Os submissos do céu já haviam deixado malas em meu quarto, e me surpreendi quando as vi cheias de roupas que foram escolhidas especialmente para minha missão na Terra.

–O que aconteceu? –anjo 426, mais conhecido como Blake, perguntou ofegante. –Vim assim que soube que tinha recebido uma missão.

–Eu recebi uma missão Líder, Blake. Não sei se volto ao céu tão cedo. -Sua expressão tomou um ar de tristeza imensa quando terminei minha fala. Sua pele, lívida como nunca vi. –Blake? –perguntei, depois de 2 minutos de silêncio.

–Você não pode ir, Eleanor! Fiz os cálculos e você chegará na Terra com 17 anos humanos, e isso vai contra a lei!

–Estou bem ciente disso, mas não sei se te ensinaram a lei completa. Se um anjo for escalado para uma Missão Líder e seu escolhido estiver mudando os rumos por completo, o anjo deve interferir, tendo 18 anos humanos ou não.

–Você sabe que pode levar uma vida toda para cumprir uma missão líder, não sabe?

–Eu não escolhi isso, ok? –gritei. Ele não estava entendendo? – Blake, eu não...

Ele não disse nada por longos 5 minutos enquanto apenas me abraçava.

–Só promete que... Não vai esquecer. Você sabe... Do seu melhor amigo.

–Nunca. Somos imortais, como esqueceria? Tentarei terminar a missão antes do fim da vida, me espere. Você não me verá no céu dos humanos. Não verá.

–Vejo-te na Terra, docinho.

E então, depois de dizer isto, saiu do quarto, deixando-me sozinha lá. Sentei na beirada da cama, á espera da chamada dos submissos.

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Tique. Taque. O relógio do quarto me atormentava. Ainda sentada, no aguado dos submissos, eu comecei a pensar no que essa missão poderia me trazer, quais dificuldades eu iria enfrentar.

Eu conhecia os eletrônicos dos humanos, conhecia seus costumes, culturas, celebrações, crenças. Apenas desconhecia parte dos sentimentos, tais como o amor.

Não amor fraterno, o tipo de amor que sentia por Blake, e sim o amor que os poetas tanto descrevem em suas obras. O amor que todos sentem involuntariamente um dia, o amor que faz as flores desabrocharem mais vívidas e coloridas. O amor que dá esperança aos jovens, o amor que une as pessoas. É esse tipo de amor que nunca tinha sentido.

Quando você põe em prática uma missão como essa, você tem o direito de escolher um dos anjos de seu legado para cuidar de você quando humano, então escolhi Blake. Apenas espero que ele nunca seja selecionado para uma missão dessas. Sinceramente, sinto pena de mim mesma por ter sido selecionada.

Mas, o que é uma aventura sem experiências novas? Eu realmente não sabia o que esperar dessa missão.

Ouvi a porta ranger e um submisso, baixinho e narigudo, entrou no quarto. Ele me olhou apreensivo, como certo olhar de pena.

–Senhora, chegou a hora. –ele finalmente anunciou. –Acompanhe-me, por favor.

Já ia pegando as três malas de tamanho grande quando mais quatro submissos entraram no quarto e tomaram todo o esforço para eles mesmos.

Acompanhei os quatro submissos, sempre indo atrás dos mesmos, quando finalmente chegamos depois de dois minutos.

O lugar que enviava os anjos à Terra era tudo o que menos esperava. Era o fim de uma nuvem, com uma cabine parada bem na beirada. Primeiro, foram-se as malas. Será que elas caiam no meio da rua ou já iam direto para o local aonde eu iria ficar de graça?

–Escute aqui, 427. –Larry me surpreendeu ao sair detrás dos comandos da cabine. –Se te perguntarem aonde arranjaste o casarão, a história que usará é que seus pais morreram em um acidente de carro quando você tinha quatro anos e toda a herança ficou para sua avó. Ela não quis, e então, desobedecendo ao governo, você herdou tudo. Entendido?

Concordei com a cabeça. Ele abriu caminho, indicando a cabine com sua mão.

–Nos vemos em breve. –eu disse, com um último sorriso, já dentro da cabine. Larry voltou aos comandos por trás da cabine, e senti uma escuridão enorme tomar conta de minha consciência.

Quando abri os olhos que estavam fechados devido ao forte impacto na alma, eu estava em uma cama luxuosa. A colcha que me cobria era revestida de seda, e mais alguns tecidos caros que não sabia nomear.

Levantei depois de muito esforço, retirei a venda, que reconheci como uma daquelas vendas que se usa antes de dormir, que cobria meus olhos e fui ver o resto da casa.

–Uau. –só consegui dizer isso após ver que o quarto em que eu estava era no segundo andar da casa. Olhei para baixo da escada circular e a casa era digna de um milionário. Se a casa continuar boa como está até agora, logo alguém irá roubá-la.

Olhei para o relógio que estava acima de meu criado mudo ao lado de minha cama, e ele marcava dez horas da noite de domingo. Deduzi que as aulas começassem no dia seguinte.

Aparentemente, descer à Terra por essa cabine era realmente cansativo. Não aguentei ver o resto da casa e desmontei na cama, logo colocando a venda por cima dos olhos.

Precisava de uma boa noite de sono. O dia de amanhã seria definitivo. Ou Alex me odiava ou me amava.

Só preciso decidir quem serei a partir de amanhã.