Deuses e Diamantes escrita por André Tornado


Capítulo 13
Dragão.


Notas iniciais do capítulo

"A pressão está a aumentar
E eu não posso afastar-me.

Cheguei a acreditar que
As lágrimas do dragão
Eram para ti e para mim."
Bruce Dickinson, Tears Of The Dragon



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Quando Goku deixou o humano artificial, teletransportou-se para a Capsule Corporation. Foi recebido por um berro e uma chuva de couve cozida. Que até estava um pouco a atirar para o quente, pois tinham sido retiradas recentemente da água a ferver, e ele gritou, esbracejando como um louco, afastando aquelas coisas peganhentas – mas deliciosas – da cara e dos cabelos, aproveitando para trincar as que estavam mais perto da boca.

- Son-kun! Baka!!

Bulma estava com uma travessa vazia nas mãos, com uma cara de monstro capaz de o devorar. Ele encolheu-se, soltando uma risada tímida, colocando uma mão atrás da cabeça.

- Dá-me uma excelente razão para não te desfazer a cara.

Goku espreitou Vegeta que se sentava carrancudo à mesa.

- Acabaste de me interromper o jantar – completou o príncipe.

- Gomen né… Vegeta. Mas preciso do radar do dragão.

O pequeno Trunks, também sentado à mesa, observava a cena admirado, voltando a cabeça do pai para Goku, passando pela mãe.

- E apareces assim, sem mais nem menos? – Zangou-se Bulma a agitar a travessa. – Tu não podes fazer isso! Existe um telefone, avisa antes que vens visitar-me. Não sabes o que posso estar a fazer… E se me apanhas num momento mais… íntimo?! – E olhou inadvertidamente para Vegeta, que franziu um sobrolho sem perceber a insinuação. – Já pensaste nisso, Son-kun?

- Na realidade… não. Mas é que preciso mesmo do radar do dragão e não tinha nenhum telefone por perto. E já sabes que consigo viajar desta maneira…

Bulma irritou-se e voltou costas, atirando a travessa para a bancada da cozinha, fazendo um estardalhaço.

Vegeta levantou-se.

- Para que raios queres o radar do dragão, assim de repente, para vires a correr interromper-me o jantar?

Goku explicou sério:

- Aceitei o desafio de lutar num torneio que está a ser organizado por um deus tirano e preciso de pedir a Shenron uma maneira de chegar até ao mundo desse deus.

Bulma agarrou numa vassoura e numa pá para recolher as couves que se espalhavam pelo chão. Parou com uma mão na cintura.

- Explica lá isso melhor…

Ato contínuo, olhou para o filho e ordenou seca:

- Trunks. Quarto.

O miúdo fez uma expressão de desagrado.

- Ah, ´kaasan. Estou cheio de fome!

Goku olhou para a mesa posta. O aroma da comida quente e colorida, disposta em travessas variadas, lembrou-lhe que também estava esfomeado.

- Por acaso… Também comia.

Bulma apertou o cabo da vassoura com mais força, rosnando levemente. Insistiu com Trunks:

- Quarto. Já te chamo.

- ‘Kaasan… – choramingou o miúdo.

Mas não teve outro remédio senão obedecer à autoridade inquestionável da mãe. Numa corrida, Trunks sumiu-se da cozinha. Vegeta mostrava-se curioso, mas deixou que Bulma fizesse as próximas perguntas.

- De que torneio estás tu a falar? – Começou ela.

- É o torneio de um deus chamado Lux, que tem muito poder. Consegue esmagar galáxias inteiras só com um dedo.

- Nani?! – Arrepiou-se ela.

Vegeta cerrou os dentes.

- Enviou-me um convite para que participasse no torneio e eu aceitei.

- Porque é que foste fazer uma coisa dessas?

- Ora... Porque eu até queria lutar com Lux, por causa da Ozilia. Ela está a precisar de ajuda. É uma deusa que foi expulsa desse mundo onde está o Lux, que se transformou num tirano e que está a escravizar os outros deuses.

- Quem é essa Ozilia?

- Encontrei-a com número 17.

- Estiveste com o humano artificial?

- Hai.

- E por que é que estiveste com o humano artificial?

- Fui ajudá-lo a derrotar o guerreiro gigante que os estava a atacar.

- Estiveste a lutar?

- Hai.

- Então, não me enganei… – murmurou Vegeta, colando o queixo ao peito.

- Tu sabes o que é que estás a fazer, Son-kun?

- Hai.

- De certeza? Vais lutar contra um deus que tem o poder suficiente para esmagar galáxias inteiras? Tu perdeste o juízo?!

