Forever & Ever escrita por soulsbee


Capítulo 33
Fantasmas


Notas iniciais do capítulo

Agora nós podemos te acompanhar até sua casa, mas nós não vamos
Era isso o que você estava esperando? Só para ficar sozinho?
Leva algum tempo para te esquecer e está na cara
Porque tudo o que nós sabemos está se esvaindo
Lembre-se, porque eu sei que nós não vamos esquecer nada
— Notas finais -



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Normalmente, não me recordava direito das minhas alucinações após acordar, mesmo quando interagia como se ainda estivesse nela. Como foi no caso daquela alucinação – ou melhor, dizendo, “previsão” do futuro enviada pelo Maddox - de 2038, entretanto, não me recordava muito bem de como ela havia sido até agora.

Aquele homem lá em cima era o Robert que eu conheci quando vi meu futuro e o garotinho era o Ian... O nosso filho. Era estranho pensar desse jeito, mais estranho ainda era pegar meus óvulos para isso. Fiquei tanto tempo em coma que seria praticamente impossível usa-los, mas, como Robert disse, a tecnologia estava muito avançada e eles deram um jeito nisso.

Caso a parte, eu estava então presa em um tempo incrivelmente confuso. Era como se eu estivesse vivendo 2038 em outra parte, mas, ao invés de estar como corpo de uma mulher de quarenta anos, eu ainda tinha dezessete. Será que tudo isso era uma visão? Será que eu estou dormindo e Maddox está me mostrando tudo o que iria acontecer se eu confrontasse Violet? Mas é impossível!

Tentando recapitular todas as poucas lembranças que tinha, sabia que Robert estava com dezessete anos também e estava me mantendo presa ali. Ele era o vilão que sempre tentei descobrir, mas também tinha ele com mais de quarenta ali em cima... Então, eu não estava vivendo apenas um tempo, mas sim dois, logo, isso não poderia ser uma visão do futuro.

Estava no térreo e não existia mais ninguém ali, todos já deveriam ter ido para seus respectivos quartos e eu era a única que estava para fora. Tentando evitar os olhares de qualquer segurança, pois eles poderiam me amarrar ou me sedar ao me ver ali, caminhei sorrateiramente e meio agachada usando algumas sombras a meu favor.

Estava quase chegando ao meu quarto quando um segurança apareceu na ponta do corredor, falando alto em seu radio e não me surpreenderia que ele estivesse falando de mim. Escondi-me entre a parede e um vaso grande com uma palmeira plantada ali, parando de respirar evitando qualquer tipo de ruído.

Ele passou ao meu lado sem nem notar minha presença ali. Assim que o vi dobrar o corredor pelo qual havia vindo, segui rapidamente até o meu quarto que ficava a poucos metros dali.

– Olha só quem resolveu aparecer – Robert disse assim que surgi no quarto. Ele estava de braços cruzados, encostado ao lado do batente da porta com um olhar sério.

– Perdi a noção do tempo – Dei de ombros.

– Uhum... Sabe, já estava mandando todo mundo ir atrás de você. – Ele se moveu para frente, saindo da sombra, projetando seu rosto pálido e sombrio diante do meu. – Você sempre da um jeito de fugir... – Assenti com um sorriso. Ele estava certo, eu sempre dava um jeito. – Pena que você não teria a ajuda do Jared para fazer isso, dessa vez.

– Quem sabe? Talvez ele apareça do nada como meu herói – Provoquei-o com um sorriso torto.

– A menos que ele vire um zumbi, acho difícil – Revidou com o sorriso que, há poucos segundos, eu ostentava.

– Como assim? – Indaguei sentindo um frio na barriga.

– Ele morreu – Respondeu friamente, mas contente por dentro. Isso era evidente, ele nunca gostou de Jared.

– Você está blefando – Tentei parecer indiferente, mas estava assustada, e se fosse verdade?

– Não, para a minha felicidade, não estou blefando. Dei um jeitinho nele com alguns remédios que encontrei aqui... – Ele me rondava, forçando-me a me afastar e ficar presa entre ele e a cama atrás de mim – A dose certa e você dorme, mas se você colocar um pouquinho a mais... – Ele sussurrou em meu ouvido. Outra hora, adoraria tê-lo perto de mim. Agora, parecia sentir repulsa dele. – E ele dorme para sempre.

Você não fez isso... – Rosnei fechando minhas mãos em fortes punhos. Meu corpo estremecia de fúria e medo. Ele não podia estar dizendo a verdade, ele tinha que estar mentindo... Eu não iria suportar perder os únicos amigos que tinha...

