Sequelas escrita por Nightstar


Capítulo 6
Maus Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui está outro capítulo(relativamente curto) após um longo tempo. Perdão pela demora, mas com as provas e imaginação limitada desses dias, eu quase não tive tempo para escrever... sem falar que penso seriamente em reforma-lo depois, pois acho que ficou meio obsoleto ¬¬

Enfim, boa leitura.



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O sol agora parecia começar a se esconder por trás do horizonte de Jump City, dando um toque mais alaranjado aos céus e destacando um certo edifício em forma de “T”. Foi um golpe de sorte para os titãs que nenhum outro ataque acontecera na cidade depois da HIVE. Isso acabou fazendo com que o resto do dia fosse livre para eles e até mesmo permitiu-os uma rápida partida de vôlei no terraço da grande torre.

 

Ravena, como sempre, não quis participar do jogo, posicionando-se próxima a borda do edifício e levitando a alguns palmos do chão. Seu mantra usual sendo murmurado através de seus lábios. Mas, fora ela, outra pessoa também não participava do pequeno divertimento. A diferença era que Nightstar permanecia rodeando a quadra com seu vôo numa velocidade nem muito lenta, nem muito rápida. Assim, em caso da bola ultrapassar as fronteiras do terraço, a capturava e jogava de volta aos times em uma questão de segundos.

 

Ao menos aquela simples tarefa lhe servia de consolo, já que, sem poder contar com um dos braços agora, sentia-se ligeiramente inutilizada. Odiava quando se feria em batalha. Pode se dizer que a jovem não era muito paciente quanto à cura e tampouco gostava de ser excluída das missões enquanto não alcançava total recuperação. Isso simplesmente porque adorava entrar em ação durante as batalhas, como um mero passatempo ou diversão, mesmo. Mas já que fora distanciada disso tudo, principalmente quando o vilão mais odiado de sua pessoa estava envolvido, o tédio que sentia era insuportável, fazendo-a não somente ficar irritada, mas também ter a sensação de ser uma fraca guerreira, que perdeu uma batalha contra o mesmo inimigo que outrora jurou deter... novamente.

 

Ao menos, na sua época natal, quando era afastada do grupo por ferimentos adquiridos em batalha, podia contar com os seus amigos da torre para distrair-lhe ou garantir divertimento enquanto a cura total não era alcançada. Mas agora que se encontrava presa no passado a fim de perseguir um criminoso, não tinha muitas opções além de ficar isolada naquela torre, com aqueles companheiros de certa forma conhecidos e ao mesmo tempo estranhos ao seu lado. Era uma situação complicada...

 

Bom, pensar nisso acabou fazendo-a recordar do momento em que sua vida foi transformada completamente pelas mãos de Vox. As imagens da dura batalha entre ele e os titãs se repetindo em sua mente de maneira clara e dolorosa, assim como os berros de agonia de seus pais pouco antes de caírem, inconscientes, no chão áspero do asfalto. Aquela era uma visão que a perturbava desde aquele dia, lembrando-a sempre do porquê ter aceitado a missão, do motivo de estar ali, naquela época, perseguindo um bandido cujo nome permanecia impresso na sua lista de odiados e talvez até desejados de morte. Alguém que a distanciou das pessoas mais importantes para si. Alguém que simplesmente arruinou todos os seus sonhos...

 

... alguém que tornou sua vida um completo inferno ...

 

“Nightstar!” Mutano exclamou, liberando-a de seu momentâneo devaneio, e logo o motivo do chamado fora revelado... da pior maneira. Em segundos, uma bola de vôlei acertou em cheio sua face, fazendo-a perder o controle sobre seus poderes em meio à confusão instantaneamente, provocando sua queda no terraço da torre.

 

Enquanto a bola parava em algum canto do jardim ao lado da torre, Nightstar acabou deitada na superfície de concreto do terraço com as costas viradas para o chão, soltando um rosnado de frustração com o que acabara de sofrer. Inacreditável como ultimamente só conseguira se envolver em acidentes...

 

“Cara, tá tudo bem?” O metamorfo se aproximou.

