A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 14
Capítulo 14 - Uma nova família...


Notas iniciais do capítulo

Apesar da demora (me desculpem por isso), não vou abandonar a fic. Eu amo muito escrevê-la e por isso, com o maior amor do universo: Mais um cap pra vcs!
Obrigada por todo o apoio que vocês tem me dado, todos as reviews, favoritadas etc... Vocês são minha maior inspiração! ♥



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O vento chacoalhava as árvores, enquanto zumbia violentamente. As folhas avermelhadas voavam rápidas e desengonçadas pelo ar. A luz do sol lançava seus raios por entre a floresta densa. Pássaros assobiavam há alguns quilômetros de distância.

Calor. Calor era o que eu sentia.

Estava deitada na grama alta e úmida de olhos fechados, sentindo meu corpo incinerar. Seria o sol que me queimava? Eu estaria literalmente pegando fogo?

Respirei fundo e gemi ao abrir os olhos vagarosamente. O ar tinha cheiro de vapor de água e animais pulsantes. Minha visão estava turva, e me faltava vontade para me mexer. Com mais um suspiro me levantei ainda cambaleando, me sentindo muito estranha. Meu corpo ardia em chamas internas. Pensei que me refrescar no lago ali perto, seria o suficiente e me coloquei em movimento. Tentava enxergar através da visão nublada que meus olhos insistiam em me mostrar e ao mesmo tempo, ouvia um ritmo contínuo e compassado: passos rápidos ao longe. Ao chegar na beira do lago, meu corpo fraquejou e eu cai, tropeçando no inexistente, e qualquer tipo de resistência ou reflexo haviam desaparecido do meu corpo, sentia que minha consciência ia me deixando novamente. Quando olhei para minhas mãos.

Mãos. Aquilo não era mãos, eram patas, gigantes por sinal. Enormes patas brancas de lobo. Ai, meu Deus! Me libertei do cansaço de súbito e me sentei nas patas traseiras. Observei à mim mesma no reflexo do rio por um longo momento. Olhos verdes azulados, vívidos, como os de um cão gigante me encaravam surpresos e estavam em harmonia com o focinho escuro e o nariz preto. Eu havia me transformado, eu havia conseguido. Eu era uma loba. E o mais curioso era que eu não me parecia com Max, nem com meu pai com exceção da cor dos olhos inconfundível, que herdara dele, eu não tinha pelo negro. Pelo contrário, a pelagem que me cobria era tão branca, que se eu estivesse na neve, provavelmente passaria despercebida. Passaria despercebida, se meu pelo não estivesse coberto por manchas grandes de sangue.

Logo percebi que meu corpo havia se curado dos cortes da noite anterior, mas ainda podia sentir os cacos de vidro fincados em minha pele. Me virei e encarei a enorme cova ensanguentada na qual eu estava a poucos minutos atrás. Fora ali que eu tinha visto Max... Um anjo. Levantei a cabeça e encarei as nuvens que se espalhavam pelo céu um pouco azul.

“Max, olhe para mim. Veja como estou agora, eu posso me transformar também... Mas você não está aqui para correr, caçar e rir comigo. De que adianta tudo isso, se não tenho você?” – pensei enquanto suspirava.

O sonho dos maiores homens da minha vida, meu pai e meu namorado, havia se tornado realidade. Eles me queriam por inteira como parte do bando, e me tornar um lobo fazia parte disso. Mas eu sentia que não tinha nenhum dos dois para contar a novidade, para deixá-los orgulhosos... Mesmo sabendo que eles estavam sorrindo de admiração, de onde quer que eles estavam.

Mergulhei no rio, me acostumando com meu novo corpo e assim que saí chacoalhei meu pelo, assim como Max fazia, em uma tentativa frustrada de imitá-lo. Sorri mentalmente orgulhosa ao me lembrar dele, novamente.

Farejei um cheiro novo e ao mesmo tempo estranho. Com o olfato mais apurado em minha nova forma, pude perceber que o cheiro se tratava de Feromônio, o hormônio do atrativo sexual. Não pode ser.

A quantidade do hormônio era grande, no meu corpo e em um raio de 100 metros de onde eu estava. Eu estava exalando hormônios, e apesar dos meus conhecimentos superficiais sobre o assunto, sabia que aquilo não era normal. Tudo deveria estar relacionado ao meu dom, ou não? O que seria aquilo?

