Waking Up escrita por LiKaHua, Claray


Capítulo 11
Lullaby


Notas iniciais do capítulo

Kath: Desculpem a imensa demora é que a Claray ficou responsável por terminar o capítulo e nossas agendas acabaram se desencontrando. Mas ai está o final de Waking Up, Lullaby é a última música do cd e nós atribuimos a ela um capítulo nostalgico, tenso e muito bonito. Espero sinceramente que gostem dele, achei que faria um epílogo, mas acabei por mudar de ideia, ele está devidamente perfeito como está.
Obrigada a todos que acompanharam até aqui. Pela força e os comentários sempre fofos de vocês! Foi ótimo fazer esse caminho ao lado de vocês e nos deliciarmos com a trilha sonora desse cd que é uma verdadeira história de amor! Grande beijo a todos e até uma próxima.



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A morte que surgiu fria e gélida, a passos lentos em direção à indefesa Isadora, como sofria silenciosa em seus muros de sorrisos brancos, indiferente à dor que causaria com sua partida, e uma canção de ninar era sussurrada por Edward enquanto ela fechava os olhos e mergulhava na escuridão eterna, as lágrimas banhavam o rosto dele que se sentia impotente com a prematura partida daquela que amara mais que a qualquer uma, a única que chegara à seu até então duro coração. O sol se pôs junto com a vida de Isadora, e o coração de Edward mergulhou no infinito sem esperanças, sem alternativas, sem sonhos. Tudo que lhe restara fora a canção de ninar que a doce Isadora ensinara sua alma a escrever e a cantar.

Um Amanhecer para Dois – Noah Tedder

Elize suou frio, enquanto Brooklyn parecia completamente fora de si e empunhava a arma apontada para seu peito, sentia-se incapaz de mover um único músculo. Seu coração batia acelerado demais, de modo que ela conseguia ouvi-lo nitidamente e tinha a sensação de que o som ecoava por toda a casa. Sua felicidade seria assim tão frágil que acabaria daquela maneira? As lágrimas e o sorriso no rosto de sua carrasca denunciavam sua loucura, e o som do tiro ecoou fazendo seus ouvidos doerem, foi tão rápido, tão frio. A bala gélida rompeu a sua pele e de início ela não sentiu a dor, além do sangue que jorrou para fora do seu corpo atingindo a blusa branca de sua assassina. O corpo pendeu e encontrou o chão em um baque surdo, então ela ficou consciente da dor aguda que latejava em seu peito, seu coração foi ficando fraco e os segundos pareciam decisivos. O torpor invadiu o corpo de Elize que ergueu a mão ensanguentada e fitou o anel que Noah colocara em seu dedo horas atrás encharcado com o líquido escarlate, sentiu o gosto ácido e amargo do sangue em sua boca enquanto seu resfolegar enchia o ar e ecoava nas paredes da sua mente, o olhar frio e insano de Brooklyn parecia desorientado enquanto a olhava perecer.

O som de passos ecoou pela velha casa, o toque do sapato sobre o piso de madeira velha era preciso e firme, Elize encolheu-se dentro do armário e tapou a boca para conter o som de sua respiração descompassada. Pelas frestas das portas venezianas ela viu a figura alta e nojenta dele. Fechou os olhos apertando-se ainda mais contra o fundo do pequeno lugar, ele não poderia acha-la, não iria. A outra mão apertou com força o cabo da faca de mesa que ela escondera na saia depois do jantar. Os pais não estavam em casa, que erro saírem para ir ao hospital justamente hoje. Mas eles não sabiam, e não era culpa de seu pai ter passado mal novamente. Ela abriu novamente os olhos para vê-lo, ele vasculhava tudo, os braços enormes e a camisa regata suja de óleo causavam uma sensação de repulsa em Elize, a menina de nove anos não entendia muito as coisas, mas sabia exatamente que não gostava quando o tio Calleb começava a tocá-la intimamente. A porta do armário abriu, a luz forte machucou os olhinhos da pequena Elize, as mãos fortes e ásperas a seguraram, o cheiro forte de álcool e suor impregnaram as narinas delicadas causando-lhe um enjoo forte, ele a empurrou sobre a cama, ela apertou o cabo da faca e quando ele se aproximou ela enfiou a lâmina no peito dele, sem hesitar.

