– Garota, pegue esta bola! – grita a professora Coin, adorável como sempre, para mim.

Calma aí, professora. Estou tentando me manter viva, aqui. Você tem noção de quanto ser atingida pela bola de basquete, dói? Desta vez não estou no time de Johanna, o que é pior ainda, já que ela pode me atacar sem nenhum impedimento.

– Você está fora – apita Coin.

Seja lá o que eu tenha feito, estou feliz, pelo menos acabou por enquanto minha tortura. Sento-me na arquibancada.

– Gale, passa a bola para mim! – grita Peeta do outro lado da quadra.

Hoje minha turma está fazendo educação física com a turma de Peeta e Gale. Os dois estão jogando basquete com os meninos da minha turma.

Gale passa a bola para Peeta, que faz uma cesta. Os dois comemoram e as meninas quase vão a loucura. O que faz com que Coin dê uma mega bronca. Quem mandou vocês ficarem aí olhando para os músculos de Peeta e Gale, em vez de prestar atenção no jogo?

Não quero olhar para eles, por isso desvio meu olhar para o jogo das meninas. Toda vez que olho para algum deles me lembro da trágica noite em que perdi meu juízo e da cena de Gale com Johanna. Já se passou quase uma semana desde este dia, porém não consigo esquecer, e olha que tenho me esforçado.

– Peeta! – grita Gale, não posso evitar olhar para ele ao escutar sua voz.

Depois daquela cena, tento desesperadamente tirar Gale de meu coração. Sei que ele e eu não tínhamos nada, porém isso não impede que meu coração doa. Me sinto magoada, como se alguém houvesse cravado uma faca em meu coração. Mas por que sinto isto? Sou uma imbecil, Gale nem sabe dos meus sentimentos! Não quero mais pensar em Gale.

Não sei o que está acontecendo entre ele e Johanna. E também não quero saber. Tenho evitado ver Gale o máximo que posso, se vejo que ele está no mesmo lugar que estou, saio o mais rápido que posso.

Peeta é outro que tenho tentado evitar, porém, não com tanto êxito. Tomei medidas drásticas, acordo mais cedo para vir para o colégio antes dele, desta maneira não preciso vir com ele. Sempre fico no colégio após as aulas, para não ir para casa com Peeta. E quando estou em casa nem saio do meu quarto, ao menos que eu tenha certeza que ele não está em casa. No entanto, ainda com todas estas medidas, temos alguns encontros.

E para complicar mais a situação, minha amada mãe resolveu que meu quarto provisório deveria se tornar meu quarto definitivo, já que ela teve a brilhante ideia de transformar meu antigo quarto em uma sala de yoga. Nem acreditei quando ela ligou, toda feliz, para me contar sobre sua brilhante ideia. Quase tive um enfarte. Mãe, você estava pensando em que, quando teve esta ideia? Agora preciso me conformar com a ideia de que meu quarto está na frente do quarto da pessoa que menos quero ver em toda face da terra.

Resolvo que o melhor é procurar outro lugar na quadra para me sentar, em que não possa ver nem Peeta, nem Gale. Me levanto, percorro meus olhos pelo ginásio. Estou tão distraída com meus pensamentos que não vejo a bola que vem em minha direção e atinge minha barriga. Solto um grito de dor. Nunca senti tanta dor em minha vida. A força da bola me derruba, me vejo rolando a arquibancada, como uma pequena bola de papel, quando dou por mim estou caída no chão.

– Katniss! – alguém grita atrás de mim.

Sinto as mãos de alguém me tocando nas costas e depois me levantando. As mãos são de Gale.

– Você está bem? – pergunta Gale preocupado.

– Acho que estou – coloco a mão na barriga que dói.

– Você consegue andar? – faço sinal afirmativo com a cabeça – Vou te levar na enfermaria...

Gale faz eu me apoiar em seu braço. Ando inclinada devido à dor. Ótimo, tenho levado tanta bolada ultimamente que acho que devo me candidatar para ser o novo gol de Panem. Tenho certeza absoluta que ganharíamos todos os jogos se eu fosse o gol do colégio.

A enfermeira me dá alguns remédios e pede para que eu descanse.

– Você está melhor, Katniss? – pergunta Gale que ficou o tempo todo comigo enquanto a enfermeira me examinava.

– Já estive pior – tento rir, mas não consigo, já que isso faz doer ainda mais minha barriga – Você deveria voltar para a aula, acho que aula de educação física já está terminando.

– Não se preocupe comigo. A próxima aula é de matemática... – faz uma careta de quem acabou de chupar um limão – Pensei que poderia dizer que estava na enfermaria, ajudando uma amiga.

Amiga? Gale me considera sua amiga? Eu nunca tive um amigo antes. Essa palavra é tão incompreensível para mim. Somos realmente amigos?

– Se você quiser pode contar comigo para te apoiar nisso – digo um pouco desajeitada, não sei como agir perante alguém que acaba de me chamar de amiga.

– Sabia que poderia contar com você, Katniss! – diz rindo.

– Fico feliz que pelo menos uma pessoa tenha se beneficiado com meu pequeno acidente – sorrio.

Isso é tão estranho, há alguns minutos atrás uma das últimas coisas no mundo que eu queria fazer era falar com Gale. Porém, agora estou feliz com sua presença. Katniss Everdeen será que alguém vai conseguir te compreender algum dia?

– Na próxima vez quando tiver uma aula chata, Katniss, é só me avisar que eu levo uma bolada – diz de uma maneira engraçada.

Não posso evitar rir, péssima ideia, minha barriga dói ainda mais.

– Então, que tal ficarmos aqui vendo o que tem na TV? – sugeri pegando o controle da TV.

– Por mim, está bem. Minha próxima aula é de física...

Gale ri do meu comentário e liga a TV. Ele senta-se em uma cadeira, perto da maca em que estou. Embora Gale fique saltando de um canal para outro, pois há nada de interessante na TV, isto é divertido, ele sempre faz um comentário engraçado sobre os programas que passam. Ficamos assim pelo resto da manhã.

Me sobressalto, ao ver Peeta, encostado na porta na enfermaria, me olhando com cara de poucos amigos. Só então percebo que as aulas haviam terminado.