POV Rose

Enquanto batia no boneco, senti que não estava sozinha, não me pergunte como, apenas sabia, me virei rapidamente e me deparo com Dimitri me olhando encostado na parede de braços cruzados me observando, na mesma hora eu já sorri. - por que fiz isso, não tenho ideia- Ele acabou sorrindo junto comigo, e nossa, que sorriso lindo que ele deu. 

- Esta me espionando? - perguntei ainda sorrindo, eu estava ofegante pois tinha batido muitas vezes naquele boneco. 

- Não exatamente. Você não deveria estar dormindo? - estou começando a achar que ele é meio machista. Meu sorriso sumiu, mas ele parecia continuar achando graça de alguma coisa.

- Tem algo contra o fato de mulher saber lutar? - ele levantou as mãos para cima como se pedisse desculpas.

- Eu não. Na verdade acho uma coisa muito boa mulher aprender a se defender. - ele ainda estava sorrindo. E que sorriso. - ui - Rose, pare já com isso. 

- Mas se não estava me espionando, o que fazia então? 

Ele demorou para falar, se aproximou de mim para analisar não sei o que. Eu dei uma pequena recuada, não sabia o que poderia fazer se chegasse perto demais dele.

- Não conseguia dormir. - ele hesitou, escondia algo de mim. Olhou para baixo e depois voltou a me encarar, sua expressão agora séria. - Você parece que luta bem, poderia melhorar, é claro. 

Agora ele estava zombando de mim, mas que cara de pau esse Belikov. Presunçoso com certeza, cada vez que eu olhava para sua boca tinha uma enorme vontade de beija-lo, mas não deixei transparecer isso em momento algum.

- E você deve lutar muito bem. - ele deu um sorriso de canto, eu não tinha percebido o quão sexy ele estava com aquela camisa regata, dava para ver bem seus músculos, não eram como aqueles caras que tomam bomba, sabe? Exagerados. Os de Belikov eram perfeitos, pelo visto ele havia tido muito treinamento e muita malhação também.

- Não sei. - oh, que modesto ele.

- Lute comigo. - o desafiei e seu sorriso aumentou. 

- Esta brincando não é? - virei minha cabeça para o lado e com um tom de deboche na voz falei.

- Está com medo, camarada? 

Ele levantou uma sobrancelha com o apelido que acabara de ganhar de mim, não sei se gostou ou não. Mas se não tivesse gostado, ai que eu iria usar de mesmo. Na verdade usaria de qualquer maneira. 

- Me ataque. - ordenou ele. Hesitei por um breve momento, e ele continuou - Primeira regra, nunca hesite. - agora estava sério e com uma expressão profissional totalmente sexy. Ele bateu as mãos de leve e repetiu as palavras que eu usei com ele antes.- Esta com medo?

Nessa hora perdi a classe e parti para cima dele, primeiro ataque dando um chute que deveria pegar em sua barriga, mas que ele bloqueou fácil, depois tentei dar uma cotovelada em sua cabeça e distrai-lo com uma pisada no pé o mais forte que podia, mas não funcionou, ele jogou meu braço para longe, e afastou os pés para trás. Tive a impressão de que ele sorria, fiquei com ódio daquilo e fui para dar um tapa em seu rosto apenas por um reflexo e ele segurou minha mão. Estávamos virados de frente um para o outro, nossos rostos estavam bem próximos, minha respiração ofegante, enquanto ele nem pareceu que tinha tentando se esforçar para me bloquear. O contato visual me deixou sem folego por estar tão perto dele, sua mão ainda segurava meu pulso de leve. Tive uma enorme vontade de me aproximar e beija-lo, mas não o fiz, do mesmo jeito que me sentia atraída por ele, tinha também alguma coisa me dizendo para me afastar. Resolvi ouvir a parte racional, me afastei quebrando o contato visual com ele e falei.

- Você poderia me ensinar a lutar? - ele pareceu surpreso com minha proposta.

- Você sabe lutar, só não tão bem. - ele hesitou - Como o seu pai iria reagir a isto? 

- Ele e minha... - parei de falar por um momento e olhei para meu pulso, onde Dimitri tinha pegado antes. - e Janine foram quem me apoiaram a aprender alguma coisa, caso precisasse me defender. Mas ao que parece, eu seria facilmente derrotada. 

Quando levantei meu olhar para ele, Dimitri estava sério como sempre, e aquele sorriso de antes não tinha deixado rastro algum. Coloquei minha mão na cintura e o olhei levantando as sobrancelhas, estava com uma carinha de pidona, não tinha como ele negar. 

- Tudo bem então. - ele revirou os olhos para mim. - Começaremos amanha, ou quando você estiver livre dos deveres de escola. 

Concordei dando um enorme sorriso, ele acabou sorrindo comigo.

- A gente se vê amanha então camarada. Preciso tomar um banho e dormir. 

