The Who escrita por NK Winter


Capítulo 18
Megan




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"Julie e Connor haviam começado a namorar na semana em que fiquei desacordada no hospital, apesar de todos apoiarem o caso, eu era contra, e nada podia mudar minha cabeça.

Marie arrumava meu cabelo pacientemente enquanto eu bufava sentada na cadeira.

— Pare de fazer esse barulho, você parece um animal... - disse ela me olhando pelo espelho em nossa frente.

— Eu não quero ir, não me obrigue, por favor! - perdi a ela com um beicinho.

— Você vai! E se não parar quieta vai de qualquer jeito - Marie parou e colocou as mãos na cintura. Passei a mão em meu cabelo o colocando para trás e me levantei. Num empurrão Marie me sentou de novo e balançou a cabeça - Não seja tão teimosa.

— Eu não apoio a causa...

— Eles são seus melhores amigos! Eles querem seu apoio - Marie voltará a arrumar meu cabelo.

— Eu apoio eles não juntos... - murmurei.

— Eles se gostam, dê uma chance! - pediu se afastando - Terminei. Vamos.

Resmungando baixo a segui. Nós nos encontraríamos numa lanchonete para ter um daqueles encontros duplos. Eu estava indo obrigada pela Marie, ir com os dois significava que eu apoiava os dois namorarem e não era verdade, se eu desse uma chance a eles e não desse certo, os dois estaria machucados e eu não suportaria isso. E acabaria nos quebrando ao meio.

Ao chegar à lanchonete avistei de longe Connor e Julie na entrada, Connor estava com seus braços em volta de Julie, e aquilo me pareceu extremamente errado. Como se fossem irmãos se beijando.

Marie pegou meu braço e sorriu carinhosamente.

Pedimos uma mesa para quatro e a caminho da mesa me posicionei ao lado de Connor, eu iria me sentar ao seu lado, mas Marie me puxou forte pelo braço me fazendo sentar do outro lado da mesa os deixando juntos.

— Jane... - sussurrou apenas para mim - Colabore.

Durante o almoço estava tudo bem, eu me mantive quieta. Marie me olhava o tempo todo esperando que eu fizesse alguma besteira, eu sei que estava agindo mal, mas eu só queria o melhor para eles.

— Bebe, pode me passar o sal? - pediu Julie à Connor.

Meus dedos se fecharam em punho e Marie colocou sua mão sobre a minha. Connor sorriu para Julie me deixando ainda mais irritada, era um absurdo tudo aquilo ter acontecido tão rápido, não podia ser pra valer.

— Qual é a de vocês?! - perguntei batendo a mão na mesa.

— Jane... - murmurou Marie segurando meu braço.

— Não... Nada de 'Jane', vocês estão juntos faz o que? Duas semanas? Não pode ser pra valer! Por que estão fazendo isso?! - grunhi entre os dentes, Marie suspirou cedendo e encostando-se à cadeira ao lado.

— Jane... Nós estamos fazendo isso porque nos gostamos, nenhum motivo a mais, tente entender - respondeu Julie calmamente.

— Você é uma pessoa sábia, Julie. Sempre vendo pelos lados certos! Você sabe que isso poderia acabar com todo o equilíbrio do universo... Eu me preocupo, vocês são meus melhores amigos!

— Você também é nossa melhor amiga, e não faremos nada que não queira... É só dizer - disse Connor.

— Ok. Não quero vocês juntos - conclui.

— Já chega! - interrompeu Marie - Eles se gostam Jane, você não vai perder nenhum dos dois por causa disso! Não acha que Julie não se preocupa caso nós terminemos? Ela vai ter que escolher uma das duas... É a mesma coisa. Ela da apoio a nós... Eles só querem que você fique do lado deles.

— Não é a mesma coisa... - neguei com a cabeça.

Era a mesma coisa.

— Vamos sempre estar ao seu lado, Jane - prometeu Connor.

Olhei fixamente pros dois e me apoiei na mesa.

— Se qualquer um dos dois se magoar nisso tudo... Eu mato os dois. E caso não se magoem... O filho de vocês vai ter que se chamar Joseph - exigi.

— E se for menina? - perguntou Julie sorrindo.

— Não sei... - respondi pensativa - Talvez um nome de alguma famosa bonita... Como a Megan Fox... Vocês escolhem.

