Por algum motivo, ao vê-lo me encarando daquele jeito a minha vontade de chorar aumentou, mas não era mais por causa do filme. Era porque... Bom, eu não sabia. Só sabia que queria sair dali, e foi isso que fiz. Sai correndo, e fui direto pro quarto da Laura, sentei no chão, apoiando as costas na cama, coloquei as mãos sobre o rosto e comecei a chorar. Logo, ouvi passos no corredor, tentei me recuperar, mas ao ver quem era, foi impossível.

- Laura me pediu pra vir aqui falar com você. – Por quê ela pediu isso? Minha vontade era de perguntar, mas não falei nada. Não queria falar com ele, só queria que ele sumisse. – Que foi, quebrou uma unha? – Perguntou rindo.

- Por favor, saí daqui Pedro.

- Foi só uma pergunta. – Deu de ombros.

- Deus, o que quer que eu tenha feito em outras vidas para merecer isso... Já tá feito, já me castigou só por conhecer esse menino. Por favor, Deus, tenha piedade de mim.

- Você tá louca? – Ele disse dando uma gargalhada. Observei enquanto ele ria, seu sorriso era lindo. Não, é horrível. Me repreendi em pensamento. Mais uma vez não o respondi. – Dá pra parar de fingir que eu não tô aqui? – Perguntou visivelmente irritado.

- Dá, é só você sair daqui que eu não vou ter que fingir mais.

- Engraçadinha, mas eu não vou.

- Por que não? Já não tá vendo que eu tô mal, isso não é o suficiente pra você? Quer ficar aqui sendo chato comigo para que eu fique ainda pior? Que tipo de monstro você é? – Falei automaticamente, mas no mesmo instante me arrependi. Que droga, Beatriz, você demonstrou sua fraqueza pra ele. E isso era tudo que eu não queria que ele soubesse. Que sou fraca, que as pessoas conseguem me atingir fácil... Não todo mundo, mas ele sim. E eu não conseguia entender o porquê. Olhei para ele ao notar que ainda não tinha me respondido, e sua expressão era de quem estava pensando no que ia dizer.

- Eu não sou um monstro.– Disse finalmente, parecendo abalado consigo mesmo.

- Mas parece.

- Você também.

- O quê? – Me levantei com raiva, já não chorando mais e ficando de frente pra ele. 

- Quando "o quê" você já disse hoje? – Ele disse rindo e imitando minha voz, enquanto estávamos muito próximos.

- Eu te odeio. 

- Ódio é uma palavra muito forte...

- Ha-ha-ha! Já ouvi isso.

- Mas eu também te odeio. – Disse dando mais um passo a frente, e segurando meu braço direito. Nossas respirações se confundiam, e eu estava ofegante, nervosa com a proximidade, dei um passo atrás, mas ele me puxou de volta. – Desde o primeiro dia que te vi. Odeio sua voz, seu sorriso, seu cabelo, o som da sua risada, odeio como é sensível, odeio como sabe me provocar e ser irritante, odeio estar perto de você, odeio ver você chorar, odeio seus olhos e odeio como você é baixinha, odeio você como jamais odiei alguém em toda minha vida. – Disse a última frase quase que sussurrando, e nossas testas estavam encostadas uma na outra. Eu estava quase hipnotizada pelos seus olhos, mas então dei um passo atrás, dessa vez ele não fez nada para impedir.

- Eu odeio como você é grosso e estúpido, odeio esse seu cabelo bagunçado que mais parece um ninho, odeio sua voz e o seu cheiro, odeio estar perto de você, odeio como você é insensível, odeio seu sorriso, odeio sua ironia, odeio... Não preciso nem continuar, eu odeio tudo em você. – Virei de costas pra ele assim que senti que as lágrimas queimava meus olhos outra vez, limpei-as rapidamente e me forcei a ser pelo menos um pouco mais forte. Virei de frente para ele outra vez, encarando. – E além de te odiar, não te entendo. 

- Tô nem aí. – Ele disse e se virou, saindo do quarto e me deixando sozinha. Devo ter tido uma ilusão ou algo do tipo, mas posso jurar que vi uma expressão de tristeza em seu rosto.