Ceifadores De Corações escrita por Magarax


Capítulo 5
Capítulo Quarto - SEGREDO




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Chegou ao The Dragon e virou a direita. A Datchet Rd virava a Thames Avenue por um momento até um ponto, onde fazia um curva que ficava perto de um estacionamento, continuando dali a River Street. A movimentação de pessoas estava maior na rua, devido a hora do rush, mas ele continuava a correr, desviando de quem aparecesse em sua frente. Curvou a direita, com o estacionamento lotado a sua direita. Nesse ponto, já havia parado de chorar, mas por causa da corrida, seu coração estava bastante acelerado, palpitando loucamente fora do ritmo. A River Street curvava para a esquerda nesse ponto, sendo acompanhada pelo pequeno rio de Windsor, virando a Barry Avenue. O prédio de Claire se encontrava do lado da Mill House, virando a esquerda. O prédio imitava a Mill House, tinha apenas um andar com sótão, ladrilhos que lembravam tijolos como se uma casa camponesa tivesse se adaptado a cidade grande e não soubesse se ficaria com seu estilo rural ou adotaria o estilo urbano. Abriu a porta do prédio, subindo as escadas os mais rápido que pôde. O primeiro andar possuía quatro apartamentos, todos com portas de madeira maciça, olhos-mágicos e números feitos de aço polido.

Ele parou em frente a porta de número sete, com a respiração totalmente irregular, quase sem ar. Só precisa falar com Claire. Precisava tirar aquela imagem da cabeça, do coração pulsante e ensanguentado fincado na foice do vulto cruel e depois sendo perfurado por uma corrente. Nada fazia sentido em sua mente e nem ele sabia porque estava tão abalado. Bateu na porta freneticamente até que Claire abrisse com cara de espanto, sem entender o que se passava com Peter. Sem falar nada, pegou-o pela mão e o puxou para dentro. O apartamento dela tinha um piso de madeira, possuía uma sala de estar quadrada a direita com um sofá de três lugares marrom com almofadas brancas, uma mesinha de centro com algumas revistas velhas e dois controles remotos e, encostada na parede, ficava uma peça com uma televisão LED, aparelho de DVD e um home theater, que dava saída para uma varandinha que tinha vista para rua. A esquerda ficava a sala de jantar, com uma mesa de madeira circular com quatro cadeiras, também de madeira e presas aos assentos ficavam pequenas almofadas. Sobre a mesa ficava um tampo de vidro, que através de um mecanismo, permitia ser girado, facilitando a disposição dos alimentos para as pessoas que ali comessem. Na parede da sala de jantar ficava a porta que dava acesso a cozinha do apartamento. Entre as duas salas ficava o corredor que levava para o resto da casa. O corredor possuía mais quatro portas, duas no meio e duas ao fundo. A primeira porta a esquerda dava acesso ao banheiro social do apartamento, que tinha um tamanho razoável levando em conta o tamanho do apartamento e, diferentemente do resto, tinha um piso com azulejos brancos bastantes polidos. A direita ficava o escritório onde o pai de Claire passava horas escrevendo seus contos e por isso o cômodo era raramente visto arrumado, sempre cheio de papeis por toda parte. No final, as duas portas revelavam os quartos da casa, sendo o da esquerda uma suíte e quarto dos pais de Claire — Mesmo Peter que era amigo de infância dela só havia entrado naquele quarto uma vez e era muito pequeno para se lembrar de alguma coisa atualmente — e o da direita o dela.

