesmo com uma roupa simples Reyna parecia uma rainha. A atitude a diferenciava, o modo de olhar as pessoas e o mundo em si.









Coçou a nuca com o indicador, roçando-o nos cachos acastanhados.









– Deus e o mundo pensando que estamos namorando, você pedindo desculpas, eu sendo cobiçado. - Listou em seus dedos longos - Hoje o dia promete. - Riu - Que tal planejarmos uma viajem romântica para o Caribe com nossos filhos e netos de cachinhos pretos e olhos assassinos?









– Sem piadas. - Disse, impaciente.









– O que foi? - Falou, sem realmente se importar, dando suas passadas largas e sem ritmo - Não pensa em ter filhos? - Pôs as mãos nos bolsos da calça.









Reyna levantou um pouco as sobrancelhas.









– Não me vejo como uma mãe. - Falou, simplesmente. - Provavelmente serei, mas é difícil imaginar. - Após um minuto de silêncio sem assunto, ela acrescentou - E você não está sendo cobiçado.









– Vá em frente, estrangule minhas esperanças com essas suas mãos. - Ele falou, rolando os olhos.









– Me perdoe. - Repetiu - Thalia pensa que estou com você porque nos viu juntos saindo de sua casa. Ela me contou. - Acrescentou. Parou por um momento, buscando agradá-lo - Sua casa é aconchegante.









Leo bufou.









– Um pedacinho do céu dentro do inferno. - Falou, e Reyna balançou a cabeça em negação, quase que com carinho.









– Estive em tantas discussões com meu pai, que quando disse que queria partir, ele simplesmente me deu aquele apartamento. - Ela começou, olhando para os postes que mal iluminavam o caminho deles. - Minha mãe morreu antes de eu completar um ano. Sei que fui amada por ela, e sei que meu pai nunca seria o tipo certo de pai.









Leo parou para pensar nas palavras que ela havia dito. Ele nunca havia a perguntado sobre sua família, no entanto ela já estava praticamente inclusa na dele. Assim como Leo, Reyna também não tinha um de seus pais como apoio. Talvez ele estivesse começando a se identificar com Reyna. Só talvez.









– E também sei... - Ela começou - Que os biscoitos estavam ruins, não estavam?









Leo sorriu de lado, olhando para os próprios pés.









Touché.









– Fiquei frustrada quando os vi despedaçados, então comi alguns. - Falou ela - Estavam horríveis.









– Estavam mesmo. Sabe, eu saí da sala correndo para vomitar no banheiro mais próximo. - Disse, soando à brincadeira, mesmo sendo verdade.









– Mas ainda assim, comeu todos. - Reyna acrescentou. - Não se importou com o sabor.









– Isso aí não é muito verdade - Falou, fingindo estar enjoado, colocando dramaticamente as mãos na barriga - Onde é o banheiro?









Reyna sorriu e o deu um leve empurrão em seu ombro. Leo pensou que havia morrido. Havia morrido e ido para o paraíso, onde Reynas sorriem das piadas que os Leos fazem.









– Não me culpe por não saber fazer biscoitos. - Ela falou, ainda sorrindo bobamente da cena de Leo se contorcendo de dor de estômago. - Posso matar você com um grampo de cabelo.









– Está bem, senhorita posso-matar-você-com-um-grampo-de-cabelo, mas que não consegue nem assar uns pedaços de trigo. - Provocou, e ela quase o bateu novamente. Se ele não tivesse dito o que viria a seguir - Está sorrindo, Rainha do Gelo.









Ao se dar conta daquilo, Leo se arrependeu, pois Reyna o reduziu e apenas franziu as sobrancelhas para ele. Ele queria saber porque ela nunca sorria muito. Passaram uns poucos minutos a mais caminhando em silêncio. Quando enfim chegaram na tênue separação entre suas casas, Reyna parou. Ela, que antes encarava o chão, olhou profundamente nos olhos castanhos dele. Leo não sabia se decidir se preferia que Thalia ou Reyna olhasse-o assim.









