O Homem que Eu Amo escrita por Angel_Nessa


Capítulo 33
O HOMEM QUE EU AMO - PARTE XXV




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Há quase um ano que eu não escrevo nesse caderno de memórias, o tempo parece escorrer por minhas mãos e ainda que eu tente detê-lo ele me escapa por entre os dedos.

 

Konoha continua vivendo em tempos de paz sendo sempre vigiada pelos olhos atentos de seu novo Hokage. Aliás, falando em Hokage, exercer essa função não era algo que vinha agradando totalmente ao meu amado marido Naruto. Algumas das atividades por ele executadas lhe causavam certo aborrecimento e suas reclamações por conta disso eram bem freqüentes; eu por meu lado fazia o que podia: brigava com ele para que cumprisse os prazos determinados e pedia que Shizune o ajudasse em tais tarefas, claro que por vezes o Naruto abusava da boa vontade de sua assistente.
 

Uma semana atrás numa noite de primavera Naruto chegou do escritório e passando por nossos filhos, que brincavam na sala, subiu em direção ao quarto onde eu me encontrava. Eu havia terminado de sair do banho e estava trajando apenas um hobby azul escuro de tecido atoalhado.

 

Eu abri um largo sorriso e o saudei.

 

- Naruto, que bom que...

 

Minha frase morreu na metade no exato momento em ele me abraçou forte. Um calafrio percorreu minha espinha e eu senti uma tristeza muito grande invadir meu peito, ainda que não soubesse o porquê eu passara a me sentir assim depois do abraço tão apertado dele.

 

- Naruto, o que está acontecendo? – perguntei com a voz trêmula e o

coração acelerado.

 

- Tsunade oba-chan está morta – disse ele num sussurro.

 

Eu agarrei forte em seu sobretudo e enterrei minha cabeça em seu ombro direito. Lágrimas começaram a cair de meu rosto e o choro logo veio em seguida.

 

Naruto me abraçou ainda mais forte, ele não disse nada durante o tempo que eu estive colada em seu corpo, apenas me amparava e acariciava meus cabelos úmidos.

 

Eu nunca fui do tipo de pessoa que conseguia aceitar a morte daqueles que me eram queridos, e talvez deixar que meus sentimentos transpareçam e sobrepujem a minha razão seja até hoje a minha maior falha como kunoichi. 
 
Eu respirei fundo e me afastei do abraço de Naruto, com a ponta dos dedos limpei as lágrimas que escorriam por minhas bochechas.

 

- Está tudo bem, Sakura-chan?

 

Pelo tom de voz de Naruto eu sentia que ele estava preocupado com meus sentimentos, mas eu, por meu lado, estava ignorando completamente os dele.

 

- Não se preocupe Naruto... Sendo uma kunoichi eu deveria estar preparada para esse tipo de noticia.

 

Eu sempre achei que deveria ter um coração forte por ser uma kunoichi, no entanto, eu nunca consegui. A única coisa de forte que havia em mim era a minha personalidade e meu soco.

 

Sentei-me na cama e Naruto se ajoelhou aos meus pés, ele pegou em minhas mãos entre as suas.

 

- Não precisa guardar seus sentimentos, Sakura-chan... Tsunade oba-chan era a sua sensei...

 

Naruto havia percebido que eu estava tentando fazer a situação parecer algo “normal” para alguém que vive num mundo shinobi.

 

- É normal chorar a morte de seu sensei... Você também chorou, Naruto.... Você chorou por Jiraya-sama...

 

- Como sabe? – questionou-me surpreso.

 

Naruto não tinha idéia de quanto eu sabia da vida dele sem que ele me contasse.

 

- Eu sinto muito.

 

- Sakura-chan, o que está dizendo?

 

Eu havia conseguido confundir mesmo o Naruto.

 

- Quando Jiraya-sama morreu, eu não estava lá... Eu não estava ao seu lado. 

 

Pensar que eu não havia procurado Naruto quando ele soube da morte de Jiraya-sama me fazia sentir culpada, eu nunca havia dito nada para Naruto até aquele momento porque de certa maneira minha atitude covarde em não ir procurá-lo me causava vergonha.

 

Naruto beijou minhas mãos e me abriu um largo sorriso.

 

- Nunca quis que você estivesse ao meu lado em momentos tristes, Sakura-chan... Eu só quero que esteja ao meu lado quando eu estiver feliz...

