Imprinting (capítulo Excluído De Aurora Boreal) escrita por Mr Ferazza


Capítulo 1
Capítulo Único - FINALMENTE, TUDO FAZ SENTIDO.


Notas iniciais do capítulo

Espero que alguém leia esse capítulo excluído de Aurora Boreal.



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Seth e eu andávamos pelas areias escuras e cheias de pedras de La Push. Um típico dia tedioso e sem nada para fazer. Depois que Jake nos designara para ficar com Sam, meus dias passaram a ser assim. Sempre um tédio mortal. Como não havia nada para fazer nas terras dos sanguessugas, Jake havia pensado que seríamos mais úteis com Sam do que com ele. Por mim tudo bem, já que não tinha de obedecer a ordens de Sam. Eu nunca mudava de forma quando estava em La Push. É claro que eu sabia muito bem que não precisava compartilhar meus pensamentos com Sam, mas não ficava mais à vontade ali. Para falar a verdade, agora que havia deixado, há muito, La Push para trás, não estava confortável.

E, sim, eu preferiria passar todo o meu tempo sentindo o fedor dos sanguessugas do que sentindo a piedade forçada de Sam com relação a mim. Queria estar longe dali. Queria, se possível, deixar para trás essa praia, deixar para trás a península de Olympic. Quem sabe até o estado de Washington. Talvez minha vida fizesse mais sentido em outro lugar. Talvez minha amargura e total torpor com reação às outras pessoas e seus dramas pessoais desaparecessem se eu saísse daqui. Talvez.

Talvez.

Minha vida era cercada dessa palavra. Se também funcionava. Se eu não fosse a lobisomem mulher que tinha um ex-namorado imprinted com sua prima e melhor amiga, eu poderia ter uma vida quase normal. No entanto, mais do que tudo aquilo, eu odiava sentir que Sam tinha pena de minha situação. A pena era um dos sentimentos mais miseráveis que existiam. Talvez até a inveja fosse melhor. Se você inveja alguém, sua mente fica obcecada com aquele sentimento e, consequentemente, não resta espaço para sentir pena.

Enquanto minha mente viajava por essa linha de pensamento, outra começou a se esgueirar para dentro de meu cérebro, entrando pelos cantos. Depois de algum tempo, aquilo era tudo em que eu podia pensar. Era menos dolorosa, mas também era infinitamente mais idiota do que ficar presa em minha morbidez.

A ideia de ter imprinting já era minha conhecida há muito tempo. Desde antes de... Bom, desde que me transformei pela primeira vez. Sabia que tudo aquilo acabaria se tivesse imprinting com alguém. E então, desde muito tempo, aquele era meu único desejo na vida.

— O que foi, Leah? — perguntou-me Seth. É claro que ele não poderia fazer o favor de calar a boca por mais e três minutos consecutivos.

— Nada — menti. Ela sabia o que estava havendo. Apesar de falar pelos cotovelos, Seth sabia muito bem interpretar as expressões das pessoas e era muito detalhista.

Continuei andando pela praia ao lado de meu irmão irritante. Seth tinha as mãos nos bolsos do short esfarrapado e olhava para baixo. Andando devagar, às vezes chutava um pouco da areia molhada para frente. Se houvesse um vento mais forte e a areia estivesse seca, ela voltaria em seus olhos. E eu me divertiria um pouco. Pra variar um pouco.

— Eu sei que é mentira e você sabe que é mentira, Leah. Estava pensando em Sam de novo, não é? — ele perguntou. Por que ele não calava a boca?

— Cuide de sua vida, maninho — disse.

— É o que eu estou fazendo. Você é minha irmã e faz parte dela.

Eu tinha de admitir que Seth tinha, às vezes, o dom de retirar, praticamente com a mão, as palavras nada amistosas que estavam na ponta de minha língua. Era por esse motivo que eu não conseguia ir embora. Se tudo o mais deixasse de importar, eu tinha certeza que minha família ainda importava. Mais do que tudo. Quero dizer... Jake era um bom alfa e se tornara um amigo melhor do que minha capacidade de compreender aquilo. Mas não era tudo. Era algo dispensável e eu poderia conviver sem aquilo se tivesse minha família.

E então, em vez de xingar Seth e mandá-lo calar a boca, eu simplesmente assenti. Sem dizer mais nenhuma palavra, continuamos andando pela praia e contemplando o horizonte cinzento e sem graça. Os troncos de árvores esbranquiçados e retorcidos davam um ar mais ridículo a toda aquela praia. Que tipo de praia teria troncos caídos e, ainda por cima, um mar cinzento? Um Sol que se escondia atrás das nuvens todas as horas do dia? Em sã consciência, somente sanguessugas escolheriam morar num lugar melancólico como esse. Naquele exato momento, o clima parecia combinar perfeitamente com meu humor, também.

Eu andei mais um pouco e me sentei em um tronco tombado e perfeitamente branco. Não me parecia familiar, mas parecia que alguém costumava sentar-se ali. A parte que encostava-se à areia escura era coberta com uma camada de musgo verde e úmido. Mais para cima, no tronco redondo, algumas palavras, datas, iniciais e até desenhos estavam gravados na madeira — provavelmente alguém ocioso com uma pedra afiada e uma tremenda habilidade manual.