– Amanhã vou me declarar para Jason. - Sua voz estava tensa - Devo terminar logo com tudo isso, não podemos continuar assim. Você estará livre para ficar com Thalia. Amanhã seremos apenas colegas que moram próximos, isso é tudo. Peça desculpas a Esperanza por mim, por não comparecer amanhã ao café.









Leo estava um tanto estático com a fala dela. Alguma parte dele não queria ser somente um colega próximo de Reyna, mas a outra parte queria muito ficar junto de Thalia. Ele a observou andando até a portaria do prédio.









– Adeus, Leo. - Ela disse antes de entrar pelas portas do luxuoso condomínio.









...................................









Leo acordou, cedo demais para o seu gosto, e preparou seu café, deixando o da mãe ao lado. Ela logo viria e comeria, enquanto ele olhava para a janela do prédio ao lado, com as cortinas ainda fechadas. Reyna estava ali em algum lugar, ainda dormindo.









– Não estamos tomando café muito cedo? - Perguntou Esperanza, com a voz cansada pelo sono. - E Reyna ainda está dormindo?









Ele se limitou a pôr um pedaço de bacon na boca.









– Não sei.









A mãe o olhou.









– Vocês brigaram? - Perguntou, com os olhos marrons o analisando. Leo tinha a vontade de socar a mesa para todas as vezes que alguém pensava aquilo deles, o que provavelmente deixaria sua mão roxa e dormente.









– Não. - Bebeu um copo de suco, dando de ombros. Tomou banho, se vestiu e foi para a escola. Desta vez Reyna não estava indo com ele, Leo caminhava novamente sozinho, como no primeiro dia de aula. Tudo que ele pedia era que alguém o tocasse no ombro e dissesse que estava tudo bem, como Jason fizera.









Ao entrar em sua sala, alguém esbarrou nele. Reyna.









Com licença.– Ela disse, educadamente como sempre. O encarava como na primeira vez.









– Olá. - Leo falou, mas Reyna fez como antes, o deixando de lado e se encaminhando para o corredor sem ao menos o cumprimentar. Ele só não fazia ideia o quanto aquilo estava a machucando por dentro. Quando entrou, as carteiras estavam bagunçadas e os alunos o olhavam vidrados.









Will Solace deu um passo à frente.









– Leo, estamos arrependidos - Seu tom era sincero, em concordância com os olhares de tantos outros. Ele passou a mão pelos cabelos loiros, sem jeito - Os boatos foram culpa nossa.









– Reyna nos deu uma boa bronca - Falou Rachel, de braços cruzados e expressão vazia, sentada em cima de uma das carteiras.









– O quê? - Disse Leo, tentando imaginar o que ela teria dito.









Nico se aproximou dele, indo mais para a frente da sala.









– "Não há nada entre mim e Leo". Foi o que ela disse. - Nico encarou os outros na sala - Também disse que não teve culpa pelo incêndio, que não devíamos excluí-lo.









Na mente de Leo, ele só conseguia pensar que era grato por ela. Tanto por defendê-lo quanto por esclarecer sobre os rumores. Mas Thalia e Jason continuavam na mesma, eles não estavam ali.








Após as aulas, ele se postava na porta e uma mão cutucou seu ombro direito, e ele se virou, vendo a garota punk à sua frente. O coração acelerou uma batida.






– Devo desculpas a você, Leo. - Thalia disse, arrependida, esfregando braço com a mão - "Eu definitivamente não estou saindo com Leo. Foi tudo um mal entendido". Reyna me deixou bem claro, então queria que pudesse aceitar meu perdão.






Atrás de Thalia, Leo pôde ver a membro do conselho descendo as escadas, o encarando sem cessar. "Eu definitivamente não estou saindo com Leo. Foi tudo um mal entendido". O contato visual foi cortado quando Jason apareceu no último degrau, cumprimentando-a. A voz de Thalia era distante enquanto ele observava a cena ao fundo. Ela quis me deixar bem clara disso, havia algo de bem séria nela. Jason passou por Reyna, mas antes que ele pudesse se distanciar mais, ela o chamou. Ambos saíram de cena.








