Os Opostos Se Atraem escrita por Lasanha4ever


Capítulo 12
Capítulo 11




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Já se passaram dois meses desde que o Thompson finalmente saiu daqui e o Lipe pode morar legalmente comigo. O Danilo está trabalhando como vendedor de uma loja de música, cinco vezes por semana, das cinco até as dez, e está ganhando duas mil libras por mês, o que não é muito ruim. Metade ele guarda para pagar o colégio ano que vem, e a outra metade, ele me ajuda com os gastos normais. Também gostaria de estar trabalhando, mas não poderia deixar o Lipe sozinho.

Falando no Lipe, ele finalmente está namorando a Anne. Ficam com as mãos entrelaçadas, e ele vive dando um beijo na bochecha dela. Completamente fofo. O amigo dele nunca mais falou com ele, e nem implicou com a Anne. O Lipe diz que sente saudades dele, mas que na ultima vez que conversou com o amigo e eles combinaram de não conversar nunca mais enquanto o Lipe estiver com a Anne.

Agora, eu estou tentando estudar história enquanto o Lipe brinca com a Anne na sala, e o Danilo trabalha. Ele só volta daqui a duas horas. Sim, a Anne está ficando até tarde por aqui. E ela vai dormir aqui hoje, já que os pais estão viajando a trabalho e a babá está doente.

Antes de mais alguma coisa, só avisando que eu e o Danilo NÃO estamos namorando. Nossa amizade com benefícios está muito bem, obrigada.

Continuo tentando estudar, mas meu pensamento está em um adolescente de barba rala, cabelo encaracolado e lábios sedutores.

– Bu. – escuto a voz dele e pulo de susto, mas com um meio sorriso no rosto.

– Idiota, levei um susto.

– Só faltava berrar.

Reviro os olhos. Ele me abraça forte e se deita no colchão comigo, dando-me um beijo na testa.

– Tô com preguiça de estudar, Fernandinha.

– Que peninha, né. Vai tomar seu banho, eu acabo de estudar aqui e te ajudo, pode ser?

– Tá. Traz comida pra mim? Tô morrendo de fome.

Enquanto ele toma um banho lento e relaxante, eu acabo de ler o ultimo parágrafo da matéria e peço uma pizza. O Lipe e a Anne já estão quase dormindo. Separo o pijama deles e os coloco para dormir. Os dois dormem na cama, um em cada canto. Como anjinhos.

A pizza chega assim que o Danilo sai do banheiro, com apenas a toalha enrolada na cintura, o cabelo molhado, assim como o corpo. Sensualizando no quarto. Olha para mim e sorri. Reviro os olhos, fecho a boca e vou pegar a pizza.

Calabresa. Ô pizza boa, viu. Ele comeu mais da metade da pizza, antes de ter sua fome saciada. Já são quase onze horas. Estudamos juntos até meia noite e meia, e então, ele dorme tranquilamente, com o livro de história em seu peito. Deixo-o deitado no sofá e cubro-o com um cobertor. Quando vou saindo da sala, ele segura minha mão.

– Fica aqui comigo, Fernandinha. – ele resmunga. A voz rouca de sono, os olhos se fechando independente de seu esforço de mantê-los abertos. Deixo-me ser puxada para o sofá e deito na frente dele. Sinto seu abraço em minha cintura e me aconchego.

Acordo com o Danilo se mexendo e me colocando em cima dele, com a cabeça em seu peito, e as mãos dele um pouco mais para o sul do que eu gostaria. Ali não são as minhas costas. Definitivamente não. Saio de perto dele e vejo as horas. Sete horas. Merda. Acordo o Danilo e corro para acordar os pequenos, que já estão acordados, brincando de pique esconde.

Fomos para a escola correndo feito doido. Cada um segurando uma criança no colo. O ônibus não parou no nosso ponto. Chegamos à escola atrasados, mas deu para entrar. A aula foi entediante e demorada. Quase escutamos os anjos cantando ao final do ultimo tempo.

