Ela não podia acreditar em sua falta de sorte. Saíra atrasada da aula e acabara perdendo o ônibus escolar.

"Incrível", pensou enquanto tentava lembrar onde estava. Havia se perdido no caminho para casa.

Reparou em uma senhora se aproximando e não pôde deixar de ficar triste. Ela sempre se lembrava de Grace. 

Sua vó, que havia falecido há dois anos, saberia exatamente como sair daquele "projeto de fim de mundo", como Amy apelidara. Aliás, a vó saberia como sair de qualquer lugar.

A senhora de vestido vinho se aproximou com algo nas mãos.  Amy queria sair logo de lá. Queria estar em casa e 'zoar' seu irmãozinho. 

Sentiu uma pressão no ombro direito. Olhou para trás e viu que a estranha havia esbarrado nela. Apesar de não ter visto, Amy sabia que não fora desproposital.

-Desculpe-me, querida. - A voz dela saía rouca e meio fraca.

-Não foi nada.

Amy começou a andar, mas parou ao som da voz da senhora.

-Sabe, querida, eu estava procurando uma garota jovem e adorável, exatamente como você. - Ela tossiu - Me chamo Jane.

-Amy.

-Que nome lindo - ela murmurou. - Então, Amy, gostaria de ganhar um presente? - A ruiva reparou no brilho dos olhos de Jane. Tinha olhos grandes, da cor de mel. Ao ver que a garota ia recusar, a senhora continuou, tentando animar a voz: - Seria muito importante para mim. Eu moro sozinha, minha filha e meu marido faleceram. E a minha única neta fugiu. Isto pertencia à ela. Deixa-me totalmente triste toda vez que vejo-o. Não consigo deixar de lembrar dela. Me dá um aperto no coração.

Amy encarou o pacote assim que Jane colocou em suas mãos. O que iria fazer? Ela não podia simplesmente ir aceitando presentes de uma estranha. Quando pensou em sair correndo, reparou que a senhora havia sumido.

"Mais essa ainda".

 Abriu o pacote, o que ela havia a perder?

Deparou-se com uma pulseira com um pingente de coração. Encarou o pingente. Era impressão dela, ou aquilo era um relógio? Por que não havia ponteiros?

Experimentou-a. Estava perfeita. Começou a piscar. Arregalou os olhos. De onde saíram aqueles ponteiros? Como estava perfeitamente ajustado?

Tentou tirá-la. 

Apenas tentou, visto que a "maldita pulseira" não saía.

"Droga, droga, droga".

Seus dedos já estavam doendo, seu pulso estava vermelho. Mas a pulseira ainda estava lá.

Procurou o fecho, mas não tinha. Examinou a pulseira. Estranho.

Olhou em busca de ajuda e reparou que já não estava no mesmo lugar.

O céu estava escuro, cinza como em dias de chuva. O chão agora era de terra. Encarou a suposta lua. Não deveria estar dessa cor. Vinho como o vestido daquela senhora.

Não havia luz, mas ela podia enxergar perfeitamente.

Olhou para trás e levou um susto.

Virou-se para poder ver melhor. Fios brancos estavam misturados e amontoados. Pareciam estar flutuando. Olhou para os lados e concluiu que pareciam formar um muro. Examinou mais de perto. Brancos e translúcidos. Era assustador.

Mas estava curiosa. Esticou a mão e foi puxada para outro lugar.

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Levantou-se. A queda machucara seu bumbum. Mas onde tinha caído, afinal?

E o mais importante: por quê?

Olhou para frente e deparou-se com uma árvore de Natal.

Muito bonita, aliás.

Havia um garoto no sofá, ele estava segurando um pratinho azul, que combinava com a cor do seu pijama de patinhos. Amy chegou mais perto. Do lado do sofá, havia uma mesinha com um copo. Amy reparou que o garoto ainda estava com um bigode de leite.

De repente, ele abriu os olhos. Amy se assustou e foi para longe. Mas ele não havia visto-a. Ela voltou para perto do garoto. 

Deviam ser meia noite de Natal. O menininho encarou a chaminé esperançoso. 

Amy viu um homem, provavelmente o pai do garoto, se aproximando. Ele estava com sono, não deveria ter visto o filho. Mas o filho o viu. Viu também o pacote da mão dele, escrito "DE: PAPAI NOEL. PARA: LUCAS".

O menino começou a chorar e Amy já não estava mais lá.

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Ela estava de volta às ruas. Como? Não sabia.

Olhou para os pés. Estavam sujos de terra.

Ela não havia sonhado.