– Ah, eu estou blefando mesmo – Afastou-se de mim rindo alto. Sua gargalhada era contagiante e eu sentia vontade de rir com ele, mas no momento atual, isso estava fora de cogitação.

– Idiota – Reclamei encarando o chão, sentindo minhas unhas cortarem minha pele.

– É claro que eu estava falando sério – Revirou os olhos – Você não tem mais senso de humor não? – Indagou me fitando sério. – Ele ficou se contorcendo no chão, com uma dose letal de calmante.

– Você não... – Algumas lágrimas se formaram ao redor dos meus olhos. Segurei-as com todas as forças que tinha, não demonstraria fraqueza para Robert. – Maldito – Soquei seu peito várias vezes, imersa em uma fúria mortal.

Robert foi para trás segurando minhas mãos, mas meu ódio era tanto que nem cinco pessoas seriam capazes de me conter. Libertei minhas mãos acertando-o mais algumas vezes antes de me atingir em cheio com um soco incrivelmente forte no rosto.

Não doeu tanto quanto pareceu, nem tanto quanto senti, porém, meu corpo perdeu o equilíbrio, caindo contra o chão frio e branco daquele cômodo. O som pareceu de ossos quebrando em vários pedaços. Meu rosto tocou a superfície gélida segundos depois de todo o resto. Meus olhos estavam abertos e eu podia ver os pés de Robert parados a minha frente. Ele dizia coisas que eu não entendia e não tinha a menor vontade de compreender.

Uma escuridão conhecida tomou conta da minha visão, carregando-me lentamente a um outro mundo. Tudo rodava e minha visão estava sumindo gradativamente. Pude sentir gosto de sangue em meus lábios, talvez, estivessem escorrendo do meu nariz. Não sabia ao certo, pois toda a região atingida pareceu ficar amortecida.

Aquilo não era o suficiente para me derrubar, eu poderia levantar e resistir ainda mais. O tanto que fosse necessário. Entretanto, estava exausta fisicamente e mentalmente. Sabia que seria em vão toda a briga e que o único descanso que teria seria esse.

Rendi-me as trevas, não porque elas me consumiram como nas outras vezes, carregando-me a um mundo totalmente sombrio, mas sim porque elas estavam trazendo a paz para mim.

Era totalmente irônico ver seu pesadelo se tornar seu refugio. Mas essa é a vida. Ela nos enlouquece e cria monstros assustadores dentro de nossas mentes. Depois, nos coloca contra eles em uma batalha insana. Para, no final, nos mostrar que eles nem sempre são tão ruins, mas a maneira como o vemos os tornam assim. A vida se baseia na perspectiva onde você escolhe a maneira que irá vê-la.

– Essa cena é tão clichê... – Ouvi uma voz no fundo de minha mente sussurrar isso. Sim, com certeza é clichê. Pensei de volta. – Mas agora é um pouco diferente das outras vezes... – Era uma voz familiar e que eu conhecia muito bem.

Sentei-me no chão, de pernas cruzadas, balançando as pernas de um lado ao outro, impaciente, fitando-o a sala negra em que estava iluminada apenas por uma espécie de luz natural, logo acima da minha cabeça, como se fosse à lua.

– O que é diferente? – Indaguei para o vazio ao meu redor, olhando para todos os lados, tentando encontrar o dono daquela voz.

– Agora você sabe a verdade... – Ele suspirou profundamente ao terminar a frase.

Um corpo alto e esguio surgiu em meio às sombras, expondo-se pouco sob aquela luz que iluminava uma pequena região a minha volta. Ele vestia roupas brancas e largas. Uma camiseta de gola v de mangas compridas e uma calça de moletom que parecia arrastar no chão.

– A verdade de que você está morto...? – A ultima palavra soou como se me cortasse em milhões de pedaços. Era inacreditável aceitar que Robert havia matado Jared de uma maneira tão fria... Era inacreditável que as duas pessoas em que confiava não existiam mais.

– Me perdoe Hayley... Eu não podia te contar a verdade... – Jared saiu das sombras revelando seu rosto pálido e sem reação.

Seus cabelos não estavam da maneira desgrenhada de sempre, eles estavam baixos, com sua franja cobrindo parte de seus lindos olhos azuis, os quais sempre refletiram o interior de sua alma, agora, dando lugar a algo sem o menor resquício de sentimento.

– Vocês nunca podem contar a verdade... – Resmunguei. – Há quanto tempo você esta... Assim?

