Eu sentia como se algo estivese lentamente me puxando para cima, como se eu estivesse saindo de um lago ou algo assim.
Uma sensação estranha.
Percebi que estava acordando, e não sabia quantas horas havia dormido, a única coisa que consegui constatar é que já estava anoitecendo.

Me levantei imaginando se o modo como eu estava me sentindo era como estar bêbada.
Talvez fosse.
Liguei o computador e fiquei esperando para conseguir entrar no facebook.

Três mensagens, uma de Claire, outra de Annie e outra de Nick.

Abri primeiro a de Annie -ordem de importancia- e lá estava um belo lembrete sobre a lição de geografia.
Agora não tinha como dizer que eu não sabia da lição.

A próxima era de Claire, perguntando sobre uma prova, que aliás eu não sabia a matéria.
Já a de Nick era perguntando sobre a crônica que teríamos de escrever para a próxima aula de redação.

Simplesmente escrevi um belo e lindo "Se vira!" .

Sai do facebook -o melhor site do mundo, definitivamente- e deixei o computador ligado.

Quando estava indo para a cozinha ouvi um barulho muito alto, como se um furacão estivesse passando por ali.
Ou algo pior.

Voltei para o quarto correndo e com medo, peguei um taco de baseball, que era o mais próximo de uma arma que eu tinha ali e sai do quarto.

Tentei ir o mais silenciosamente possível para a cozinha, mas como a sorte não estava a meu favor, tropecei nos meus próprios pés e levei um tombo digno do Oscar.

Maldita falta de coordeação motora.

Me levantei, tentando manter a calma e não disparar para o quarto e me esconder debaixo da cama. Pode parecer estranho, mas eu sou extremamente medrosa.

Comecei a andar mais devagar ainda, indo em direção a cozinha, tremendo igual vara verde.

Parei na porta da cozinha, ouvindo alguns barulhos estranhos. Barulhos que fizeram com que eu tivesse um frio na barriga. Espiei la dentro e me surpreendi com a cozinha toda bagunçada, realmente parecia que um furacão havia passado ali.

Um furacão enorme. Gigantesco. Do tamanho de uma...

Bola de pelo?! Que bicho era aquele sentado em cima da mesa da cozinha, todo sujo de molho de tomate?

Parecia algo bem fofo, se não estivesse todo sujo e arrepiado.

Me aproximei lentamente, sem nunca desviar a atenção dos grandes olhos azui da criaturinha.

Vi duas orelhas pontudas. Pelo branco espetado na cauda...

Espera ai! Essa bichinho é um gato! E um gato bem fofo... Parece um filhote, aparentemente foi ele ou ela que fez essa bagunça.

Joguei o taco de baseball no chão e parei perto da mesa. O gato continuava me olhando.

O gato miou. Um miado alto e estridente. Se levantou e começou a andar na minha direção, pulando elegantemente da mesa para o chão. Veio até mim e começou a rodar em volta das minhas pernas com a cauda erguida. Será que isso queria dizer que ele gostara de mim?

Me abaixei e fiz carinho entre as orelhas do gato, que aliás agora eu percebi que era uma gata. Uma gata bem porquinha.

-Hm... Que bagunça você fez hein. Sabe que sou eu que vou ter que arrumar tudo isso?

Ela respondeu com um miado meio resmungado.

Ri disso. Eu percebi que ela estava ronronando, sempre achei que apenas gatos adultos ronronavam.

Peguei a bolinha de pelos com cuidado no colo e comentei:

-Você me lembra o gato da Prim, de Jogos Vorazes. Não sei porque, mas lembra.

Será que ela tinha dono? Eu realmente queria ficar com ela para mim, sempre quis ter um outro bichinho além dos três peixes que já tive. Minha mãe provavelmente vai gostar da idéia, já que foi criada em uma casa cheia de gatos.

Levei a gata para o banheiro, decidida a limpa-la. Tranquei-a ali e fui buscar uma toalha de rosto no meu quarto. Voltei para o banheiro e molhei a toalha. Dei um jeito de segurar a gata e a limpei, ganhando alguns arranhões.

Pronto. Ali estava uma nova gata. Uma gata limpa.

Levei-a para o meu quarto e ela foi direto para cima da minha cama. Folgada.

Peguei um livro qualquer e decidi ficar lendo até a hora que minha mãe chegassa.

O nome da gata já estava decidido. Buttercup. E eu iria ficar com ela de qualquer jeito.