- Se tu vais, eu também vou, Kakaroto – anunciou Vegeta.

Bulma elevou o tom de voz.

- E tu também perdeste o juízo?

Goku assentiu.

- Hai, Vegeta. Depois de reunir as sete bolas de dragão, venho buscar-te. Já estava a contar que viesses comigo.

Bulma gritou:

- Vocês enlouqueceram? Vão lutar contra… um deus? E se esse deus for imortal? Como é que se vão desembaraçar dele?

Goku explicou:

- É só um torneio, Bulma. Não vamos participar no torneio para destruir esse deus. Apenas para ganhar.

- E acham que vão vencer um torneio que é organizado, precisamente, por esse deus?

- Lembras-te do Cell Games? Não era suposto o Cell perder… Mas perdeu!

- O Cell não era capaz de esmagar galáxias inteiras com um dedo!!

- Calma, Bulma. Vai correr tudo bem. Eu e o Vegeta conseguiremos dar conta do recado. Certo, Vegeta?

O príncipe não respondeu.

- Vocês os dois não vão sozinhos para esse torneio – aconselhou ela. – Vais contar essa história ao Piccolo, a Kuririn, a Ten Shin Han… Deverás também falar com o teu filho mais velho, Son Gohan e convencê-lo a ir contigo. E se dizes que essa tal deusa chamada Ozilia está com número 17, ele também te deverá acompanhar. E quando falares com Kuririn, mesmo que ele não queira aceitar lutar nesse torneio, fala com número 18. Quanto mais guerreiros lutarem ao teu lado, melhor. Terás mais hipóteses de vencer.

- Achas? – Goku arqueou as sobrancelhas.

- Tenho a certeza! Vais prometer-me que vais fazer isso que eu te disse, senão não te empresto o radar do dragão.

Ele torceu a boca, pensativo.

- Hum…

- Bulma tem razão – concordou Vegeta. – Não iremos todos lutar ao mesmo tempo, acredito que não, mas seremos mais intimidantes se nos apresentarmos nesse torneio com uma força considerável.

- Está bem… Estou a precisar do radar do dragão, por isso concordo com tudo o que me disseres, Bulma.

Ela enfureceu-se.

- Estás a dizer que me fazes a vontade só para teres o radar do dragão?!

- Mais ou menos.

Ela apontou-lhe o cabo da vassoura.

- Escuta aqui! Acabaste de colocar a Terra outra vez em perigo ao aceitares esse desafio do deus Lux. Por isso, pensa muito bem no que vais fazer a seguir. Não se trata de fazeres o que eu te digo, só para que fique satisfeita contigo. A partir de agora, tens a obrigação de nos protegeres. Percebeste bem, Son Goku?

- Eh… Calma, Bulma. Eu sei o que estou a fazer.

Ela entregou-lhe a vassoura e a pá.

- Limpa isso, enquanto eu vou buscar o radar do dragão.

E saiu da cozinha a resmungar:

- Espero bem que saibas o que estás a fazer…

Goku olhou para Vegeta que se sentou na sua cadeira, voltando a cara para o lado, cruzando os braços.

- Ela pediu-te a ti para limpares.

- Posso comer um nikuman? Só um?...

- Não. Limpa e depois some-te daqui. Continuo a querer desfazer-te a cara por me teres interrompido o jantar.

- Ah, Vegeta…

Sem conseguir apoio do príncipe, Goku varreu todas as couves para dentro da pá, a sentir o estômago colado nas costas. O perfume apetitoso daquela comida ali tão à sua disposição, mas simultaneamente tão proibida, pois ele não queria contrariar Vegeta, estava a deixá-lo louco. Como não encontrou o balde do lixo, deixou a pá encostada numa parede, ao lado da vassoura que encostou na mesma parede. Ao regressar para junto de Vegeta, Bulma entrava na cozinha carregando o aparelho branco redondo com um mostrador verde-escuro desligado. Goku sorriu-lhe, mas ela escondeu o aparelho atrás das costas exigindo:

- Promete-me.

Ele respirou fundo.

- Prometo, Bulma. Não irei só com Vegeta para o torneio do deus Lux.

A expressão do rosto dela suavizou-se, os olhos azuis ficaram húmidos. Estava deveras preocupada, quase triste, quase amedrontada. Ao depositar o radar do dragão na palma da mão aberta do amigo, disse-lhe:

- Confio em ti, Son-kun.