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Elize ouvia a voz suave da mãe, a canção de ninar doce que embalava sua alma no caminho mágico dos sonhos. Sua mente reproduzia silenciosamente a voz aguda que lhe transportava para os reinos dos livros que ela passava horas lendo. As notas deslizavam pelo ar preenchendo os vazios e afastando qualquer sinal de medo ou de dor...

Stars shining in a dark sky

(Estrelas brilhando em um céu escuro)

when your world is falling apart

(quando seu mundo está caindo aos pedaços)

look the silver shine

(olhe o brilho prateado)

and think that are my eyes down on you

(e pense que são meus olhos sobre você)

My sweet little child

(minha doce filhinha)

don't be afraid of tomorrow

(não tenha medo de amanhã)

I'll catch your tears

(Eu pegarei suas lágrimas)

and make the pain dissapear

(E farei a dor desaparecer)

Dreams floating on the air

(Sonhos flutuando no ar)

you hear my lullaby

(Você ouve minha canção de ninar)

my voice will lead you to light

(minha voz vai levar você à luz)

Just keep walking, my baby

(apenas continue andando, meu bebê)

I'm waiting for you on the other side...

(Estou esperando por você do outro lado…)***

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Os braços de Noah apertavam a pele de Elize suavemente, enquanto o falo rijo enchia-a de calor, pressão e prazer. Em um dado momento ela sentiu-se inundada de felicidade por ser de Noah para sempre, nenhum homem a havia tocado desde o incidente com seu tio Calleb, ela tinha pavor de pensar em ser acariciada por alguém. Mas o amor de Noah, apesar de toda a dor, atenuara seus medos e cicatrizara as feridas ainda doloridas em seu ser. Ela descobrira o lado físico e concreto de um sentimento intenso que guiava sua alma através da escuridão de incertezas rumo à luz da felicidade de um futuro ao lado do único que tocara seu coração.

As luzes embasavam diante dos olhos de Elize, as memórias se confundiam com a realidade e as lágrimas quentes ardiam em seus olhos. A dor era insuportável, cada vez mais intensa e ela começava a sentir seu corpo paralisar lentamente, a sua mente ia ficando mais e mais distante, as cores desapareciam diante dela e os ecos da voz de sua mãe entoando a canção de ninar que embalava seu sono quando criança, agora aumentava de volume e, enquanto seus olhos se cerravam, embalavam o sono frio e mortal que recaía sobre ela nesse momento, e ela estaria do outro lado? Haveria alguém esperando a pequena Elize assustada e cheia de dor?

Dreams floating on the air

you hear my lullaby

my voice lead you to light

Just keep walking, my baby

I'm waiting for you on the other side...

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Noah mal conseguiu tomar café da manhã tamanha era sua ansiedade para ver Elize novamente. Precisava ver como ela estava, se sua felicidade era tão absurdamente grande quanto a dele. E também precisava pegar as chaves que esquecera na casa dela. Quando alcançou o hall do hotel onde dormira sentiu uma pontada de dor no peito, como um leve presságio de que algo estava errado. Ignorou o sentimento e caminhou até o carro, nada poderia ser capaz de acabar com aquela felicidade que ele estava sentindo, mal via a hora de chamar Elize de esposa e nunca mais ter de sair do lado dela pelo resto de sua vida. O sol estava pálido no céu quando ele ganhou a estrada, o sorriso tentava competir com o medo que pairava em seu coração, a sensação incômoda de perigo começava a aumentar, ele ligou para Elize, mas o celular não atendia. Tentou de novo. Caixa postal. Ela estaria dormindo? Era domingo, possivelmente. Eles fizeram amor duas vezes ainda aquela manhã, era provável que ela estivesse adormecida. Estava tudo bem. Ele tentou se convencer enquanto acelerava o carro para a casa dela.

