O Beijo Da Traição escrita por By Thay gc


Capítulo 6
O passado machuca




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Alguns dias se passaram e meu 'relacionamento' com Dimitri se mostrava cada vez pior, ao meu olhar e com certeza o dele também, eramos apenas algo como " guardião e protegida ", até mesmo durante os treinos estávamos estranhos, mas aquela sensação de toca-lo e beijar aqueles lábios que pareciam me chamar, ainda estava lá. Eu não podia ficar tempo demais próxima a ele, tinha medo que fizesse algo.

Eu estava terminando de guardar meu livros da escola, quando resolvi conversar com Abe, ele estava muito esquisito, vivia dentro do escritório, eu sentia falta dele. Entrei em sua sala e me sentei na cadeira a sua frente, ele estava mexendo em alguns papeis, vi um copo vazio em sua frente, percebi que seus olhos estavam vermelhos, ele tinha chorado.

- Tudo bem pai? 

- Sim. - ele falou ainda concentrado na papelada.

- Por que não saímos pra tomar um sorvete ou apenas sair um pouco daqui? 

 - Quer mesmo sair? Não basta ter saído um pouco aquele dia com seu amigo e quase acontecer o pior? Se Dimitri não estivesse por lá, não sei o que poderia ter acontecido.

- Mas pai, ele e seus seguranças poderiam vir com a gente.

- Basta Rosemarie. Não vou colocar você em perigo, e outra, estou muito ocupado agora.

- O que aconteceu com você? - indaguei, eu não aguentava mais aquela frieza que Abe estava tendo comigo.

- Nada. Quero ficar sozinho.

Me levantei da cadeira e bati na mesa para que ele prestasse atenção em mim. - Olha pra mim, pai. - Ele me olhou mas estava com raiva, agora sim consegui chamar sua atenção. - Por que esta me tratando assim? 

- Assim como? - perguntou, mas eu sabia que estava querendo dizer algo mais. - Sendo um bom pai? Quer que eu te largue na rua pra ser sequestrada ou pior? 

- Só quero que passe um tempo comigo. - gritei, Abe se levantou e parou em minha frente, seus punhos estavam fechados e por um instante tive medo que ele me batesse.

- Tenha respeito comigo menina, não grite nunca mais, ou vai se arrepender.

- Vai fazer o que, hein? Me prender dentro de casa? 

- Talvez, acha que não sei das coisas que faz na escola? 

- O que? Como assim? - agora eu estava perdida. O que ele queria dizer com isso?

- Fica se agarrando com todo mundo. O que aconteceu com você Rosemarie? - ah, agora os boatos chegaram até meu pai, como se já não bastasse tenho que ficar ouvindo besteiras dele.

- Como você teve coragem de acreditar nessas mentiras? 

- Mentira ou não, se você me desrespeitar mais uma vez, eu juro...

- Jura o que Abe? - interrompi quase chorando. - Vai me bater?

Agora ele não respondeu, mas eu sabia que era isso. O olhei indignada e saí de seu escritório, batendo a porta. Eu não iria chorar, não mais, cansei de chorar há muito tempo, resolvi que o melhor a fazer era bater em alguma coisa. Eu estava com uma blusinha larga e uma calça de moletom branca, e descalça. Desci até o subsolo onde Dimitri estava me esperando sentando em sua cadeira com o livro de faroeste na mão.

Já tem uns dias desde que Dimitri me deixou continuar com o meu antigo treinamento de bater no boneco, e ainda me fazia correr pela sala, ensinou alguns movimentos de auto defesa, a cada dia que passava eu ficava melhor, algumas vezes conseguia derrubar ele pra valer, outras não dava certo, eu ficava frustada com isso. 

Ele me olhou por cima do livro e com minha visão periférica vi que ele ficou me observando ir até o boneco e começar a esmurra-lo. Minha raiva, magoa e angustia estava sendo depositada naqueles chutes, socos e cotoveladas. Eu só queria tirar aqueles sentimentos de mim, sempre que isso acontecia eu descia aqui para descontar minha raiva nesse boneco. 

Eu batia e batia, ouvi alguém chamar meu nome, mas não dei atenção, era como se tudo estivesse sido desligado e só houvesse meus sentimentos ali. Até que de repente senti uma mão pega em meu ombro, com um reflexo - me lembrei uma coisa que Dimitri havia me ensinado-  eu tentei dar um chute para trás que acertaria na barriga do 'agressor', depois com mão bateria no braço dele, e tentaria torcer os dedos da pessoa. Ele conseguiu desviar do meu chute, mas não percebeu na hora que de surpresa um murro no rosto consegui atingir, o fazendo cambalear para o lado, foi tempo suficiente para que eu me jogasse em cima dele e fosse distribuir socos em seu rosto, mas ao me jogar nele, a pessoa que ainda não conseguia reconhecer, girou rapidamente, eu tropecei no tapete que estava dobrado e cai no chão com força, bati minha cabeça, senti que estava ficando meio tonta