Comemos no McDonald’s só nós três, já que a Anne tinha médico e bem, ela não vive com a gente. Minutos depois, o Danilo me dá um beijo, afaga a cabeça do Lipe e corre para o trabalho. Essa é a nossa rotina durante toda a semana. Entediante, cansativa, corrida.

Sinto alguém me levantando e abro os olhos, ainda grogue de sono, e vejo um Danilo embaçado.

– O que você tá fazendo? – pergunto com a voz rouca de sono.

Que horas são? Quanto tempo eu dormi? Que dia é hoje?

– Tô te levando pro quarto, Fernandinha, você dormiu na sala.

Ele voltou do trabalho agora? Que horas que eu fui dormir?

Abraço-o com força enquanto ele me leva para cima. O Lipe já está dormindo, o que é raro. Todos estão cansados hoje, essa é a verdade. O Danilo me deita delicadamente no colchão. Ele vai tomar o banho dele e eu cochilo, mas percebo quando ele volta. Ele deita trás de mim e me abraça. Numa escala de um a dez, o quanto eu amo isso? Mil. É simplesmente perfeito dormir de conchinha com alguém, e quando esse alguém é o Danilo, é muito melhor.

Sábado e domingo passam rapidamente. Nós nem sequer saímos do apartamento. Ficamos brincando na sala de tudo que se possa imaginar, depois pedimos pizza e vimos filmes.

– Ei, Lipe, vai indo dormir que eu vou ajudar a Fernandinha com essa bagunça.

– Ok. – ele responde sonolento.

Assim que o Lipe sobe as escadas, o Danilo me abraça forte e morde meu lábio inferior com um olhar diferente. Mas um diferente bom.

Mordida vai, mordida vem, quando me dou conta, estamos deitados no sofá, com a respiração acelerada e lábios colados.

A noite passa rapidamente, e o sono só vem de madrugada. Dormimos ali mesmo no sofá, abraçados.

Fomos para a escola, todos cansados. A aula passa lenta e entediante. Quando saímos, encontramos o Lipe brincando com um cachorro, um labrador enorme, que deve ser mais pesado até que eu, ok, nem tanto.

– Fê, podemos ficar com ele? – o Lipe pede com os olhinhos brilhando. Olho para o cachorro. Incrível, os olhos pidões são os mesmos.

– Vai dar muito trabalho, Lipe. – começo a resmungar, mas os dois me interrompem.

– Vai, o que pode dar errado? O cachorro parece ser tão calminho. – o Danilo fala enquanto brinca com o cachorro.

Depois de muitos pedidos, eu falo para eles fazerem o que quiserem. Já estou um tanto quanto muito irritada. O cachorrinho até que é fofo, eu assumo, mas mesmo assim, ainda estou irritada. Antes de voltarmos para casa, compramos uma coleira e um brinquedo de pelúcia para ele. Ideia do Lipe. Não acho muito bom dar pelúcias a um cachorro, mas enfim.

Chegamos ao apartamento, o cachorro, agora com o nome de Bob, o Lipe que quis. Nós nos esquecemos de comprar ração para ele, então corto um pedaço de carne crua e dou para ele. O Lipe e o Danilo dão um banho nele enquanto eu estudo. Assim que acabo, fico vendo televisão até liberarem o banheiro. Acho que acabei dormindo porque o Danilo está me levando no colo.

Sou colocada na cama e sinto uma lambida em meu pé. Resmungo e, sem abrir os olhos, cubro-me com o cobertor, ignorando o riso dos dois. O Bob tá me irritando.

Durmo cinco minutos depois, com o Danilo ainda brincando com o Bob e com a risada do Lipe ecoando no quarto.

No dia seguinte, o Bob já está bem à vontade por aqui, e suja o apartamento todo com suas necessidades, dais quais são limpas pelo Lipe e pelo Danilo. Tento me concentrar na escola, mas o Bob sempre está fazendo bagunça. Ele nunca para quieto.