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Abaixando-se para contemplar sua obra de arte, Brooklyn sorriu, a insanidade dominara-lhe de tal forma que mais conseguia separar a realidade da ficção, o corpo inerte de Elize jazia no chão enquanto a poça de sangue se formava sobre ela, mas seu coração ainda batia, e por dentro ela lutava bravamente para continuar viva embora esta forsse uma tarefa cada segundo mais difícil. Aproximando o rosto bem próximo da rival, Brooklyn sussurrou:

- Você fica tão melhor assim, imóvel e ensanguentada... - Riu baixinho. Os olhos verdes brilharam, arrastando-a pela casa até a sala de estar. Ajeitou-a no sofá, em seguida fechando as cortinas e espiando por trás destas. - Como será que você vai reagir, Noah? Ah, Noah... Ter que fazer isso é tão chato!

"Era uma tarde chuvosa. Brooklyn saia do palco no fim de mais uma de suas palestras, pouco a pouco as pessoas se dispersando. Alguns, poucos, ficaram para pedir autógrafos, fazer perguntas ou ainda elogiar seu trabalho - faziam uma pequena fila frente à sua mesa. A maioria que ficava eram os seus amigos ou ainda os que seguiam seu trabalho há anos. Ficavam um pouco, conversavam, então iam embora. Faltava apenas mais um para que pudesse ir embora, então logo começou a arrumar suas coisas enquanto chamava-o.

- Olá! - Ela sorriu-lhe enquanto retrucava um 'oi' cansado - Sou Noah, prazer - Estendeu-lhe a mão para um aperto.

- O prazer é meu! - Ela o observou bem. Era bonito, com toda certeza. E havia algo em seus olhos..."

O vento parecia soprar cada vez mais forte, as nuvens enegrecidas aos poucos cobriam a cidade e o sol desaparecia por entre elas. A mulher ajoelhou-se ao lado dos pés do corpo de Elize, encostando as costas no sofá e encarando fixamente o teto com a mente distante. O que havia feito além de ama-lo? Sim, era verdade, o havia traído... Mas seu arrependimento não era suficiente? O amor, o tempo que lhe dedicou, não era tudo isso suficiente? Por que ele seria capaz de perdoar Elize em uma de suas falhas - Elize foi capaz de perdoa-lo. E ela... Ela simplesmente foi esquecida.

Era injusto, assustador, terrível! Ela, que o amou tanto - e ainda amava, com toda sua alma e coração -, não era merecedora do perdão? As lagrimas já brotavam incessantes de seus olhos quando obteve de si a resposta que não desejava.

Um murmurar que mais se assemelhava a um gemido de dor despertou-a de seus pensamentos, fazendo-a inclinar o rosto para a mais jovem. Os olhos brilharam em uma furia doentia, o estralo do tapa ecoando pela sala.

- Não ouse! - Bradava em um misto de ódio e dor - Não ouse chamar pelo nome dele, infeliz! Apenas eu... - Desabou no sofá em prantos, a outra, cujo rosto fora marcado em vermelho pela mão contrária, sem mover um músculo em seu sono profundo - Apenas eu posso chama-lo... Apenas eu...

"Chovia muito naquele dia e o frio congelava até mesmo a alma da garota que, ilhada em um pequeno barzinho, aquecia-se como podia. Infelizmente isso não incluía o chocolate quente que ela tanto almejava - o dinheiro não era suficiente. Havia comprado um café simples para poder ficar no estabelecimento e tomava-o o mais devagar que podia.

Mais ao canto, algumas pessoas conversavam alto enquanto bebiam cerveja e, do outro, um casal de adolescentes observavam a chuva juntos. Ao seu lado um homem lia o jornal enquanto bebericava o chopp, lançando-lhe olhares de canto.

O ambiente não era nada agradavel, mas não tinha escolha. Esperava que a chuva passasse logo, ao menos.

As risadas da mesa do canto aumentavam o volume cada vez que um deles contava uma piada sem graça ou uma história - que, em sua maioria, era sobre mulher -, causando repulsa por parte da garota, que reclamava mentalmente algo sobre nunca mais esquecer o guarda-chuva.

Oito horas da noite. Grunhiu, largando a xícara sobre o balcão junto com os dois dólares e saindo do local. Um pouco de chuva não fazia mal à ninguém.

Já estava ensopada quando alcançou o metro, enfiando-se entre as tantas pessoas que procuravam abrigo da chuva ali. Entrou em um dos vagões, desabando sobre o banco enquanto respirava aceleradamente devido a sua corrida até ali.