– Há muito tempo... – Disse sentando-se ao meu lado. – Quando você me reencontrou na praia... Eu... Já estava morto... – Ele tocou minha bochecha com as pontas de seus dedos gélidos, afastando algumas mexas de cabelo dos meus olhos.

– Como você me ajudou a fugir do hospital? – Ele já estava morto naquela época, pelo o que parecia, então como ele conseguiu fazer tudo aquilo? Como?!

– Eu desenvolvi alguns “poderes” que me possibilitaram fazer tudo aquilo, mas você fez a maior parte... – Ele explicava pausadamente e com muita calma, levando-me a acreditar que ele vinha treinando aquilo há algum tempo. – Mas foi você quem fez tudo por conta própria... Foi você quem dirigiu aquele carro para longe da cidade...

– Jared, eu te vi ali dirigindo! Eu te senti me pegando no colo e me levando pra longe! O Robert te via e a Violet também! – Disse apressadamente, pegando todos os pontos em que revelavam sua existência. Aquilo era uma paranoia, precisava acreditar que não era real e que tudo o que estava acontecendo era só minha mente confundindo todas as lembranças.

– Eles escondem mais do que você imagina... – Jared disse fitando-me no fundo dos olhos. – Tenha cuidado, porque nada ainda foi revelado com certeza... – Sussurrou baixo em meu ouvido.

Seu toque pareceu tão real, tão vivo e caloroso, mesmo seu corpo estando tão gélido quanto o de um cadáver. Aquilo era surreal.

– Quando eu desapareci... – Retornou a falar depois de algum tempo. – Estava procurando um jeito de ir direto para luz ou qualquer outra coisa – Revirou os olhos e prosseguiu – Mas ouvi dizer que espíritos não descansam enquanto possuem assuntos pendentes... Então juntei forças o suficiente para reaparecer para você completo, não como aqueles espíritos fajutos que você vê, só com algumas partes, sabe? – Perguntou rindo baixinho arrancando-me um sorriso fraco.

–Deixa aquelas pobres almas em paz – Ri bagunçando seu cabelo, arrepiando sua franja da maneira como ele sempre usava.

Minhas mãos quentes contrastaram drasticamente contra sua pele, criando uma sensação tão diferente das outras que já havia sentido. Seus olhos azuis encararam os meus por um longo momento interminável, como se ele revirasse todos os cantos da minha alma, em busca de algum sentimento enterrado e claro, ele encontraria se soubesse qual caminho seguir. Jared, eu nunca te esqueci da maneira como queria...

Ele sorriu torto, como se tivesse entendido o que havia pensado e afagou meu rosto com as costas de sua mão direita, puxando-me para seu peito, abraçando-me carinhosamente. Meu corpo estava aninhado no seu. Várias lágrimas se formaram ao redor do meu rosto contendo todas as minhas mágoas e dores.

– Enfim, eu voltei e tentei agir o mais natural possível. Precisava te ajudar a descobrir as verdades... Mas eu perdia minhas forças depois de muito tempo projetado em um corpo humano. – Ele fez uma careta de dor com a lembrança. – Era uma dor insuportável, mas necessária.

– Está doendo agora...? – Minha cabeça estava encostada em seu peito, no lugar onde um dia já ouvi as batidas desreguladas de seu coração.

– Não, agora eu posso ser apenas uma alma na mente de uma lunática – Respondeu rindo. Revirei os olhos mordendo meu lábio inferior.

– Mesmo assim... Você é tão real para mim... Mesmo que você reunisse todas as suas forças, minhas mãos deveriam atravessar seu corpo... – Murmurei.

– Hayley, você tem um poder incrível e a guerra ainda não acabou... – Ele tocou meu queixo, levantando meu rosto, fazendo-me olha-lo. Sua expressão era a mais séria que já havia visto em toda a minha vida. – Encontre a saída do seu pesadelo se quiser saber toda a verdade... – Sussurrou beijando delicadamente minha testa, dando-me um ultimo e forte abraço antes de partir para sempre.


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Notas finais do capítulo

Com uma musica do Paramore abrindo as notas do capitulo ali em cima, para variar um pouco, vocês foram levados a um dos ápices mais surpreendentes de Forever & Ever.
Espero que tenham gostado e chorado um pouquinho e tenham me perdoado pela demora insuportavel, porém, tenho uma surpresa maravilhosa que irá alegrar a todos que acompanham essa história desde o começo.
Aguardem, pois breve irei revelar meus planos.



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