Anatomia do Amor escrita por whatsername, whatsernamebeta


Capítulo 9
Outtake


Notas iniciais do capítulo

Ois (: Tudo certo?
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Bem, aqui está o bônus, espero que gostem muito! Não vou me estender, obrigada por tudo novamente e, mayaralabbate, eu amei sua recomendação. Quem ainda não o fez, esta é a chance.
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Em itálico estão alguns flashbacks. Bella tem 25 anos, Grace, 15. Edward com seus 33. E para quem está curioso, o garoto Marshall está com 17.
—_
Boa leitura.



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Edward's little girls.

POV Bella

“Jonathan James, tente relaxar um pouquinho.” Eu pedi com delicadeza, olhando-o sobre a câmera e sorrindo. “Quer mais um pouco de álcool? Eu preciso de você desinibido.”

Ele sorriu meio sem graça e se vestiu com o roupão preto. “Eu não consigo fazer isto, Isabella.” A voz dele foi engraçada, como se fosse um erro falar tal coisa. “É melhor eu devolver esse dinheiro.”

Minha risada ecoou no estúdio, eu coloquei a câmera no tripé e aproveitei para sentar, porque minha barriga de oito meses só sabia me deixar exausta e feliz. Ainda sorrindo, afaguei o alto de meu ventre e Hailie me chutou com vontade, a ponto de me assustar. Jonathan James me deu um olhar engraçado, tentando se cobrir de todos os jeitos.

“Bem, eu preciso te fotografar.” Comecei falando o óbvio. “Suas fãs alucinadas estão sonhando com suas fotos... Vamos lá, pense no dinheiro que você está ganhando, é só ficar pelado e deixar que eu tire um tanto de fotos. Juro, isso é estritamente profissional.”

“Certo, vamos tentar então.” Ele falou antes de desamarrar o roupão e ficar de pé, eu rolei meus olhos quando ele fez uma cara extremamente sexy para a câmera. “Está bom assim?”

“Uhum.” Restringi à interjeição, até porque pouco me importava as caras e bocas dos modelos. Para o bem de meu relacionamento com Edward, eu prometera nunca mirar tempo demais no que existia abaixo da linha do quadril dos homens.

Quando, três horas mais tarde, eu saí daquele estúdio todo decorado com coisas da década de vinte, eu não soube como agradecer. O dia estava quente demais e Hailie realmente estava disposta a me chutar ininterruptamente. “Garotinha, por favor, deixe a mamãe descansar?” Minha voz sempre se tornava estridente e arrastada. “Por que você não me chuta em casa, quando seu pai está massageando meus pés, ou quando sua irmã estiver conversando com você?”

“Sim, eu sei, filha.” Eu brinquei depois de um silêncio e um sorriso. “Você adora ficar me dando porrada, não é? Você só está me dizendo que me ama também, certo?”

“Bella?” Alguém me chamou, o que me fez parar de brigar com a porta do carro. Eu olhei para trás, vendo Jonathan James praticamente correr em minha direção.

“Oi?” Falei enquanto procurava a chave na bagunça que era minha bolsa. “Esquecemos de alguma coisa?”

O sorriso que ele me deu foi estranho e presunçoso. “Esqueci-me de pedir seu telefone e saber se vou te encontrar no lançamento da revista.”

O calor não demorou dois segundos para estar em cada parte de meu rosto. Era só impressão, ou aquela celebridade estava, descaradamente, me cantando? Talvez ele fosse cego e ainda não percebera minha barriga e o anel em meu dedo. Tudo gritava o quão certo era Edward e eu.

Preferi não sorrir para ele. “Minha bebê não vai gostar de tanto tumulto, nem o pai dela.” Minha voz saiu séria, o que fez com que ele também percebesse o tamanho da inconveniência. “Depois eu te mando as fotos, sim? Aí nós escolhemos as melhores, eu preciso ir agora.”

Quando entrei no carro, a primeira coisa que fiz foi tirar meus sapatos e prender meu cabelo. Hailie estava quietinha, o que não era muito normal. “Vamos para casa, bebê linda? Grace deve estar sozinha e morrendo de fome.” Informei-lhe e comecei a dirigir, sem conseguir parar de sorrir e fazer carinho em minha barriga. “Só falta um mês, sim? Estou louca para te conhecer.”

Eu sempre ficava um pouco assustada quando Edward ficava tempo demais me encarando, mas ele sorria, então supus que tudo estava bem. “Ei, pare de me fitar!” Falei enquanto subi nele, deixando meu queixo sobre o peito dele. “Está pensando em quê?”

“Em você vestida de noiva.” Edward falou com muita naturalidade, sem tirar os olhos dos meus. “Eu ficaria feliz se você fosse minha esposa...”

Procurei uma boa resposta, mas ela não existia. Casamento não me trazia boas recordações e Edward sabia daquela parte. Eu estava feliz daquele jeito, sem oficializar nada. “É melhor continuarmos como namorados. Se casarmos, você vai se tornar um homem chato e folgado. Eu ficarei gorda e de mal com a vida...”

“Não generalize.” Edward falou depois de fazer carinho em meus cabelos. “Eu posso te entender, então teremos que namorar para sempre.”

“Não será nenhum sacrifício.” Brinquei e rolei para o lado, caindo sobre um travesseiro. A tarde de domingo estava se arrastando, um tédio completo. Grace estava hibernando no quarto dela, talvez, trocando mensagens com Marshall.

“Estou entediado.” Edward confidenciou baixinho, perto de meu ouvido. “Alguma sugestão?”

Eu sorri, porque Edward sabia ser muito retardado quando queria. “Também estou, amor. Podemos ficar entediados juntos...” Propus enquanto trilhava beijos calmos no pescoço dele. “O que pensa sobre fazermos uma criança?”

A pergunta saiu sem minha permissão e sem minha construção. O que era para ser uma brincadeira, fez com que os olhos de Edward brilhassem. “Você não está brincando, está?”

Eu sabia que merecíamos aquilo. Eu o amava de todo de coração e era mútuo. “Não estou não.” Minha voz saiu sincera e quente. “Vai ser mais felicidade para nós.” Falei baixinho, sem entender o porquê de eu corar. “Você quer que eu seja a mãe de mais uma cria sua?”