Farejei o ar, sem perceber, e optei por me acalmar e me controlar. Não permitiria que meu instinto me transformasse em uma fera descontrolada (até por que julgava ser super engraçado uma pessoa fanática por... sexo). Comecei a trotar em um ritmo constante e acelerado, em uma direção qualquer, atenta a qualquer ruído de um animal ou coisa parecida, e me livrando dos cacos de vidro em minha pele. Estava disposta a ceder à um desejo para me libertar do outro, escolhi a sede. Ouvia sons das árvores, riachos, pássaros pequenos... Oh, um alce!

Me espreitei pela grama alta, e me aproximei do animal e de sua manada, me limitando a ficar a pelo menos uns 80 metros de distância. Meu coração estava acelerado, minhas garras fincadas na grama úmida, meu pelo branco nada disfarçado na paisagem, meus olhos focados na presa. Caçar como uma loba seria muito, muito, divertido...

Passei mentalmente diversas cenas, onde Max me levava até o núcleo da Amazônia para assisti-lo em suas caças... Nunca pararia de suspirar quando me lembrasse de toda a habilidade, glória e a agilidade que ele tinha ao se mover, e de como era totalmente seguro em todos os seus movimentos.

A enorme galhada, o cheiro, e a típica postura de líder acusavam que aquele herbívoro, o alce que escolhi, era um macho adulto e provavelmente o “macho alfa”. Ele pastava tranquilamente em torno de seu grupo, ainda inconsciente de minha presença. Retesei meus músculos, me preparei para uma corrida em disparada e contando até cinco, avancei conforme o plano. Em um salto, corri o mais rápido que pude tentando imitar os movimentos de Max, assustando a presa e começando uma perseguição. O alce corria mais rápido que o Bolt! E eu me esforcei para alcançá-lo. Por fim, ele acabou tropeçando em uma raiz de árvore e em um movimento rápido, ataquei sua garganta.

Estava deitada na grama, com a carcaça da minha deliciosa refeição pousada ao meu lado, enquanto lambia minhas garras ensanguentadas. Minha falta de coordenação com o novo corpo resultou no meu pelo manchado com mais sangue, desde a cabeça até o rabo, eu devia estar amedrontadora. Refleti sobre o que eu faria em seguida, e isso me fez voltar a pensar na noite anterior... O que houve mesmo?

Me levantei e me concentrei em lembrar... Lembro-me de dores, dores por todo o corpo, dor na barriga... Cólica? Lembro de música alta... de uma voz em minha mente. Por que está tão difícil lembrar das coisas? – pensei. Minha mente parecia anestesiada, um cérebro dormente. As lembranças vinham vagas e sem detalhes nítidos, com exceção da dor inebriante da transformação... Não sei se algum dia esqueceria essa dor. Levantei uma pata para dar um passo e ao mesmo tempo um som de um galho se quebrando há poucos metros atrás de mim, me parou. Fechei a mandíbula com força e arregalei os olhos de tensão. Ouvi uma bufada bem forte, era alguma coisa grande. Duas bufadas, dois animais grandes.

Me virei para o som rapidamente, pronta para fugir e me deparei com duas criaturas muito engraçadas. Na verdade, não há nada de engraçado em lobos gigantes, mas dois lobos gigantes com expressões de espanto e supresa, definitivamente, são hilárias. Ambos eram cinzas, mas o que estava na frente era mais escuro e maior que o de trás. Lobos do norte, pelo cheiro. Seriam eles moradores da região? Ou estavam só de passagem?

Me sentei sobre as patas traseiras e chacoalhei os pelos da cabeça, enquanto abanava o rabo, mais de tensão do que de felicidade. O lobo cinza escuro fez uma expressão ainda mais confusa e olhou para o outro. Ambos se entreolharam e o escuro sumiu entre as árvores, enquanto o outro ficou me observando.

Não deixe que fuja... Vamos fazer algumas perguntas” – uma voz falou com um humor suspeito. Eu inclinei a cabeça e observei o horizonte da floresta, tentando encontrar de onde vinha aquela voz. Era uma voz diferente da que eu ouvi na noite anterior. Estava eu, perdendo o juízo?

Poucos segundos depois um jovem moreno, de porte atlético, cabelos escuros como os olhos e um shorts jeans surgiu de onde o Cinza escuro tinha ido. O lobo claro foi para as árvores logo em seguida.

– Quem é você? – perguntou ele, com uma arrogância reprimida na voz. – Transforme-se.