 

Sua vontade era gritar com o rapaz verde pelo que sofrera, mas foi inacreditável que conseguiu suprimir tal desejo. Então aceitou a mão que Mutano estendeu na sua direção como auxílio a se levantar enquanto os outros três jogadores se aproximavam também.“Acho que sim, já sofri coisas piores... muito piores.”

 

“Viu só, Mutano? Eu disse que não era boa idéia sacar a bola com força de gorila.” Ciborgue comentou, cruzando os braços e revirando os olhos. “Já cansamos de contar as vezes que você quase acertou a Ravena desse jeito, e agora você finalmente conseguiu acertar alguém.”

 

“Todos sabíamos que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, só não esperávamos que fosse com uma integrante nova.” Robin comentou. Nightstar por sua vez ergueu uma sobrancelha. Ele tinha mesmo dito aquilo?

 

“Integrante nova? Pensei que estivesse aqui só para a recuperação do meu braço.”

 

“Bom, você já me salvou e nos ajudou em batalha, então pode se considerar uma de nós enquanto ficar por aqui.”

 

Diante das palavras de Robin, Nightstar sorriu. Embora já fosse uma titã em seu tempo, era satisfatório saber que já tinha confiança do grupo. “Acho que isso não vai adiantar muito. Eu estou aqui enquanto meu braço não volta ao normal, então não terei muita utilidade no como titã nesse tempo.”

 

“Isso é o que veremos. Afinal, nunca se sabe.” Responde, cruzando os braços.

 

“De qualquer forma, sem ressentimentos pela bolada, certo?” Mutano recuperou o assunto original, encolhendo os ombros nervosamente e chamando mais uma vez a atenção da morena para sua face. Esta imediatamente sentiu outra memória surgir, a de Arthur. Era inevitável não pensar no velho amigo quando estivesse perto daquele titã transmorfo. Uma sensação estranha sempre a invadia quando via as grandes semelhanças entre ambos, como as atitudes e personalidades, e, conseqüentemente, isso se concluía num novo e levemente avermelhado tom em sua face.

 

Era num momento desse que desejaria ter seu capuz de volta. Odiava quando corava em frente às pessoas. Mas, por sorte, apenas um dos cinco titãs havia notado aquilo, e Ravena estava longe, realizando seu mantra no outro lado do terraço. Ela, mesmo não olhando para a adolescente naquele momento, se encontrando de costas aos demais, acabou abrindo um dos olhos na direção deles ao notar um novo sentimento naquela atmosfera. Era uma empata, afinal de contas, e podia detectar facilmente o leve rubor que tomara Nightstar e seu possível motivo, sendo o nível de nervosismo exalado pela nova hóspede bastante notável.

 

Percebeu também que, de alguma forma, aquela reação apenas se realizou pelo fraco contato que teve com Mutano. E tal pensamento fez com que uma estranha e desconfortável sensação florescesse dentro do peito da feiticeira. Algo novo para ela e que chegou a assustar um pouco, inclusive.

 

Conseqüentemente, quanto mais meditava sobre aquele assunto, mais forte e incômoda se tornava aquela... sensação. Então, para redimir esse sentimento intruso, Ravena acabou desviando o olhar dos dois adolescentes para a paisagem em frente e reiniciou a antes interrompida meditação, e essa ação foi curiosamente no mesmo instante em que um sonido discreto e agudo ecoou na garagem da torre.

 

“Claro” Nightstar continuou a conversa. “Afinal, como já mencionei, não foi nada grave. Você deveria estar mesmo é se preocupando em trazer a bola de volta...” Com isso, ela se virou na direção da porta das escadarias e deu alguns passos em sua direção.

 

“Como assim? Você não ia pegar como fez das outras vezes?”

 

Ela então parou e se voltou para ele mais uma vez. Um olhar mais sério cruzando-lhe a face. “Claro que não. A bolada pode ter sido inofensiva, mas ainda me deu dor de cabeça. E como o esperto que me acertou foi você, acho que chegou a sua vez de procurar a bola. Então... divirta-se.” Na última parte, ela adicionou um sorriso astuto e desceu as escadarias, deixando um Mutano para trás sendo fuzilado por olhares impacientes dos colegas de equipe.