Depois dessa batida finalmente conseguir notar o que tinha acontecido, eu realmente ataquei Dimitri, ele para se defender sem me machucar muito, tentou me bloquear, só que quando caí eu segurei seu braço o fazendo cair em cima de mim. Pude ver seu olhar, ele estava preocupado de que tivesse me machucado, eu estava com os olhos marejados e arregalados, aquela aproximação novamente, o sentimento de beija-lo de te-lo por perto estava lá mais uma vez. Eu queria poder tocar seus lábios com os meus, mas não tinha forças para isso. Dimitri estava me encarando, ele olhou para minha boca e depois deu algumas piscadas e falou me tirando do transe que era a nossa proximidade.

- Você esta bem Roza? - eu amava quando ele chamava meu nome em Russo. -sim, eu pesquisei- 

- Não. - com a mão livre, levantei até a parte de trás da minha cabeça, e fiz uma expressão de dor, estava mesmo doendo muito. Mas também não estava bem emocionalmente, acho que isso era pior que a dor física.

Ele continuou em cima de mim, sentir seu corpo em cima do meu, me fez ter pensamentos maliciosos, eu era virgem, ao contrario do que todos na escola diziam, e um desejo imenso de poder tirar as roupas de Dimitri me invadiu. Ele estava pensando em alguma coisa, não pude identificar o que era, seus olhos estava escuros. Ele piscou algumas vezes notando que ainda estava por cima de mim, ele se levantou, mas parecia não querer fazer isso. Eu sorri internamente ao perceber isso, eu o afetava de certa forma, assim como ele fazia comigo.

- Venha, deixe-me te ajudar. - ele disse estendendo as mão para mim.

Ao pegar em sua mão e levantar, a tontura bateu de novo, me fazendo quase cair, ele pegou em minha cintura e andou comigo até a cadeira, me ajudou a sentar sem que eu tombasse e ficou me observando, ele estava preocupado comigo.

- Vou pegar as chaves do carro, você vai pra um hospital. - ele disse dando as costas

- Espere. - falei o fazendo se virar rapidamente. - Fique aqui comigo Dimitri. Por favor.

Ele caminhou até mim e se agachou, ele não estava com aquela mascara de guardião que sempre tinha.

- O que aconteceu Rose? - perguntou ele se referindo ao ataque de ódio que tive.

-Eu... eu estava com raiva. - balbuciei, agora desviei meu olhar do seu, notei que minha tontura piorava, mas tentei ignorar. - Aconteceu tantas coisas, depois da morte da minha mãe, Abe se tornou tão frio, distante. Minha cabeça esta uma confusão, ainda por cima, acho que gosto de uma pessoa que... ah... esquece. 

- Roza, olhe pra mim. - eu não conseguia, queria chorar, e sabia que se fizesse isso, não iria aguentar. Ele percebeu que eu não faria e levantou meu rosto, sua mão estava no meu queixo. - Tem algo que aconteceu com você antes de sua mãe morrer? 

Uma lágrima estava prestes a cair, mas passei o dedo nos olhos para que isso fosse evitado, percebi que precisava desabafar com alguém, e queria que fosse Dimitri.

- Janine nunca foi aquela mãe que todos pensam... - hesitei, ele tirou a mão no meu queixo e  sentou na cadeira ao lado da minha. - Era ela que me treinava, e pegava pesado comigo, desde eu tinha quatorze anos, ela me batia pra valer, me deixava com hematomas, e olho roxo quase toda a semana. Tinha vezes que chegava a me arrancar sangue, quando não conseguia fazer o golpe que ela queria, me batia mais. Teve um tempo que me deixou em um colégio interno, mas não durou muito, eu consegui fugir e voltei pra casa, Alberta ficou comigo, na época da minha fuga, meus pais estavam viajando, quando voltaram e me descobriram aqui... - pausei, não conseguia manter a calma em minha voz. - Minha mãe disse que eu era uma irresponsável e que estava trazendo desgosto a família, ela falou que Abe tinha muita coisa pra pensar e se precaver por causa do trabalho dele, e eu estava atrapalhando.

Os olhos de Dimitri estavam escuros, percebi que estava com ódio, mas tentava manter aquela expressão neutra.

- Depois desse dia, eu comecei a treinar todos os dias da semana, e virei um pessoa muito mais forte, Janine mudou seu comportamento comigo, começou a ficar mais tempo ao meu lado, mas quando me treinava ainda me batia muito. Quando fiz dezessete anos, ela e meu pai me prometeram que depois que eu fosse adulta, eles iriam viajar comigo por um mês. Coisa que nunca fiz antes com eles, mas depois que Janine morreu, isso não se tornou mais possível, eu não sou hipócrita, ela podia ter feito tudo comigo, mas ainda era minha mãe, eu não iria tratar sua morte como algo indiferente. Mas agora Abe esta se tornado frio, assim como ela foi uma época.

