A Morte E A Sonhadora escrita por AAJ


Capítulo 2
Capítulo 02 - Helena e Agnes


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora para postar, mas estou com o meu gatinho que ainda é filhote e a questão escolar. Fiz com todo o carinho para vocês e espero que esteja bom. Boa leitura!



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O movimento foi fraco, como sempre. A biblioteca não é um dos lugares mais visitados da cidade, já disse os motivos mas vou reforça-los. As pessoas não vinham muito por vários fatores:

Fator nº 01: A poeira. Causava muita alergia.

Fator nº 02: A falta de tecnologia que havia aqui, aqueles computadores de caixa e só haviam dois.

Fator nº 03: Morreu uma pessoa aqui. A bibliotecária antiga. Por esse motivo, supersticiosos odiavam entrar aqui.

Fator nº 04: O cheiro de cigarro continua aqui. Reforçando os fatores nº 01 e 03.

Fator nº 05: Não havia nenhum modelo aqui. Todo mundo usa a roupa que dá e não o que está na moda.

Fator nº 06: Parece que a qualquer momento o prédio vai desabar.

Fator nº 07: Já acharam três aranhas, cinco lagartixas e dois ratos no meio das prateleiras.

Fator nº 08: Não tinha televisão.

Fator nº 09: Tem muito mosquito na biblioteca, pensa que não?

Fator nº 10: Não se pode comer aqui.

Então, todos esses fatores somados fazem dessa biblioteca o lugar menos frequentado pelos jovens, adultos, religiosos, pessoas com rinite, idosos, medrosos e tecnológicos. Os que mais apareciam por aqui são os jovens de uma escola ao lado, sendo que eles são obrigados a pegarem livros daqui. Mesmo assim, apenas os super-responsáveis e nerd’s aparecem por aqui. O que resulta em três pessoas, no máximo.

No final do expediente decidi pegar um livro, mas tive que esperar sete pessoas. Dois estudantes sendo um o amor secreto de Sophia e a outra uma garota com um corpo avantajado que o amor secreto de Sophia não parava de passar a mão, Júlia, Sophia, Fred, Alessandra e Leandro. Peguei o único livro que não estava com teias de aranha por cima e que não estava rasgado pelos ratos. Nem vi o título, caminhei as pressas direto para casa e nem respondi o Fred quando ele me chamou para conversar, deve ter tomado coragem para me chamar para sair.

Se fosse há alguns anos atrás, eu até iria e seria divertido, poderíamos até namorar. Mas... Agora? Não, minha ideia sobre relações mudou a muito tempo, prefiro não ele deixar me convidar, ter que ir e estragar os sentimentos do garoto. Sou muito grossa e rude quando estou em algum lugar indesejado, não que Fred seja chato, mas eu simplesmente não consigo mais ter um encontro sem me portar como um bicho do mato.

Cheguei em casa e notei que Atenas, a minha gata de estimação, estava me esperando em cima do sofá. Ela faz isso quando está com fome, não consegue dormir sem a minha presença e adora brincar comigo. Lógico que seu nome foi dado em homenagem à deusa mitológica da sabedoria. A felina tinha uma coleira com uma coruja, o símbolo de Atena. Fiz carinho em suas orelhas e ouvi-a ronronar.

Joguei minha mochila em cima do sofá e fui me trocar no meu quarto, coloquei uma camisola que minha mãe considera “imprópria” por ir até a minha cocha e ser de alças. Uma linda camisola roxa com detalhes lilás. Já era de noite, tive que ficar mais um pouco já que a outra bibliotecária que iria ficar no turno da tarde faltou sem justificativa, em outras palavras saiu com o namorado.