A rotina durante a primeira semana com o Bob aqui é o seguinte. Antes de irmos ao colégio, o deixamos com um pote com comida e outro com água, e um osso, que o Danilo comprou. Quando eu e o Lipe voltamos, damos mais comida à ele, colocamos mais água no pote e, depois dos deveres de casa feitos, o levamos para passear. Quando o Danilo chega, ele brinca com o Bob enquanto eu tomo banho e preparo a janta. O Lipe e o Danilo tomam banho juntos, e o Bob descansa ao som da televisão ligada. Jantamos e o Bob também. Então ele fica na cama com o Lipe, vendo desenho animado, e eu e o Danilo ficamos no sofá da sala, ora nos beijando, ora só abraçados, ora ambos, ora apenas brincando. Notei que, de uns dias para cá, o Danilo tem sido bem mais carinhoso e fofo comigo. E eu estou começando a gostar disso. Ok, eu já estou gostando muito disso. Mas não quero que ele perceba.

– Fernandinha, eu e o Lipe vamos dar banho no Bob, arruma pra gente alguma toalha que possa ser mordida. – o Danilo pede, assim que eu acabo de pedir a pizza.

Procuro uma toalha surrada e grande o suficiente. Dou à eles e vou para a sala usar o laptop e ver televisão.

A pizza chega dez minutos depois. Comemos todos e então fomos brincar com o Bob. É, eles me convenceram a brincar também. Eu assumo que o Bob é muito fofo, e sapeca, e hiperativo, mas ele é muito fofo.

Fomos todos dormir porque amanha é segunda e tem aula.

O Bob acabou de me com aqueles olhos grandes e brilhantes. Ele me acordou com lambidas no rosto – o que não é tão agradável quanto parece, mas nem tão nojento assim. A língua dele me faz acordar rindo, olho para ele e encontro ele me olhando com aquele jeitinho tão inocente e feliz que me faz sorrir.

– Own, vem cá, Bob! – dou-lhe um abraço forte e ele me dá mais uma lambida na bochecha. E então ele lambe o Danilo na boca, e, ao contrário de mim, ele não acordou muito feliz com isso. Correu para o banheiro para tirar a baba da boca – ele estava dormindo de boca aberta. Eu fico rindo feito uma hiena enquanto o Bob pula na cama e o Lipe acorda instantaneamente.

– Ei, Danilo, eu acho que o Bob quer te dar mais um beijo! – falo enquanto o Bob corre na direção do Danilo, que está saindo do banheiro.

Ele olha maliciosamente em minha direção e eu corro por instinto. Desço as escadas o mais rápido possível, com o Danilo bem atrás de mim, e o Bob perseguindo o Danilo. Provavelmente o Lipe está vindo também.

O Danilo quer me beijar. Ele quer me beijar depois de ser beijado pelo Bob. Nem ferrando. Gosto do Bob, gosto do Danilo, mas não quero a baba do Bob na minha boca. Corro até não poder mais, e o Danilo desiste. Entro no closet e me visto para o colégio.

O Danilo entra assim que eu coloco a calça jeans e tiro a blusa do pijama.

– Opa, cheguei na hora certa! – o Danilo safado? Imagina, ele é um anjinho.

Coloco rapidamente a blusa e ele é recebido com um olhar de raiva. Reviro os olhos ao vê-lo sorrindo e tento sair do closet, mas, como sempre, ele me abraça forte e não me deixa escapar.

– Agora você não foge mais. – ele sussurra.

– Ei! – não tenho tempo de fazer mais nada, no segundo seguinte, ele já está com os lábios nos meus. Tento não beijá-lo, mas é impossível. Meus lábios se movem por conta própria. Minhas mãos agarram o cabelo dele e eu o puxo para perto, intensificando do beijo.

O Bob começa a arranhar a porta do closet para entrar, e o Lipe ri alto.