Falei enquanto pegava minha jaqueta do chão e subindo as escadas, dei mais uma olhada para trás e reparei que Dimitri queria dizer alguma coisa. 

- Boa noite Dimitri. 

- Boa noite Roza. 

Me surpreendi com o jeito como ele falou meu nome, acho que era outra língua ou alguma coisa assim. Voltando para meu quarto tomei um banho bem gelado, tinha que colocar minha mente no lugar, Dimitri com certeza mexia muito comigo, mas meus instintos diziam para ficar longe. Não sei se ouviria eles, já erraram algumas vezes, no momento não conseguia me lembrar quais. O sono me acertou em cheio, eu cai na cama mais exausta que antes e adormeci. Sonhei com olhos castanhos, e mãos fortes pegando em meus ombros, me trazendo para perto de um um corpo quente e cheirando a pós-barba. 

Acordei com o barulho do despertador, tive a impressão de que já havia tocado mais de uma vez, ao olhar no relógio, vi que estava atrasada. Levantei da cama e me arrumei o mais rápido possível, o sonho com Dimitri tinha que ter sido bom demais para acordar tarde, quer dizer, não era difícil me atrasar, mas hoje estava muito em cima da hora. Nem sei se daria para tomar café da manha. 

Pegando minha mochila desço até a cozinha e dou de cara com Abe, Dimitri, Mikhail e nossa empregada Diana. Eles perceberam que eu estava atrasada, Mikhail deu uma risada sarcástica. 

- Está rindo do que Tanner? - perguntei enquanto colocava o suco no copo.

- Está atrasada de novo.

Ignorei o comentário de Tanner e perguntei. - Pai, Belikov te falou que vai me ajudar a treinar? 

- Falou sim Rosemarie, e tudo bem por mim. Isso pode até ser algo muito bom pra você. 

Dei um pequeno beijo no rosto de Abe e falei para Dimitri que realmente estava atrasada, mostrei a língua para Mikhail quando falei isso. E Dimitri me acompanhou até um dos carros de Abe que estavam na garagem. 

Não conversei com Belikov, eu ainda estava apreensiva com a aproximação que tivemos ontem, e meu sonho foi um pouco além da conta, se é que posso dizer assim. 

Durante a ida até St. Vladimir percebi o quanto ele estava pensativo, parecia até que tramava alguma coisa, mas pensei que fosse apenas o jeito dele. Finalmente chegamos em frente a escola, notei que Dimitri estacionava o carro e que iria me acompanhar. 

- O que pensa que esta fazendo camarada? 

-  Sou seu segurança, e estou sendo pago para te acompanhar em qualquer lugar. 

- Vai ficar grudado comigo o tempo todo? 

- Ficarei em uma certa distância, não se preocupe. 

Pensei em discutir isso com ele, mas não adiantaria nada, conhecendo bem Abe, e depois do que houve, eu não ficaria mais sozinha em momento algum. Resolvi deixar pra lá, pensei em passar meu horário de aula para ele, mas parece que meu pai já havia se encarregado disso. Acho que a diretora Kirova também já havia sido informada. Do jeito que ela não gostava de mim, deve ter ficado feliz achando que agora eu tomaria jeito com um segurança na minha cola.

Andamos para a porta da frente e logo avisto Lissa com Christian e... ótimo, Adrian também estava lá. Como ainda estávamos fora da escola, Dimitri ficaria ao meu lado o tempo todo. 

- Oi Rose - falou Lissa. - E quem é... Ah acho que é o russo.

Revirei meus olhos com a forma como ela falou, parecia até que ele era o tipo de cara que eu estava caçando. Quando na verdade eu queria distancia. Mas devo admitir que uma parte de mim gostava de estar em sua companhia. 

- Que russo? - perguntou Adrian com um jeito que não via muito, parecia estar incomodado. 

- Meu pai contratou um segurança pessoal pra mim. Sabem como é Abe. 

Todos assentiram, mas um clima estranho estava seguindo entre Adrian e Dimitri, mesmo que Belikov estivese parecendo indiferente com os olhares de Adrian para ele, eu sabia que algo estava ficando pesado ali. Falei que era melhor entrarmos, pois não queria me atrasar para a prova que viria hoje, assim como todas as outras.

Como de costume eu descobri que fui péssima na prova de matemática que fiz ontem, abaixei minha cabeça com raiva, sinceramente para que serve esta matéria? Não vou sair por ai fazendo contas de tudo o que vejo. Lissa foi bem como sempre, assim como o resto dos nerds da sala, que não eram muitos. 

No refeitório fiquei com Mason, Lissa, Christian e Adrian conversando e rindo sobre minha já obvia decadência em uma das provas mais importantes do bimestre. Uma cena me chamou atenção, umas três mesas distantes da nossa, eu vi Dimitri conversando com Tasha Ozera. Um ciúme totalmente inexplicável surgiu dentro de mim, fechei a mão em punhos, Lissa percebeu e colocou a mão no meu ombro.