Era nossa volta as aulas. O dia estava frio e cinzento, um dia nada bonito ou inspirador. Tirando o nervosismo de Marie foi um dia normal. Normal no sentido dos estudos, dos professores e de toda a escola me encarando engraçado.

Marie esteve comigo o intervalo todo. Eu, Connor, Ron, Julie e Marie. Pela primeira vez juntos. Todos do primeiro ano a olhavam, mas Marie nem se virava com medo de encontrar seus olhares maldosos. Eu podia sentir que estava tensa, não a culpava. Ela não pegava na minha mão e nem me evitava, mas não deixou meu lado por hora alguma, e aquilo me fazia feliz, sabia o quão aquilo era difícil para ela.

Talvez ela não quisesse jogar na cara de ninguém que estávamos juntas, poderia acabar passando a seus pais, e isso também cabia a mim. Sei que meu pai nunca seria um problema, mas era questão de tempo para eles descobrirem. Nós teríamos que contar a eles, e contamos uns anos depois, assim que Marie terminou o colegial.

Meu pai aceitou numa boa, nos apoiou e deixou que Marie ficasse um tempo em casa. Seus pais não aceitaram tão bem assim, eu não tive oportunidade de conhecê-los direito, de qualquer maneira... No final do intervalo enquanto eu e Marie subíamos para a sala de aula notei algo estranho. Cruzamos com Josh e seu grupo de amigos, o que me fez lembrar a conversa que tive com Marie e a conversa que eu ouvi na ala masculina da estação de esqui.

Josh logo que nos avistou olhou para Marie. E a coisa que mais temia aconteceu. Ele sorriu maliciosamente olhando fixamente para Marie. Ele parecia satisfeito e Marie ficou ainda mais tensa do que já estava. Sem perceber que vi seus olhares Marie acelerou o passo nos levando à sala de aula mais cedo.

Talvez aquela fosse a hora. A hora de perguntar.

— Marie... - a chamei assim que chegamos à porta de sua sala.

Marie se posicionou na parede ao lado da porta e me olhou.

— Sim?

— Eu... Estava pensando esses dias... Quando nós brigamos na estação de esqui, sobre o garoto do segundo ano que estava planejando de ir ao seu quarto à noite... - Marie abaixou o olhar e continuei - Eu estava preocupada com você, e não tive a oportunidade de perguntar se ele te fez algo.

— Mas isso já faz tanto tempo, Jane... Não importa - disse ainda olhando para baixo.

— Eu só me preocupo.

— Não aconteceu nada... - insistiu.

Depois disso nunca mais perguntei, mas não era o que parecia.

Deixei isso e todo o resto de lado, Josh não me incomodou mais nos corredores, e Marie foi melhorando com o passar do tempo, ela começou a não se importar com o que diziam e falavam. Nosso namoro foi crescendo e ficando mais forte.

Até que o dia que eu tive que sair da escola, nosso ultima ano havia acabado, e Marie estava arrasada. Eu fui fazer faculdade na cidade, mas continuei morando com meu pai, ficávamos perto uma da outra, então tentávamos nos ver sempre que possível. Meu pai a essa altura já sabia do namoro então apoiou suas visitas.

Após mais dois anos Marie começou sua faculdade, nós duas seguíamos o rumo que as duas sonhavam, e não podíamos estar mais felizes juntas. Nós duas estudávamos na cidade e quando terminei minha faculdade decidi me mudar para lá.

Compramos um apartamento juntas e continuamos vivendo a vida. Marie sempre foi o mesmo doce de sempre, claro que depois de muitos anos ela acabou mudando um pouco, mas ainda vejo bondade em si, ainda vejo a pequena The Who pela qual me apaixonei.

Agora com 48 anos ainda juntas, eu sei que somos felizes e eu não faria nada diferente.

Connor e Julie também continuam juntos, infelizmente não tiveram um filho chamado Joseph, mas tiveram uma linda menina chamada Megan.

Ron casou-se também e foi para o Japão trabalhar como programador de jogos. Não o vejo faz mais de cinco anos, mas estou feliz por ele, está fazendo o que gosta com quem gosta.

Assim como eu."

Aquele tinha sido o fim. Eu não sabia o que sentir, eu só tinha lido o que já sabia. Todas aquelas semanas me dedicando no diário e em Jane, para no final acabar com um final feliz como "viveram felizes para sempre".