Edward só me beijou; do jeito que só ele sabia. “Deus, eu estou feliz!” A fala foi mais que sincera. “Por favor, pare com as pílulas e pratique dia e noite comigo.” Edward falava enquanto me beijava, deixando-me sorridente e feliz. “Isso significa que você precisa vir morar comigo e com Grace. Não vai dar certo você ser mãe de um filho meu e morar a quarteirões de distância.”

“Acordo feito.” Quando Edward levou os lábios para meu pescoço, eu falei. “Você me tira do aluguel e eu te dou um filho. Parece justo.”

Antes de eu girar a chave na fechadura, ouvi os latidos estridentes daqueles três cachorros loucos. Kim fora a mãe mais desleixada que já vi. Shady só esperou alguns meses para se insinuar para Mariah. Era a família mais pervertida e incestuosa que se tinha notícias. Quando entrei em casa, ignorei os latidos, pois só consegui abrir a boca e esbugalhar meus olhos.

Grace, a garota loira e que agora tinha quase quinze anos, estava, literalmente, de amasso com o namorado escondido dela. Os movimentos diziam que Marshall, assim como ela, estava gostando demais da situação.

O rubor tomou meu rosto e, inexplicavelmente, minhas palavras sumiram. Eu queria gritar, dizer que eles não tinham o direito de fazer aquilo no meu sofá, no sofá que Edward e eu fazíamos besteirinhas. E, por último, meu lado sensato falou mais alto, pois aquela menina tinha que entender que não dava mais para alimentar aquela situação. O pai dela tinha o direito de saber sobre Marshall, antes que Grace ficasse grávida.

Hailie me chutou, quase me jogando para frente. “Deus!” Exclamei enquanto acarinhava a região de minhas costelas. “Isso dói, filha!” Falei ainda mais alto, ganhando a atenção do casal que se remexia no sofá.

A primeira a me ver foi Grace, o tomate era pouco para classificar o rosto dela. “Bella? O que você está fazendo aqui?”

Rolei meus olhos de propósito. “Eu moro aqui, esqueceu?” A acidez de meu tom não foi bem disfarçada. “Eu não queria atrapalhar nada.”

Minhas palavras deixaram-na ainda mais envergonhada. Marshall sentou-se e puxou a respiração mais profunda do mundo, mas era claro que o menino precisava de um pouco de ar e alívio. “Oi, Bella! Tudo certo com Hailie e você?”

Também rolei meus olhos para ele. “Tudo certo até chegar aqui e encontrar você em cima de Grace. Hailie está me chutando como louca, dizendo que também não está gostando nada disto.”

Grace, por um breve momento, cerrou os olhos para mim. Ela deu um sorrisinho para Marshall, sendo tímida e carinhosa. “É melhor você ir.”

Eu sorri internamente, mas apesar de minha irritação recente, eu não poderia negar que era divertido ver o quão rendido aquele menino ficava nas mãos de Grace. Ele a beijou rapidamente, corando logo em seguida. “Eu te vejo amanhã. Fique bem, tá?”

Ele passou pela porta mais rápido que um raio, deixando apenas Grace e eu. Ela continuou no sofá, sem me encarar, apenas tentando arrumar a roupa que estava toda fora do lugar. Pelo menos eles ainda estavam vestidos!

“E precisava disto tudo, Bella?” Grace falou antes de ficar em pé. “Marshall deve me achar a pessoa mais ridícula do mundo, obrigada por ter piorado tudo.”

Eu não estava ouvindo nada daquilo, Grace estava louca e eu preferi acreditar que ela só estava fora de si. Quando ela terminou de falar, apenas a olhei, tentando dizer que ela precisava me ouvir.

“Grace.” Eu comecei com entonação, sentando-me ao lado dela. “Só tente imaginar o que teria acontecido se fosse seu pai entrando naquela porta. Juro, seu pseudo namorado já estaria morto.” Argumentei e sorri. “Você pode confiar em mim, então eu quero o mesmo de você, não é certo você trazer Marshall para cá quando seu pai nem eu estamos aqui.”

“A gente não estava fazendo nada, Bella.” Ela me refutou, o argumento quase me fez sorrir. “Eu juro, não íamos passar daquilo que você viu.”

“Certo, garota.” Falei com energia, encarando minha barriga. “Só penso que você seja nova demais para ficar barriguda como eu. E seria confuso para Hailie ser titia tão cedo, então, por favor, seja responsável e faça Marshall ser também.”

Um silêncio curtíssimo se fez e foi a brecha para eu falar mais. “Você não acha que está na hora de Edward saber sobre seu caso de anos com Marshall? Não pense que sou intrometida, mas tenho certeza que Edward merece saber disto, ele é seu pai, a pessoa que mais te ama nesse mundo.”

“Eu realmente não quero discutir com meu pai, Bella. Ele vai dizer que não vai permitir nada disto e eu vou ficar triste, Marshall vai sair correndo, pois meu pai não vai deixar que ele olhe novamente para mim.” Grace usou palavras sem fundamentos, porque, claro, Edward ficaria pirado, mas depois ele entenderia que não poderia tirar aquela fase de Grace.

Corri minha mão por minha barriga aumentada. “Você já tentou imaginar como isso é ruim para mim? Ficar mentindo para seu pai? Se ainda não percebeu, eu o amo muito, mas muito mesmo.”

Grace sorriu e disputou espaço com meu toque. Eu tinha certeza que Hailie amava os carinhos da irmã, os dedos de Grace correram sobre o tecido de meu vestido. “Será que ela vai ser loira?” Ela perguntou no meio de um sorriso. “Eu não ligo em ter uma irmã, mas não aceito perder o posto de filha mais loira que meu pai já fez.”

“Ela pode ter meus cabelos e ter os olhos de Edward.” Falei enquanto imaginava o rosto perfeito de minha filha, eu queria muito que Hailie fosse uma cópia de Edward. “A gente precisa comprar a decoração do quarto, minha filha vai nascer e aquele cômodo vai parecer tudo, menos um quarto de bebê.”

“Bella, aquele quarto é a coisa mais rosa do mundo. Minha irmã vai ter dor de cabeça quando vir tanta cor.” Grace brincou e prendeu os cabelos. “Vou tomar banho e, por favor, não fale nada do que você viu para meu pai?”