Interrompemos o beijo e olhamos um para o outro. Ele sorri e me dá uma mordida discreta no lábio inferior. Ô gesto que me seduz.

– Não quero sair daqui. – ele resmunga, enquanto a risada do Lipe se torna mais alta.

– Eu também não, mas temos aula.

Saio de seu abraço e do closet.

– Lipe, eu vou te pegar! – o Danilo berra, tentando parecer bravo enquanto o Lipe fica cantando aquela musiquinha: “Danilo and Fê sittin’ in a tree. K-I-S-S-I-N-G”.

Tomamos o café da manhã e o Lipe finalmente ficou calado. Claro, depois de um ataque de cosquinha que o Danilo deu nele, quem não ficaria quieto. Até o Bob ficou com medo.

Deixamos o Bob brincando com o osso na sala, e fechamos todos os quartos pra ele não fazer bagunça. Também colocamos uma fralda nele, sim, uma fralda. No inicio, nenhum dos três quis que eu colocasse, mas o Bob se acostumou. O Lipe e o Danilo gostaram da ideia de não ter o apartamento fedendo a bosta e urina.

Fomos para o colégio com aquela alegria sem fim, só que não. O Lipe é o mais animado, mas isso é porque ele não tem nada chato nas aulas. E ele tem a hora da soneca. Ainda.

Hoje eu só tenho aula boa pra dormir. O Danilo já senta na carteira ao lado da minha, sendo que a nossa sala está diferente agora, e a mesa é maior, então são dois alunos por mesa.

Aula vai, aula vem. Eu acabo dormindo. Vira e mexe o Danilo me acordava, mas eu voltava a dormir no minuto seguinte, então era em vão.

– Ei, Fernandinha, hoje eu vou me atrasar um pouco pra voltar pra casa porque vou fazer hora extra lá no trabalho. – ele fala assim que o professor entra na sala de aula.

– Jura? – resmungo. Odeio quando ele demora pra voltar, porque eu sempre estou cansada no final do dia, e quero dormir, mas não posso, porque o Lipe quer ficar brincando e não tem com quem mais brincar a não ser eu.

– Não, tô de sacanagem. – ele, irônico? Imagina...

– Idiota. – dou-lhe um tapa no braço e ignorando o professor carrancudo olhando em nossa direção.

Uma hora depois, estou quase dormindo, de novo. O Danilo, ao invés de me acordar, ainda fica fazendo cafuné. Quando dou conta, já estamos nos cinco minutos finais.

– Eu perdi muita coisa? – pergunto enquanto coço os olhos numa tentativa de perder o sono.

– Não, os dois professores que entraram aqui ficaram dando um sermão sobre responsabilidade nos estudos.

– Que divertido. – resmungo, levantando da cadeira e arrumando as coisas na mochila.

– Ei, Fernandinha, hoje à noite, quando eu voltar do trabalho, e depois que o Lipe for dormir, - ele para de falar, começa a ficar vermelho – Eu e você, nós poderíamos – mais uma pausa, ele olha para mim e engole seco. Por que ele está sem jeito? – sair juntos?

Eu e ele. Juntos. À noite. Sozinhos. Ele realmente pediu isso?

Percebo que já estou sorrindo quando ele sorri para mim, com os olhos brilhando.

– Isso é um sim? – pergunta mais confiante.

– Claro, eu adoro comida de graça. – não seria eu se não implicasse com ele.

– Que aproveitadora! – ele pega minha mochila e eu mostro a língua pra ele.

Compramos sorvetes no caminho do trabalho dele. O Lipe está querendo voltar logo pra casa pra brincar com o Bob, então não demoramos muito. Assim que eu e o Danilo acabamos de tomar nossos sorvetes, ele foi trabalhar e eu voltei pra casa com o Lipe.

– Fê, eu tenho que fazer meu dever de casa? – ele pergunta enquanto o Bob o lambe todo, querendo brincar.