Nessa hora não contive as lágrimas, elas caíram sem que eu pudesse evitar, Dimitri passou a mão em minhas bochechas, limpando cada gota de lágrima que caía de meus olhos. Seus dedos passeavam por meu rosto, ele estava com uma expressão de dó. Aquilo me irritou um pouco.

- Não chore Roza. Tudo vai ficar bem. Eu não vou deixar nada de ruim te acontecer. - eu não consegui aguentar, me joguei em cima dele, e o abracei, tive medo de que ele fosse recuar, mas não o  fez. Ele disse alguma coisa em russo, não entendi nada, mas tive a impressão que era algo reconfortante.

Meu choro estava começando a cessar, mas ainda não podia controlar as lágrimas que rolavam de meus olhos, meu rosto estava em seu peito, eu podia sentir aquele cheiro pós-barba de Dimitri, me senti segura como nunca havia me sentido antes. Ele me apertou mais contra seu corpo, ele passava uma mão no meu cabelo, e a outra estava na minha cintura, nessa hora a tontura me pegou de tal maneira que não pude ignorar, senti ficar mole, Dimiti me agarrou e me fez olha-lo nos olhos. 

- Me sinto tonta Dimitri. - coloquei a mão atrás da cabeça, era onde eu tinha batido com força. - Acho que se eu andar, vou cair.

Quando disse isso, Dimitri me pegou no colo e começou a subir as escadas, eu estava com as mãos jogadas atrás de sua nuca, e o apertava, não me sentia nada bem, percebendo isso ele deu um beijo em minha testa e falou outra coisa em russo, a unica coisa que entendi foi o meu nome.

Chegamos até meu quarto e Dimitri me colocou com todo o cuidado na cama, eu abracei minhas pernas, fechei os olhos e ouvi aquela voz calma perto do meu ouvido.

- Não durma Roza, você bateu a cabeça com força. Terá que ficar acordar um tempo.

Ao abrir o olhos, ele saiu do quarto, fiquei olhando para minhas mãos, lembrei de uma vez que Janine quase quebrou meu pulso, mas graças a Alberta que estava por perto, foi no dia em que fugi do colégio, ela me ajudou e manteve Janine longe de mim alguns dias. Foi um pouco depois que comecei a me dedicar aos treinos diários. 

Nem percebi quando a porta do quarto se fechou, ele estava parado ao lado da cama e vi as chaves do carro na mão.

- Agora vamos para um hospital.

- Eu não quero, eu ficarei melhor. Batia a cabeça quase sempre quando criança, acho que me acostumei. - dei um sorriso triste, Dimitri franziu o cenho, a piada foi muito sarcástica

- Se você piorar, nós vamos.

Eu assenti e pedi para que ele sentasse do meu lado, e foi o que fez.

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POV Dimitri

Eu estava sentado na cama perto dela, não conseguia olha-la, estava pensando em todas as coisas que me disse, eu ficava com raiva só de pensar em Janine batendo nela, não merecia aquilo. E Abe? Ele nunca fez nada pra parar com aquelas agressões? Que família de merda é essa? 

Saí de meus pensamentos quando senti a mão de Rose pegar no meu braço, ela me olhava tristemente, eu queria poder abraça-la mais, queria poder reconforta-la, beijar sua boca, passar todo o meu calor e segurança pra ela. Não queria que se sentisse sozinha. Oh minha Roza, eu queria ter te conhecido antes.

- Dimitri! 

Ela me chamou, não precisava dizer nada pra saber o que ela queria, eu não iria mais deixa-la sozinha, nunca mais eu deixaria que qualquer coisa de ruim acontecesse a ela. Não Belikov, se lembre o que veio fazer aqui?  Eu sabia muito bem qual minha real missão assim que saí da Russia, mas com Rose aqui, eu me esquecia disso, não podia fazer o que haviam me mandado, eu poderia muito bem fazer apenas metade do trabalho, não iria machuca-la. Nunca! 

Ela se levantou e se aproximou de mim, sua respiração agora estava ofegante e então automaticamente passei minha mão naquele rosto macio e quente, seus olhos estavam brilhando por causa das lágrimas. 

- Eu nunca vou deixar ninguém te machucar Roza. - coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, ela começou a aproximar seu rosto do meu, estavam perto. Muito perto.

- Eu sei. 

Rose mordeu o lábio de leve, eu não pude me segurar, foi quando a beijei. 


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Notas finais do capítulo

comentem por favor, eu ficaria agradecida. Obrigada ^^



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