“Sim, sem problemas.” Assegurei-lhe e deitei no sofá, meus pés já estavam inchados e eu queria comer e dormir. “Grace, se der, depois você frita bacon para mim? Tenho que aproveitar quando seu pai não está em casa. Sério, ficar grávida de um médico é um péssimo negócio.”

Edward passou pela porta minutos mais tarde, ele carregava um sorriso enorme e só era direcionado para mim. “Oi, amor!” Minha voz saiu muito quente e feliz. “Sua filha já estava sentindo saudade de você.”

Ele dividiu espaço comigo no sofá e não pensei antes de jogar minhas pernas no colo dele. “Como você está?” Edward perguntou enquanto me beijava na boca. “E você, Hailie, minha bebezinha, tudo certo? Dando sossego para sua mãe?”

Eu retribuí o carinho, beijando-o até a orelha. “Estou ótima, só me sentindo pesada, mas isso não é novidade.”

Ganhei um beijinho bobo na ponta de meu nariz. “Você está linda!” A declaração veio acompanhada de mais beijos. “Linda e com cara de mamãe.”

Abracei-o delicadamente, meu rosto afundou na curva do pescoço dele. Foi fácil sorrir quando senti uma mão passeando em minha barriga pontuda. “Hailie.” Edward chamou nossa filha em tom baixo, um misto de adoração e felicidade. “Não demore muito a vir para nós, sim? Estamos ansiosos.”

“Seja paciente, homem!” Eu brinquei e pousei minha mão sobre a de Edward. “Não quero que nossa filha nasça antes da hora. Falta só um mês, daqui a pouco eu estarei gritando dor, com a cabeça dela entre minhas pernas.”

“Seja mais sutil, amor.” Edward falou sobre meus lábios, beijando-me logo em seguida. “Hailie está sentadinha aí em sua barriga, talvez ainda dê tempo para ela se virar.”

“Nós já conversamos sobre isto. Nossa garota é esperta e vai ficar de ponta cabeça.” Falei enquanto o beijo foi para perto de minha orelha. “Espere só mais um mês e você terá sua filhinha em seus braços.”

(...)

As ligações de Grace sempre me surpreendiam, ainda mais quando, na tela, acusavam dezesseis chamadas não atendidas. Não hesitei quando a décima sétima ligação brilhou na tela de meu celular. Eu me virei na cama, na tentativa frustrada de ficar confortável com uma barriga enorme e pesada. Sim, o último mês era o pior de todos.

“Oi, Grace!” Atendi com muita simpatia, conferi as horas e descobri que já era para ela estar em casa. “Vai se atrasar hoje? Tem comida pronta para você...”

Somente para me deixar aturdida, ela fungou do outro lado da linha. “Bella, você pode me buscar?” Grace pediu e a voz dela saiu cortada. “Por favor?”

Era engraçado, mas eu me preocupava muito com Grace, envolvia proteção e cuidado. “O que houve, Grace?” Perguntei enquanto saía da cama; minha barriga quase me jogou para frente. “Eu já estou indo, mas só me fale se você está bem.”

“Não muito, Bella.” Ela simplesmente respondeu. “Não demore, estou a um passo de ficar louca.”

A resposta me fez entrar em uma roupa qualquer e pegar a chave do carro. Hailie estava comportada e não me impediu de dirigir no limite. Eu me sentia, além de pesada, meio sem equilíbrio, então não era uma boa ideia subir a escadaria do colégio.

“Grace?” Gritei-a com certa pitada de nervoso, eu acenei para ela. “Sua irmã não vai querer subir essa escada.”

Do último degrau, ela me olhou. Grace não perdeu tempo e correu escada a baixo, com a mochila nas costas. Nem mesmo os cílios longos e projetados esconderam o olhar ansioso e cheio de umidade. “Obrigada por vir.” Ela falou antes de me abraçar de um jeito apertado demais. “Desculpe por te deixar preocupada, espero que Hailie não tenha se importado.”

“Não seja boba.” Eu pedi e encarei-a. “Por que você está tão desesperada? Foi alguma coisa com Marshall?”

Grace não tirou os olhos dos meus, e eu gostei daquilo. Ela respirou pesadamente e, em seguida, o vermelho tingiu-lhe as bochechas e as lágrimas transbordaram. “Eu acho que estou grávida.”

Aquela amanhã não poderia estar melhor. Edward estava perto de dormir de novo; as costas nuas eram o agrado que meus olhos queriam.  Eu sorri e corei quando me lembrei de nossa madrugada. Lentamente e com passos calmos, voltei para a cama, Edward murmurou alguma coisa complicada demais.

“Amor.” Chamei-o baixinho, depositando beijos arrastados e carinhosos na nuca dele. “Eu estou atrasada.” Minha voz saiu mais quente que um vulcão. Era estranho me sentir tão feliz e completa.

“Atrasa para o quê?” Edward perguntou no meio de um bocejo. “Venha cá e vamos repetir nossa noite, eu quero você.”

Foi impossível não sorrir e mordê-lo. “Não estou brincando, Edward. Eu estou atrasada.”

Ele virou o rosto para mim, o sorriso era divertido e curioso. “Até onde sei, hoje é sábado e não temos nenhum compromisso.”

Meus olhos rolaram sem minha permissão. “Até onde sei, você é um médico e penso que você deveria saber interpretar o que uma  mulher quer dizer quando fala que está atrasada…”

As palavras confusas tiraram o sorrisinho bobo e levaram o sorriso mais perfeito que Edward poderia ter. “Você está atrasada?” Ele repetiu antes de me beijar perto dos olhos. “Deus! Você está atrasada?!” Edward pegou meu olhar, sorrindo. “Isso que dizer que você...”

“Uhum.” Eu sussurrei já com meus lábios sobre os dele. “Estou grávida.”

Eu encarei Grace, perguntando-me quando ela iria dizer que aquilo era uma péssima brincadeira. Eu estava grávida e, de fato, meu emocional estava mais desajeitado que o normal. O problema daquela situação toda era que Grace estava séria, realmente nervosa e sem saber o que fazer.

Meus olhos traiçoeiros voaram para a barriga dela e eu me apavorei. “Grace isso é uma brincadeira, não é?” Perguntei e procurei um degrau para me sentar. “Não me diga que Marshall e você ...” Eu engasguei com o ar e meu rosto passou do vermelho para o roxo. “Que você já fizeram...”