***

Trunks recolheu-se no seu quarto depois do jantar. Agarrou no telefone e teclou o número devagar, com o dedo indicador trémulo de tão ansioso. Teve sorte, apanhou no outro lado da linha Son Gohan. Tentou manter a voz menos ansiosa que o dedo indicador e pediu para falar com Son Goten. Alguns segundos de silêncio depois, que lhe pareceram intermináveis, mesmo sendo meio saiya-jin continuava a ser um menino de nove quase dez anos com todos os receios normais de uma criança, ouviu uma voz gritar alegremente:

- Trunks-kun!

- Goten – pediu a baixar a voz –, podes ir para o teu quarto? Preciso falar contigo sobre uma coisa e ninguém pode ouvir.

- Ah… Não posso. O meu telefone é daqueles que está agarrado à parede, não é como o teu.

- Hum… Então, responde-me só com “sim” ou “não”. Está bem?

- Hai.

- Boa!... O teu pai está aí?

- Hai.

- A tua mãe também está?

- Hai.

- O teu pai disse alguma coisa sobre procurar pelas bolas de dragão?

- Não.

- Hum… E não falou em nenhum torneio?

- Não.

- Hum... Ouve, queres entrar numa aventura?

- Hai! – Gritou entusiasmado.

- Ótimo! Mas não podes contar nada a ninguém, está bem?

- Hai.

- Vais fazer o seguinte. Amanhã, vais pedir à tua mãe que te deixe vir brincar comigo. Vou contar-te o que é que está a acontecer e vais ficar a saber de tudo.

- Hai.

- Então, até amanhã, Goten-kun.

- Hai.

- Já podes dizer mais qualquer coisa, sem ser “sim” ou “não”.

- Hai.

- Uh… Percebeste o que eu te disse?

- Hai.

- És um idiota!

- Hai.

Trunks desligou o telefone.

O primeiro passo fora dado. Estava determinado a participar no torneio do deus Lux e fá-lo-ia acompanhado do seu melhor amigo. A mãe nem sonhava que ele tinha escutado a conversa toda, escondido atrás da porta, camuflando o ki para ninguém se aperceber do que fazia. Porque se sonhasse, no dia seguinte ficaria de castigo até ao fim dos seus dias!

***

A busca das bolas de dragão não foi demorada, pois Goku muniu-se da sua super velocidade e viajou célere pelo mundo atrás dos sete pontinhos brancos que piscaram no mostrador verde do radar. A tarefa foi facilitada devido à maioria das bolas se encontrar na natureza, enterradas em grutas, mergulhadas em lagos ou escondidas entre a vegetação. Apenas uma se encontrava à guarda de um ancião teimoso de um vilarejo nortenho, que insistira que aquela era uma joia que estava na família havia gerações incontáveis. Uma enorme patranha, pensara Goku paciente, enquanto escutava as justificações impertinentes do ancião, pois ele e os seus amigos já haviam utilizado tantas vezes as bolas de dragão que seria impossível ao homem ter uma destas em seu poder durante séculos e séculos, como afirmava de dedo ameaçador em riste. Conseguira ficar com a bola mostrando-lhe as outras cinco que já tinha angariado, calando os argumentos do ancião que afirmava irredutível que aquela era uma joia única. A velhota, sua mulher, tinha martelado a cabeça do ancião com um cajado, chamando-o de mentiroso. Gerara-se uma discussão entre eles e Goku aproveitara a confusão para se despedir com a bola de dragão de duas estrelas, a afamada joia de família. Abandonara o vilarejo sem olhar para trás e rumara para oriente, onde se encontrava a última bola de dragão. A sua. A que tinha quatro estrelas. E mergulhara satisfeito em memórias agradáveis de infância, quando aquela pequena esfera de cristal cor-de-laranja era a única recordação que tinha do seu querido avô Son Gohan. Tinha-se passado uma imensidão de anos!

Pelo caminho, aproveitara para contactar com os seus amigos e falara-lhes do torneio do deus Lux. Ten Shin Han recusara participar, estava demasiado apegado à sua vida de eremita, agradecera a lembrança, afirmara que os saiya-jin seriam suficientes para causarem uma excelente impressão nesse torneio. Não procurara por Yamucha, sabia que ele estava retirado daquelas andanças. Piccolo concordara em participar sem hesitar. Kuririn declinara horrorizado o convite, mas número 18 interessara-se e Kuririn falou por ela, dizendo-lhe que ela iria participar, que ele ficaria a cuidar da filha de ambos. A humana artificial ficara, no entanto, reticente por o irmão estar envolvido nesse estranho evento e ainda mais quando Goku lhe respondera que achava que não havia nenhum prémio monetário em jogo. Mas aceitara acompanhá-lo – ou pelo menos, assim confirmara Kuririn. Quanto ao filho, Gohan, firmaram um pacto: para que Chi-Chi não soubesse seria um segredo deles e fê-lo jurar que também não contava nada à sua namorada, Videl.