 

“Que foi?” Sua resposta foi um conjunto de quatro mãos apontando os dedos para a região arborizada da ilha onde a Torre Titã fora construída, indicando o caminho por onde o metamorfo começaria. E, com um leve rosnado frustrado, o mais jovem tomou a forma de uma ave de rapina e se dirigiu ao local.

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21:45 da noite. Já tinha horas que a cidade fora coberta pela escuridão e pelo silêncio, e grande parte de seus moradores agora dormiam tranqüilos, o que incluía até mesmo os titãs. Mas, numa região mais deserta e sombria do lugar, em um pequeno armazém abandonado, a luz branca de uma lâmpada era emitida através das falhas e fendas das paredes de madeira já gastas, oscilando levemente enquanto uma figura se colocava ao lado da mesma, trabalhando.

 

Vox tinha em mãos um maçarico que há pouco se encontrava em um dos compartimentos de seu uniforme. Era um instrumento para emergências, apenas. Houve muitas vezes em que precisou dele para concertos rápidos na armadura dourada após uma batalha que a danificasse... e essa vez não foi uma exceção. Então ali estava ele, que, enquanto soldava uma pequena porção do estrago, murmurava também algumas maldições para a responsável por seu trabalho árduo atual.

 

Bom, Nightstar parecia saber o que estava fazendo quando atirou o membro robótico no vilão. Quando o objeto atravessou a esfera vermelha e a quebrou, isso acabou espalhando toda a energia armazenada ferozmente pelo traje, provocando um curto circuito e danificando muitos controles, e se não fosse por Vox estar usando uma roupa protetora por trás daquela estrutura metálica, ele acabaria sofrendo a descarga de mesmo modo. “Aquela garota ainda me paga...” Murmurou para si, terminando de soldar a primeira parte. Ainda lhe restava muito até que o uniforme voltasse a, no mínimo, funcionar. E sem um portal para o futuro, conseguir substituir as peças seria algo bem difícil de se fazer...

 

Deixando o maçarico de lado, optou por uma ferramenta não identificada que se encontrava em cima de uma mesa simples. Usou-a para retirar alguns fragmentos de vidro e metal dos circuitos. E enquanto o fazia, pensava em como conseguiria uma nova fonte de energia para o uniforme, afinal, a esfera anterior fora reduzida a uma mera pilha de estilhaços e pó, e a tecnologia que usou para fabrica-la não era muito encontrada nesse tempo. Provavelmente ali havia uma alguma fonte de energia semelhante, mas era desconhecida para ele e, como se não fosse o bastante, também tinha quase certeza que era bem protegida caso existisse. Proteção normalmente não seria um problema para ele, não antes de ser... impossibilitado daquela maneira.

 

Bom, agora não tinha muitas escolhas além de continuar escondido na escuridão, mas não permanentemente, é claro. Ficaria apenas até que seu uniforme estivesse suficientemente restaurado e ele tivesse um bom plano para cumprir sua missão. Só assim poderia não apenas voltar a agir, como também conseguir vingança contra a garota que esteve dando-lhe tantos problemas nos últimos dias.

 

Assim, encerrando seus esforços por um momento e respirando fundo, Vox finalmente olhou através das fendas na madeira velha das paredes e notou a escuridão. Até mesmo vilões se cansavam, e ele não era exceção. Então, guardando forças para o dia seguinte, se deitou num colchão velho situado no fim daquela sala e, cruzando os braços por trás da nuca, fitou o teto continuamente. Há pouco acabou chegando à conclusão de que esse trabalho duraria, no mínimo, algumas semanas, e ele tinha que planejar algo rapidamente para evitar erros como o que lhe ocorreu na batalha da HIVE. Afinal, ele nunca falhou numa missão antes, então faria de tudo para manter esse potencial cumprindo esta de mesmo modo.

 

Resumindo... a morte de Robin seria perfeita.