Deitei-me exausta na minha cama e liguei a televisão. Fiz praticamente uma viagem pelos canais e não achei nada de interessante, ou que prendesse a minha atenção. Deixei em um canal que passava The Vampire Diaries e observei o quanto Ian Somerhalder tem olhos maravilhosos. Se eu gosto dos seres humanos? Não, eu não tenho paciência com eles. Se Ian Somerhalder é bonito? Não, ele é maravilhoso! Se ele é humano? Sim, lógico que o ator de um vampiro é humano. Se isso importa? Não, não nos falamos o que torna impossível eu ter paciência com algo que não aparece no meu cotidiano.

Eu peguei o livro que havia alugado na biblioteca e finalmente li o título do livro. Em belas letras douradas e gastas sobre a capa negra estava escrito, presumo eu em Latim, “Cruciatu Antequam Mors”. Deveria ter estudado latim, até que seria uma boa faculdade. Abri na primeira página do livro, estava escrito “NML” com letras reforçadas, como se não quisesse que apagasse de jeito nenhum. Com certeza é algo bem antigo, como um diário.

19 de Agosto de 1738, Alemanha.

“Esperar até que seu amor nasça, cresça, aprenda, compreenda e depois, no final, te ame de volta. É uma tortura que eu passo todos os dias”.

Tentei convencer Helena a parar de falar com a maldita garota fantasma, quem mandou não dar ouvidos a Morte? Só por que visto preto, carrego armas letais, tenho olhos vermelhos sangue ou negros como a noite e dentes pontudos não signifique que eu seja malvado... Se bem que, pensando melhor agora faz sentido ela não confiar em mim... Mas agora ela terá um encontro comigo, um encontro de apenas ida e ainda teve que acusar a vizinha que não tinha nada a ver. Agnes é a humana mais azarada que já conheci, acho que quando conhecer a minha humana vou me lembrar de conhecer bem os vizinhos que ela tem.

Vi Helena observando Karina, hoje foi seu ultimo dia. Foi sua morte, sua execução, seu fim. Não acredito que tentei alerta-la, se tivesse me ouvido e parado de falar com Karina tivesse evitado isso, mas ela disse que eu era tolo, que não conhecia Karina e que estava a censurando. Os boatos surgiram comigo, lógico que eu não deixaria barato (Sou a Morte, posso não gostar muito de levar inocentes, mas ela estava merecendo!), não acreditei que ela fosse tão baixa a ponto de acusar Agnes! Se eu pudesse ajudá-la-ia, mas não dá. Tão prepotente quanto à mãe. A azarada, Agnes, pediu a prova da Água, porém duvido que vá ajuda-la, só iria morrer sem ser acusada de bruxaria. Não sei o que tem de mal em ser um bruxo, não somos assim tão maus. Nós, os verdadeiros bruxos, nunca somos pegos. Os humanos têm exemplos errados do que somos, ficam nos julgando sem nos conhecer. Deveriam se envergonhar, quando algum bruxo se porta de modo precipitado não o chamamos de humano.

Vi quando jogaram as duas no fogo, os gritos eram agonizantes e contínuos. Era o verdadeiro inferno. O fogo consumia sua pele, sua carne, seu sangue e só deixava a imagem do exemplo em nossas memórias. Já estou tão acostumado que nem ligo, odeio essas conversar religiosas de bruxaria. Não somos demoníacos, tentamos ajudar-vos a todo instante. Eles não vêm quantos desastres naturais são evitados? Tentamos ajudar, mas acabamos como representantes do demônio.

Uma vez ouvi uma história de um bruxo que se apaixonou por uma humana, não que isso não seja normal, ele teve um filho com ela e iria se casar e leva-la para outro lugar em que eles não fossem reconhecidos, nem que fosse no meio da floresta. Ele demorou um dia, e nesse um dia ela e seu filho foram mortos: Acusada de ter relações sexuais com o demônio e ter um filho com ele. O bruxo desolado morreu tempos depois, simplesmente virou poeira. E eu, como Morte justa, o levei rapidinho para perto de sua família que vagava pelo mundo sem esperança(Esse é o lado bom de ser a Morte, você pode fazer com que as famílias se reencontrem depois de seu encontro comigo). Agora já reencarnaram como bruxos na Inglaterra, adoro visita-los.