Um pouco do vermelho de meu rosto foi para o de Grace. “Não!” Ela se apressou ao responder. “Não, Bella; claro que não.” Grace gesticulou e aquilo era um sinal de nervosismo. “É que Marshall estava com a mão suja...” A voz dela saiu cortada e eu quase tive vontade de rir. “Deus, isso é constrangedor! Ele me tocou e a mão dele estava suja, entende?”

O alívio veio rapidamente. Se Grace engravidasse daquela forma, seria a fecundação mais azarada do mundo. Eu sorri para ela, tentando acalmá-la. “Você não está grávida.”

Grace me deu um sorrisinho tímido, os cabelos loiros voaram e ela preferiu prendê-los. “Estou atrasada, Bella. Era para eu ter menstruado semana passada e nada. Você sabe o que isso significa?”

“Significa que você está nervosa e ansiosa; essas coisas acontecem.” Eu falei e me levantei do degrau. “É muito difícil ficar grávida desse jeito, você deveria saber desta parte.”

“Marshall disse o mesmo.” Ela me respondeu e pegou minha bolsa. “Você não deveria carregar peso, nem passar esses sustos. Desculpe-me.”

Antes que eu lhe respondesse, ela ergueu os olhos, meio suplicantes. “Eu posso fazer um teste? Sério, eu preciso ter certeza.” Grace usou um tom tímido. “Talvez, ir ao laboratório. Eu só preciso tirar isto de minha cabeça.”

“Certo, vamos começar pelos testes de farmácia.” O tom foi divertido, Grace me acompanhou e entrou no banco do carona. “E Marshall? Ele está bem com isso tudo?”

“Marshall é a pessoa mais calma do mundo e isto é irritante. Ele disse para eu ter certeza e deixá-lo ciente de qualquer coisa.” Grace falou com deboche. “Qual pessoa normal fala isto? Ele deveria ficar um pouquinho apavorado, não acha?”

Meu sorriso foi muito sincero, Hailie me chutou sem força. “Vocês combinam. Ele gosta de você, garota. Só penso que vocês deveriam ser menos irresponsáveis.”

“Bella.” Meu nome saiu de um jeito muito engraçado, eu olhei para Grace, o rosto da menina iria pegar fogo a qualquer momento. “Sério, eu tenho medo de ficar sozinha com Marshall, é preciso ter muito autocontrole com ele.” As palavras dela saíram com certo divertimento. “E é tão bom! Não existe nada mais gostoso, certo?”

Fazer-me de desentendida com Grace não adiantaria nada. Ela era esperta o suficiente para saber como Hailie veio parar dentro de minha barriga. “Lógico que é bom, ainda mais quando é com quem a gente gosta. Eu estou feliz por você.”

“Ainda tem mais.” Grace me fitou antes de continuar. “Marshall disse que quer ir lá em casa, conversar com meu pai, sabe?” O discurso saiu meio emocionado e Grace piscou timidamente. “Falar que está comigo.”

“Deus! Eu não posso acreditar! Esse menino está indo lá em casa, pedir para namorar você?” Não me contive e falei alto demais. “Hailie, querida, você ouviu isto? Sua irmã está namorando! Marshall enrolou-a por dois anos.”

“Hailie não escute sua mãe, sim, bebê?” Grace entoou a voz e descansou a mão perto de meu umbigo. “Bella é louca e não sabe o que diz, tá?”

“E eu preciso de você, Bella.” A voz deixou de ser cantada para ser mais séria. “Tente conversar com meu pai, por favor? Deixá-lo preparado para a visita de Marshall no domingo.”

“Hoje é sexta!” A dedução me fez olhá-la. “Você está me dando dois dias para amolecer o coração de seu pai? Isto é impossível.”

Grace piscou para mim, sorrindo com atrevimento. “Eu confio em você.”

Foi estranho quando eu, absolutamente grávida, peguei todos os testes disponíveis naquela farmácia. Grace segurava uma cara de paisagem ao meu lado, apenas para disfarçar, procurava por cremes e condicionadores.

“Isso é tão constrangedor!” Grace praticamente sussurrou enquanto passávamos nossas compras pelo caixa. “É claro que ela sabe que tem alguma coisa errada.” Ela falou e levou os olhos para quem embrulhava os produtos.

Eu afaguei minha barriga, sendo muito extravagante no ato. “Hailie, nem posso acreditar que você está mesmo aí dentro, que tal fazermos um teste para termos certeza?”

A risada de Grace ecoou e eu não me importei em parecer uma demente. Minha filha me chutou e eu interpretei aquilo como a maior vergonha alheia que minha bebê já tinha sentido.

Quando passamos pela porta de casa, Edward ergueu-se do sofá e nos deu um sorriso grande. Edward sempre chegava cedo nos dias errados! Ele me abraçou sem usar força e fez carinho nos cabelos de Grace. “Onde minhas mulheres estavam? Eu desisti de ligar para vocês!”

Grace abraçou-o pela cintura e eu me encarreguei de esconder a sacola que carregava. “Bella e eu estávamos batendo perna por aí, mas nos lembramos de que você existe e voltamos para casa.”

Edward fingiu estar muito triste. “Você já me amou mais, filha!” Ele falou e beijou-a na testa. “Tudo certo na escola? Estou com saudade de ir te buscar.”

Os olhos de Grace brilharam. “Você pode fazer isto sempre que quiser, tá? Também sinto falta. Uh, preciso de um banho. Bella, depois você leva o condicionador lá me meu quarto?”

Eu sabia o que ela queria. “Sim, sem problemas. Já estou indo, só preciso ser paparicada um pouco por seu pai.”

Não contive meu gritinho quando Edward me pegou nos braços. “E você, minha mulher linda, como está se sentindo? O dia foi bom?”

Beijei-o com carinho e lábios úmidos. “Uhum, foi ótimo.” Eu disse antes de acarinhá-lo no pescoço. “Eu descobri mais uma estria em meu peito, já estou quase formando um mapa mundi.”

“E você é tão exagerada.” Edward me refutou rapidamente. “Está tudo lindo em você, se ainda não está óbvio, fique sabendo que você grávida é coisa mais tentadora que existe.”