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Dor, mágoa, solidão... essas eram as sensações que uma garota de cabelos negros sofria enquanto ajoelhada no chão quente, observando quieta e intensamente as chamas que a rodeavam naquele cenário tenebroso. A fumaça negra lhe arrancava tosses roucas. O calor gerado no recinto feria cada vez mais seus olhos já vermelhos. E seu corpo inteiro latejava pelos cortes e por sua exaustão. Isso era sufocante, não só pelo fato de o fogo estar roubando o ar de seus pulmões, como pela insuportável sensação de ter falhado...

 

“A culpa é sua.” Aquela ecoava nas profundezas de sua já fraca consciência. Ela chegou a fechar os olhos para faze-la partir, mas foi em vão. A atitude só lhe serviu para derramar as lágrimas que não paravam de se acumular, e que rapidamente evaporavam diante da alta temperatura do local. Queria ter impedido aquilo, queria ter agido como uma verdadeira heroína faria, queria... queria ter obedecido às ordens que os titãs lhe deram... mas querer não melhorava sua situação. O que aconteceu agora era irreparável.

 

Ela abriu os olhos mais uma vez e levou mão ao rosto para limpar o filete de sangue que escorria de seus lábios. Mesmo que sua visão estivesse ligeiramente borrada e turbulenta, ainda era possível observar a sombra de um homem se formando em meio ao fogo logo à frente, ele segurava dois adultos pelos seus pescoços e ria com escárnio à medida que ambos lutavam para sair de sua posse, inutilmente. Ele não se importava com as labaredas se aproximando ou a escassez do oxigênio ao seu redor, apenas com a morte certa de suas vítimas. E seus olhos brilharam com satisfação eminente quando dirigiram sua atenção à jovem derrotada.

 

“A culpa é sua.” O subconsciente da garota repetia, fazendo outra lágrima escorrer e evaporar de seu rosto sujo. Sabia disso. Era um fato. Como conseqüência de suas ações, agora se encontrava no meio daquele inferno, observando em silêncio enquanto o vilão empunhava as pessoas mais queridas de sua vida como um troféu, deixando à mostra que falharam... assim como ela mesma.

 

“Acabou” O homem disse, e em uma questão de segundos, suas duas vítimas se contorciam e gritavam de agonia enquanto envolvidas pela descarga elétrica vermelha. A jovem tentou se mover, correr na direção dos três, mas, por um motivo estranho, seus membros não se moviam, como se algo ou alguém a segurasse fortemente. Sua garganta, seca pela fumaça negra, também encontrava dificuldades para vocalizar o grito aterrorizado que tentou liberar, emudecendo-a. Apenas seus olhos puderam então expressar seu pânico. As órbitas esverdeadas se estreitando com pavor.

 

Então, fechou os olhos, sentindo-se enfim engolida pelas chamas que há muito aguardavam por esse momento. Mas ao contrário do que se esperava, ela não sentiu dor, apenas um ar quente exalado pelas labaredas ferozes que tocavam sua pele. Decidiu abrir os olhos somente quando o calor foi substituído por um vento gélido quase insuportável, e percebeu o cenário havia dado lugar a... nada. Apenas escuridão. E ela até podia sentir uma densa camada de cinzas por baixo de seus joelhos.

 

Não tinha forças para se levantar, nem mesmo para pensar ou chorar, mas sabia o que aquilo significava. Era o cenário de seu fracasso, demonstrando o que havia restado como conseqüência de seus atos...

 

Nada além de escuridão, cinzas e solidão...

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“NÃO!!” Ravena levantou-se violentamente de seu sono profundo, trincando ou estilhaçando alguns objetos frágeis com seus poderes no processo. Sua respiração ofegante acompanhava o ritmo constante das gotas de suor que escorriam pela face pálida, os olhos violetas se mantinham fechados com o pânico que os invadiu, e as mãos se encontravam agarradas fortemente nos lençóis que a rodeavam. O que foi aquilo? Um pesadelo? Não. Era muito mais profundo que isso, era... diferente.