Só tive pena de Agnes, inocente e foi acusada de bruxaria pela vizinha e confirmado apenas por causa da mãe. Tão inocentes e tão tolos, não sabiam que os verdadeiros bruxos não gostavam de vender poções e só tinham relações sexuais com humanos. Bruxos com bruxos resultavam em anjos ou demônios, dependendo do lado que a criança escolheria. Nós, bruxos, odiamos demônios por serem umas pestes, simplesmente atrapalham todo o preparo de uma poção, nos expõe escandalosamente e adoram sangue, sangue e mais sangue. Gostamos de Anjos, mas esses são muito raros por isso evitamos ter relações com nossa própria espécie ou algo do gênero. O máximo de maldade que fazemos são doenças, não por não conseguirmos matar ou torturar pessoas, fazê-la perder os sentidos, controlar sentimentos e pensamentos. Nós podemos fazer tudo isso e mais, mas simplesmente não gostamos de afetar a ordem natural das coisas. Somos apaixonados por humanos, adoramos a sua inocência e fragilidade... Lembrando que estou falando dos humanos de que gostamos, normalmente mulheres e raramente homens. Nunca me apaixonei e isso me preocupa, não podemos ficar muito solitários ou então nos depreciamos até a morte. Diferente dos humanos, nossa morte não se baseia em velhice e sim em depressão, essa é a nossa morte natural. É estranho falar morte natural quando eu mesmo sou a própria morte.

Acusadas de manter relações sexuais com demônios, Agnes e Helena morreram queimadas. Nunca gostei de Helena, mas nunca desejei a morte delas. Quando o meu amor nascer, não a deixarei nunca mais. Simplesmente não vou aguentar, é algo mais forte que a própria poção do Amor. Mais forte até que MordeOssos.

NML

Fechei o livro e o deixei ao lado da minha cabeceira. Deitei minha cabeça do travesseiro e permaneci olhando para o teto. Se isso fosse um diário, com certeza seria um diário de alguém muito religioso. Anjos, demônios, bruxas e... Morte? Desde quando a morte tem um diário? Lógico que tem vários livros falando sobre diários da Morte, mas esses são ficcionais, imaginários... Mas esse parece realmente um diário, está manuscrito, com datas e locais e...

Ah, deixa pra lá! É só um diário idiota, vou entregar amanhã cedo e nunca mais vou pegar um livro sequer daquela biblioteca. Vou ver se consigo escrever um livro decente ou pelo menos viro professora de Português, por que pior do que está impossível! Esse diário falou tanta coisa sem sentido que não entendi nada, será que se eu estudar melhor história consigo desvendar alguma coisa? Não gosto de ficar desinformada, me sinto muito triste e curiosa. Os humanos têm uma péssima mania de contar tudo para os mais quietos e...

Os humanos? Eu falei isso? Mas eu sou humana! Que coisa, estou pegando a mania de falar desse diário. Pelo que me foi descrito, a Morte tem olhos vermelhos, dentes pontiagudos, carrega armas letais e veste muito preto. E ainda se diz confiável, mas isso até mesmo eu digo. Vou dormir, é melhor pensar nisso amanhã e parar de me incomodar com um diário de um doido de antigamente. Não sei como aquele livro foi parar na biblioteca e não ter um rasgo ou uma teia de aranha. Está empoeirado? Sim, está. Está gasto? Sim, está. Mas velho, acabado, esfolado... Não, está em ótimo estado de conservação.

Não sei quando dormi, nunca sei. Mas hoje tive a certeza que ao dormir senti alguém acariciando meu rosto, só espero que seja Atenas. E se não for ela, que seja Ian Somerhalder, já estará muito melhor que o imaginável.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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