 

Foi a frase mais linda que eu escutei dos lábios de Naruto até o presente momento. Era incrível acreditar que houvesse esse tipo de romantismo dentro dele.

 

Eu deixei meu corpo tombar para frente e Naruto me acolheu em seus braços.

 

- Não vamos contar nada aos garotos até amanhã – eu pedi.

 

Naruto balançou a cabeça concordando comigo, em seguida ele desceu e foi colocar nossos filhos para dormir.

 

Eu me deitei na cama mesmo ainda vestindo apenas o hobby atoalhado e me virei para o lado da parede, encolhi minhas pernas e ali no silêncio do quarto voltei a chorar. Passado algum tempo, Naruto voltou e sem acender a luz, deitou-se ao meu lado; senti o braço dele passando por minha cintura e depois sua mão agarrou a minha. Não me animei a iniciar um conversa com ele sobre como me sentia em relação à morte de minha sensei, apenas saber que ele estava ali ao meu lado bastou para confortar minha dor. 

 

Eu não consegui pregar o olho a noite inteira e ainda que ele estivesse com seu corpo encostado em minhas costas, o que me impossibilitava de ver seu rosto, eu senti que Naruto também estava desperto; a mão dele por horas apertava mais forte a minha mão.
 
Na manhã seguinte, na hora do café da manhã, nós contamos aos nossos filhos sobre a morte de Tsunade-sama e, como era esperado, Jiraya foi o que ficou mais abalado com a notícia. Em pé, de frente para o pai, o pequeno não escondeu as lágrimas.

 

Jiraya era muito ligado a Tsunade-sama e sempre ria muito quando eu o levava para visitá-la no escritório, isso ainda no tempo em que ela era a Hokage de Konoha. Tomar conhecimento da morte dela o deixou profundamente abalado e somente depois de escutar atentamente, em meio às lágrimas, as palavras de consolo do pai é que ele conseguiu reprimir o choro. Penso o quanto Naruto teve que ser forte para apoiar a todos... Como ele cresceu! 
 
Sentada na cadeira com Kushina sentada em meu colo e Minato com a cabeça apoiada em meu joelho, ambos com os olhos vermelhos de chorar, eu vi Naruto se ajoelhar em frente ao filho e começar a dizer ao pequeno Jiraya que mesmo que doesse, era algo natural as pessoas morrerem, e que a dor que sentíamos um dia ia embora e o que restaria eram as boas lembranças do tempo que passamos com aqueles que haviam partido.

 

Mesmo com as palavras de Naruto cheias de carinho foi complicado para uma cabecinha de cinco anos entender o que significava a morte daquela a qual ele considerava como uma amiga. Acho que no fim Jiraya pensou que minha sensei havia se mudado para um lugar muito longe chamado céu.

 

Assim como meu filho Jiraya era apegado a Tsunade-sama, eu sentia que minha sensei também demonstrava certa preferência por ele. Destino, reencarnação, karma, vida... Tantos nomes que se dão para esse tipo de coisa, mas a verdade é uma parte de Jiraya-sama havia voltado para junto de minha sensei como se quisesse mostrar que ela jamais ficaria sozinha, porque ele estaria sempre com ela.

 

Durante o enterro, Naruto ficou próximo a Jiraya, enquanto Minato e Kushina não largaram a barra da minha saia.

 

A todo o momento, eu desviava meu olhar do túmulo de Tsunade-sama para olhar Shizune que estava inconsolável, Kakashi permanecia perto dela e sussurrava palavras em seus ouvidos que pareciam apenas fazê-la chorar mais. Shizune esteve durante muitos anos ao lado de minha sensei e foi sua discípula mais brilhante, ainda que ela negasse veemente o titulo de “discípula mais brilhante” dizendo que esse título pertencia a mim.

 

Eu pensei muito na vida solitária de minha sensei, e como ela carregou por muitos anos a dor da perda daqueles que ela tanto amou. A felicidade nunca pareceu ter sido feita para alguém como ela, e ainda que muitas vezes eu a tenha visto sorrir, no fundo dos olhos dela havia uma tristeza que nunca se apagava.

 

Tsunade-sama morreu em meio a uma batalha num país vizinho. Ela não estava em missão e nem tampouco foi atacada, segundo a informação que recebemos, ela viu um homem sendo atacado por um shinobi e decidiu defendê-lo, o restante da história da morte de minha sensei é confuso e desconhecido. Passei muito tempo tentando entender como tudo havia acontecido, mas desisti ao pensar que talvez Tsunade-sama houvesse desistido de viver.
 
