Letras Na Minha Mesa escrita por Uma Amadora de Palavras


Capítulo 3
#3




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Todas as aulas naquela sala eu me deparava com uma nova frase, meu pai estava certo, nunca pensei que cursar direito poderia ser tão bom.

Conversamos sobre o clima, sobre nós, as vezes sobre a matéria e até discutíamos nossas respostas nas provas. Eu a aguentava escrever em toda a carteira quando dizia estar de tpm, apesar de não saber bem o que é ficava grato por não estar presente em tempos que ela estava assim, mas lia cada palavra.

Em um daqueles dias que tinhamos aquela mesma matéria mais de uma vez Clarisse me disse que estava chateada porque seu pai fora viajar e já estava um bom tempo fora. Eu tentei anima-la contando uma daquelas piadinhas que ninguém nunca achava graça, mas ela riu, eu soube disso porque no outro dia, na nossa mesa, ela escreveu

Você me fez rir tanto que fui expulsa da sala. Como consegue me fazer sentir tão bem ?

Dali em diante, passei a desejar que aquela aula chegasse logo e odiava cada fim de semana porque eles significavam dois dias inteiros sem Clarisse, e já era demais esperar horas.


Hoje era mais uma daquelas noites em que perdi meu sono imaginando Clarisse, a cor de seus cabelos, como seriam as curvas de seu corpo, seu sorriso, e me perdi em milhões de combinações. Tentava sempre imaginar nela algum detalhe que não a deixasse tão perfeita quanto eu achava que fosse, não queria me decepcionar quando nos conhecessemos, se é que um dia iremos nos conhecer, foi pensando nessa possibilidade que conclui

Não aguento mais preciso, ao menos, ouvir sua voz

Tive que suportar um resto de dia longo sem uma resposta, temendo a possibilidade de ela me achar evasivo demais. E se tivesse um namorado ? Uma garota tão legal como Clarisse não deve ter problemas com meninos, pelo contrário, são eles que devem ter problemas com ela. E se gostasse de alguém que não fosse eu ? Não que eu goste dela, ou só não queira admitir para mim mesmo.

Quando os e se estavam prestes a me detonar com tamanha ansiedade o sinal tocou e corri para a sala que me fazia sorrir só pelo fato de ter de ir até ela.


Mais tarde, em casa, peguei meu celular e cliquei no nome de Clarisse várias vezes pensando se ligava ou não, se era muito tarde ou cedo demais, se ela estaria ocupada e na possibilidade de eu ter salvado o número errado. Entre tantas clicadas acabei ligando sem querer, levei meu celular no ouvido com meu coração prestes a sair pela boca.

– Ethan ? Por favor, me diz que é você !

Sua voz soou delicada e suave, como as ondas do mar. Respirei fundo me acalmando, grato por não ser o único ansioso por aquela ligação.

– Clarisse ! Nem acredito que estou falando com você !

– Está brincando ? Eu não acredito que estou falando com você. Não deixei meu celular sair de perto desde quando escrevi o número na mesa, porque demorou tanto ?

Pensei em uma resposta plausível, ainda não conseguia acreditar, estava ouvindo a voz dela pela primeira vez!

– Não sabia quando deveria te ligar

– Não acredito ! Podia ter me ligado a qualquer hora.

– Sua voz é perfeita.

Não consegui me conter, desejei não ter dito aquilo tão logo, tão do nada, mas ela pareceu não se importar porque ouvi um risinho.

– Muito obrigada, a sua também é.

– Acho que agora terei mais motivos para te imaginar ainda mais linda do que antes.

Conversamos por horas a fio, rindo até chorar.


Apesar de ter trocado nossos números, não abandonamos a mesa. Ela dizia que aquela era magica e eu sabia que era porque a tinha trazido para mim.

Entre as aulas eu sempre a ligava porque sentia falta da sua voz, engraçado porque sempre achei que essa saudade que fazia bem e mal só acontecesse em filmes.

– Tenho que ir, estou atrasada para a próxima aula. – Então ela desligou o celular, eu olhei para ele sorrindo e ouvi passos rápidos atrás de mim. Me virei temendo ser um professor.

De repente uma garota tropeçou em mim e suas coisas voaram no chão. Reconheci os cabelos extremamente pretos, a pele branca e o livro. Era a garota do primeiro dia de aula, a menina perfeita que não parava de sorrir enquanto lia seu livro. Ela olhou para mim e viajei em seus olhos negros que brilhavam em contraste com a luz do sol, depois ambos abaixamos e começamos pegar um a um os papéis espalhados.

– Desculpe, eu não tive a intenção – Me virei para ela enquanto colocavamos os papéis nas mãos em pilhas, reconheci aquela voz, reconheceria a milhões de quilometros. A voz que me fazia sonhar, que me fazia sorrir só por ouvi-la.

– Clarisse ? – Ela olhou para mim.

– Ethan ? – Nós demos um sorriso largo um para o outro, jogamos os papéis no chão outra vez e nos abraçamos forte. Senti seu coração disparado, tanto quanto o meu.


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