– Claro que sim. Vem cá, Bob, deixe o Lipe se concentrar no dever. – o Bob me segue meio contra a vontade.

Faço meu dever de casa enquanto o Bob brinca com o tapete. Preparo um pouco de comida para o Lipe jantar, desta vez é strogonoff de carne, e coloco ele para tomar banho na banheira – ele que pediu. Já são oito horas. O Lipe acabou de entrar no banho e eu estou brincando com o Bob de pique-pega. Ele sempre ganha, mas enfim.

Já são nove e meia. O Lipe totalmente elétrico assim como o Bob.

– Vamos passear com o Bob, Fê.

– Essa hora, Lipe? Não acha que está meio tarde não? – resmungo.

– Não, vamos lá fora, o Bob também quer.

É claro que o Bob também quer. Ele é um cachorro! Cachorros gostam de passear. Coloco um short e uma blusa de alça. Boto o Bob na coleira e tranco o apartamento. Primeiro, eu levo o Bob e o Lipe fica brincando com ele, mas depois, o Lipe pede para eu deixa-lo levar o Bob. Eu deixo, até porque o Bob está tranquilo hoje.

Cinco minutinhos e tudo tranquilo. Meu celular toca, é o Danilo.

– Ei, Fernandinha, consegui sair cedo do trabalho, cadê você?

– Que milagre é esse! – rio. – Eu tô passeando com o Lipe e o Bob, mas já que você já chegou, já estou voltando e-

Nesse momento passa um caminhão buzinando e freando, só que o freio está ruim, então faz aquele barulho estridente. O Bob se assusta, mas parte para cima do caminhão, levando o Lipe junto. O caminhão não vai conseguir parar a tempo. Que merda!

– Danilo, eu já volto! – berro enquanto corro o mais rápido possível e empurro o Lipe com o Bob para longe da frente do caminhão, em questão de segundos antes do impacto. Só que eu não consegui me tirar da frente do caminhão. Sinto o caminhão batendo em mim, e a dor insuportável de meus ossos quebrando, meu corpo sendo esfregado no asfalto e os berros desesperadores do Lipe. E então, mais nada.


[Danilo]


– Fernandinha, você tá aí? Tá tudo bem? Que porra de barulho é esse?

– Danilo, eu já volto! – ela berra e eu só escuto uns berros e um barulho estranho que parece alguma coisa quebrando.

Deu merda.

– Fernandinha, tá tudo bem? Fernanda! Responde porra! – berro enquanto saio correndo do apartamento para encontra-la. Corro pelas ruas mais próximas, mas não a encontro. Escuto o barulho da ambulância se aproximando e me desespero. O som continua tocando, mas desta vez, vindo de um só lugar.

Corro, guiando-me pelo som. Demoro um pouco para encontrar, mas quando encontro, deparo-me com a seguinte cena. O Lipe chorando, abraçado com o Bob, um caminhão no meio da rua, parado, sangue no chão, uma ambulância ao lado e um corpo coberto por um plástico preto.

Puta Que Pariu. Corro em direção ao Lipe.

– Lipe, o que diabo aconteceu? – quase berro. Estou desesperado.

– A Fê, ela, ela, ela, ela tava, tentando me, tentando me, tentando me salvar do caminhão. – ele gagueja, tenta controlar as lágrimas e continuar a explicação, mas eu já entendo tudo.

Corro em direção ao corpo coberto pelo saco preto.

– Ela, ela tá morta? – pergunto ao bombeiro.

– Você conhece a menina? – ele me pergunta, levantado uma sobrancelha ao ver as lágrimas caindo livremente pelo meu rosto.

– Sim.

– É o responsável dela?

– Não, sou o – quem eu sou para ela? Amigo, amigo colorido, quase namorado? – namorado dela. Ela, ela não está morta, está?

Ele me olha com cara de pena.

– Sim, ela faleceu. Quando chegamos, ela já havia morrido.

