A chuva fina molhava seus cabelos ainda presos pelo acessório, não havia lágrimas em seu rosto jovem. Já presenciara muitas mortes em sua vida, inclusive a do seu próprio pai. E agora, estava sentada lembrando-se das palavras de seu maior ídolo, do seu maior caçador.

— Krissy? — o rapaz magrelo aproximou-se depositando uma de suas mãos em seu ombro.

— Aidan... — um pequeno sorriso nos lábios da jovem se formou ao vê-lo. Logo em seguida voltou seu olhar para frente.

— A chuva começou a ficar forte, já faz tempo que você está nesse cemitério e pode se resfriar. Venha comigo — o jovem de cabelos negros um pouco revoltos lhe estendeu a mão.

— Eles fizeram tudo pela humanidade, enfrentaram monstros, anjos, demônios e fecharam a porta do inferno e o que receberam em troca?

— Krissy...

— Não Aidan, você não entende? Dean e Sam deram suas vidas por todos nós e apenas a minoria das pessoas sabem disso tudo, dá para contar nos dedos os caçadores que sobraram nesse mundo.

— Você se engana nessa parte Krissy — Aidan encarou aqueles grandes olhos que teimavam em manter-se firmes, mas, estavam a ponto de explodirem em lágrimas.

— O que você quer dizer, Aidan? — a jovem levantou-se fixando seu olhar ao do amigo.

— Não é a minoria que sabem a verdade, concordo com você que ainda há milhões que não sabem o real motivo dessa paz do mundo sobrenatural. Só que eles deixaram um rastro de pessoas aos quais eles salvaram, em cada canto desse país haverá um humano que já fora salvo pelos os Winchester, e, isso ninguém poderá apagar de suas memórias.

Krissy voltou a olhar para os dois túmulos a sua frente, era muito triste para ela saber que jamais iria ver Dean ou Sam. Embora ela tenha se afeiçoado ao loiro que mais parecia uma criança crescida rapidamente. Aqueles olhos verdes sofridos lhe transmitiam tanta segurança e agora ali estava após cinco anos de seu último encontro com os irmãos.

— Você soube de como tudo aconteceu? — Aidan perguntou temeroso e curioso com a resposta.

— Não. Apenas sei que conseguiram aquilo que muitos não foram capazes de fazer — ela passou a mão pela cabeleira molhada da chuva.

— Eu sei como tudo aconteceu.

A voz daquele homem tiraram os dois jovens de seus pensamentos internos.

— Garth? Você sabe e não nos contou? — Krissy esbravejou.

O homem vestido de cowboy sorriu um pouco torto, as roupas um tanto largas o deixavam ainda mais magro do que já era.

— Huh, vocês nunca me perguntaram. Eu estava lá, vi tudo o que passaram. Presenciei a luta desses dois. Vamos para dentro e, contarei tudo o que quiserem saber. — Garth deu as costas e caminhou em direção a casa com as mãos no bolso, eventualmente chutava uma pedrinha que encontrava no chão.

Krissy e Aidan se entreolharam e com um consentimento mútuo seguiram Garth, aquele ao qual Dean dissera que iria olhar por eles. Um cara estranho de bom coração. Após acomodarem-se no espaçoso sofá o homem tirou o chapéu molhado e começou a falar, olhando e virando as brasas da lareira com o ferro.

— Sam havia completado a segunda prova, que era libertar uma alma inocente do inferno e alçá-la ao céu — nenhum dos jovens percebera a lágrima que caíra dos olhos de Garth ao lembrar de Bobby.

— Sam foi ao inferno? — Aidan perguntou receoso da resposta que já sabia qual era.

— Sim, ele passou pelo purgatório e encontrou o inferno salvando Bobby, um velho amigo nosso. Só faltavam uma prova, a mais difícil de todas e fechariam definitivamente as portas do inferno para sempre.

— Qual era o último desafio Garth? — Krissy tinha toda a atenção no homem que continuava empurrando as brasas de um lado para o outro.

— Kevin, o profeta, leu que para selar as portas do inferno o escolhido deveria passar por três testes. Matar um cão do inferno e banhar-se com seu sangue, Salvar uma alma inocente do inferno e devolvê-la ao céu e por último... conseguir a graça de um anjo e acertar seu receptáculo com seu consentimento.

— A graça de um anjo? Não entendi — Aidan coçou a cabeça confuso.

— A graça de um anjo é o seu poder, sua alma divina. E sabendo disso, Castiel amigo dos irmãos ofereceu sua vida para selar as portas do inferno. Mas, os irmãos não estavam de acordo. Dean principalmente estava arrasado. Ele perdera bons amigos, como o vampiro Benny e agora estava prestes a perder Castiel e sabia que Sam não agüentaria tamanho poder.

— E o que aconteceu, Garth? — Krissy sentiu a voz falhar. Já ouvira e pesquisara quase tudo sobre os irmãos, ela os idolatrava.

— Castiel como um fiel servo do senhor, ofereceu sua vida e sua graça. Dean interveio a favor do anjo, dizendo haver outra forma, alguma maneira diferente dessa profecia. Sam também não estava disposto a matar um amigo, então Crowley apareceu.