- Ora, você por aqui! - Ouviu a familiar voz ao seu lado - Que chuva, não? - Virou-se, encarando os olhos que possuíam tanta doçura quanto jamais vira. Abriu-lhe um sorriso de canto, sentindo a calmaria instalar-se dentro de si.

- Sim. Pensei que fosse ficar presa em um bar a noite inteira até lembrar que não era de açúcar! - Riram - Mas que coincidência te encontrar por aqui. Anda me perseguindo, por acaso? - Ergueu uma das sobrancelhas.

- Talvez. - Sorriu, um sorriso cheio de duplos sentidos - Estou brincando, não precisa sair correndo - Riu baixinho.

- Se eu ia sair correndo? Imagine!

Logo a voz aguda soou pelo vagão, avisando a chegada da próxima estação. O rapaz preparou-se para se levantar e se enfiar entre as outras pessoas para sair.

- Posso pedir seu telefone? - Virou-se.

- Claro! Anote aí. - Ele sentiu um leve arrepio ao ver seus olhos brilharem, ela sentiu vontade de sorrir como nunca. Na manhã seguinte restariam apenas marcas de sono em ambos os rostos, fruto de uma noite inteira de conversas. As semanas passaram rápidas como nunca, as conversas de noite tornando-se rotineiras. Encontros foram marcados, sorrisos, beijos e sussurros distribuídos como se cada noite fosse a última.”

Despertou de seus pensamentos mais uma vez, agora com o toque de um celular. A música romântica fez o nó em sua garganta aumentar e desejou ardentemente que tivesse alguma bebida naquela casa. Aproximou-se sorrateira do aparelho sobre a mesa e visualizou as duas chamadas perdidas de Noah. Tornou a tocar, ela atendeu em silencio perturbador.

- Elize? - Chamou o homem - Elize, está tudo bem aí? Liguei duas vezes e nada! Elize? Amor? Alô?

A ligação foi encerrada, o celular lançado violentamente contra a parede. Amor. Então era sério! Em fúria, buscou pela cozinha algum sinal de bebida alcoólica. Encontrou uma garrafa de uísque e bebeu um gole no gargalo, sentindo o líquido como se rasgasse sua garganta. Pela janela era possível ver como as nuvens tomavam uma cor alaranjada - apesar de Brooklyn imagina-las vermelhas, feito sangue. Ele já devia estar chegando.

Caminhou sem pressa até o local onde deixara sua rival, sentando-se paciente em um banco no extremo da sala. Dali era possível ver tudo, mas apenas seria vista se fosse procurada. Seu desejo descansava em terrível suavidade sobre as coxas da mulher, a mão agarrada a si, o cano brilhando pela luz que logo se apagou. Com um sorriso da cor do marfim, Brooklyn ouviu o barulho do carro e em seguida da chave sendo passada na porta.

"-Brooklyn? Hey, acorde! Não é tão cedo assim, vamos lá - Ria, tentando tirar a outra da cama. Ela acabou por desistir - Aqui, tenho uma surpresa. Feche os olhos, querida, e não vale abrir.

- O que tem aí? Já estou curiosa, espero que compense meus minutos de sono - Sorriu.

- Te passei meu excesso de sono, foi? Tenha paciencia e... 'pera ai! - Silencio - Pode olhar!

Em sua frente estava a janela. Franziu o cenho, virando-se para o escritor, que indicou-a novamente. Tornou a olhar, desta vez para o jardim, então para a rua, então o céu... Nada.

- O que há? - Virou-se novamente, mas não viu o companheiro - Noah?

- Brooklyn, meu amor, minha bela e mais brilhante estrela... - Elevou o tom de voz, ela olhou para baixo de olhos arregalados. O pequeno objeto dourado brilhava com a luz do sol que atravessava a janela - Aceita se casar comigo e ser, definitivamente, a mulher da minha vida?”