Quando Leo viu que Thalia havia terminado, disse algo que soava como 'Me diga um momento em que ela não está séria' e um riso rápido, saindo de perto o mais rápido que pudesse. Reyna deveria estar se declarando para Jason hoje, não deveria se importar com Leo ou com a reputação dele, senão toda aquela história de apenas colegas que moram próximos ia pelo ralo.









Ele desceu as escadas, se dirigindo ao pátio. Ainda quando descia os degraus da ala externa, que era suspensa e de onde se poderia ver o pátio, Leo viu Reyna e Jason ali. Estavam frente à frente, Reyna de cabeça erguida e decidida.









– Eu... - Gaguejou. Reyna nunca gaguejava, e Leo abaixou a cabeça no nível do batente da escada, o suficiente para espioná-los. - Eu tenho sentimentos por você. - Aquela hora Leo já deslizava contra a escada, de costas para a cena, ficando invisível do ponto onde eles estavam. Ela conseguiu, pensou.









– Espere - Jason disse, meio incerto - Você não estava saindo com Leo? - O garoto ouvia tudo de onde estava, sentado no chão frio.









– Thalia apenas confundiu as coisas - Reyna falou. - Não há nada entre nós.









– Então você gosta dele?









Leo esperava pela resposta.









– Não desta forma. - Reyna se resumiu a dizer - Apenas moramos perto um do outro. Não há nada em relação a gostar dele ou não.









– Não gosta dele? - A voz de Jason disse.









Reyna suspirou.









– Não é que não goste dele. Leo e sua mãe me acolheram em sua casa, ele mentiu para mim para me fazer me sentir melhor, estando lá por mim, sem ao menos saber se poderíamos ter confiança. Porque Leo estava lá, porque ele estava me apoiando. - Ela fez uma pausa - Por causa dele eu estou aqui.









Leo sorriu para si próprio.









– Eu estou apaixonada por você.








Você é incrível, Reyna.






Ele imaginou aqueles beijos melosos de cinema, flores cor de rosa sendo jogadas por toda parte, sinos de igrejas tocando... Menos o que viria a seguir. Ouviu passos, algumas frases baixas e incompreensíveis, e, quando se levantou para olhar a cena, Reyna estava sozinha parada no meio do pátio.






– Pensei que fosse chorar igual a um bebezinho - Disse Leo para ela, que pareceu nervosa quando o viu se aproximando.








– O que você viu? - Ela disse, voltando à sua voz ameaçadora, tão afiada quanto uma faca. Ele não respondeu, então ela continuou - Eu vou para minha casa. - Reyna começou a andar.









– Vou preparar alguma coisa para você. Aposto como não tomou café hoje. - Disse, indo logo atrás dela.









Reyna se virou e o olhou furiosa.









– Não tem de fazer isso. Se fizer, as pessoas vão entender de outra forma novamente. Nosso acordo acabou.









Leo deu um pequeno sorriso malandro.









– Tem razão, não sou mais seu cachorro, vossa majestade. - Ele falou, ficando ao lado dela. - Agora eu sou o fogo. - Reyna o encarou, com seus olhos de obsidianas brilhando para ele. Eram realmente como pedras preciosas - Se você é o gelo, eu sou o fogo. Estou do seu lado, certo?









Reyna começou a andar, sem o encarar ou falar alguma coisa, e Leo a seguiu. De um jeito ou de outro, ele a seguiria aonde quer que ela fosse.









– Aonde está indo? - Ele perguntou.









– Eu disse que iria para casa, você disse que iria preparar minha comida. - Reyna falou, e aquilo fez Leo sorrir involuntariamente. As coisas estavam se acertando, afinal. - E conseguiremos um novo plano, não desistirei de Jason por causa disto.









Leo suspirou, seguindo para casa ao lado de Reyna.









– Prefere enchiladas ou tortillas? - Ele disse.









A garota sorriu de leve, não respondendo à pergunta, enquanto ia para a pequena casa dos Valdez, esperando que Esperanza estivesse por lá para que os três pudessem jantar, todos juntos.

 

 






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Notas finais do capítulo

PS.: Conhecem alguém que faça capas? Estou precisando!