Após pegarmos algumas armas, estávamos prontos para travarmos nossa guerra. Apenas Simon e eu, contra todos que haviam sequestrado nossos amigos.

Eu não iria voltar de lá sem a minha mãe e sem o Max.

Simon me obrigou a ir com ele. Disse que precisava me proteger. Eu preferia ir sozinha, assim poderia trabalhar melhor. Mas ele insistiu demais e eu acabei cedendo.

Nos afastamos um pouco da minha casa, antes que alguém resolvesse ir procurar por mim e me encontrasse, facilmente, próximo ao local de onde eu fugira.

Fomos até o parque onde havíamos nos beijado há poucos minutos. Eu peguei minha estela e estava começando a desenhar a marca que abriria um portal quando uma voz feminina e delicada soou atrás de nós:

— Eu posso ir com vocês? — perguntou a dona da voz.

— Não! — respondeu Simon, abruptamente.

Eu virei para olhá-la e meus olhos se depararam com uma bela mulher loira. Ela poderia se passar por uma humana, se não fossem as asas de fada atrás de suas costas.

— Por favor — insistiu ela — sei que vocês estão indo resgatar seus amigos e eu quero ter a chance de poder resgatar a minha mãe também.

Aquelas palavras me tocaram. Eu estava indo resgatar a minha mãe e me senti injusta ao não permitir que ela fizesse o mesmo. Mas ser tomada por esse tipo de sentimento já me fez quase ser morta por um bando de lobisomens uma vez. Eu não podia permitir que acontecesse outra vez.

— Quais seus planos, fada? — perguntei.

Fadas não eram criaturas bonitinhas que faziam crescer flores e ajudavam animais indefesos. Eram seres diabólicos e malévolos. Mas jamais podiam mentir.

— Ir com vocês, resgatar a minha mãe e levá-la de volta a corte Seelie — disse ela. — É só isso.

Simon e eu trocamos um olhar. Ele estava tão desconfiado quanto eu. Mas talvez a ajuda dela pudesse ter alguma valia.

— E porque a princesa quer resgatar a mamãe pessoalmente? — perguntou Simon, irônico.

— Porque eu posso oferecer algo em troca da minha mãe — respondeu a fada.

— E o que seria isso? — perguntei.

Ela mostrou um frasco com um liquido vermelho dentro.

— Sangue? — indagou Simon. — Em que isso poderia ser útil?

— Posso dar a Lilith a chance de ressuscitar o seu filho, Sebastian — disse ela, agora com a voz menos melodiosa. — Sei que ela ainda quer fazê-lo e com Sebastian, não precisará de Valentim.

— Sebastian ainda é uma ameaça para nós — respondeu Simon.

— Mas com isso, você salva seus amigos — disse, dirigindo-se a Simon. Depois voltou-se para mim. — E você, salva sua mãe e o garoto que ama.

Aquelas palavras me atingiram de uma forma tão forte que eu quase as pude sentir fisicamente. Que mal poderia haver em dar um pouco de sangue em troca da vida da minha mãe, do meu irmão e... do garoto que eu amava? Do Max.

Eu não havia percebido até então que era por ele que meu coração batia. Por isso o beijo do Simon não me causara nenhum efeito, por isso que eu não sentira nada ao beijá-lo. Minhas pernas não haviam ficado tremendo, não houve borboletas no meu estomago. Nada. Apenas um sentimento de realização, por fazer algo que eu desejava fazer a muito tempo.

Eu precisava salvar o Max. Precisava dizer a ele que os momentos mais felizes que passei foram ao lado dele. Desde a infância, desde que começamos a treinar, desde que fizemos nossas primeiras missões juntos. Eu o amava. Eu só esperava não ter percebido isso tarde demais.

— Sua ajuda pode ser necessária — anunciei por fim, recebendo um olhar de reprovação de Simon que ignorei.

Passamos pelo portal. A presença da fada me incomodava, mas ela poderia ser de alguma utilidade no final. Eu o havia projetado para nos levar até a porta do templo. O mesmo local onde saíra com Alec no dia anterior.

Como eu esperava, a porta estava fechada. Desenhei um símbolo de abertura na maçaneta e quando a girei ela me atendeu, fazendo a porta se abrir e permitindo que entrássemos no local.

Diferentemente da ultima vez que estive ali, não havia nenhum corpo no altar. Nem ao lado. Aquilo parecia estranho. Eles haviam desistido do ritual? Parecia pouco provável.

Caminhei em direção as celas onde o tio Alec havia sido mantido. As não havia nem sinal de Max ou da minha mãe. E nem dos antigos prisioneiros dali. Da ultima vez que estivera ali haviam fadas e feiticeiros. Talvez com a captura da rainha da corte Seelie, não fosse mais necessário manter os filhos de Lilith prisioneiros.

Não queria imaginar o que poderia ter acontecido a eles.

No final do corredor havia uma parede falsa, cuja existência teria passado despercebida por mim, caso não tivesse a visão de um vampiro a meu favor.

Movemos a porta e atrás dela havia uma escada em espiral. Fiquei com minha mão em minha lamina serafim enquanto subíamos as escadas. Simon ia na frente e a fada seguia atrás de mim. Eu sabia que não devia confiar nela. Mas que escolha eu tinha? Se tratava da vida da minha mãe, do meu irmão e do Max.

No final da escadaria havia uma espécie de câmara. O local não era grande, mas caberia pessoas o suficiente para fazer um culto. E talvez fosse o que fizessem ali a julgar pelas janelas pintadas de preto e os candelabros espelhados pelo local.

No centro da câmara havia um corpo nu, jogado. Havia marcas por todo o seu corpo. Parecia estar bastante machucado. Meus olhos encheram-se de lágrimas quando o vi naquela situação.

Ele ergueu seus olhos cor de lápis lazuli e fitou-me. Ele sussurrou uma única palavra, com demasiado esforço antes de desmaiar:

— Line...

As lágrimas que se formaram em meus olhos escorreram pela minha face. O que haviam feito a ele? Eu me vingaria. Faria cada um deles pagar por toda a dor que haviam provocado ao Max.