“Não me seduza, homem! Eu mal consigo enxergar meus pés.” Brinquei de novo, dando um jeito de colocar meus pés no chão. “Já estou com sono, vou lá ver Grace e te vejo na cama.”

Entrei no quarto dela sem me anunciar. Grace já estava de pijama e se assustou quando me viu. “Você deveria ser mais pontual, já estava indo lá pegar esse teste.”

“Pare de conversa e vá lá tirar sua inquietação.” Joguei o teste para ela e me sentei na cama. “Vou te esperar aqui.”

Quando ela saiu do banheiro feliz, sorridente, alegre, de bem com a vida, deduzi que não teríamos mais bebês a caminho. “Negativo?” Perguntei apenas para ter certeza.

Ela levantou o teste, apenas uma marquinha existia. “Negativo! Agora vá lá convencer meu pai que Marshall é um bom garoto.”

Antes de passar pela porta, eu desejei-lhe boa noite. Edward estava em algum lugar do quarto e ele não escondeu o sorriso quando me viu. “Estava aqui, pensando se você não quer tomar um banho comigo...”

Sim, aquele homem era fofo além do limite. Eu sabia que ele estava carente e tudo mais, afinal, se respirar já era difícil, imagine transar com uma barriga entre nós? “A banheira já encheu?” Minha voz saiu quente e eu simplesmente tirei minhas roupas. “Quero sair de lá só depois que eu ficar mais enrugada que um maracujá.”

A água morninha estava me deixando absolutamente leve, os beijos de Edward em meu pescoço me deixavam tonta. “A gente precisa conversar.” Não passou de uma lamúria, pois eu estava perdendo os sentidos ao passo que Edward caminhava os lábios para minha orelha. Aquilo era sobre Grace e Marshall e eu precisava saber usar as palavras.

Edward rodou a língua logo abaixo de minha orelha, onde a pele era sensível demais. “É muito importante, ou podemos discutir isto na próxima década? Eu não quero parar com isso aqui tão cedo.” A voz de timbre bom me deixou arrepiada e eu me rendi.

Também o beijei perto da orelha “Certo, na próxima década então.” Falei por fim, sorrindo baixinho e concentrando-me apenas no carinho que dançava em minha barriga. “Na próxima década.”

(...)

Eu me surpreendi quando Grace enfiou a cabeça em nosso quarto. O domingo estava quente e eu ainda estava esparramada na cama. Edward encarava minha barriga, sem dizer uma palavra; ele levantou os olhos quando os passos de Grace vieram para perto da cama.

“Levantou cedo, filha.” Edward falou e estendeu a mão para ela. “Venha cá, sua irmã está animada esta manhã.”

Grace soltou um sorrisinho nervoso, ela me olhou de lado e só então vi o quão nervosa ela estava. “Conversou com ele, Bella?”

O sono ainda me embalava. “Conversei o quê, Grace?”

O rosto dela ficou mais vermelho que tudo, eu pude ver uma pitada de irritação. “Você disse que tentaria, Bella.” Grace falou baixinho, tentando não olhar para Edward. “O que eu vou fazer agora?”

“O que está havendo aqui?” Edward perguntou em voz preocupada. Ele saiu da cama e levantou o rosto de Grace. “O que está acontecendo, filha? Por que você está quase chorando?”

“É que eu estou namorando, pai.” Grace simplesmente falou e, se Edward fosse a parte grávida de nosso relacionamento, Hailie teria nascido naquele exato momento, porque aquele homem estava perto de convulsionar. “Pai, eu não gosto de te esconder nada, gosto de dividir minha felicidade com você e, bem, Marshall está vindo almoçar conosco hoje.”

Tudo o que vi no semblante de Edward foi algo perto do que pude classificar como desolação. Os olhos verdes dele cravaram-se nos de Grace e ele estava a um passo de ficar vulnerável demais. “Quem é esse, Grace?”

Ela corou timidamente. “É o mesmo que você viu me beijando dois anos atrás, em meu aniversário de doze anos.”

Realmente fiquei surpresa ao perceber que ela seria sincera em todos os sentidos. O silêncio de Edward estava intimidador e eu queria saber ser útil. “Então você está me escondendo isto por dois anos. Você sabe o que são dois anos, Grace?”

“Eu sei que é tempo demais, pai! Só não queria antecipar o que está acontecendo neste exato momento. Você furioso comigo e eu me sentido a pior filha dos últimos tempos.” Grace não alterou o tom, mas era fácil saber que ela estava doida para gritar. “Isto não muda nada, eu continuo te amando e tendo a certeza que você é pai mais perfeito que existe. Eu te amo muito, pai! Eu nunca saberei te agradecer por tudo, mas se existe um modo de eu te agradecer, por favor, me fale.”

“Você deveria ficar comigo para sempre.” Edward falou tempos depois, ainda parado na frente de Grace. “Deus, não posso acreditar que isto está acontecendo.”

Grace, me deixando orgulhosa, deu um sorriso sincero para Edward. “Pai, eu sempre vou ser sua filha, isto vem na frente de qualquer coisa. Eu sempre estarei com você, com Bella, com Hailie, vocês são minha família, mas isto não me impede de querer Marshall comigo também.”

“Filha, por favor, evite falar o nome dele.” Edward pediu baixinho, ele me olhou de lado, ele viu minha conivência com aquela situação toda. “Você sempre soube?”

“Uhum.” Ciciei e também fiquei de pé, eu passei meu braço na cintura dele. “Eu também tenho culpa, tá? Edward, só tente entendê-la, por favor, é ridículo você pensar que Grace nunca iria crescer, que nunca iria conhecer gente nova, que iria gostar delas.”

“Ridículo é essa situação. Saber que minha filha está namorando, que um sujeitinho vai entrar em minha casa.” Edward não se segurou e alterou a voz. “Quem é esse? O que devo esperar?”

“Não me ofenda, pai.” A voz de Grace tremeu e ela já estava chorando. “O que te faz pensar que eu não saiba escolher quem eu quero em minha vida?” Ela perguntou com perspicácia, sorrindo em seguida. “Marshall é ótimo, pai. Você vai ver.”

Eu sorri para Grace, feliz por ela ter falado tudo. “Vocês querem que eu vá lá para fora?” Perguntei e procurei meu chinelo. “Seria bom se vocês conversassem com mais calma.”