Bufei de modo sarcástico. Quem ele pensava que era e como eu me transformaria de volta? Eu não havia pensado nisso ainda.

– Nunca vi ela por aqui... – disse outro homem, do mesmo tipo físico do primeiro, surgindo da mata. – Será que devemos avisar o Sam?

Enquanto isso, eu permanecia no dilema de me transformar de volta...

– Não, já temos confusão demais por lá. Mas acho que ele já sabe à essa altura. – o primeiro respondeu ao outro. – Deve estar vindo para cá.

Pensei em como a transformação é comandada pelo instinto, e deveria fazer o instinto me transformar de volta. Deu certo. Com um só pensamento, já comecei a sentir meu corpo mudar. Cada célula, cada osso, cada órgão... Era arrepiante. Em poucos segundos, já sentia minhas mãos, pés, pernas, e todo o resto. Sorri extasiada com a experiência e fitei os dois na minha frente.

– Eu é que pergunto, quem são vocês? – perguntei levantando uma sobrancelha, em minha forma humana.

Ambos me encaravam vidrados, o primeiro estava de boca aberta e o segundo com os olhos arregalados. A mesma expressão que faziam na forma de lobos. Ri suavemente até ouvir outros comentários...

Meu Deus... O outros vão adorar isso...Ela é muito gostosa!”

– O que disse, imbecil? – cerrei os punhos, com raiva. Quando percebi que eles não haviam aberto a boca pra falar nada, estavam congelados na mesma posição.

– Disse o que? – o segundo despertou do devaneio e olhou em meus olhos, ainda com cara de espanto.

– Não disseram nada? – perguntei assustada e o segundo negou com a cabeça, então me virei para o primeiro e ele nem se preocupou em disfarçar que olhava meu corpo como um velho tarado.

Desci meu olhar até a região onde eles olhavam, e tive que respirar fundo. Onde foram parar minhas roupas?

– Mas que PORCARIA é essa? – ri perplexa, olhando ao redor, em busca das roupas. O primeiro pareceu acordar.

– Deve ser a primeira vez que se transforma não é? – ele disse com um sorriso malicioso. – Sabemos como é.

– Paul vamos levá-la para a casa de Emily, ela pode ajudar. – disse o mais tímido.

– Sem dúvidas, Jared. – Paul respondeu rindo.

– Não vou com vocês, foi mal. – respondi com um sorriso sarcástico.

– Podemos te ajudar, explicar como essa coisa de lobo funciona. – Jared deu um passo pra frente e logo voltou pois viu meu olhar ameaçador. Ele parecia sincero, mas não iria arriscar.

– Tenho cara de quem precisa de ajuda? – perguntei ácida. – Não, obrigada, eu sei me virar.

“Ui, quem precisa de ajuda sou eu... Com uma cena dessa.” – a voz continuou. Parecia conhecida...

– O que? – me virei para Paul, rosnando.

– O que? – ele respondeu com os olhos arregalados.

– Que cena?

– O que? – ele repetiu – Como você... ?

– Como eu o que? – perguntei confusa.

– Como você sabe que eu pensei... Está investigando minha mente? – Paul se aproximou bravo.

– Seria bom se você tivesse alguma mente para investigar. Do que é que você está falando? - me aproximei também com o punho cerrado.

– Não se faça de idiota, garota! Você nem é do meu bando! – Paul gritou furioso começando a tremer.

– Eu não sei do que você está falando, seu babaca! – gritei de volta.

“Bonita, loba, nervosa... Uau.” – outra voz se fez audível.

– Uau o que, cara? – me virei para Jared, mais irritada ainda. Ele me encarou perplexo.

– Você lê mentes? – ele perguntou com simplicidade e desconfiança.

– É óbvio que não! Eu... – parei no meio da frase , pensativa.

Ler mentes. Dons, talentos. Talentos, vampiros. Edward. Edward! Eu o ataquei ontem à noite! Assim, comecei a me lembrar de vários detalhes da noite passada, e fiquei com pressa.

– Eu preciso ir. Adeus. – disse e me virei para a floresta rapidamente.

“Procurar roupas é o primeiro passo...”

– Jared! Eu separo sua cabeça do corpo em menos de 3 segundos, garoto! – urrei correndo na direção dele e o levantando pelo pescoço.

– Você lê pensamentos sim, sua maluca. Por que eu não disse nada. – ele falou um pouco engasgado, mas sorrindo. Eu o larguei.

