Ela tomou mais um gole de seu refrigerante, ainda com as bochechas vermelhas.

White estava confusa, e por um motivo muito especial - era seu dia de folga no trabalho, e ela tinha a tarde inteira sem nada para fazer. Isso chamava por uma maratona de filmes melosos de pokémons com pipoca e chocolate, certo?

Errado.

Assim que dissera que teria o dia livre, Black tinha sugerido que eles saíssem para dar uma volta no parque. Até aí tudo bem, já que ela sentia falta dele e queria colocar a conversa em dia depois de tanto tempo ocupada com a agência.

Mas ele tinha dispensado o treino por ela. E todo mundo sabe que Black nunca dispensa seus treinos.

E, se isso já era estranho, ficara ainda mais logo depois: Ele colocara uma roupa diferente do normal (o que o deixara incrivelmente atraente, não que ela fosse admitir em voz alta), escolhera o lugar e tinha até pago o lanche para ela.

Se a palavra encontro não brotasse na mente de qualquer um agora, essa pessoa estava com sérios problemas.

Mas aquele continuava sendo o Black e, por mais que a garota sonhava com o dia em que ele finalmente deixasse de olhar para o futuro e prestaria atenção nela, tudo estava rápido e inesperado demais para ser real.

Com medo de assumir algo que não era verdade, a jovem permaneceu calada durante todo o trajeto até o parque da cidade.

– Hey, White! - Ela piscou e, em seguida, se virou. Ele tinha se sentado em um dos bancos. - Aqui!

Sem responder, ela foi até ele e se sentou. As perguntas incessantes de sua mente a atormentavam naquele silêncio que se instalara, e seu pulso acelerado insistia para que ela fizesse alguma coisa.

– Uh... Black... ? - Arriscou, sentindo a boca seca de nervosismo.

– Que foi? - Ele desviou o olhar de uma batalha pokémon entre dois treinadores para encará-la.

– Tem algum motivo em especial para ter me chamado para sair hoje? - A garota ajeitou a presilha que mantinha sua franja no lugar.

Ele piscou, e pareceu debater internamente com a pergunta. Por último, sorriu um pouco sem graça e coçou a cabeça.

– É que... Faz tempo que você não tem uma folga, e eu achei que seria divertido sair por aí para relaxar.

– Mas e o seu treino? - A garota tentou argumentar.

– Um dia sem ele não vai fazer muita diferença.

– Tem certeza?

– Uh, tenho... - Dessa vez, foi ele que ficou confuso. - Tá tudo bem com você, White?

– Sim, é que... - A mesma corou um pouco mais. - Faz tempo que não saímos juntos assim e... Eu senti sua falta.

Ok, isso fora direto demais. A morena sentiu seu rosto já vermelho assumir uma tonalidade escarlate, contrastando com o laranja profundo que pincelava o céu.

Pregando os olhos ao chão, não pôde ver o sorriso sincero que tomou posse do rosto do garoto, nem o brilho familiar de algo mais que amizade que em seus olhos reluziu naquele momento.

Ela pôde notar, porém, a mão que veio pousar-se sobre a sua.

– Eu também. - Ele admitiu.

White, surpresa demais para falar alguma coisa, não pôde fazer nada a não ser encarar enquanto seu amigo voltava sua atenção para a batalha que ocorria mais uma vez. O toque de mãos ainda continuava, porém, e ela sentiu o garoto entrelaçá-las como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

Um surto de coragem repentino foi tudo o que bastou para a decidida presidente da agência se inclinar para frente e plantar um beijo na bochecha dele.

Dessa vez ela definitivamente tinha o surpreendido, mas a covardia que veio consumindo-a em seguida a impediu de olhar para o mesmo. Voltando-se para seu refrigerante, ela tomou outro gole...

E a mão antes enlaçada na de Black foi deixada para que sua cabeça fosse delicadamente virada para o lado. O brilho dos olhos dele dessa vez foi visto, e ela não pôde evitar o pequeno som de surpresa que sua garganta produziu ao ficar assim tão perto do jovem.

Aquilo devia ser um sonho. Definitivamente era um sonho.

– White... - Ele abriu um sorriso pequeno. - Obrigado pelo beijo, mas... Você errou de lugar.

O céu estava pintado de violeta, além de laranja e amarelo e um tantinho de azul. A cidade trazia mais infinitas luzes multicoloridas que produziam um efeito quase mágico à pequena vista do céu por entre os prédios.

Mas tem vezes que todas as infinitas cores podem não ser mais belas que o preto, o branco, o simples. Fora assim com o tocar de lábios breve mas significativo, e a piscina de ônix em que ela se viu mergulhando naquele momento.

Ele tinha gosto de soda pop, doce e incrivelmente viciante. Tanto que, mal acabado o beijo, houve outro, e outro, e mais outro. Aparentemente, ele também a achava viciante.

Não que ela estava reclamando.

Finalmente, o ar tornou-se tão pouco que as pausas breves entre contatos tiveram que dar espaço a uma mais demorada. Os dois jovens se observaram um pouco ofegantes, corados, e sua felicidade passou despercebida por todos os outros habitantes daquele parque.

Não pelo céu, porém. Em resposta a isso, a aquarela pintou-se de um rosa cálido, dentre as camadas de violeta e roxo e pouco antes do começo das ondas de azul. Mas isso, claro,também passou despercebido pelos dois.

–Nós devíamos fazer isso mais vezes... - Ele murmurou por fim, buscando novamente a mão da garota.

– É. - Ela sorriu, entrelaçando seus dedos. - Devíamos.

fim.