Mycroft's Heart escrita por functionalsociopath, Frávia
Notas iniciais do capítulo
Primeira fic. Paciência jovem gafanhoto. D:
Era tarde, estava escuro e o frio de uma noite de inverno tomava conta de Londres, a neve estava claramente chegando. As ruas estavam úmidas, o vento gelado ultrapassava meu agasalho de lã e chegava até a minha pele, me fazendo tremer. Estava indo para casa, passos apressados para evitar pegar uma gripe, mas o frio congelava minhas pernas. Comecei a esfregar uma mão na outra para tentar esquentá-las, mas não adiantou muito, achei melhor andar ainda mais rápido.
Cheguei em casa, acendi a lareira, tirei minhas roupas e fui tomar banho. Quando estava deitado na banheira, quase me afogando, veio à tona memórias dolorosas, algo que eu tentava esquecer. A culpa tomou conta de mim. Afoguei-me completamente na banheira, esperando que a água entrasse em meus ouvidos e embaralhasse meu cérebro, fazendo as memórias fugirem.
Estava quase conseguindo quando senti uma pressão sobre meus ombros, abri os olhos e vi John me encarando com olhos que eram puro ódio. Eu sabia o que ele veio fazer. Não me movi. Já começava a sentir o impulso de respirar quando ele me largou, emergi lentamente e falei: – Olá, John. – Ele continuava me encarando. Levantei, enrolei-me em uma toalha e esperei. Esperei um longo tempo até ele começar a falar: - Ele era seu irmão, como você pode fazer isso com ele? – ele falou calmamente. –Eu sinto.. – antes que eu pudesse terminar a frase senti o soco. E depois outro. E mais um. Não resisti, deixei que me batesse. -POR QUE VOCÊ NÃO REAJE? REAJA!- gritou ele. Continuei imóvel.
Finalmente ele me soltou. Levantei-me sentindo o gosto do sangue, peguei um cigarro e acendi. –Você não fuma. – Disse John.
–E você não se esconde e invade apartamentos para bater nas pessoas. – Respondi.
– Foi justo, você matou meu melhor amigo. – disse ele calmamente. – o seu irmão. – Aquelas palavras surtiram efeito, percebi que estava chorando, eu matei meu irmão.
–Não sabia que você era capaz de produzir lágrimas, Mycroft.
– Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, querido John.
– Realmente. Há muitas coisas que eu não sei sobre você. Nunca imaginei que você fosse capaz disso.
– Eu não o matei.
– Claro, você só o obrigou a se matar.
– Eu nunca imaginei...
– Nunca imaginou? Você entrega a vida inteira do teu irmão nas mãos da maior mente criminosa de todos os tempos e achou que ele faria o que com essas informações? Como pôde fazer isso? Seu irmão..
– Sim, meu irmão, meu irmão mais novo, que eu jurei proteger, está morto, John, e a culpa é minha. – Não achei que pudesse suportar nem mais um segundo a dor de saber que a culpa é minha, apaguei o cigarro, sentei-me em um canto encostado à parede e desatei-me a chorar. Chorei tanto que achei que ia desidratar. Quando enfim consegui respirar, olhei para cima e o John ainda estava lá, me olhando assustado, como se nunca tivesse visto nada mais estranho na vida.
– Mycroft... – Começou John lentamente.
– Me desculpe, de verdade.. eu.. eu nunca imaginei, nunca esperei isso.. eu sinto muito..
– Por quê?
– Eu precisava do código... Era a única maneira, você sabe..
– Não, eu não sei. – Ele falou lentamente.
– Me desculpa. Eu não sabia de nada, nunca imaginei isso. Ele era meu irmão, eu nunca faria isso com ele. Eu o amo.. Amei.
– É, eu também. Eu vou embora.
– Não... Eu.. Eu não quero ficar sozinho.
– Isso é novo... – Disse John. Ele me olhava com curiosidade.
– Muitas coisas são novas. – eu disse e sorri um pouco. Ele não sorriu, continuava me olhando sério e com curiosidade.
– Você é um homem estranho, Mycroft. – John falou.
– De fato eu sou. – Respondi.
– Você está realmente arrependido ou só está atuando? – Perguntou John, agora andando em direção a porta de saída.
– Ele era meu irmão. Por mais que eu não demonstre, mesmo que eu nunca tenha dito, eu o amava, como qualquer outro irmão ama seu irmão mais novo. – Disse calmamente.
– Mas mesmo assim você não pensou nas consequências das suas atitudes. – John agora encarava seus pés.
– Eu estava cego, sem saber o que fazer. – Senti meus olhos molhados ao terminar essa frase.
– Mas agora não adianta se arrepender, ele não vai mais voltar. – John estava manhoso, como alguém que estava chorando sem lágrimas, como alguém que chora com a alma para que ninguém perceba a sua tristeza. – Eu espero que você não se arrependa – Completou a frase antes de se virar e sair sem que eu pudesse pedir desculpas novamente.
Subi as escadas e entrei na primeira porta que consegui ver com a minha visão embaçada e cheia de lágrimas. Chorei durante alguns minutos, muitos minutos até conseguir conter as lágrimas. Limpei meu olhos e de repente me vi sozinho no meu quarto. A culpa tomava conta de mim, revirava meu estomago e martelava na minha cabeça... Começava a achar que era demais para mim. Saí do apartamento e fui em direção ao terraço decidido a fazer justiça.
Caminhei lentamente até a beirada do prédio enquanto falava pra um Sherlock morto: - Me perdoe, me perdoe por te entregar... também por ir embora, por te deixar sozinho, fui egoísta, sou egoísta, mas eu te amo, sempre te amei, sempre vou amar... – por um momento achei tê-lo visto em uma sombra, mas era só a minha loucura falando. Olhei pra baixo e pensei em me jogar, estava me inclinando para a frente quando senti alguém me puxando.
– Eu te amo. – Reconheci a voz do meu irmão. – Não, você não está louco, sou eu mesmo. – Ele falou adivinhando meus pensamentos.
– Me perdoe. – Falei.
– Não se preocupe. – Ele disse e sorriu pra mim.
– O John... – Falei, ainda abraçando ele.
– Ele não pode saber. – Ele disse e eu pude sentir a dor em sua voz. – É perigoso pra ele.
– Você me contou.. - Comecei a falar.
– Não é como se você corresse algum perigo, não é? – Ele sorriu pra mim.
– Verdade. Vamos entrar. – Falei sorrindo.
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Espero que tenham gostado. Review please?