Primeiro ele a chamou, sendo recebido pelo silencio. Depois foi até a cozinha e bebeu um gole de água - estranhou a garrafa de uísque sobre a mesa, deixando o resto da própria bebida largada e buscando a noiva. Brooklyn ouviu com extrema atenção os passos no segundo andar, o bater de portas, o descer de escadas... E então a luz da sala se acendeu. Ele gritou o nome de Elize, agarrou-a, tentou alcançar seu celular - e se lembrou com raiva de o ter largado na cozinha. Ergueu-se com rapidez, o primeiro tiro ecoou pela casa. Se virou em um salto, armando-se com um vaso. O ódio instalou-se em sua alma quando viu a figura à sua frente, que apontava-lhe o revólver.

- O que você fez?! - Gritou, irado - Não basta ter me traído, agora quer matar a mulher que eu amo?

- Ama como me amou? - Ela já sentia seus olhos se inundarem mais uma vez - Olhe para mim e diga que me amou! Diga que aquilo tudo foi verdadeiro, que ainda me ama... Noah será que não entende? Nascemos um para o outro! - As lagrimas escorriam por seu rosto, gritando-lhe como se fosse óbvio - Por que está indo contra o destino? Veja, não há mais nada para impedir nosso amor! Nós...

- Não há amor! - Gritou em fúria - Não há droga de amor algum! Eu te amei, mas você conseguiu destruir tudo! Você não entende! Não entende que tudo acabou, que aquilo foi passado? Mas por que insiste em destruir minha vida?! Se me ama de verdade e quer meu bem, afaste-se de mim! Vá para o quinto dos infernos, de preferencia!

- Não, não, não! - Balançava violentamente a cabeça, a visão embaçada - Meu lugar é ao seu lado, assim como o seu é ao meu lado. Aquilo não acabou! Você me ama, sei disso!

- Eu amo Elize. Agora pare de brincadeiras e largue essa droga de arma! E espero realmente que ela não morra. Por que, se a vida da minha mulher se perder, eu faço questão de acabar com sua raça com as próprias mãos! - Esbravejou, virando-se sem medo e tentando novamente ir à cozinha. O segundo tiro atingiu o vaso em suas mãos e Noah amaldiçoou o pai militar de sua ex.

- Não, Noah, você não a ama. Você me ama... Você me ama! Você prometeu me amar! Lembra-se daquela noite, Noah? - Os olhos tornaram a brilhar em esperança, a memória boa trazendo-lhe a luz - A noite das estrelas... Se lembra delas? Diga-me!

- Eu não tenho nada a lembrar contigo. Se eu pudesse, voltava ao tempo para nunca ter te conhecido! - O nó formado na garganta da mulher pareceu crescer, ao tempo que ela caia de joelhos no chão, inconformada.

- Isso é mentira... É mentira! Pare de mentir!

- Mentira foi o que nós vivemos. - Pôs com desprezo. Ela ergueu os olhos para ele, uma mecha de cabelo cobrindo o rosto inchado pelo choro.

- Eu não entendo. Nosso amor era tão profundo... Nossas promessas... Nossas noites, dias e manhãs, era tudo perfeito! - Ergueu-se novamente, respirando fundo - Mas, se assim prefere... Assim será! - A mão ergueu-se com terrível firmeza.

- Enlouqueceu? Abaixe isso! - Arregalou os olhos.

- Saiba que sempre te amei, Noah, meu querido Noah! - Exclamou - E sempre te amarei, mesmo depois de nossa morte. Pois nosso amor... Ele é eterno! - Mirou, mas não concluiu a ação. As luzes apagaram-se, o vaso zumbiu no ar e, se não tivesse desviado, teria se chocado contra si. - Mas o que raios...?

Não pôde concluir. Desviou de um quadro, então de um controle de televisão, e nessa distração algo alcançou sua cintura ao tempo que a mão que segurava a arma era presa em um agarre doloroso.

- Mas o que...? Noah, me solte! - Rosnou.

- Ah, claro, vou te soltar. - Retrucou irônico, ao tempo que ela cerrava os olhos e o chutava. Atingiu seu rosto com o cotovelo enquanto ele caia, tornando a mirar.

- Adiantou? - Questionou em falsa curiosidade.

- Claro que sim! - O terceiro tiro ecoou, assim como o som de vidro se quebrando e algo caindo no chão. As luzes se acenderam enquanto a mulher tentava descobrir o que ocorrera - Está bem, Noah? - Ele grunhiu algo em resposta.

- Roderich...? - Murmurou incerta.