– Cale a boca. Vocês estão delirando. – os repreendi.

– Calma, gatinha.- Paul colocou uma mão no meu ombro – Podemos resolver essa história com gente que entende do assunto. Vamos conversar com o resto do bando, eles vão poder te ajudar.

– Tire-a-mão-de-mim – falei devagar, dando enfase a cada sílaba. – Eu não posso ir, eu tenho que voltar...

– Voltar para onde? – Jared perguntou curioso.

– Voltar para a comida. – menti rapidamente, não confiava tanto neles assim para contar sobre os Cullen.

– Ah qual é, é rápido. Queremos te apresentar para os outros. Quem sabe Leah acaba gostando de você, e vocês se tornem amigas? – Paul sussurrou.

– E talvez ela acabe se tornando mais... Sociável. – Jared, completou.

– Tudo bem, mas não faço a mínima ideia de quem seja ela... – respondi rápido, encontraria outro momento para resolver as coisas com Edward. Ele estava noivo, e eu quase... Além do mais, minha curiosidade estava me matando, como seria um bando de lobisomens dos Estados Unidos?

Paul quis pagar uma de herói galã me oferecendo seu shorts para vestir, mas eu sabia muito bem o que isso poderia gerar. Me mantive distante deles o tempo todo, e fomos os três lobos, seguindo até uma casa em La Push, uma praia muito confortável e aconchegante. Sempre que eles se aproximavam eu rosnava de modo que eles se afastassem.

Durante todo o percurso, respirava pela boca para me poupar da sensação incômoda e indesejada que o cheiro deles causava. Quando surgimos da floresta, chegando na casa, quatro homens estavam parados na entrada e olhavam em nossa direção ansiosos. Havia uma mulher entre eles também, e a extensa cicatriz no rosto dela não a fazia parecer menos simpática. Sentei-me nas patas traseiras e observei tudo com muito cuidado.

– Olá, garotos. – um homem, o maior deles, se pronunciou com uma voz grave inconfundível de alfa. Então era nele que eu deveria prestar atenção. – O que temos aqui?

– Olá Sam. – Paul surgiu como homem do meu lado esquerdo, andando em direção aos outros – A encontramos na floresta, ela parecia perdida.

Bufei e revirei os olhos. Todos eles me encararam e começaram a me analisar. Isso me lembrou de quando Rubi, minha “mãe”, ia checar o meu estado vital quando eu estava na incubadora... Aquela desgraçada. Semicerrei os olhos, rosnei involuntariamente e Sam se colocou em uma postura defensiva, na frente dos outros.

– Qual é o nome dela? – ele perguntou para Jared, que vinha do meu lado direito, também como homem. – De onde ela é?

– Não sabemos. A única informação que entendi foi que ela se transformou pela primeira vez hoje. – Jared comentou enquanto me observava também.

– Hum... – Sam caminhou em minha direção e começou sua análise – Você não parece fraca, e seu cheiro... Transforme-se para conversarmos.

Encarei-o sem desviar o olhar, de modo desafiador, e como ele estava muito próximo, seu cheiro me atingiu como um alucinógeno. Cheiro de Macho Alfa. Dei alguns passos para trás de forma abrupta enquanto tentava me controlar. Sam franziu a testa.

– Emily, pode trazer algumas roupas para ela? Ela não tem nenhuma... – Paul colocou uma mão no ombro da mulher com a cicatriz, que sorriu e concordou.

– Nossa, vocês realmente estão por cima, não é? – um outro homem, mais alto que Paul riu e cutucou o outro do lado.

– Você também viu, Quil?! – Jared riu – Estamos por cima! – ele me observou e ficou envergonhado de repente.

Um rosnado alto escapou da minha garganta, agora de propósito, e no mesmo momento algo forte e pesado me atingiu nas costelas. Me levantei rapidamente e meus reflexos imploraram por atacar. Pulei em cima da garota que me empurrou e a prendi no chão, com as garras em sua garganta. Ele começou a me dar socos no focinho.

– Não! – Sam gritou bravo – Saia daí Leah!

– Ela ia atacar, Sam! Nós ao menos a conhecemos, ela pode ser perigosa! – a mulher rugiu sobre minhas garras, que a esmagavam cada vez mais forte.

Ela me deu um chute no abdome, o que me fez recuar, e começou a se transformar enquanto se levantava.