“Fique, Bella.” Grace antecipou e ganhou um sorriso de Edward. “Não há nada para esconder. E mais nada para ser dito. Acho que Marshall chega às onze.”

“Estamos nem na metade, Grace.” Edward não deixou que ela saísse do quarto. “Há muito a ser dito ainda.”

“Pai, por favor, eu não quero brigar. Quando você entender que tenho o direito de ter minha vida, conversamos. Lembra quando Bella apareceu em nossas vidas? Lembra-se de como fiquei feliz, de como eu quis que vocês dessem certo? Por que você não pode fazer o mesmo? Ficar feliz por mim?” O discurso de Grace chegou a mim e eu sorri, porque era bom me lembrar de tudo aquilo. “Embora seja muito, mas muito bom viver com você, eu vou querer a minha vida, do mesmo modo que você está construindo uma com Bella. E sabe qual é diferença disto tudo? Eu não fiquei morrendo de ciúmes de Bella. Nada justifica seu comportamento.”

“Eu sou seu pai, isso justifica tudo.” Edward falou rápido demais. “Não é ciúme, Grace. É querer o melhor para você.”

“Por Deus, pai, por favor, não pense que estou cometendo o pior dos crimes. Eu realmente vou ter que falar que gosto muito de Marshall? Ele é bom para mim, certo? Eu não estaria falando isto tudo se ele não valesse a pena.”

As palavras fizeram Edward ponderar, ele olhou dentro dos olhos de Grace, tudo ainda parecia desolado, mas fiquei feliz ao perceber que ele estava perto de sorrir. “Eu não estou bem com isso tudo, mas não há muito que se fazer, mas, por favor, não peça para eu ser legal com ele.”

“Apenas não o mate.” O sorriso de Grace foi iluminado. “Pense, pai, agora você vai ter Hailie, mais uma menininha para você. É só transferir esse ciúme louco para ela.”

Edward abraçou Grace de um jeito forte demais. “Não será tão fácil, Grace. Você sempre vai ser minha bebezinha loira e eu vou continuar te amando de um jeito incondicional, porque você, filha, foi a primeira pessoa que amei de todo coração.”

“E você, pai, vai ser a única pessoa que vou amar de todo coração. Não duvide disto, nunca.”

Meu soluço me assustou, eu estava chorando e não sabia. As lágrimas estavam morrendo em minha boca e estava perto de me afogar. “Vocês podem parar com isso? Não quero morrer desidratada!”

Grace soltou-se de Edward, sorrindo. “Vá lá consolar sua mulher grávida.” A voz já estava divertida novamente. “Eu não faço ideia do que Marshall gosta de comer, mas acho que ele vai aprovar o que vocês fizerem. Vou lá me arrumar, sim?”

Edward me pegou pela mão, eu o acarinhei, tentando pedir desculpas por tudo. Ele sorriu para mim, meio indignado. “Eu não vou cozinhar para ele, não mesmo.” Edward falou antes de me beijar. “Faça sua pior comida, amor.”

O silêncio nunca tinha sido tão estranho entre nós três, ou nós quatro, não sei, Hailie já era da família também. Nós dividíamos o sofá maior, Edward fazia afago em meu ombro, eu brincava com o joelho dele. Grace estava imóvel e calada, mas bonita como nunca. Sem maquiagem, sem roupas novas. Ela estava bonita somente porque estava feliz.

O almoço também estava pronto, Marshall teria que se contentar com macarrão e com uns pedaços de frango. Quando a campainha tocou, nós três saltamos do sofá. Grace era a mais feliz, ela correu para a porta, sem olhar para trás.

Era claro que Edward precisava de algum suporte, eu peguei a mão dele. “Fique calmo, tá? Marshall é um bom garoto.”

“Para estar com minha filha não pode ser apenas bom.” Edward falou baixinho, quase entre dentes. “Essa visão é perturbadora, eu juro que é.”

Marshall não parecia nervoso nem nada, ele deixou um beijo na bochecha de Grace e, depois, entrelaçou a mão na dela. Os dois caminharam para nós, eu quis rir do desespero estampado no rosto daquela garota.

“Pai, este é Marshall.” Ela começou da forma mais clichê que existia. “Marshall, este é meu pai, Edward.”

O menino nos deu um sorriso meio hesitante. “Como está, Edward?” Ele estendeu a mão e esperou que Edward a pegasse, quando isto não aconteceu, ele ruborizou e enfiou a mão no bolso. “Prazer. Grace fala muito de você e é bom te conhecer.”

Eu quis castrar Edward, era infantilidade ele ser tão grosso com Marshall. Grace puxou o menino para o sofá e eu fiz o mesmo com Edward. “Hailie está quase nascendo, não é, Bella?” Marshall perguntou quando o silêncio ficou pesado demais. “Sua barriga está grande.”

Certo, ele tinha me chamado de gorda! Eu sorri para Marshall, sendo simpática em dobro, por Edward e por mim. “Sim, estamos quase, acho que não passaremos desta semana.”

Grace parecia estar em outro mundo, ela só tinha olhos para Marshall, mas eu não segurei meu sorriso quando ela descansou a mão na coxa dele, sem a intenção de insinuar nada. Grace falou algo muito baixo, Marshall sorriu de lado e ergueu os olhos, fitando Edward.

Já Edward estava como uma estátua ao meu lado, apenas acarinhando meu ombro, eu abaixei meu rosto, até estar perto do ouvido dele. “Ficar calado não ajuda em nada, sim? Você só vai saber se esse garoto presta ou não, se conversar com ele.”

“Não há nada a conversar, Bella. Ele podia comer e ir embora.” Edward soltou antes de se mover no sofá. “Só falta esse moleque querer comer os meus pedaços de frango.”

“Sua estupidez me comove.” Falei e ajeitei minhas pernas no sofá. “Já que você não quer falar nada, pelo menos mostre que você se preocupa com Grace e estabeleça limites para o namoro dos dois.”

“Você já tem idade para dirigir?” Edward falou com certa pressa. Antes que Marshall respondesse positivamente, Edward continuou. “Apenas saiba que Grace, álcool e direção não podem estar na mesma frase. Se o rendimento dela diminuir na escola, independente de você ser o culpado ou não, eu vou colocar a culpa em você, certo?”