No final da cerimônia, Naruto se afastou do pequeno Jiraya e foi dar atenção a alguns moradores, nesse momento eu me aproximei de meu filho que limpava os olhos na manga do macacão laranja; ele havia se negado a vestir a roupa do cerimonial assim como seus irmãos o fizeram, segundo meu pequeno filho, Tsunade-sama disse que achava ele uma gracinha naquele macacão laranja.

 

Eu me agachei a sua frente e coloquei minha mão em seu bracinho.

 

- Você está bem? – perguntei a ele.
 
E em meio a soluços ele me disse:

 

- Tsunade oba-chan disse que quando eu crescesse, nós beberíamos sake juntos!

 

Escutar um filho de cinco anos falar em beber sake quando crescesse não era algo tem uma mãe sonha em escutar, bem como a atitude de minha sensei em fazer tal convite, mas a inocência de Jiraya ao me dizer aquilo mostrava um sentimento de carinho que ele passou a ter por Tsunade-sama e ela por ele que eu simplesmente não pude repreendê-lo.

 

- Não chore mais pequenino, tenho certeza que Tsunade-sama ficaria muito brava se o visse chorar por ela

 

Jiraya soluçou ainda por um tempo, mas não deixou nenhuma lágrima mais escorrer por suas bochechas rosadas; Minato e Kushina vieram ao encontro dele.

 

- Hey Jiraya, você não quer ir brincar com a gente? – perguntou Minato meio sem jeito.

 

- Vamos brincar – insistiu Kushina.

 

Jiraya olhou em direção ao tumulo de Tsunade-sama e depois voltou a olhar em minha direção como quem busca uma sugestão silenciosa sobre o fazer, eu sorri em resposta ao seu olhar e ele, virando-se para os irmãos, também sorriu.

 

- Vamos brincar com as novas kunais que o papai deu! – exclamou Jiraya alegre.

 

- Kunais?! – eu repeti assustada.

 

Minato, Jiraya e Kushina saíram correndo antes que eu pudesse dizer algo. Eu olhei meus filhos se afastando pelos campos verdes do cemitério.

 

Naruto colocou sua mão sobre meu ombro.

 

- Ele vai superar – disse Naruto olhando para nossos filhos – E quanto a você, Sakura-chan?

 

Eu dei um passo a frente e a mão de Naruto escorregou de meu ombro, eu me virei para ele e o olhei com severidade.   

 

- Kunais, Naruto?!

 

Naruto ficou surpreso num primeiro momento, mas logo abriu um sorriso sem graça.

 

- Do que está falando? – ele fingiu não saber.

 

Eu cruzei meus braços e fiz uma cara de zangada.

 

- Você deu kunais para nossos filhos! – fiz questão de explicar.

 

- Eles pediram... E até choraram...

 

Mesmo tendo apenas cinco anos meus filhos já sabiam que chorar era a melhor maneira de conseguirem algo que queriam de Naruto, pois ele simplesmente não resistia ao choro dos filhos, ainda que esse choro fosse de pura chantagem.

 

- Naruto, eu não quero saber! Seu irresponsável, eles tem apenas cinco anos!

 

- Mas Sakura-chan...

 

- Sabe como é perigoso eles usarem armas ninjas?! – eu estava revoltada – Eles podem acabar machucando alguém!

 

Naruto ficou desconcertado em escutar minha preocupação com nossos filhos ferirem outras pessoas.

 

- Está preocupada com eles machucarem alguém?!   

 

Eu levantei minha cabeça e disse com orgulho.

 

- Meus filhos não machucariam a si mesmos com kunais!

 

Naruto estava confuso, acho que ele não entendeu de onde eu tirei tanta certeza a respeito disso; bom, eu vou contar para vocês, eu sabia que meus filhos podiam manipular muito bem esse tipo de arma porque eu já havia emprestado as minhas para eles brincarem sobre a minha atenta supervisão, claro, que nunca contei isso ao Naruto.  
 


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Notas finais do capítulo

nota da autora: Um cap emocionante e triste que conta sobre a morte de Tsunade. Achei que esse momento merecia ser contado.

agora as surpresas não terminam por aqui, no prox cap algo inesperado acontece!!!