– Basta, Leah! – Sam gritou com a entonação da voz alterada. Era a voz do Alfa.

Leah parou imediatamente, e voltou ao normal. Seu olhar continuava com raiva, ódio, frustração e tristeza. Seu cabelo curto e espetado a dava uma aparência mais feroz, e suas roupas rasgadas mostravam seus músculos retesados. Ela parecia ter sérios problemas psicológicos.

– Aqui está... – Emily surgiu de dentro da casa com algumas roupas nas mãos, e ela parou assim que sentiu o clima tenso – O que houve?

– Leah só teve outro ataque... – um menino menor e mais jovem que os demais disse desapontado.

– Chega, Seth. – Sam o repreendeu e se virou para a menina maluca – Esfrie a cabeça Leah...

– Cale a boca! – a loba o interrompeu muito mais irada do que antes – Você não enxerga o perigo que isso pode representar? Já aceitam confiar em uma estranha, só por que ela é como nós? Ela podia ter matado alguém.

– Não podia, Leah. – Paul interveio pegando as roupas das mãos de Emily – Ela não é burra. Ela sabe o número que somos. – ele veio até mim e estendeu as mãos – Tome, gatinha.

Bufei novamente e abocanhei o conjunto de tecidos, depois empurrei Paul com minha pata, que cobria toda a superfície do seu peito nu, fazendo-o perder o equilíbrio. Os outros riram. Fui até a floresta, me transformei de volta e coloquei o que tinha ali. Uma regata azul marinho, e uma calça jeans. Graças a Deus que é uma calça! Pensei grata à Emily. Com meus poderes tão descontrolados, seria tão fácil sucumbir ao desejo com o corpo exposto... Chacoalhei a cabeça esquecendo disso e respirei fundo, saindo do esconderijo. Todos ficaram com olhares surpresos, outros de boca aberta, e o Paul, metido como só ele, cruzou os braços e deu um sorriso convencido.

– Eu disse que ela era bonita. – ele riu.

– Eu posso quebrar sua cabeça ao meio se eu me irritar um pouco mais com você. – respondi ao comentário.

– Uau, Paul. Sua moral está muito baixa, hein? – O menino Seth observou.

– Cale a boca seu pirralho! Ou então eu mesmo vou aí e calo pra você. – Paul começou a tremer de raiva.

– Chega, crianças. – Sam falou com a voz séria e cortante, se virando para mim – Qual é seu nome?

– Serena. Vim do Brasil, sou filha de um lobisomem e por isso sou assim. – respondi automaticamente, evitando mais perguntas, e revirei os olhos.

– Serena do Brasil. Que exótico... – Quil disse sorrindo amigavelmente – E em relação aos pais, acho que todos nós somos parentes de um lobisomem para ser assim, né?

– Eu não disse transmorfo. – o encarei sem expressão – Disse lobisomem.

– Filhos da Lua não existem. – Sam afirmou com certeza.

– Não? – levantei uma sobrancelha – De onde você acha que você veio? Seus ancestrais, com certeza eram filhos da lua.

Emily passou um braço pela cintura de Sam, enquanto ele ficou calado. Leah fez um som baixo, mas como eu estava próxima eu pude ouvir.

– Está tudo bem com você? – perguntei curiosa, olhando para ela. Todos encararam Leah com tristeza.

– É óbvio que está, sua idiota! Não pergunte besteiras! – ela gritou correndo em minha direção e levantando uma mão pra me dar um tapa. Eu segurei seu braço no ar, sem dificuldade.

– Estou vendo... – comentei com os olhos semicerrados, a deixando ainda mais irritada. Mal tinha percebido que Emily tinha se soltado de Sam. – Ah. Entendi...

Leah me olhou com mágoa disfarçada de raiva, e eu pude compreender o que ela sentia. Suspirei e a encarei com pena. E ela simplesmente se virou e saiu correndo. Alguns minutos se passaram, todos em silêncio. Eu soltei um suspiro pesado, enquanto encarava o chão.

– Me desculpem... Eu não sabia. – falei séria, olhando na direção de Emily, que deu um meio sorriso triste.

– É uma longa e complicada história... – Sam comentou de cabeça baixa, e depois olhou para Emily com muito amor e devoção. A cena me comoveu. Sorri inconscientemente ao assimilar o que havia entre os dois... Impossível não adivinhar.

– Um imprinting sempre é complicado. – comentei assentindo com a cabeça. Ambos me olharam surpresos, mas se mantiveram quietos.