“Perfeitamente.” Marshall respondeu-o prontamente. “Eu não bebo, Edward.” Ele continuou e manteve o olhar que Edward lhe lançava. “Eu não sei se isso é importante para você, mas o colégio acaba este e ano e eu já estou enviando as cartas, pretendo ficar aqui no estado mesmo. Espero que tudo dê certo quando chegar a hora de Grace.”

Não era loucura, Edward esboçou um sorriso mínimo. “Nada de chegar tarde, nada de drogá-la, nada levar minha filha em festas de caráter duvidoso. Principalmente, nada de forçá-la, estamos entendidos?”

“Sim, certamente.” A resposta de Marshall veio acompanhada de um sorriso verdadeiro. “Obrigado por isso, Edward. Sei o quanto você é importante Grace, eu acho legal essa coisa de criá-la sozinho.”

Legal não é termo.” Edward simplesmente falou. “Você pretende ter uma profissão, não é? Porque não pense que minha filha vai te sustentar.”

Edward já estava ficando louco e fazendo perguntas descabidas. Marshall corou e olhou para Grace, o olhar que eles trocaram, com certeza, causou náuseas em Edward, porque fora além de doce.

“Eu penso em medicina também.” Marshall era esperto e sabia que estaria ganhando pontos com Edward, Grace sempre falava que ele acabaria sendo um doutor também. “Eu gosto de cardiologia, neurologia, cirurgia geral...”

“Essa história já está com médicos demais.” A fala escapuliu, fazendo Grace sorrir. Ela saiu do sofá e puxou Marshall pela mão, Edward também se levantou e me ajudou a desenterrar minha bunda do estofado. “A gente poderia comer, o que acham? Embora pareça que não, ainda cabe um pouco de comida nessa minha barriga enorme.”

Uma refeição nunca tinha sido tão estranha naquela casa. Edward tinha, propositalmente, deixado os piores pedaços de carne para Marshall. O menino, educadamente, serviu-se do pedaço com menos carne e mais osso. Eu trocava sorrisos com Grace, era um fato, eu estava feliz e orgulhosa porque ela sempre seria a garota loira e simpática que eu conhecera dois anos atrás e nada era melhor que vê-la feliz e desfrutando do primeiro amor, ou do único amor, sei lá.

O meio da tarde veio com sutil rapidez, o clima estranho ainda persistia e eu me sentia cansada demais. “Acho que preciso deitar um pouco.” Falei em tom baixo, perto do ouvido de Edward. “Vem comigo, Edward?”

Ele passeou a mão em minha barriga, eu gostava de vê-lo tão carinhoso com Hailie. “Vá indo, não estou muito certo sobre deixar minha filha sozinha com ele.”

Minha risadinha saiu arrastada, Edward ficaria louco caso descobrisse o que Grace e Marshall faziam quanto estavam sozinhos. Eu o beijei delicadamente e, no mesmo instante, Shady pulou em nosso colo. “Vamos subir antes que esse cachorro me transmita todas as doenças possíveis e, Edward, por favor, se não está claro, sua filha tem um namorado e esta cena se repetirá todos os domingos. Deixem os dois aproveitarem!”

“Bella, meu amor, só fique ciente que isso será muito pior com Hailie.” Edward me tirou do sofá e me guiou para a escada. “Essa menininha aqui terá o pai mais ciumento que mundo conhece.” Ele falou e eu me deliciei com a sensação da mão dele correndo a extensão de minha barriga. “Qual é o problema em eu amar como louco minhas filhas?” A voz saiu divertida e eu só sorri. Não era problema nenhum. Nenhum mesmo.

Eu estava muito perto de dormir quando Edward começou a fazer carinho em minha bochecha, abri meus olhos e encontrei um par de olhos verdes transbordando um punhado de emoções. “Você sabe que isso só é proteção, certo?” A voz saiu muito baixa e meu sono não ajudava em nada. “Apesar de tudo, eu estou feliz por Grace, o menino parece ser bom, só é difícil pensar que vou ter que dividi-la.”

Meus dedos fizeram o mesmo carinho na bochecha dele. “Eu sei de tudo isto, amor.” Assegurei-lhe e sorri timidamente. “Sua filha merece tudo isto que está acontecendo, eu posso te entender. Também fico imaginando como vai ser estranho quando Hailie crescer e quiser traçar um caminho para a vida dela.”

A fala levou o toque de Edward para minha barriga. “Eu estou tão louco para vê-la, essa menina vai ser irritantemente bonita, você vai ver.” As palavras deram espaço para beijos curtos no canto de minha boca. “Uh, depois que Hailie nascer, me prometa que vai levar Grace ao médico? Esse menino pode ser até educado e tudo mais, mas isto não significa que eu confio nele.”

“Certo.” Afirmei e dei mais espaço para ele me beijar. “Sua filha é responsável.” Era uma meia verdade, mas preferi dizê-la. “Grace não vai ter um bebê aos dezoito, assim como o pai dela.”

Edward sorriu de lado. “Pare de falar assim, por favor, não dê alimento para eu ficar curioso sobre essa parte de minha filha.”

Minha resposta foi só beijá-lo. “Estou com sono.” Ciciei e me aconcheguei no peito dele. “E sua filha está me causando um desconforto enorme, o nono mês não deveria existir, não acha?”

Ouvi uma risada doce e senti-o fazendo cafuné em meu cabelo. “Apenas durma, amor.”

Eu já tinha dormido e acordado quando Grace bateu contra a porta do quarto. Ela a abriu com lentidão, espiando-nos. “Atrapalho?” Ela perguntou depois de abrir a porta por completo, Marshall estava ao lado dela, enlaçando a cintura fina. “Marshall já está indo, ele queria se despedir de vocês.”

Ao meu lado, Edward falou alguma coisa que não entendi. Eu me sentei na cama, sorrindo para eles, Marshall não ousou entrar no quarto. “A gente se vê, Bella.” Ele falou enquanto sorria. “Que tudo dê certo com Hailie e você.” As palavras foram sinceras e ele levou os olhos para Edward. “Obrigado, Edward. Foi bom te conhecer.”

