Mais uma vez, estávamos dentro de um carro com Harmony na direção. A cada curva que ela fazia, eu achava que nós íamos morrer. Sério. Ela dirigia como uma louca. Por um segundo, eu achei que ela estivesse fazendo isso propositalmente, só para ouvir a enxurrada de palavrões que a Q dizia quando era lançada para a janela e esmagada por Santana e eu, mas não acredito que ela fosse capaz de algo do gênero.

- Essa coisa não pode ir mais rápido? – Quinn reclamou – E você não consegue dirigir melhor?

- Não posso controlar o tráfego. – Harmony retrucou, dando de ombros.

- Vocês parecem a minha mãe. – Murmurei.

- Cale a boca! – As duas gritaram, fazendo com que Rachel e Santana rissem.

Inclinei meu rosto e beijei a bochecha de Santana rapidamente. Ela sorriu e estava prestes a retribuir o beijo quando Harmony deu uma freada brusca com o carro, fazendo este rodopiar algumas vezes.

- VOCÊ ENLOUQUECEU? – Quinn gritou, tentando se recuperar do susto.

- Saiam do carro, AGORA. – Harmony respondeu.

Saltamos para fora do carro do Sr. Lopez a tempo de vermos um raio cair bem em cima do conversível. Santana me abraçou quando alguns pedaços do carro voaram em nossa direção. Eu tenho certeza de que estaríamos mortas se não fosse pelo escudo de Quinn. Os objetos ricochetearam e ficaram caídos no chão.

- Você nos salvou. – Falei admirada.

- Como sempre. – A loira respondeu, com um sorriso torto – E pelas mãos de um parente perecerá. Maldito! Ia matar a mim?

- Onde está Harmony? – Rachel perguntou. – Harmony!

- Silêncio! Querem acordar Ladon? – A caçadora esbravejou – Sigam-me.

Dito isso, ela desapareceu em meio à névoa. Santana segurou minha mão e me puxou logo atrás dela.

O jardim, sem dúvida alguma, seria o lugar mais lindo que eu já havia conhecido se não fosse pela ilustre presença de um dragão. O corpo de serpente era grosso como um foguete detonador, tremeluzindo com escamas de cobre. Ele tinha mais cabeças do que eu podia contar, como se uma centena de pítons mortíferas estivessem fundidas juntas. Ele aparentava estar dormindo. As cabeças deitadas enroladas num monte parecido com um espaguete na grama, todos os olhos fechados.

Puxei contracorrente do meu bolso, mas recebi um olhar reprovador de Harmony. Assenti e guardei a espada em meu bolso novamente.

Quatro figuras cintilaram para a existência, quatro jovens mulheres que se pareciam muito com Harmony. Todas usavam túnicas gregas brancas. A pele delas era como caramelo. Sedosos cabelos negros caíam soltos em volta dos ombros. Era estranho, mas eu nunca havia reparado no quanto Harmony era bonita até ver suas irmãs, as Hespérides. Elas se pareciam exatamente com Harmony — deslumbrantes, e provavelmente muito perigosas.

- Irmãs - Harmony disse.

- Não vemos irmã alguma - uma das garotas disse friamente. - Vemos três meio-sangues e uma Caçadora. Vocês todos devem morrer em breve.

- Você entendeu errado - dei um passo à frente. - Ninguém vai morrer.

As garotas me estudaram. Elas tinham olhos de pedra vulcânica, inexpressivos e completamente negros.

- Brittany Pierce - uma delas disse.

Uma das hespérides me olhou torto, da cabeça aos pés.

- Eles temem a ti – ela disse – Porque esta ai não te matou quando teve a chance.

- Admito que é muito tentador às vezes. – Quinn disse, dando de ombros – Mas, bem ou mal, ela é minha melhor amiga. Então, passo a oferta.

- Não há amigos aqui, filha de Zeus. – Uma delas rosnou – Voltem enquanto há tempo.

- Não sem o menino bode. – Quinn retrucou.

- E Artémis. – Harmony completou.

- Não terão nada! – Uma delas sibilou – Ele te matará!

Harmony desviou os olhos para o dragão. Um misto de carinho e medo pairava em seus olhos.

- Não. – ela disse – Ladon não me machucará. Ladon! Acorde!

Quinn e eu arregalamos os olhos. Santana encolheu-se um pouco, puxando-me para trás.

- Está louca? – A hespéride rosnou.

- Harmony, ele irá te matar. – Quinn disse – Você é uma caçadora agora, não é mais uma delas.

- Apenas vão! – ela respondeu – Fiquem longe da árvore das maçãs e vão. Eu posso cuidar dele sozinha.

- Mas...

- Vão!

Puxei a mão de Santana, seguindo Quinn e Rachel pelo caminho pedregoso. O dragão abria os olhos, nas suas centenas de cabeças, e encarava Harmony com um misto de dúvida e receio. A caçadora aproximou-se com as mãos erguidas em sinal de rendição.

- Lembra de mim, Ladon? – Ela perguntou – Eu costumava a te alimentar na palma da minha mão. Ainda gosta da carne de carneiro?

O dragão adquiriu um brilho no olhar, e nós quatro corremos pelo caminho pedregoso o mais rápido que podíamos. Estávamos chegando ao final quando algo deu errado. Talvez Harmony tenha se aproximado demais. Talvez o dragão tenha ficado com fome, não sei. Só sei que ele a atacou, com as milhares de presas a mostra.

- Harmony! – Gritamos em uníssono quando o dragão deu o bote nela.