– Seria bem melhor se o Jacob estivesse aqui... – Seth pensou e ficou triste – Ele parece que sabe como evitar esses momentos constrangedores que minha irmã causa. Deve ser por que ele passa com coisas parecidas.

Uma imagem do homem que encontrei no Canadá se formou em minha mente, e ele parecia muito feliz e sensato. Mas não era eu que estava pensando nele. Parecia ser os pensamentos do garoto.

– Leah é sua irmã? – observei – E quem é Jacob?

– É meu filho. – uma voz grave se aproximou. Me virei e me deparei com um homem de olhar cansado, em uma cadeira de rodas levada por uma mulher morena e bonita. Aparentemente, ele era muito sábio, e parecia estar sofrendo...

Estávamos todos espalhados pela sala e pela cozinha. A mesa estava repleta de doces e pratos gostosos feitos por Emily, e todos devoravam tudo.

– Hum. – engoli um pedaço de biscoito de amora – Deixe-me ver se eu já decorei... Você é Quil Ateara, Jared, você é... Seth Clearwater, Paul Lahote, Sam Uley, a doce Emily, Leah Clearwater é a irmã do Seth, você é Embry Call... Você é Billy Black, pai do Jacob Black, e a Sue, mãe dos Clearwater... – apontei para cada um deles respectivamente.

– Nossa você tem uma ótima memória! Eu demorei meses pra decorar o nome de todos. – Emily riu humorada.

– Não é tão difícil quando se tem de conviver com eles todos os dias. – Billy acrescentou fingindo desgosto. Eu ri.

– Você também tem o humor instável do Jacob? – perguntei casualmente.

Paul derrubou a faca com que estava cortando um pedaço de bolo, Emily me observou com uma mão cobrindo a boca, e todos os outros também pararam suas atividades para me olhar. Por que Senhor? O que eu fiz agora?

– Você conhece o Jake? – Billy perguntou se aproximando da mesa.

– Bem, eu acabei me encontrando com ele quando fiz uma viagem ao Canadá. Achei ele no meio da floresta. Ele parecia bem estressado e desesperado. – coloquei uma mão no queixo de modo pensativo, enquanto observava a reação de todos.

– Como ele estava, ele disse quando ia voltar? – Billy quase caiu da cadeira de rodas de tão ansioso. Sue o acalmou e o ofereceu um copo de àgua.

– Ele parecia bem, Billy... Estava chateado por causa da garota, mas eu acredito que ele supera. Não que eu conheça ele muito bem, mas... – fiz uma pausa e encolhi os ombros – Ele não mencionou nada sobre sair de lá, e acho que ele não tem planos de voltar tão cedo...

– Meu filho... – Billy sussurrou suspirando. Fiquei emocionada e pensei em algo para melhorar o ânimo de todos.

– Ah, mas não se preocupe. Vamos dar um tempo à ele... E se ele não voltar no tempo estipulado, eu mesma volto lá e o arrasto pelos cabelos de volta pra casa! – Ri com a hipótese, e todos riram também.

– Aposto que ele volta com o rabinho entre as pernas! – Paul caiu na gargalhada.

– Mas, mudando de assunto. Você tem mesmo uma alcateia Serena? E como ela está sem a líder? – Embry perguntou curioso antes de dar um gole generoso no suco de laranja de seu copo.

– Olha, como eu disse, o Alfa foi morto por vampiros. Eu era a segunda no comando, por ser filha direta do Alfa anterior, que também foi morto por vampiros. – tentei dizer isso sem fazer cara de choro, o que foi muito difícil - Mas por problemas internos, eu não pude permanecer e então vim para cá. Para ser muito sincera... Eu não faço ideia de como as coisas estão por lá. Mesmo por todo o sistema de comando ser tão complexo, e pela divisão de gêneros... - apertei minhas mãos envolta do garfo abaixo da toalha da mesa e acabei o quebrando. Falar sobre mim sempre desperta sentimentos fortes, mas ninguém pareceu perceber.

– Como assim? O que quer dizer divisão de gêneros? – Jared se interessou e apoiou o queixo nas mãos unidas.

– Acho que vocês vão entender... – eu ri sozinha, um pouco tensa – Vocês sabem como é complicado esse negócio de lobisomens fêmeas e machos convivendo juntos, não é? E ainda tem o detalhe adicional do imprinting... – Sam abraçou Emily instintivamente e todos permaneceram atentos ao que eu dizia.

