A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 12
Capítulo 12 - Jacob Black




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A noite passava leve e úmida. Jacob e eu estávamos sentados na grama alta, e ele me contava sobre sua vida. Apenas as estrelas iluminavam a clareira escura. 

- Sabe, perdi minha mãe cedo. Vivo com meu pai, Billy. Minhas irmãs estudam e trabalham longe, Rebecca e Rachel... Elas são gêmeas. - dizia ele, enquanto brincava com um punhado de grama.

- Então você é o mais novo. Qual era o nome de sua mãe? - perguntei abraçando meus joelhos. 

- Ela se chamava Sarah. Não me lembro muito dela, infelizmente. 

- Entendo. É difícil quando perdemos aqueles que amamos... Cada um deles, é insubstituível. - murmurei séria.

- Você fala como se soubesse a sensação. Já perdeu algum familiar? 

- Queria poder dizer que não... - fiz uma pausa, pensativa. - Perdi Apollo. Ele era um lobisomem muito forte, um herói... Meu pai. 

- Eu sinto muito. - ele suspirou. - Mas e sua mãe. 

- Não tenho mãe. - me apressei a responder. - Ela era uma qualquer, não faz diferença pra mim. 

Ele percorreu o olhar pelo meu rosto durante um bom tempo. Talvez tentasse me decifrar. 

- Ok... Parece que o assunto te machuca muito. - ele sussurrou. 

- O amor machuca. O amor que eu sentia por ele, e que permaneceu aqui, - pousei a mão no coração - É o que realmente machuca. Se eu não sentisse nada por ele, eu não sentiria dor. 

Jacob permaneceu calado, digerindo minhas palavras. De repente a noite pareceu mais fria e mais sombria, a diversão e o conforto haviam partido. Passei uma mão pelo pescoço, desconfortável. 

- Sempre o amor... - ele disse perdido em seus próprios pensamentos. 

- Mas sabe, - levantei a cabeça. - Não me arrependo de ter amado ele. Passei os melhores momentos da minha vida, ao lado dele. Ele me entendia, me escutava, me consolava, me guiava, me satisfazia... 

- Ela também... A única que me fez sentir assim. 

- Espere. - o interrompi confusa. - Não está falando de sua mãe está? 

- Não. - ele soou ofendido. - Me refiro a ... Deixe para lá. Aliás, você também não falava do seu pai, não é? 

- Na verdade... Não. Eu apenas... Falava de Max. 

- E eu falava de Bella. - ele murmurou. 

Eu não havia percebido o momento exato em que parei de falar de Apollo e mudei para meu namorado. Ultimamente minha cabeça estava muito concentrada nele. Ainda não tinha superado sua perda, e não sei se algum dia superaria. Mas, por alguma razão, Jacob despertara meu interesse, aliás, ele mencionou o nome de Isabella Swan. 

- Jacob Black... - pensei alto. - O que sempre atrapalhava Edward... Ah, não! 

- O quê? - ele ficou bravo. 

- Você é o moleque que disputa aquela menina com Edward. E você é o lobisomem. Não me diga que ficou mesmo apaixonado por aquela garota? - perguntei com desdém. 

-  Ah, eu devia ter adivinhado que você era amiga dele. - ele disse com ironia e se levantou abruptamente.

- Nada disso, eu só não entendo o motivo de duas criaturas distintas e poderosas como vocês podem se apaixonar por uma MORTAL! - gritei brava. - Ela vai morrer e os dois vão sofrer! Vocês são idiotas? 

Ele desapareceu com a distância entre nós em apenas três longas passadas e me agarrou pelos braços me chacoalhando com força. 

- Sua pirralha, você acha que escolhemos por quem nos apaixonamos? Não seja hipócrita garota!

Ele se aproximou ainda mais, para me intimidar. Seu corpo ficou a centímetros do meu, e seu rosto estava realmente perto. Sentia sua respiração irada e ofegante em minhas bochechas, e uma conhecida sensação começou a brotar de meu interior. Aquele formigamento familiar que vinha quando eu estava prestes a perder a razão e o controle de meu corpo. Queria atraí-lo para mim, senti a necessidade de encantá-lo. Aos poucos aproximei meu rosto do homem enfurecido, cedendo ao desejo profundo. 

Eu o encarava diretamente nos olhos, dissolvendo aos poucos a ira que restava neles. Senti as chamas de meu poder envolvendo-o lentamente por dentro, tornando-o vulnerável. Mas, o encanto foi rompido bruscamente com a dor que me invadiu no abdome. Pisquei várias vezes, com a consciência retornando contra a vontade. Ele também pareceu despertar e me encarava com desconfiança. Suas mãos ainda apertavam meus pulsos. E com um movimento forte eu me libertei. 

- Me solte... - ordenei sentindo a dor latejante na barriga. 

Jacob ainda me observava parado na mesma posição. Arfei com uma nova pulsação de dor. Me agaxei e dei um soco na terra, arrancando grama e fazendo um buraco fundo. 