Claire o conduziu diretamente até seu quarto, andando em linha reta e segurando a mão de Peter firmemente. Assim que ele atravessou o vão da porta, ela afrouxou a mão e foi se sentar na cama, fazendo sinal para Peter fizesse o mesmo. O quarto de Claire não se parecia com o de uma menina “normal” de sua idade. A cama era simples, feita de madeira maciça e sem ornamentos, e ficava encostada na parede da esquerda com a cabeceira tocando a parede do fundo quase embaixo da janela, que possuía uma cortina blackout que tocava no chão. Na parede da direita ficava um móvel que abrigava um notebook, possuindo muitas gavetas entupidas das mais diversas coisas, desde um conjunto com várias canetas de espessuras diferentes até uma colagem de vidro feito a partir de um para-brisa quebrado. O guarda-roupa permanecia impassível, embutido na parede da porta, completando assim o retângulo. Entretanto, o que era mais notável no quarto eram as várias prateleiras cheias de livros, revistas, mangás e tudo aquilo que podia ser lido e carregado numa bolsa. Claire sempre foi uma menina que gostou de ler e todos aqueles textos tinham lhe fornecido um senso crítico aguçado e uma sagacidade muito aquém da sua idade.

Peter sentou-se na frente dela, após ter dado uma breve analisada no quarto. Não fez isso porque havia notado algo de diferente, mas porque tentava ganhar tempo, arrumar as palavras na mente e torcer para que aquilo não o atormentasse durante muito tempo. Tentou algumas vezes falar alguma coisa, mas nada saiu da sua boca. Se concentrou e com algum esforço conseguiu proferir algumas palavras.

— E-eu estava sozinho na loja... meus pais saíram para resolver alguma coisa. Ninguém apareceu durante algum tempo, então eu... resolvi subir no sótão.

A respiração tinha ficado irregular de novo. Parou por um momento para tentar lembrar tudo que tinha acontecido, sem deixar passar nenhum detalhe. O sol já se esvaia lá fora, mas um pequeno feixe de luz entro pela fresta da cortina, iluminando as mãos de Peter, fazendo o anel reluzir no rosto de Claire. Ela não tinha identificado o anel até agora, mas passou a se perguntar o que aquela sigla intimidadora significaria. Peter continuou a falar.

— Assim que cheguei ao sótão, peguei a caixa mais próxima e abri. Várias coisas da minha mãe estavam guardadas lá e uma delas era esse anel. — levantou a mão na altura do rosto de Claire para que ela pudesse observá-lo melhor — O anel se ajustou ao meu dedo assim que coloquei. Fiquei tão surpreso que resolvi vir aqui para te mostrar. Sei o quanto você gosta desse tipo de coisa “incomum”, mas então...

Ele começou a tremer um pouco. Mexia os dedos descoordenadamente, tenta achar as palavras certas. Claire estava começando a ficar preocupada. O que ele poderia ter visto que causaria um temor tão grande?

— Atravessei a ponte e me deparei com um casal brigando... a mulher estava em prantos. O homem provavelmente estava terminando o relacionamento com ela. Foi então que algo apareceu... Um ser usando um capuz preto, com as mãos cinzas e uma foice enorme, simplesmente apareceu atrás do homem. Não dava para ver o rosto. Eu... eu não sei o porquê... mas ele levantou a foice e... cortou a mulher no meio. — Claire agora olhava fixamente para ele, de uma maneira calorosa. Ela queria entender tudo o que havia acontecido. — Só que a mulher parecia intacta após o ataque. Sem nenhum arranhão. Até que eu vi. O coração dela fincado na foice. Pulsando, sofrendo. O ser amarrou o coração a uma corrente e depois ela na cintura do homem e desapareceu. Por favor, não ache que eu estou maluco.

Ela realmente não sabia o que falar. Nunca vira nada parecido e Peter não era um garoto que mentia, muito menos daquele jeito e menos ainda para ela. A única coisa que lhe veio à cabeça foi se aproximar dele e abraça-lo o mais forte que conseguiu. Peter retribuiu na mesma intensidade, se confortando nos braços da amiga.

— Não fale uma coisa dessas! — disse Claire no ouvido dele. — Você achou realmente que eu fosse te chamar de louco? Não se lembra do nosso acordo? Assim como você, estou aqui para o que você precisar, sempre!