 

Pensando nisso, a adolescente levou uma das mãos trêmulas até a face, tentando ordenar sua mente e poderes enquanto um dos dedos acariciava gentilmente a jóia de sua fronte. Embora esse objetivo só tenha sido alcançado após alguns minutos – e a quebra de mais alguns objetos do quarto – Ravena teve, ao menos em uma baixa porcentagem, êxito em relaxar sua alma sobrecarregada, o que foi suficiente para faze-la capaz de raciocinar sobre o que, afinal, tinha acontecido naquele recinto obscuro a ponto de retirar todo o controle sobre si.

 

Para começar, lembrou da figura principal do suposto pesadelo. Aquela não era Ravena. Mesmo sendo difícil visualizar em meio às chamas e o cenário escurecido, os detalhes revelados pelos acontecimentos deixaram bem claro que não se tratava da titã empata. Então por que ter um sonho que não fosse ligado à sonhadora? Como isso poderia ser possível, também? Tudo era muito confuso. Nada fazia sentido para ela e era provável que até mesmo Robin teria problemas em solucionar tal enigma. Havia também outros personagens no cenário, claro, mas não passavam de meras sombras, sombras que se movimentavam no meio do clarão alaranjado do fogo e do negrume da fumaça densa. O que simplesmente complicava ainda mais a resolução de tudo aquilo...

 

Ela soltou um baixo resmungo de frustração, posicionando mais uma vez a mão, que agora não era mais trêmula, sobre sua fronte. Uma dor de cabeça começava a se desenvolver. Provavelmente devido a esse confuso pesadelo. Então, percebendo que não voltaria para a cama tão cedo, decidiu se levantar, mesmo que com dificuldade, da cama e pegar seu manto de um gancho numa das paredes, vestindo-o em seguida. “Preciso de um chá.” Murmurou  para si, digitando o código da porta ao lado e abrindo-a. Parecia que a única coisa capaz de colocar ordem em seus pensamentos era uma boa xícara de chá de ervas, como sempre, e talvez, se tivesse sorte, recuperaria sua noite de sono também.

 

Assim, lá estava ela, vagando pelos corredores escurecidos pela madrugada, observando calmamente enquanto passava pelas portas de cada colega de equipe, lendo silenciosamente os nomes gravados nestas. A visão obscura do lugar chegou a lembra-la do dia em que seus poderes se libertaram em forma de medo, quando Mutano resolveu assistir Medo Fatal 4, e toda a torre foi tomada pela escuridão. O cenário daquele momento não tinha muitas diferenças do atual. De fato, era idêntico, chegando a atemorizar ligeiramente qualquer alma que por lá passasse...

 

Mas não foi isso que fez Ravena parar de andar, ou segurar a cabeça com ambas as mãos por um curto período de tempo. Foi uma sensação estranha, como se uma forte onda a atingisse, penetrasse nas profundezas de sua mente e, com a mesma rapidez com que chegou, simplesmente desaparecesse, deixando como rastro uma mente atordoada.

 

A titã sabia do que se tratava aquela sensação. Era uma conseqüência de sua empatia. Havia simplesmente acabado de receber uma corrente de emoções de alguém, mas essa foi muito intensa, como quando Estelar estava de bom humor e ficava por perto. A diferença era que, ao invés de liberar sentimentos alegres, aquela corrente liberava dor, angústia e ódio. E quando Ravena finalmente encarou a porta de onde todas as emanações vinham, percebeu que esta não tinha um nome. Sendo assim, isso levava à única pessoa da torre que não estava dormindo num quarto oficial.

 

“Nightstar...” Murmurou, se aproximando e tocando a superfície lisa da porta com a ponta dos dedos. Pôde sentir a onda de sentimentos invadi-la mais uma vez, mas agora que estava preparada, isso não a afetou muito. O que realmente chamou-lhe a atenção foram os ruídos que vinham de dentro do dormitório. Pareciam murmúrios silenciosos, abafados pela porta e paredes. Algo estava errado.