- O que houve? - ele perguntou dando um passo em minha direção. 

- Não. Se. Aproxime. - minha voz parecia estar sumindo, mas ele ignorou a minha advertência. Ele colocou uma mão em meu ombro. 

- Por favor. Me diga pra onde - gritei de dor - fica a estrada. 

- Eu não... Não sei. - ele olhou para as árvores em dúvida. 

Olhei para seus olhos sem esperança, e o que passou pela minha cabeça foi a morte. Minha vida poderia estar correndo risco. Eu poderia morrer, pois a dor era quase insuportável. E eu, definitivamente, não queria morrer. Disparei em direção a floresta, sem rumo, apenas procurando uma saída. Tudo parecia tão igual, as mesmas árvores, a mesma grama, o mesmo céu escuro da noite. E parecia que quanto mais eu corria, mais eu girava no mesmo lugar. O desespero me fez prestar atenção nos sons. Ouvia corujas, ouvia as folhas balançando, animais maiores ao longe, e um motor de carro. Um motor de carro... Corri o mais veloz que pude na direção daquele som, enquanto a dor continuava a me punir. Minhas esperanças aumentavam conforme o som ficava mais alto. No meio da corrida fui empurrada em direção a uma árvore, tão rápido que mal entendi o que acontecia. A pessoa me amaldiçoava enquanto me prendia na árvore. 

- Sua idiota, como pôde fazer isso? Andei te procurando por todo lugar! Eu não conseguia mais te enxergar em minhas visões, eu fiquei preocupada! O que aconteceu com você?! - a voz gritava angustiada. 

- Alice... - eu sussurrei fraca. - Me leve para casa. Por favor... 

Ela me observou aflita, e assentiu com a cabeça. Me ajudou a correr por alguns metros e chegamos em um Volvo prateado parado, ainda ligado, na estrada. O carro de Edward. Ela me colocou no banco do passageiro e rapidamente entrou no banco do motorista e pisou fundo no acelerador. Agradeci em silêncio por estarmos apenas nós duas dentro do carro. 

- Sua maluca! O que aconteceu com você? Parece péssima... - ela disse preocupada. 

- A dor me atacou novamente, Alice. - ri sem humor. - Logo vai passar, mas esse round foi muito forte. 

- Ah, o que posso fazer por você? Me sinto incapacitada. 

- Não se preocupe. - gemi com mais uma pontada. - Logo vai passar, eu não vou morrer. - Afirmei com convicção, como uma forma de me confortar. 

- Não diga besteiras, é claro que não vai morrer. Devo ligar para Carlisle. - ela pegou o celular e eu a impedi. 

- Não, Alice. Já está passando. - a assegurei, mantendo-a dirigindo. 

As pontadas continuavam, irregulares, e bem fortes. Parecia que alguém puxava e esticava meus órgãos, tentando aumentá-los sem sucesso. Era bem doloroso. Meus olhos começaram a arder. 

- Você está fedendo, sem querer ofender. Por onde andou? - ela perguntou abrindo a janela do carro. 

- Andei com um amigo seu. - ri divertida. 

- Que amigo Serena? - ela riu sem entender. 

- O seu amigo lobo, Jacob Black. - respondi sem rodeios. 

- Meu Deus! Como pode? Ele veio parar quase no Canadá? - ela se surpreendeu. - Ele andou fugido da reserva Quileute. Todos por lá andam preocupados pelo que eu sei... Inclusive Bella. 

- Ele me contou sobre ela. Aliás me responda, o que ele tem com ela? - perguntei me agarrando ao banco de couro, prevendo mais uma pontada. 

- Bem, eles eram grandes amigos, mas parece que para ele, ela é bem mais do que isso... - Alice deduziu. 

- Eles já ficaram juntos antes? - perguntei. 

- Acho que sim... Na verdade foi ele quem a beijou. Edward sabe e reagiu bem, devido as circunstâncias. Jacob havia descoberto sobre o casamento dos dois e chantageou Bella. 

- Essa menina é pura encrenca, não é mesmo? - ri.

- Ela é legal. Apesar de causar muito ciúme em meu irmão. - ela acrescentou. 

- Não vejo nada de especial nela, tirando o fato de que ela fez duas criaturas imortais ficarem dispostas a morrer por ela. Não sei se me comovo ou se amaldiçoo essa habilidade.

- Não fale assim... Eu já disse que ela é legal. - Alice fez um beicinho e eu levantei uma sobrancelha. - Falo sério. 

- Ok... Se importa se eu dormir um pouco? - perguntei me virando de lado. - Aquele Jacob conta histórias de mais...

- Claro, eu te acordo quando chegarmos. 

Murmurei um agradecimento ininteligível, já com sono. A dor começou a pulsar de forma cada vez mais sequencial, mas o cansaço me venceu, e acabei por dormir mesmo.

Acordei devagar ao ouvir o carro ser desligado. Me espreguicei no banco do carro. 

- Chegamos Dorminhoca Fujona. - Alice sorriu. 