— Obrigado... — A voz de Peter falhou e ele se limitou apenas a continuar abraçando-a, dessa vez um pouco mais intensamente. Podia sentir o coração dela batendo, de maneira acelerada, igualmente ao seu. Nunca tinha estado naquela posição antes. Ele havia sido tão brusco ao bater na porta que ela veio atende-lo de camisola. Fechou os olhos e sentiu sua pele tocando a dela. Os pelos da nuca se eriçaram e ele sentiu seu rosto enrubescer. Em nenhuma ocasião havia se sentido assim. Acho que era a adrenalina em seu corpo que remanescia da corrida até aqui. Não poderia estar mais errado.

Peter sentiu seu coração acelerar cada vez mais. Afrouxou o abraço lentamente e quando estavam apenas se apoiando um no outro, ele resolveu desencostar a cabeça e olhar para Claire. Assim que ele fez isso, viu o rosto dela completamente vermelho, a respiração ofegante e um olhar intenso direcionado a ele. Ela segurou as mãos dele firmemente.

— Pete, eu não sei o que está acontecendo comigo... O meu corpo... Algo está diferente.

— Cla— sem nem ter conseguido terminar de pronunciar o nome dela, Claire puxou Peter pelas mãos e o beijou intensamente.

Peter ficou sem reação. Estava beijando sua melhor amiga. Sentia os lábios finos e quentes tocando os seus, mudando constantemente de posição. Mesmo surpreso, ele retribuiu com a mesma intensidade. O beijo durou pouco, mas deu tempo para que suas línguas pudessem se entrelaçar e percorrer toda a sua boca. Aquele momento durou pouco porque Peter decidiu abrir os olhos e pela segunda vez naquele dia acho que pudesse estar ficando louco. Viu o rosto corado de Claire, seu nariz fino e os longos cabelos loiros cacheados, mas o que chamou sua atenção foi o olho esquerdo dela. Mesmo com as pálpebras fechadas, era possível ver que ele emitia uma luz azul. Ele parou de beijá-la naquele momento. Ela olhou para ele confusa, sem entender o porquê e então Peter pode ver com clareza. Um “S” cursivo estava gravado no olho dela, emitindo um brilho azul sereno. Ele encarava o rosto dela.

— Pete, o que houve?

— Seu olho... está brilhando.

— O quê? — Claire levantou da cama e foi até o móvel pegar um espelho de mão em uma das gavetas. Ao acha-lo, ficou encarando o próprio rosto, perplexa, sem saber o que dizer. — Eu... o que... o que é isso?

— Eu não sei. Apareceu depois que você me beijou. Você acha que devemos ligar para alguém? — Peter realmente não sabia o que dizer. Era muita informação para ele processar.

— Creio que seja melhor não... Olha, até descobrirmos o que está acontecendo comigo, você tem que me prometer que não vai contar pra ninguém! Nem mesmo para sua mãe, ok? — Claire parecia assustada, mas não se deixou abalar.

— Eu prometo, Clairy, fique tranquila. — Então ele olhou para o anel. O “S” gravado em ouro preto agora reluzia azul. Sem nem refletir, Peter tirou rapidamente o anel e jogou-o em cima da cama.

O olho de Claire voltou ao azul intenso habitual. Tudo parecia estar como sempre foi.

— Eu acho... que você devia guardar esse anel de novo naquela caixa e nunca mais abri-la.

— Eu vou fazer exatamente isso. — Levantou da cama e a confortou em seus braços. Sua cabeça doía. O espectro não saia de sua mente e agora o “S” brilhante estava gravado na sua retina. O que tudo aquilo queria dizer? Ele preferia nunca descobrir. Infelizmente, estava totalmente errado.


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Notas finais do capítulo

Bom, capítulo flashback, muitas coisas malucas acontecendo.

E aí, gostaram? :)



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