Garth sentiu a voz embargar, aqueles acontecimentos ainda estavam muito vivos em sua mente. Mesmo sabendo de todo o desenrolar da história ele apertou o punho sentindo muito ódio daquele ser das trevas.

— Crowley estava com Kevin em seu poder, o rapaz havia lhe dito a última prova que Sam deveria fazer, após ter sido severamente torturado. Eu estava escondido, aguardando o momento certo para agir. Dean havia me orientado a só entrar em ação se as coisas ficassem muito feias, me arrependo de não ter seguido suas ordens. Quando vi o rei do inferno de costas para mim, não pude me agüentar e fui para cima dele com a faca que Sam havia me emprestado. Acertei o desgraçado, senti que havia feito uma coisa boa para todos nós. Então, com apenas um movimento ele me lançou de encontro a um muro de pedra e ali fiquei. Meio acordado, sentindo o mundo girar sob meus olhos. Dean aproveitou a confusão e terminou o serviço que eu não havia conseguido, colocando aquele desgraçado para dormir para sempre. Então como em um passe de mágica ouvi Sam gritando um NÃO. E um clarão invadiu o lugar. Castiel auto - sacrificou-se com sua própria espada angelical, antes de deixar seu poder com Sam.

Tudo havia sido rápido demais, Dean correu de encontro ao anjo. Sentiu o aperto em seu coração e lágrimas banharem seu rosto, lembro dele falando algo como:

“Sua criança tola”

E, o grito de seu irmão caçula, o deixou ainda mais apavorado. Dean sentiu-se perdido, sozinho ao ver que seu irmãozinho estava caído, balbuciando as últimas palavras do teste e, uma espécie de porta apareceu na frente deles, sugando Crowley para dentro e a porta estava sendo selada com o sangue do mais jovem Winchester. Sam sentiu as sombras o envolverem e dobrou os joelhos desabando e encontrando os braços de seu irmão que gritava desesperado.

— Isso... é muito triste. Porque Deus permitiu tanto sofrimento a eles? — Krissy agora não conseguira sustentar as lágrimas que escorriam em sua face, banhando os lábios rubros.

— Querida, existem várias provações as quais somos obrigados a enfrentar. Uns suportam mais, outros menos. Mas, eles nunca saíram da trilha do bem, por mais que tudo desse errado. Ví Dean levantar-se com seu irmão nos braços, como se segurasse uma criança. Uma luz muito forte formou uma espécie de portal, Castiel foi sugado pela luz, e Sam também estava sendo puxado por ela. Dean o apertou contra se peito, e seguiu a passos lentos pelo portal. Gritei seu nome em meio ao forte vento e aquela luz. Ele virou-se e sorriu para mim e para o profeta Kevin que estava caído recuperando-se das torturas que sofrera nas mãos de Crowley. Nunca me esquecerei das palavras dele:

“Seja sempre esse caçador, jamais mude.”

E atravessou o portal. Eu pensei, se Dean atravessou eu também irei! Mas ao chegar perto eu não conseguia dar um passo sequer a frente e então perdi a consciência.

— Então porque os túmulos? Não há corpo? — Aidan perguntou denunciando a emoção contida em sua garganta.

— Quando me acordei, não havia mais nada a fazer. O lugar inteiro estava vazio, apenas eu e Kevin nos olhávamos, perplexos com os acontecimentos. Ajudei o rapaz a ficar em pé e entrei no amado impala de Dean. Dias, semanas, meses, anos... se passaram e nunca mais tive noticiais dos dois. Nesse meio tempo, Kevin havia decifrado o restante da pedra.

— O que dizia, Garth!? — Krissy limpou as lágrimas com a manga da blusa vermelha.

— Quando o portal do inferno ser fechado, outro portal se abrirá. Anjos serão levados para o reino do céu, almas boas também entrarão e descansarão após tantas batalhas.

— Mas...

— Eu sei Aidan, também me fiz essa mesma pergunta. Sam e Dean foram de carne e osso, como? Eu não sei e nem mesmo Kevin soube me responder. O mundo realmente livrou-se dos demônios, porém outra batalha iniciou-se nos campos Elíseos.

— O quê? Você está querendo dizer que eles ainda estão lutando?

— Kevin acha que sim, Krissy. Castiel havia nos dito que o céu estava em guerra e que a ordem estava ameaçada sob o comando de Naomi. Acreditamos que por força do destino, apenas os irmãos serão capazes de encontrarem Deus e colocar o céu em ordem novamente. Por isso fiz uma sepultura aos meus amigos, para mim eles eram anjos em corpos humanos, cumprindo seus destinos.

— Então, se isso for realmente verdade... encontrarão pessoas queridas por lá. Talvez até o papai? — Krissy agora mantinha um sorriso inocente nos lábios.

— Não sei, Krissy. É bem possível. Às vezes quando olho para o céu, consigo entender o que aconteceu, quem melhor e mais teimosos para colocarem a ordem de volta ao céu do que aqueles dois irmãos? Um não viveria sem o outro — Garth recebeu um abraço de Krissy e Aidan como resposta e sentiu-se amado, querido e responsável por eles. Cumpriria sua promessa que fizera a Dean de protegê-los e ajudá-los a crescer como pessoas normais. E havia conseguido cumpri-la com a eficiência de um pai.