Numa explosão de sentimentos gritei jogando o diário do outro lado do quarto.

— É SÓ ISSO?! - me virei chutando a caixa onde havia achado o diário no chão - TUDO ISSO POR NADA?! VOCÊ NÃO TEM NADA A DIZER?

A foto de Jane no chão sorria para mim. A caixa havia espalhado suas lembranças pelo chão do quarto, nada mais fazia sentido. Por que Jane teria escrito tudo aquilo sem nenhum proposito? Nada como "Viu o que perdeu?". Nenhum endereço ou telefone. Nada.

Nada.

Me ajoelhei para recolher o que havia caído da caixa. Ingressos de cinema, fotos, boletins, passagens de ônibus e avião, o bilhete que havia recebido no meu aniversário "J". Mas nada que me desse alguma pista.

— Por que você não quer ser achada, Jane? - perguntei segurando sua foto. Éramos eu e Jane na minha formatura, ela me abraçava de lado sorrindo, seus cabelos mais curtos do que me lembrava. Eram quase quatro anos depois que começamos a namorar, estávamos a tempo o bastante para nos sentirmos a vontade uma com a outra - Como que você escreve algo assim sem motivo? Tem algo, não tem? - Me virei para o diário caído do outro lado do quarto.

Fui até o caderninho vermelho e o guardei na caixa junto com a foto e o resto das coisas. Tentei me lembrar de tudo que Jane me dissera, qualquer coisa que seja útil. As histórias que Jane contou no diário... Nada parecia me levar a lugar algum.

"Agora com 48 anos ainda juntas, eu sei que somos felizes e eu não faria nada diferente."

Nós estávamos juntas. Pensei. Esse diário foi escrito enquanto nós ainda morávamos juntas, não estávamos brigando nem afastadas, estávamos felizes. Mas aquele caderninho não me era familiar, não me lembrava de ter visto Jane com ele hora nenhuma, era como se ele tivesse aparecido do nada.

Eu sabia como ela tinha escrito seu diário, eu sabia de todo o resto. E estava pronta para vê-la.

— Esquece - disse Julie de braços cruzados na porta.

— Eu terminei! - disse sorridente.

— Sabe que é a terceira vez em uma semana que você me aparece aqui? Mais vezes do que você veio em um ano antes de achar esse caderno idiota - Julie parecia mais emburrada do que das outras vezes que a vira.

— Não é um caderno idiota... - franzi o cenho - Eu entendi agora, eu preciso vê-la.

— Não você não entendeu - corrigiu - E mesmo que eu quisesse te dizer onde achá-la. Eu não posso - lamentou erguendo os ombros ainda de braços cruzados assim como tinha me recebido.

— Mas... Você disse que se eu estivesse pronta diria... Por favor! - implorei juntando as mãos.

— Não é mais decisão minha. Jane não quer te ver...

— Você falou com ela?! - interrompi - Você a viu? Como ela está? Quando falou com ela? - perguntei animada.

— Ela. Não. Quer. Te. Ver! - disse lentamente deixando um grande intervalo entre as palavras. Me senti a criança do diário de Jane novamente - Olha só, Marie... Não digo isso por que eu não quero mais vocês juntas, eu digo isso por que a Jane não quer mais vocês juntas - disse enfatizando o nome de Jane - Então desiste. Não fique mal, mas... Segue sua vida.

— Eu... Eu achei... - Tantos anos agindo mal e sendo egoísta deveria ser eu dando uma bronca assim, mas eu não tinha mais vontade disso. Eu só queria fazer todos que eu amava bem novamente, nenhum deles me queria mais.

Fui para casa sem discussão. Eu não estava pronta para desistir, porém não podia continuar daquele jeito. Tudo estava ao favor de Jane e eu entendia isso, como chegar a algo invisível sem que ninguém a deixe? Talvez fosse melhor esperar. Terminar minha mudança e colocar minha vida no lugar, algo que eu tentava desde que nós duas terminamos.

Após arrumar todo meu apartamento para a mudança eu fiquei horas foleando o diário, procurando algo útil. Eu já havia procurado ela em seu antigo emprego e nada. Havia procurado na casa de seu pai e nada. Ela não estaria em nenhum outro pet shop, mas algo me dizia que ela não estava longe.


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