 

Assim uma energia negra foi liberada rapidamente através dos dedos ainda recostados no móvel, tomando-o parcialmente e formando um círculo em movimento, como um redemoinho. Então, sem hesitar, a jovem sombria caminhou em direção do mesmo e atravessou-o, se encontrando dentro do dormitório temporário da heroína instantes depois, se deparando com mais uma forte corrente de sofrimento instantaneamente e uma visão que atormentaria qualquer um.

 

Logo em frente, na cama, a garota de cabelos negros se contorcia, murmurando palavras desconhecidas e com uma expressão aterrorizada no rosto, mesmo que com os olhos ainda fechados pelo seu profundo sono. Ela parecia sofrer diante do que via em sua mente...

 

Ravena, um pouco surpresa diante daquilo, resolveu acalma-la um pouco de seu pesadelo, se aproximando e estendendo a mão para tocar a fronte da adolescente. Mas quando o fez, chegou a soltar uma baixa exclamação pelo forte impacto causado pela mesma corrente, dessa vez unida às imagens do mau sonho e as dores imaginárias que Nightstar sofria. Era quase impossível manter a concentração diante das visões perturbadoras. A empata quase optou por desistir diante de uma experiência tão forte. “Azar, me ajude.” Sussurrou para si em tom quase inaudível, suportando a força com que aqueles sentimentos a atingiam, e assim, depois de alguns segundos dolorosos, a face de Nightstar relaxou um pouco, acompanhando seus movimentos, e ela finalmente se acalmou, se virando para o lado direito da cama e mergulhando num quieto e ainda mais profundo sono.

 

Ravena por sua vez observou-a. Ainda estava atordoada pelo que tinha acabado de passar, mas as visões que recebeu no processo ainda se mantinham vívidas e dolorosas, se repetindo continuamente em sua memória. E o mais curioso disso tudo era que esse pesadelo era o mesmo pelo que passou momentos atrás... espere... agora sim tudo fazia sentido. Nunca havia acontecido algo assim consigo antes, mas sabia o motivo de toda essa experiência. Devido à intensidade do mau sonho que Nightstar sofria, seus sentimentos foram recebidos pelos poderes empáticos de Ravena, levando consigo, automaticamente, as imagens que visualizava em sua cabeça. A titã simplesmente recebeu o pesadelo da outra...

 

Mesmo assim, aquilo não estava certo. Tinha algo... diferente sobre o sonho. Ele era profundo, real demais. Não. Aquilo definitivamente não poderia ser considerado apenas um sonho, era uma mistura disso com mais alguma coisa... talvez uma... memória... tornando-o ainda mais emotivo e, conseqüentemente, aumentando a capacidade de ser recebido pela empata. É, realmente faz sentido. Muitas vezes os pesadelos não passam de memórias distorcidas, sabe, com um toque de imaginação a partir de fortes correntes sentimentais.

 

“Mas, se foi uma memória...” Ravena raciocinava enquanto saía do quarto com seu portal. Lembrava que os titãs haviam sido mencionados em meio àquelas visões, mas o que Nightstar poderia ter tido com relação aos titãs anteriormente se somente os conheceu há cerca de dois ou três dias? Ou ainda, pelo que entendeu das imagens, duas pessoas foram mortas, então como os titãs teriam ligação com aquelas mortes na vida da adolescente?

 

Era algo intrigante e cujo sentido aparentava não existir. Bom, parecia que a nova hóspede tinha seus segredos. “Essa garota... ela está escondendo algo. Algo não muito bom.” Com essa conclusão, decidiu deixar o resto para o dia seguinte. Agora que havia descoberto a origem de seu sono atormentado e eliminado-a, poderia enfim adormecer uma segunda vez sem interrupções. O chá poderia esperar até o café da manhã...

 

Mesmo assim, enquanto se dirigia ao seu tenebroso quarto, não podia parar de pensar naquilo. A última vez que recebeu correntes fortes de sentimentos ao ponto de levar visões consigo, foi quando Terra passou correndo por si na Sala Comum após divulgar o seu retorno aos titãs. O que lhe deu a mesma sensação de alguém estar escondendo algo... algo grande... e isso definitivamente não era bom...

 

... não mesmo...


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