– Sabemos como é. – Jared se entregou, dando uma cotovelada em Quil. - Meninas dão trabalho...

– Jura?! – sorri – Ok, vou continuar. Então, Max e eu, resolvemos organizar melhor as coisas pois desde a morte do meu pai, tudo tinha saído do controle. Era paixão dali, imprinting de cá... Todos os dias tínhamos brigas feias por causa disso... Ah, eu já disse que o líder chamava Max? Enfim, nós reunimos com o nosso conselho e optamos pela divisão de gêneros: machos e fêmeas separados.

– Você diz como se eles fossem animais. Eles são pessoas, Serena. – Quil se ofendeu.

– Eles se comportavam como uns. – endureci o olhar e a voz – E não foi você que teve que controlar toda a maternidade de 3 filhotes de uma loba que matou o namorado por causa do amante.

– Caramba! Mas não tem graça separar os caras das garotas... – Paul disse malicioso.

– Ok, Paul. – revirei os olhos e continuei – Resolvemos separar os lados, e tudo se tornou muito mais fácil. Nós apenas separamos as cabanas, duas cabanas para cada sexo, a quinta para o conselho e a sexta para os alfas. Elas eram diferenciadas por nomes... Guepardo, Onça, Tucano, Iguana, Arara e Gavião, respectivamente – sorri pela formalidade.

– Quantas pessoas tinham por cabana? – Emily perguntou curiosa.

– Você quer saber em quanto nós somos? – ri – Quando eu fui embora... Haviam 28 pessoas e duas garotas grávidas. As cabanas geralmente são divididas entre 5 pessoas na média, com exceção da Gavião, que era só minha e de Max.

– Hum... – Seth brincou – E dormir todos os dias perto de uma pessoa não fez vocês se aproximarem?

Me limitei a rir, apenas. Sue, percebendo minha expressão, se apressou e começou a falar de outros assuntos, como as receitas das comidas na mesa. Eu engatei em uma longa conversa com Jared e Quil sobre os imprintings que eles sofreram.

– Ela tem 3 anos, Quil ?! Nossa! – coloquei uma mão na boca, tentando me conter, inutilmente.

– Nós não temos muita opção nesse caso, era pra ser e foi assim... – ele deu um meio sorriso.

– Eu imagino... Deve ser uma sensação muito boa. – coloquei uma mão no ombro dele. – E você Jared, quer dizer que você virou do avesso de uma hora para outra?

– Nunca tinha visto por esse lado, mas sim! – Jared gargalhou – Geralmente só podemos sofrer imprinting depois que nos transformamos em lobo. Você corre esse perigo agora, hein?! – ele brincou.

Eu ri enquanto meu coração ia congelando. Eu não queria sofrer imprinting por ninguém, até por que a minha única e exclusiva opção tinha virado uma linda estrela e tinha ido pro céu. Minha estrela, Max. O primeiro, o último, o grande e o único amor da minha vida. Emily deu um gritinho enquanto falava ao telefone e, rindo, correu para fora da casa.

– Segura sua mulher que ela está louca! – Sue brincou com Sam.

Paul atirou um pedaço de pão em minha direção e, com a ajuda do meu reflexo avançado, desviei rapidamente. Me levantei da mesa e, lançando um desafio mental à ele, dei um sorriso ansioso. Ele e eu começamos a tremer instintivamente.

– Quil! Olha só quem veio te ver! – Emily gritou do batente da porta.

Todos nos viramos e pudemos ver uma linda garotinha nos braços da mulher de Sam. O bebê usava um vestidinho de algodão amarelo, e sapatinhos brancos, combinando com o enfeite que prendia seu cabelo escuro no alto da cabeça. Quil se levantou da cadeira de súbito.

– Claire! Você veio! – ele disse animado ao segurar a menina em seus braços carinhosamente.

– Oi, Cuil! – o bebezinho gritou agitando as mãozinhas nos cabelos de Quil.

Me hipnotizei com o modo como ele olhava pra ela, como se ela fosse a criatura mais divina, mais perfeita, de todo o universo. Como se só existissem eles dois no mundo. Como se não houvesse problemas, como se tudo fosse aquilo... Um com o outro, e nada nem ninguém mais importasse. Os olhos grandes dela transbordando euforia e felicidade ao ver o melhor amigo, ver alguém que ela se sentisse segura, alguém que ela podia confiar, alguém que apesar de tudo ela sabia que ficaria ao lado dela para sempre. O amor incondicional, puro e verdadeiro, que ultrapassa todas as barreiras da vida. O único sentimento que consegue estabilizar a harmonia mental, espiritual e sentimental. E em breve, no caso deles... a harmonia física.