- E eu que achava você uma chata ecológica cheia de histórias sobre paz mundial! - Gargalhou. Ela cerrou os punhos, a visão turva, tentando mentalizar uma estratégia. Tentou levantar, mas a tontura havia dominado cada pedaço de seu corpo. Mais à frente, Noah focou-se no revólver caído a centimetros de si. Bastava alcança-lo e tudo isso acabaria, mas seu ombro latejava de dor. Tinha que conseguir... Tinha que conseguir...

Brooklyn piscou algumas vezes, então focou-se em um dos quadros caídos. Era a única chance - se errasse, estava perdida. Devia ter dez, não, cinco segundos para agarra-la, virar-se, mirar e acerta-lo. Três segundos de reza silenciosa e então tudo foi rápido demais para que Roderich pudesse impedir - o objeto acertou em cheio sua testa, fazendo seu corpo tombar no chão. Ela pôs a mão onde o vaso atingiu, gemendo baixinho.

É o fim, pensou Noah, morreremos todos pelas mãos dessa louca! Mas a mulher não se virou. Permaneceu onde estava, de olhos fechados. As lembranças voltavam a atormenta-la, sentindo a dor aumentar dentro de seu peito, a cabeça parecendo a ponto de explodir. Esfregou as lágrimas com as costas das mãos.

- Se me amava, por que me traiu? - Alfinetou, incapaz de entender ou de conter a pergunta.

- Sim, eu te trai! - Gritou, cobrindo o rosto com as mãos - Mas me arrependi! Vi o quanto tudo começou a dar errado logo no primeiro dia em que nos separamos, então veio a saudade! Então comecei a te perseguir... Mas você fugiu de mim. Eu te procurei por toda parte, Noah, mas apenas te encontrei naquela droga de festa! Você me esqueceu mesmo? - Se virou, olhando-o com olhos marejados. Parecia ter se esquecido do revólver caído.

- Para mim, "eu e você" não vai rolar de novo - Atacou.

- Não se arrepende? É sua última chance! Não se arrepende de tudo que fez comigo? Diga que se arrepende! - O estado da outra o assustou, mas não demonstrou tal coisa. Ela fechou os olhos com força, cobrindo-os com as mãos.

- Não me arrependo. Tudo que tivemos foi uma mentira, você sabe bem disso! Pare de insistir, Brooklyn! - Esticava-se como podia para alcançar a arma. Apenas mais alguns centimetros...

"Estavam na chácara dos pais da garota, em um muro de tijolos a beira da estrada. Do outro lado havia um barranco repleto de árvores, atrás a trilha até a casa de aparencia antiga. Acima deles o céu estava imponente, com as estrelas brilhando e a lua crescente iluminando toda a área junto à uma lanterna.

As mãos estavam entrelaçadas e pousadas sobre o muro, ela olhava-o de canto e ele fitava a estrelas - ao menos até ouvir seu chamado baixinho e ser surpreendido por um beijo, que foi seguido de mãos bobas e marcas no pescoço. Então uma risada baixa, ela apoiou o rosto no ombro do outro enquanto era envolvida por seu braço forte.

- Eu te amo, Noah. - Segredou em seu ouvido.

- Está vendo aquelas estrelas? - Apontou, tocando uma mecha do cabelo da outra com a ponta dos dedos - Elas durarão menos que nosso amor!"

O clique seco a despertou. Sorriu, então gargalhou alto.

- Sim, Noah! Atire em mim... Atire em mim!

- Você está louca.

- Provavelmente.

O sorriso se alargou sem motivo aparente, aproximou-se dois passos. O quarto tiro fez a mulher cair de joelhos - mas isso não a impedia de olha-lo nos olhos.

- As estrelas já explodiram? Sinto as chamas queimarem meu coração... Foi por causa delas que seu amor pereceu? - O quinto tiro, um gemido de dor.

- As estrelas já ressurgiram para mim, Brooklyn. - Seus lábios tremeram, deixando por fim a lágrima solitária escorrer por seu rosto - Mas tudo isso podia ter sido evitado...

Esperou pelo silencio. Aquele silencio profundo e aveludado, que destruía pouco a pouco cada esperança de sua alma. Já não acreditava na vida de Elize, nem na própria vida sem ela. Sentia o frio – as sombras imaginárias que envolviam seu corpo lentamente... Mas não.