Ela faleceu. Quando chegamos, ela já havia morrido. Essa frase se passa em minha mente milhões de vezes, matando-me aos poucos.

Fico caído no chão, chorando feito um bebezinho. O chão está com sangue. O sangue da Fernandinha. O sangue da pessoa mais importante da minha vida.

Vejo o Lipe correndo para o meu lado. Ele está chorando que nem eu. Deve ter sido terrível para ele presenciar isso tudo. Abraço-o forte e afago sua cabeça enquanto choramos numa tentativa de que nossos corações parem de doer. Como se fosse tão simples. Permito-me ter ódio pelo Bob, mas depois de ver em seus olhos, não sinto tanto ódio assim. Parece até que o Bob está chorando. Seus olhos demonstram tristeza. Ele uiva e se coloca ao lado do Lipe.

Eu ia pedir a Fernandinha em namoro hoje, e prometer a ela que ficaríamos juntos para sempre. Diria que ela nunca se livraria de mim, que eu implicaria com ela pelo resto da vida. Falaria que a amo. Ela não pode estar morta. Como eu posso ser feliz se ela não estiver ao meu lado?

Sinto como se fossem séculos chorando no meio da rua quando o bombeiro me manda acompanhá-lo. Peço que ele espere. Levo o Lipe e o Bob para casa, dou um banho neles, coloco-os para dormir e falo que a Fernandinha está num lugar melhor agora, e que ela ama muito os dois. Afago a cabeça de ambos e engulo o choro. Não posso mais chorar na frente deles.

Encontro o bombeiro na entrada do prédio.

– Senhor, nós precisamos contatar com os responsáveis da menina, e precisamos identifica-la. Precisamos de você para isso. Quero que venha conosco para a polícia.

Respondo tudo o que eu sei para os dois policiais. E ligo para os pais dela. Conto o que aconteceu. Eles choram. Choram muito. A Fernandinha estava errada, seus pais a amavam. Ela vai ser enterrada no cemitério aqui em Londres mesmo, seus pais vão chegar depois de amanhã para ver os detalhes.

– Posso, eu posso vê-la? Uma última vez. Por favor. – peço ao policial mais velho. Ele olha para o outro e ambos fazem que sim com a cabeça. Eles me levam ao hospital, no necrotério.

Isso aqui fede. Eles tiram o plástico preto de cima da Fernandinha.

– Posso ter um pouco de privacidade, por favor?

– Você tem dez minutos.

Assim que eles saem da sala, eu me permito chorar. Ela está muito machucada. Seus braços, pernas e costelas estão terríveis, e tem fraturas externas também. E sangue, há sangue por toda parte. Em seu corpo, em seu rosto, em seu cabelo, em seus lábios, em suas pálpebras. Passo o dedo delicadamente em seu rosto. A pele está fria. Eu não sei por que me surpreendi. Ela está morta, seu idiota! A pele dela tem que estar fria!

– Eu amo você, Fernandinha. – sussurro, controlando as lágrimas e dando uma fungada. – Te amo tanto a tanto tempo que você deve ter até percebido. Eu ia te pedir em namoro hoje, mas como sempre, tudo corre do jeito que a gente não quer. A vida fodeu a gente de vez, Fernandinha. Não sei como vou suportar isso tudo sem você. Tenho medo de ser o antigo Danilo novamente. Eu prometo para você que farei de tudo para não mudar para pior. Vou fazer de tudo para ficar com o Lipe, porque eu sei o quão importante ele é pra você. – respiro fundo e seguro as lágrimas. - Eu vou te amar pra sempre, Fernandinha. Eu te prometo. Eu amo você pra caralho. E eu sou um imbecil por não ter te contado antes. E agora é tarde demais. Mas, se existir mesmo um paraíso, ou um modo de você estar aqui, ou pelo menos me ouvindo. Quero que saiba que esse idiota aqui te ama pra caralho.


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Notas finais do capítulo

esse não é o fim, e por favor, não me matem ;P