O que mais me marcou foi que, era exatamente daquela maneira que o Max costumava olhar pra mim. Lembro-me claramente da noite em que ele me encontrou na floresta, eu também era só um bebê. Era noite de lua cheia...

...

Eu chorava, estava escuro, ouvia barulhos assustadores, eu estava com medo. A chuva caia fina e incessantemente. O ar estava carregado, úmido e o perigo estava à espreita. Sentia os olhos da morte me observando de perto. Foi então que há alguns metros ouvi uma árvore caindo. A lua prendeu meu olhar nela, e então eu não sabia o que aconteceria depois, mas sabia que se eu fosse morrer, morreria olhando para o céu estrelado, magnífico. Passos grandes e pesados se aproximaram de mim, e pararam bem próximos. Olhei para baixo e me deparei com enormes olhos dourados brilhando na escuridão. Aqueles olhos, que eram tão assustadores e grandes, que chegava a ser impossível parar de encará-los. Não me lembro de quanto tempo fiquei olhando os olhos do lobo, mas sei que quando me dei conta, o lobo tinha se transformado em homem, mas os mesmos olhos permaneceram. Ele me segurou à uma determinada distância e olhou para mim mais uma vez, e foi aí que seu olhar se transformou de assustador, para assustado. Ele me segurou mais perto, e eu estendi uma mãozinha para tocá-lo nos olhos. E não quebramos o olhar nem por um instante, mesmo eu tapando um de seus olhos com a mão. Foi então que sorrimos um para o outro, e eu me dei conta que tinha parado de chover e que eu já estava no Gavião, a cabana dele. Ele se deitou na cama e me embrulhou em um lençol cinza, ainda me segurando junto dele. Ele tinha um círculo de tinta branca envolta do olho direito e seus músculos do peito, bem marcados por outras listras e desenhos de tinta. A primeira frase que ele falou foi: Apollo daria de tudo para ver um bebê como você. O sonho da vida dele era ser pai... Quando ele voltar ele ficará muito feliz.

Ele ao menos sabia que Apollo era o meu pai. E que ele jamais retornaria... Jamais.

Abracei seu pescoço e pousei minha cabeça em seu ombro, molhando-o com uma lágrima. Ele me segurou firme, junto ao peito e tentou sorrir. E eu sabia que ele estava apaixonado por mim...

Assim como eu já estava apaixonada por ele.

...

– Como alguém pode ser tão meloso? - Paul sussurrou nas minhas costas, desaprovando o comportamento de Quil, e colocando a mão no meu ombro novamente. Me virei disposta a argumentar mas o olhar dele em meu ombro me deixou confusa.

– O que foi? - perguntei tirando a mão dele do meu ombro.

O que é isso no seu ombro? - ele perguntou franzindo as sobrancelhas. Ele abaixou uma alça da regata e seu olhar ficou mais assustado ainda.

Dei um passo para trás por causa do cheiro dele, que estava me deixando louca, e olhei meu ombro, imitando a expressão dele se susto. Marcas profundas de mordidas estavam espalhadas pelo meu ombro, pescoço e quase indo até as costas. Elas estavam em um processo muito lento de cicatrização, pois estavam cheias de veneno de vampiro. Arfei me recordando, novamente, da noite anterior. Edward Cullen.

" O que houve aqui?!" - ouvi a voz peculiar de Embry que estava trás de Paul e também olhava meu ombro espantado. Mas, é claro, ele não havia dito uma só palavra. Estava realmente ouvindo o pensamento das pessoas...

– Quem te atacou? - Sam segurou meus ombros violentamente, esperando uma resposta. A essa altura, estavam todos a par da situação e, só pra variar, me olhando surpresos.

Abri a boca mas nenhuma palavra saiu em minha defesa, eu estava chocada. Sam examinou rapidamente as marcas e seu olhar se transformou em pura fúria.

"Vamos matá-los. Eles quebraram o tratado..." Sam pensou e logo a seguir, veio as imagens que eu nunca queria ver da mente de Sam: Uma pilha de vampiros mortos, uma pilha de Cullens mortos...


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