- Noah! - Um grito do lado de fora da casa. Ele reconheceu a voz de Will.

- Não podia não, Noah. Meu Noah - Sorriu triste, sentindo o gosto enferrujado do sangue subir a garganta. O sexto tiro, Brooklyn se perguntou desde quando aquela sala era tão iluminada. Seu corpo ardia onde fora atingido. - Apenas não se esqueça... Não se esqueça de mim. - Sua voz rouca diminuía o tom, enfraquecendo - Não me deixe morrer em seu coração, Noah... - O sétimo, então, o silencio e o som dos passos e da arma caindo.

- Ai, Deus! Roddy! - A voz de Natasha pôde ser ouvida, então Noah a viu jogar-se de joelhos ao lado do marido.

- Droga... Isso aqui foi um estrago! - Aproximou-se Will - Ainda bem que você é um soldado feito de ferro. Aguente aí, garotão! - Apesar do mais velho não demonstrar, Noah sentiu uma pontada de preocupação em sua voz. - Natasha, nos mostre seu curso de enfermagem enquanto os médicos não chegam - O escritor ouviu os passos, então mergulhou em um sono profundo. Temia nunca mais acordar.

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A sala era clara, clara até demais para seu gosto. O sol ardia em seu rosto, fazendo-a virar-se para o lado. Tentou repassar em sua mente o que ocorreu... Havia se acertado com Noah, então Brooklyn apareceu e... Oh.

- O que raios aquela louca fez para mim dessa vez... – Resmungou baixinho, ainda sentindo sono.

- Te deu um tiro que quase te matou, então atirou no Noah, jogou um quadro no meu Roddy, que tinha entrado quando ouviu uns barulhos estranhos na casa na hora que foi me deixar lá, e... Bem, então, morreu com sei lá quantos tiros – Respondeu direta a figura miúda sentada em uma poltrona no canto do quarto. Só então Elize notou estar em um hospital.

- Como está o Noah? – Arregalou os olhos.

- Já foi liberado, o tiro pegou no ombro. Você que era nossa preocupação... Por sorte o tiro que recebeu não chegou a pegar em um ponto vital, mas passou perto. Levamos um susto contigo! Seu coração quase não batia mais – Sorriu – Mas eu não entendi qual foi a da Brooklyn. Ela sabia onde era cada ponto vital do corpo! Não podia ter errado assim... – A outra molhou os lábios, pensativa.

- Deve ter sido proposital. Será que queria me fazer sofrer a dor de perder a pessoa amada na pele? Creio que ela não queria que eu morresse... – Tentou sentar, mas foi impedida. Não insistiu. – Há quanto estou aqui? Onde está o Noah?

- Duas semanas. Noah foi almoçar, pediu para eu ficar de olho em você até ele voltar.

- Roderich está bem? Desculpe, havia esquecido de perguntar.

- Não se preocupe. Meu maridinho é duro de matar! – Sorriu feliz. Elize retribuiu, os olhos voltando-se para a janela.

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- Não vai comer? – Ergueu o rosto, vendo como Will franzia o cenho.

– Não me diga que está pensando naquela louca varrida! – Pronunciou-se Roderich.

- Ela podia até ser louca, mas... Ora! Ela me amava e eu a matei por isso! Como quer que eu me sinta?! – Enterrou o rosto nas mãos, os cotovelos apoiados na mesa do restaurante.

- Não, garoto... Você a matou por que ela queria matar você. – Negou com paciência o mais velho.

- Ela queria que eu a amasse, não queria me matar. Você não estava lá, não sabe do que diz – Rosnou.

- Ótimo, veja, Will, ele está defendendo a assassina maluca que nem matar consegue! Olha aqui, se não fosse eu ter aparecido lá, ela tinha atirado em você! O tiro que você recebeu não ia pro seu ombro, ia pra sua testa, mané!

- Ela não é uma assassina maluca. Bem, maluca talvez, mas... Ela não é uma assassina. – Retrucou em baixo tom, respirando fundo e cruzando os braços. Ignorou o insulto recebido.