A bola de dragão de quatro estrelas estava aninhada na fenda de uma rocha que ele teve de quebrar com um ligeiro disparo de ki. Brilhou quando a retirou para a luz do dia. Limpou-a na túnica do dogi e admirou-a sorrindo. Fechou o livro de recordações, o ciclo completara-se, mais uma vez.

Goku desligou o radar do dragão. Fechou a mochila castanha que levava e onde guardava as bolas de dragão que ia encontrando.

- Pronto, já tenho as sete. Chegou a hora da nossa partida.

***

Três dias de sossego. Três dias de um agradável abandono e de um saboroso alheamento, passados sobretudo em tarefas rotineiras que lhe faziam falta. Ele necessitava, absolutamente, da precisão de uma rotina. Regressara à aldeia para o guisado de coelho-bravo, fizera as suas excursões de caça à floresta, adormecera com uma consciência tranquila, tudo pacatamente, ao seu ritmo. A convivência com Ozilia tinha sido mínima. Ela evitara-o, ele não procurara por ela. Continuara a dormir na cama dele, ele habituava-se ao sofá.

Apenas três dias depois e Son Goku regressava à cabana. Não vinha sozinho. Utilizara a sua técnica da transmissão instantânea e arrastara com ele quatro pessoas. O príncipe dos saiya-jin, o filho mais velho, o guerreiro namekusei-jin e a humana artificial. E também não vinha de braços vazios. Abriu uma mochila e despejou sete bolas cor-de-laranja, cada uma com estrelas vermelhas dentro, que se agruparam no solo numa espécie de círculo, mostrando que eram de cristal ao produzirem um som característico ao chocarem umas contras as outras.

Leve como uma pena, número 18 passou por ele.

- Olá, mana.

Ela levantou-lhe uma sobrancelha. Não lhe devolveu o cumprimento, caminhando com alguma indiferença. Ele conhecia-lhe o mau feitio, sabia que devia estar zangada com ele por nunca mais a ter procurado, depois de Cell ter sido eliminado. Mas ele não tinha nada a dizer à sua irmã gémea, desde que tinham partilhado a loucura do jogo mortal de procurarem por Son Goku. E agora era esse mesmo Son Goku que os voltava a juntar, para mais um jogo mortal. Era curioso como a vida costumava dar voltas completas para se regressar ao ponto de partida.

Ozilia contemplava a cena indiferente, afastada do grupo.

- Podemos começar – disse Son Goku como se pedisse licença.

Número 17 cruzou os braços, inclinou a cabeça para a esquerda, curioso para ver o que é que iria acontecer a seguir. Nunca tinha visto aquelas bolas cor-de-laranja e não sabia quem era esse tal Shenron que os haveria de ajudar a alcançar o Palácio do Tempo de Lux. Mas ocultava a curiosidade debaixo de uma máscara de desinteresse, tão ofensiva quanto a de Ozilia. E não era o único a mostrar um tédio afetado. O príncipe dos saiya-jin e o guerreiro namekusei-jin também estavam carrancudos. Só o filho de Son Goku parecia descontraído, ao lado de número 18, espreitando Ozilia pelo canto do olho.

Son Goku ergueu os braços e invocou o tal Shenron, chamando por ele numa voz grossa e bem colocada que ecoou nas escarpas rochosas atrás deles. As bolas cor-de-laranja começaram a brilhar com intensidade, agora numa cor amarela, piscando a espaços intermitentes, como se tivessem pegado fogo.

No céu daquela tarde começaram a aparecer nuvens muito negras, enquanto relâmpagos estalavam e trovões soavam, uma tempestade inesperada que não se antevia hum horizonte calmo. As bolas brilhavam com cada vez mais fulgor. A luz que alimentavam engrossou e foi expelida para as alturas, acicatando os elementos. O céu fechou-se completamente e ficou noite. O raio luminoso serpenteava pelas nuvens, enrolando-se como se estivesse vivo, ganhando uma forma compacta. Apareceram escamas, uma crista, patas, uma cabeça no raio luminoso.

Número 17 olhava para o céu escuro.

E viu surgir Shenron, o dragão sagrado das sete bolas mágicas de cristal.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Passagem.



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