- O que sua tia esta fazendo aqui Christian? - perguntei tentando manter a calma em minha voz, não sei se obtive sucesso. Adrian me olhou desconfiado. 

- Ela vai ser uma das professoras de Educação física, esta substituindo a Senhora Karp. 

Olhei de relance para Christian e comecei a retomar a razão.

- O que houve com a professora Karp? 

- Ninguém sabe Rose, - falou Mason enquanto comia suas batatas fritas parecendo um canibal. - Ela parou de dar aula tem uma semana quase, simplesmente não veio mais.

Aquilo aguçou minha mente. O que aconteceu com Sonya?, mas logo a razão foi pro lixo quando notei que Tasha estava fazendo Dimitri sorrir. Decidi que sair dali seria uma coisa ótima a se fazer, não sei porque estava sentindo ciúmes, eu não tinha nada com Dimitri. Eu fui para o banheiro quase que correndo, Lissa me seguiu. 

- O que houve Rose? 

- Não sei Lis. - molhei minhas mãos e passei no rosto, eu estava mesmo incomodada com a aproximação daqueles dois. Será que Dimitri já a conhecia? E se já, há quanto tempo? Ele poderiam ser mais que amigos? 

- O que esta acontecendo comigo? - pensei alto, Lissa me olhou confusa, pegou em minhas mãos e falou com a voz mais doce e gentil que eu poderia ouvir.

- Fica calma Rose. Respira e agora me diz o que ta sentido? - nem tinha percebi o quanto estava nervosa. Me acalmei o máximo que pude e tentei explicar o que estava sentindo.

- Ciúmes, insegurança e... raiva. - ela deu um pequeno sorriso, que fez eu me sentir melhor, ou pelo menos deu essa a impressão.

Depois de alguns minutos, eu já havia contado a ela sobre o que tinha acontecido com Dimitri noite passada, sobre as coias estranhas que sentia quando estava com ele. Ela não disse nada, sabia que apenas me ouvir já bastava, e realmente ajudou. Estávamos saindo do banheiro feminino quando trombei com Dimitri. 

- Ah, o que esta fazendo aqui agora? - ele me olhou confuso, sua expressão agora era profissional de novo, parecia que o sorriso que vi quase meia hora atrás nunca tivesse existido.

- Sou seu segurança. - ele disse de forma obvia. Droga, eu havia me esquecido desse detalhe.

Ignorando ele, caminhei com Lissa de volta para minha mesa, percebi que Tasha não estava mais avista e Dimitri voltou para a mesa onde estava antes, só que agora não tirava os olhos de mim. Claro que era apenas seu trabalho, o que poderia sentir por mim além de uma relação totalmente profissional? 

O dia se passou rápido, já estava na hora de voltar para casa quando Adrian me parou no meio do caminho para o estacionamento. 

- Hey pequena Rose. Quer sair comigo hoje? Apenas para tirar sua mente da escola. - pensei em dizer não, mas fazia um tempo que eu não saia com ninguém. Mesmo sabendo da fama de Adrian, seria bom me distrair um pouco. E outra, sou Rose Hathaway, desde quando ligo para o que os outros pensam? 

- Vamos sim. - ele me olhou como se esperasse minha negação, mas logo sorriu. Me lembrei que Dimitri iria ter que ir com a gente. - Ah, um coisinha. Dimitri terá que vir conosco.

Adrian deu uma olhada de soslaio para ele e assentiu, sabia que não tinha como se opor aquilo. Fomos para um sorveteria que tinha por perto, Adrian dava pequenas indiretas do tipo.

- Há quanto tempo não saí com ninguém? 

- Isso não é bem da sua conta. - ele sorriu.

- Eu adoro esse seu jeito. - eu revirei os olhos, apesar de Adrian ser bem convencido, ele não deixava de ser uma boa companhia, tirando quando tentava dar em cima de mim.

Dimitri nos olhava com indiferença, o que houve entre a gente ontem a noite, não foi absolutamente nada. A impressão foi totalmente minha, que idiota eu sou mesmo.

Não sei o que deu em mim, mas olhei impulsivamente para o outro lado da rua onde tinha uma viela escura, pensei que tivesse alguém ali. Fiz um sinal de cabeça para Dimitri que seguiu meu olhar, ele disse para ficarmos onde estávamos, eu e Adrian assentimos. Dimitri atravessou a rua disfarçadamente e então tive a certeza que realmente tinha alguém ali escondido, pois logo ouvi passos rápidos e Dimitri foi logo atrás. Eu sabia que não podia sair dali, mas dane-se, nunca faço o que me mandam mesmo. 

Peguei no braço de Adrian e fomos em direção a viela, foi quando ouvi barulho de lixeiras caírem ao chão, corri mais para dentro e vi que Dimitri batia sem parar em um homem um pouco mais alto que ele, loiro bem pálido. Ouvi Dimitri dizer um nome, e eu repeti para mim mesma.

- Nathan?