- Noah. Ela tentou. Matar. Vocês. – Falava separadamente cada coisa, como se o primo fosse uma criança pequena com dificuldade em entender – Mas que droga! Você chama isso de quê?

- Eu não vou ficar ouvindo isso. – Alertou, afastando a própria cadeira e se erguendo.

- Noah! – Chamou Will – Não ligue para ele...

- Isso, vai. Aproveita e esquece a Elize pra ficar sofrendo pela malucona. – Torceu o nariz, bebendo seu refrigerante.

Andou depressa e com passos pesados. Quem Roderich pensava que era para falar assim da Brooklyn?! Se questionava, Logo ele que sempre falou tão bem dela! Noah não achava merecido o jeito como a ex era tratada. Quase morreu por suas mãos? Sim, é verdade. Mas se visse o ponto de vista dela, tinha certeza que desejaria ter morrido à tê-la matado.

Então, parado a espera do semáforo fechar para os carros, lembrou-se de quando a viu algum tempo depois de terminar com Elize. A forma como a viu chorar baixinho iluminada unicamente por uma vela, tremendo de frio. Tudo enegreceu à sua volta, parecia que só havia os dois ali, no meio do nada, e a luz tremeluzente da vela era a única coisa nítida para iluminar o rosto choroso de Brooklyn.

“- Você não deve lamentar mais por mim. Viva e vire para a próxima página! Aprenda a desistir, Brooklyn.”

Então ela olhou-o assustada, surpresa. Não parecia crer que não era mais amada – não parecia querer crer. E isso era o que mais doía nele: o jeito como ela esperava por seu amor.

Esbarrou em alguém enquanto entrava no hospital, mas não parou. Subiu as escadas de emergência, depois abrindo a porta do quarto com violência enquanto adentrava-o. Parou, olhando surpreso para a editora – a qual retribuiu o olhar, sorrindo e abrindo os braços em convite. Natasha retirou-se com um risinho ao tempo que o rapaz apressava-se em tomar a garota em um abraço possessivo.

- Senti tanto medo de te perder! – Soluçou. Está chorando?, perguntou-se Elize. Nunca o vira daquela forma. Parecia uma criança assustada, indefesa, que se perdeu dos pais. Apertava-a entre os braços, dando sutis beijos por qualquer pedaço dela que pudesse alcançar – Pensei que você fosse...

- Psiu. – Silenciou-o – Está tudo bem. Não morri, estou aqui, viva! – Acariciou seu rosto – Não quero te ver lamentando por mim.

- Graças aos céus está viva! E não lamento agora, mas lamentaria se não estivesse mais aqui. Lamentaria até me lançar de uma ponte, ou ainda na frente de um carro!

- Pare, Noah. Não quero sequer imaginar você se matando. – Fez careta, mostrando sua insatisfação. Ele riu, tocando a ponta do nariz da outra com carinho – Estamos aqui, não estamos? Isso é o que importa. E eu quero que esqueça todo o sofrimento e pense apenas em nós... Em nosso amor! – Sorriu, unindo seus lábios em um selinho.

- Nem todo sofrimento pode ser esquecido, Elize.

- Pode ser substituído por paixão. O que acha? – Retrucou, desta vez distribuindo beijos por seu pescoço.

- O que acho? Acho que até mesmo meu sofrimento não consegue resistir a você! – Puxou com cuidado o queixo da outra, vendo-a sorrir em provocação.

- Então não resista. – Enlaçou seu pescoço, unindo de vez seus lábios.

Noah lembrou-se o quão bom era beija-la. Então tudo pareceu desaparecer: as estrelas, Brooklyn, o primo, Will, Natasha... Ao menos, claro, a enfermeira – essa fez questão de expulsa-lo do quarto alegando que a paciente precisava descansar. Elize riu da expressão feita pelo noivo. Ao menos agora ele tinha a certeza de que a teria nos braços, que ela seria só sua.

Agora, depois de tudo pelo que passaram, tinha a certeza de que não podiam – e não iam – mais se separar.


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Notas finais do capítulo

***Letra de Katharynny Gabriella
Um super abraço pessoal! Em breve, Claray e eu voltaremos com mais uma parceria, escrever com ela é como sempre uma honra para mim e estou muito animada com nosso novo projeto :D