Durante toda a tarde, até a hora da cirurgia, se passou entre Alex e Alicia fazendo perguntas para Eric sobre a vida dele, minha mãe dando algumas alfinetadas depois de algumas respostas de Eric, e eu observando e tentando gravar o máximo de tudo que acontecia ali.

Tyler chegou cerca uma hora depois de minha mãe, e então fomos almoçar num restaurante perto do hospital.

Mesmo depois de voltarmos ao quarto, a conversa girou praticamente em torno de Ali e Alex mesmo, já que Eric ficou curioso sobre varias coisas em relação aos pequenos.

Tivemos que deixar Eric dormir, cerca das seis horas da noite, já que ele tinha que tomar a anestesia duas horas antes da cirurgia, que ocorreria ás dez horas daquela mesma noite, e tinha que estar descansado antes de toma-la.

Quando ele acordou, por volta das oito, passamos o resto do tempo até a cirurgia conversando, eu, minha mãe, e Tyler fizemos companhia a ele. Os gêmeos acabaram dormindo.

E agora estamos todos aqui, aflitos esperando o termino da cirurgia, que já está ocorrendo a uma hora e meia.

–Você acha que ele vai...você sabe ? – perguntei a minha mãe

–Não sei, Ane. Eu perguntei ao medico quais eram as chances dele aguentar a cirurgia, e pelo que me falou, acho que são poucas as chances de sobrevivência- falou me olhando com um leve sorriso triste no rosto.

Continuei andando de um lado a outro da sala, até sentir alguém me puxando me fazendo sentar em um das poltronas.

–Se você levantar dai, mais uma vez, juro que te levo para casa antes dessa cirurgia acabar- Tyler falou sentado ao meu lado, e me segurando pelos ombros.

Bufei e tentei me levantar mais uma vez, só que diferente das outras ele me puxou novamente, e jogou uma de suas pernas por cima da minha.

–HEI !- exclamei o olhando

–Ei nada, você vai cavar um buraco no chão se continuar andando de um lado pra outro assim.-respondeu

–Eu estou nervosa, tá legal ? Ou você queria que eu ficasse simplesmente normal, sabendo que meu pai pode sair morto daquela sala ?- falei irritada

–Só estou pedindo que você se acalme- falou normalmente

–Me acalmar ?- dei uma risada seca- Você por acaso sabe o que eu estou sentindo pra querer que eu me acalme ? Eu posso perder o meu pai- gritei irritada

– E eu já perdi a minha mãe, tá bom ? Antes mesmo de conhece-la –gritou se levantando –Então se quiser bancar a idiota e ficar ai querendo resolver uma coisa que você não pode impedir, fique, más não venha chorar no meu ombro depois.

Falou e saiu rapidamente da sala, em direção a saída.

Abri e fechei minha boca umas três vezes antes de perceber a burrada que tinha feito

–Droga –falei me levantando e saindo atrás dele

Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa com os pais dele, só não sabia que algum deles tinha morrido.

Ele nunca me falou exatamente o que tinha acontecido, já que toda vez que eu tocava no assunto sobre seus pais, ou ele se irritava, ou simplesmente mudava de assunto. Então passei a evitar que a conversa chegasse a esse ponto.

Procurei pelo estacionamento na frente do hospital e nada. A moto ainda estava lá, então ele tinha saído a pé, péssimo sinal, já que estava chovendo muito.

Fui andando pela rua, até ouvir um estrondo de algo quebrando, num beco próximo dali.

Devagar cheguei próximo, e observei Tyler chutar uma lata de lixo do beco, causando outro estrondo que me fez pular de susto.

Fiquei o olhando até a hora em que ele parou, e quando achei que iria chutar mais uma lata, ele simplesmente se sentou no chão, apoiado na parede ele jogou a cabeça pra trás e fechou os olhos.

Fui andando até ele, mais parei quando ouvi um soluço.

Quando me aproximei mais, e me abaixei do seu lado, foi que vi realmente o que estava acontecendo.
Junto com as gotas da chuva, as lágrimas desciam livremente pelo seu rosto.

Passei a mão pelo seu rosto, e me sentei no seu colo, o abraçando.

E foi assim que fiquei durante os próximo minutos, o abraçando e ouvindo-o chorar.

–Shii... vai ficar tudo bem- falei passando as mãos pelo seu cabelo, e levantando seu rosto de meu pescoço- D-desculpa o que eu falei, tá legal. Eu... eu só não sabia- sussurrei

Ele só me abraçou apertado, e aquilo foi a resposta que eu precisava.

Continuamos daquele jeito por mais um tempo, até ver que aos poucos ele foi parando de chorar.

Quando levantou o rosto pra me olhar, vi como seus olhos estavam vermelhos, e tristes. Aquilo simplesmente me quebrou por dentro.

–Porque você não me falou nada ?- perguntei baixinho

–Para evitar isso- falou se referindo ao choro- Eu só não sei como evitar que isso aconteça.

Fiquei o olhando, e limpando alguns rastros de lágrimas no seu rosto.

–Você quer falar agora ? –perguntei

–Ela morreu durante o meu parto- falou suspirando- E ver você daquele jeito, tentando evitar um coisa da qual você não tem controle, me lembrou da minha culpa.

–Culpa ? –perguntei sem entender

–É, se não fosse por mim, ela estaria viva- falou suspirando

–Ei, não é sua culpa- falei levantando seu rosto –Você acha que ela gostaria de saber que você se culpa pela morte dela ?

–Mas se não fosse por mim ela...- o interrompi

–Tyler, onde quer que ela esteja, ela está feliz. –falei sorrindo –Ela está feliz de ter partido, mas deixando um cara tão bom na terra, de ter deixado um pedaço dela aqui. Ela só não ficaria feliz de te ver assim. Tudo o que ela deixou de viver, pode ter certeza que valeu a pena quando ela se lembra de quem ela deixou aqui.

Ele ficou me olhando, e aos poucos foi abrindo um sorriso

–Você é quem tá precisando de ajuda e eu quem to aqui chorando- falou me abraçando mais forte.

–Eu tô aqui pra isso, e outra, tudo o que eu falei serviu para eu perceber que não tem como evitar que algo aconteça ao Eric, e que se até ele falou que está preparado para qualquer coisa, eu não posso ficar me corroendo com isso.

–Ah, desculpa o que eu falei lá dentro, tá legal. Se você precisar de mim pra qualquer coisa, eu vou estar aqui.- me olhou

–Eu sei –falei sorrindo –Isso inclui ir me comprar remédio pra gripe, e me aguentar toda manhosa doente ?- perguntei, fazendo-o dar risada

–Na saúde, e na doença- falou sorrindo e me dando um selinho.

Sorri, e olhei meu relógio, observando que faltava pouco para meia-noite. Ele acompanhou meu olhar, e depois me olhou sorrindo.

Então juntos, antes que passasse da data, falamos....

–Feliz seis meses de namoro !

Sorri, e depois de me beijar, ele logo levantou me puxando junto.

Fomos andando de volta para o hospital, conversando e rindo de alguns comentários bobos.

Antes de irmos para sala onde estava minha mãe, passamos na lanchonete, peguei um café pra mim, e logo fomos pra sala.

Quando cheguei a primeira coisa que notei foi o olhar triste da minha mãe, e a expressão no rosto do medico.

E aquilo foi o suficiente para eu perceber que o que tanto tinha medo aconteceu.

–Meu pai morreu –quando falei, não foi uma pergunta, más mesmo assim minha mãe acenou afirmativamente com a cabeça.

E foi sentindo braços me segurarem que toda a luz se apagou.