Foi impossível não me atentar nas reações de Edward. Ele sorriu sem vontade e olhou exclusivamente para Grace. “Apenas cuide dela, certo?”

Grace piscou para o pai, ela correu até nossa cama e deixou um beijo na bochecha de Edward. “Eu amo você mais que tudo, estamos entendidos? Obrigada por ser legal com ele, só vou levar Marshall até a porta.”

Quando a noite caiu, só pensei em tomar banho e dormir. Edward dividiu o chuveiro comigo e me ajudou na hora de colocar a camisa dele em meu corpo. Ele me carregou até a cama, deixando-me no meio dela. “Boa noite, te amo.” Ele falou enquanto me beijava na testa. “Se você sentir alguma coisa, me acorde, tá?”

“Uhum.” Falei e, um segundo mais tarde, eu já estava dormindo.

Não me preocupei quando, no meio da madrugada, os incômodos vieram. Eles sempre me acompanhavam, mas eu realmente fiquei nervosa quando percebi que eles vinham em intervalos regulares. Sim, certo. Nossa filha queria nascer.

“Edward.” Chamei-o durando o intervalo não dolorido. “Acorde, amor.”

Antes de abrir os olhos, Edward revirou umas mil vezes na cama. “Uh?”

“Estou com dor.” Falei e pedi para que aquilo fosse o suficiente para deixá-lo em alerta.

Edward puxou o lençol e ajeitou o travesseiro. “Dorme que passa.”

Aquele homem com certeza estava ainda dormindo, eu o sacudi, com certa irritação até. “Hailie está nascendo, vai demorar muito para você fazer alguma coisa?”

E Edward fez. Ele pulou da cama e falou coisa demais, falou sobre as dores, sobre ligar para hospital, perguntou se eu estava com sangramento. Grace, com aquela confusão toda, acordou e correu para o quarto. Ela só sabia sorrir e pegar a bolsa que tínhamos arrumado dias antes.

A dor era forte demais para eu prestar atenção na conversa de Edward e Grace. O silêncio do carro foi preenchido por uma discussão sobre quem assistiria ao meu parto. Quando eu gemi de dor, os dois ficaram calados e Edward só conseguiu dirigir mais rápido.

Com certeza, ninguém tinha gritado mais que eu durante um parto. Era muita dor, muito desespero. Grace tinha desmaiado antes mesmo de a coisa ficar feia. Edward tomou o posto dela e segurou minha mão. A calma dele era tudo o que eu precisava. “Amor, vamos lá, sim?” Ele pediu enquanto secava o suor de minha testa. “Hailie também está a fim de nos conhecer.”

E quando ela nos conheceu, tudo fez sentido. Eu chorei, Edward chorou e, claro, Hailie chorou. Ela era linda, pequena, bochechuda e, para a felicidade de Grace, não era loira. Os cabelos eram idênticos aos meus e pedi para que ela tivesse o os olhos de Edward.

“Obrigado.” Edward disse sobre meus lábios, os olhos estavam na pequena bebezinha que repousava sobre meu peito. “Ela é perfeita e nossa.”

(...)

Meu sorriso foi enorme quando Edward abriu a porta da sala para mim. Depois de dois em um hospital, Hailie e eu estávamos em nossa casa. Grace estava um pouco besta com a irmã linda dela, mas conseguiu me fazer uma boa recepção. A casa estava toda enfeitada com balões rosa, eles carregavam o meu nome e o de nossa filha.

“Isso foi gentil, Grace.” Eu falei e a abracei, Hailie estava dormindo em meu colo, mas, com certeza, ela estava feliz também.

Era engraçado, pois Grace realmente ficava chateada quando Hailie começava a chorar no colo dela. “Eu ficarei triste se minha irmã não gostar de mim! O que há de errado em meu colo? Será que estou pegando-a direito?”

Caminhei para perto do berço e peguei Hailie do colo dela. “Filhinha, esta é Grace, sua irmã loira!”

Grace não deixou de sorrir e ajeitar o lacinho na cabeleira de Hailie. “Seu cunhado está vindo te ver, tá? Seja simpática com ele.”

Marshall não demorou a chegar, ele carregava um embrulho rosa. Edward rolou os olhos e fez careta. “Além de dar uma aliança para Grace, ele também vai comprar minha outra filha?”

“Seja bonzinho, amor.” Eu pedi, sorrindo e balançando Hailie. “Eu juro, esse menino é legal.”

“Ela é linda.” Marshall estava meio deslumbrado com minha filha, ele hesitou antes de correr os dedos nos cabelos de Hailie. “Parece uma boneca. Parabéns, Bella.”

Antes de eu lhe responder, Marshall se dirigiu a Edward, sendo mais sério do que em qualquer outra oportunidade. “Parabéns por Hailie, Edward. Ela é encantadora.” A fala veio acompanhada por um estender de mão.

Edward corou e pegou a mão do menino. “Obrigado, Marshall.” Ele falou com voz séria, sem ser rude. Se eu não estivesse louca, aquela era a primeira vez que eu ouvi dizer o nome de Marshall.

Era muito fácil passar horas babando em minha filha. Grace e eu ficávamos horas só encarando o mexer das mãozinhas, os bicos e os bocejos. Edward não era diferente, ele sabia ser cuidadoso e doce. Ele falava baixinho e não perdia a oportunidade de deixar beijinhos curtos na bochecha rosa de Hailie.

“É normal eu ter um pouco de ciúmes, certo?” Grace falou enquanto analisava a interação entre Hailie e Edward. “Realmente estou contente por ela não ser loira, não aceito perder meu posto.”

“Filha, você já tem uma bendita aliança em seu dedo. Seria mais normal você ter ciúme de seu namorado do que ter de sua irmã.” Edward filosofou e sorriu. “Você deixou de ser minha garotinha para se tornar a garota de Marshall.”

Eu sorri para as palavras e para Grace. Ela piscou e levou os olhos para Edward. “E eu não deixei de ser sua filha.” Grace usou a voz mais doce que tinha, o verde dos olhos dela era brilhante e sincero. “Não adianta, pai. Eu sempre vou ser sua garotinha, eu te amo demais para pensar o contrário.”


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Notas finais do capítulo

Então, o que vocês têm a dizer? Gostaram? Me contem nos reviews!
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É isso, fiquem bem, nós nos vemos ( :