Seth sentou-se ao meu lado, no chão. O short velho sobre a areia molhada. Movendo o corpo para poder enxergar melhor as gravações na madeira, ele examinou e tocou os desenhos e palavras.

— O que você acha que significa o JB? — perguntou-me ele.

Caramba! Seth, às vezes, era mesmo meio lento.

— Talvez Justin Bieber — eu disse com sarcasmo e depois revirei os olhos diante de sua pergunta idiota.

— Jacob Black — ele concluiu com um sussurro. — Ei, olhe, Leah... O que acha que significa BS... Ah, deixe para lá.

Seth continuava tagarelando sobre os desenhos e letras gravados no tronco. Eu prestava atenção parcialmente. Minha mente vagava por outros lugares e situações.

O vento, que soprava lateralmente até aquele momento, mudou de direção, vindo de trás de mim. Senti meus músculos enrijecerem quando o cheiro doce e enjoativo machucou meu nariz. Vi Seth retesando os músculos das costas quando o cheiro o atingiu também.

Impossível. Nenhum vampiro podia entrar em nossas terras e eles sabiam disso tanto quanto nós. Levei um segundo para perceber o que Seth já havia deduzido — Sua postura mudou e parecia que ele puxava o calor do centro de seu corpo, invocando a mágica da transformação. Percebendo que estávamos em um local público (possivelmente com um monte de testemunhas nos vendo), ele relaxou a postura. Ainda atento, ele farejou o ar enquanto eu levava algum tempo para perceber que não era nenhum vampiro da família Cullen. Era um desconhecido. Ainda assim, isso não atenuava sua culpa; era por causa deles que outros parasitas chagavam até aqui.

Quase automaticamente eu entrei em pânico. Estávamos em “campo aberto” e não havia jeito de Seth e eu nos transformarmos para poder defender nossas terras. Fiquei em pé com um salto. Já em postura de ataque, virei-me para a direção do cheiro.

Um cheiro que, agora, eu podia sentir melhor — meu nariz estava voltado contra o vento e eu podia separar cada partícula do odor que queimava. Não era totalmente cheiro de vampiro. Havia um toque quente, humano e limpo. Será que havia um humano com um sanguessuga? Com um estalo, percebi que não podia ser isso; o cheiro de vampiro combinava-se com perfeição ao cheiro humano. Uma combinação tão perfeita, tão sutil que só podia estar vindo da mesma “pessoa”.

Mas o que seria aquilo? Outro insight me fez lembrar do cheiro da garota metade parasita com quem Jake tivera imprinting. Renesmee. No entanto, eu já estivera com ela por tempo suficiente para conhecer seu cheiro em particular. Com certeza não era ela; devia ser criatura semelhante.

Foi então que os vi. Eram dois jovens e pareciam imersos em uma conversa particular. Andavam calmamente pela praia, como Seth e eu fazíamos há pouco.

A garota era branca e tinha um leve tom rosado nas bochechas bem desenhadas. As maçãs do rosto eram altas, o que deixava seus olhos um pouco afundados e com a impressão de estarem escuros abaixo das pálpebras. Seus cabelos negros e longos caíam-lhe sobre os ombros como uma cortina de petróleo enquanto seus olhos intensamente negros refletiam parte da luz que recebiam. Ele tinha um brilho infantil e feliz no olhar. Por algum motivo, ela me pareceu estranhamente familiar.

Não tive tempo de prestar tanta atenção assim no garoto alto e musculoso que estava com ela. Perdi-me em seu olhar que era tão lindo quanto o dela. No entanto, entes de sentir que eu o conhecia, o calor começou a inundar meus ossos e todas as minhas entranhas. Mais forte do que o calor da mudança de forma, esse não me queimava. Era bom e, ao contrário do outro, me compelia a ficar exatamente onde eu estava; a não me mexer para que não estragasse o mais perfeito dos momentos que eu vivia.

Naquele momento em que o conceito de tempo deixara de existir, eu percebi que não era mais eu. Minha vida passou a estar ligada a uma única pessoa.

Minha família, meus amigos, a dor e a amargura que eu sentia por Sam e Emily agora não existiam mais — eu não me importava mais com isso. Nada mais importava e era provável que eu não soubesse responder, se alguém me perguntasse, quem era Leah Clearwater. Eu não importava mais para mim. Meu bem estar, minha saúde, minha vida, meu nojo por sanguessugas ou o tremor que me compelia a dilacerar a cabeça de algum deles... Nada disso importava para mim. E ainda mais: No momento em que o vi, parecia que eu havia ficado tão leve que poderia sair flutuando pelo espaço se aquele rosto, aquele homem que eu mal conhecia, não me prendesse à Terra. Era mais forte do que a gravidade. A lei da física já não tinha efeito algum em mim; a gravidade pouco importava. Era ele.

O Garoto que eu não sabia o nome.


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Notas finais do capítulo

Sei que pode nem valer a pena, mas gostaria muito de alguns Reviews de quem já leu Aurora Boreal. Obrigado.



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