Letras Na Minha Mesa escrita por Uma Amadora de Palavras


Capítulo 1
#1




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Acordei para um dia que provavelmente seria promissor. É meu primeiro dia na faculdade e há anos que me pergunto como vai ser tudo, mas a pior parte de se perguntar sobre o futuro é que você faz planos e acaba se frustrando.

Faculdade, uma instituição que todos parecem ser obrigados a pensar sobre desde quando nascem, sempre soube que não sabia o que eu queria ser, pedi para que meu pai me ajudasse e ele disse , enquanto lia o The New York Times, “Faça Direito”, no outro dia pesquisei as faculdades locais cujas vagas ainda não estavam preenchidas, não havia muitas opções, as poucas que me restaram foram as públicas, nenhuma como Harvad ou Yale. Meu pai não se importou, desde que mamãe tirou sua própria vida, quando eu ainda era criança, ele só lê o jornal e temos de viver da economia e do dinheiro que minhas tias mandam.

Nunca soube o motivo pelo qual minha mãe não quis mais viver, eu e meu pai nunca falamos sobre o assunto, daquela sua última noite só recordo de ela me dizer “Um dia voce vai entender Ethan” enquanto eu cochilava no sofá da sala e assistia algum desenho, depois saiu correndo para uma noite chuva, que chicoteava os telhados lá fora, com lágrimas nos olhos e sem nenhuma proteção sobre a cabeça, pensei que era um pesadelo mas me dei conta de que era real no outro dia quando os policiais nos deram a noticia. Nunca mais fui o mesmo. Sinto falta de quando ela me abraçava e afagava meus cabelos quando os garotos da escola me batiam, ela dizia “Eu vou cuidar de voce e vai ficar tudo bem”, de nossos piqueniques em família que tiravamos fotos até das formiguinhas que tentavam roubar nossa comida, ela sempre deixava que levassem, enquanto meu pai se segurava para não matar todas.

Escovei os dentes e coloquei a roupa que vi a minha frente, desci sem me preocupar com o café da manhã. Quando estava prestes a passar pela porta de saída, ouvi passos, me virei meu pai estava de braços abertos, corri para ele como uma criança, senti lágrimas em meus olhos, aquele simples abraço que eu não sentia a tantos anos me fez voltar aos bons tempos.

– Boa sorte.

Sorri para ele em resposta e sai pela porta sabendo que talvez nunca sentiria aquele abraço outra vez.

ㅤ 

Depois de um longo tempo percorrendo o prédio com milhões de pessoas tão perdidas quanto eu, achei a classe que me fora destinada. Havia inúmeras mesas postas em uma larga escada, como um cinema, só que diferente da diversão com pipoca, seria tédio e água por longos anos.

Sentei em uma das mesas mais próximas da frente, eu não fazia o tipo “do fundão”. Havia um grande oi escrito nela e quando digo grande quero dizer que tinha tantos o que me perdi em meio deles. Olhei ao meu redor, estavam todos rindo e conversando em grupos mas não vi ninguém com um lápis na mão. Quem escreveria em uma mesa no primeiro dia de aula ? Ainda mais com um aviso em negrito que dizia “Não rabisque as mesas, isto não é bonito”.

Pouco tempo depois um dos muitos professores que teríamos durante o ano letivo adentrou nossa sala e começou a falar sobre si mesmo como quem fala um texto decorado. Foram assim todas as outras aulas, eu ouvia sem ouvir, como quem olha fixo pra qualquer coisa e depois de um tempo percebe que não esta vendo nada, por isso quando o sino tocou anunciando o intervalo, pulei da mesa e todos riram, eu ri junto apesar de não ter achado engraçado, era só mais uma daquelas situações em que você tenta recuperar sua dignidade, já passei por muitas dessas, até que aprendi a disfarçar, ou quase isso.

ㅤ 

Não me dei ao trabalho de comprar um lanche, a fila estava tão grande que perdi a fome. Sentei em uma mesa vazia como sempre fazia nos tempos de escola, mas na faculdade ninguém parecia se importar ou notar, enquanto na minha adolescência faziam piadinhas sobre o simples fato de não ter ninguém para compartilhar suas novidades bobas do fim de semana. Acho que essa é a parte boa de envelhecer, você percebe que se importar com os outros não leva a nada. Além de mim, uma garota a algumas mesas da minha também estava sozinha, eu iria lá falar com ela se não fosse tão tímido, e se ela não estivesse lendo um livro. Seu cabelo era escuro como a noite, sua pele era tão branca como um daqueles lápis de cor que só colocam a venda por não ter outra opção melhor, seus lábios eram de um vermelho natural e, as vezes, sorriam com gosto tornando-a ainda mais linda, me perguntei como alguém poderia estar entretida em um livro a tal ponto, mas antes que pudesse pensar em uma resposta, ela ergueu seus olhos negros para mim e sorriu, fazendo aquele sorriso perfeito aparecer outra vez, meu coração acelerou e seus olhos voltaram para o livro.


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Notas finais do capítulo

Voilá ! Aí esta o primeiro capítulo, se gostarem não deixem de comentar,nada de leitores invisíveis ein s2