- Bla bla bla... - eu ri ainda sonolenta. 

Saímos do carro e subimos o pequeno lance de escadas que dava para a porta principal. Eu estava tonta, minha cabeça e meu estômago giravam como uma bailarina. 

- Ah, quase me esqueci. Bella está em casa. - Alice informou quando abriu a porta. 

- Oh, você chegou! - Esme me abraçou na soleira da porta. - Alice não podia te achar... 

- Estou perfeitamente bem, só fui dar uma volta. - assegurei a ela. 

- Onde ela estava Alice? - Carlisle perguntou desconfiado. 

- Fronteira com o Canadá, no meio da floresta. Parecia estar perdida. - Alice não omitiu nada. 

- Ei! Grande irmã você é... - dei uma cotovelada na vampira baixinha. - Fica me dedurando por ai. 

- Sinto muito, apenas sigo ordens... - ela disse a frase do ator principal do nosso filme de ação preferido: "Amante de Elite". Não pude evitar rir. Meus órgãos pareciam estar dormentes, tudo parecia flácido e mole dentro de mim, a dor continuava. 

- Sua pirralha baixinha e sem noção! - Emmet veio correndo da escada e me abraçou forte, me suspendendo no ar. - Como pode fugir de mim sem antes dizer que me ama? 

O ar mal conseguia chegar aos meus pulmões, com o abraço de urso. Minha cabeça balançava ainda mais. O cheiro dele entrou em minha mente, limpando-a e preenchendo-a com ele. Não sei se posso explicar, mas eu até conseguia sentir seu gosto. Sua camisa vinho parecia tão macia ao toque, seu corpo grande e musculoso de repente me pareceu irrecusável.Seus braços que me apertavam pela cintura como garras de um imenso predador, me deixaram fascinada, de repente. A voz de Emmet parecia tão distante, mas mesmo assim parecia estar chamando meu nome. Chamas invisíveis queimavam dentro de mim, e eu percebia que elas começavam a sair em busca do corpo dele, enquanto eu, inconscientemente, o abraçava e o envolvia em meus próprios braços. Novamente era o feitiço querendo dominar o feiticeiro; Meu desejo, querendo sobrepor minha racionalidade. 

Eu comecei a mover minha cabeça para trás, a fim de encará-lo nos olhos e submetê-lo ao meu poder, mas uma palavra dita por Rosalie abriu uma luz no meio de meus devaneios. Desprendi-me de Emmet tão rapidamente quanto me juntei à ele, e ninguém pareceu perceber essa minha recaída momentânea. 

- Desculpe. O que foi que você disse Rose? - perguntei um pouco confusa. 

- Disse que está fedendo a cachorro molhado. - ela repetiu em tom natural e rabugento. 

- É mesmo! Andou visitando o chiqueiro, Baixinha? - Emmet concordou tapando o nariz teatralmente. 

- Desculpem-me, andei escutando algumas histórias de... - falei mais Alice me interrompeu. 

- Histórias de Pessoas que andam na chuva, não é mesmo, Serena? - ela me cortou, impedindo-me de mencionar Jacob. E claro, eu entendi a indireta. 

- Exatamente. Dizem que dá sorte no amor andar na chuva durante a noite. - inventei brincando. Todos riram. 

- Sempre arranjando problemas né? É falta de uma surra bem dada... - brincou Emmet. 

- Duvido você me pegar, então, Grandão! - disse e corri desajeitada pela casa, com Emmet atrás de mim. Ele gargalhava alto. 

- É claro que vou te alcançar, está correndo como um pato! Cuidado para não tropeçar no próprios pés!

- Vai se catar Emmet! - gritei e o deixei me alcançar, meus órgãos dormentes não me permitiam fazer mais nada. Nós riamos um do outro. 

- Alguém disse algo sobre tropeçar nos próprios pés? - uma voz veio da escada. 

- A Rainha dos tropeços... Até que enfim. - Jasper riu formalmente. 

- Olá, Bella! - saudei, pendurada no ombro de Emmet, de ponta cabeça. - Como vai? 

Ela estava parada na base da escada, com Edward a envolvendo pela cintura. Ambos riam casualmente. Bella me cumprimentou também, ela parecia feliz, enquanto Edward ficou sério e desviou o olhar. Meu sorriso também desapareceu, e Emmet me desceu de seu ombro. 

- Nossa como está radiante, Bella. - mencionei sincera. Ela apenas riu sem graça. Semicerrei os olhos com um meio sorriso sádico nos lábios. Rosalie se aproximou e sussurrou alto em meu ouvido: 

- Não se surpreenda, eles não moveram um dedo durante a noite toda. 

Eu e Emmet rimos juntos. Bella ficou furiosamente corada, e Edward lançou um olhar indecifrável à Rose. 

- Bem, então... Eu já vou indo. - Bella sussurrou para o noivo, dando-o um selinho. 

- Eu te levo. - ele se voluntariou.

- Não precisa Edward. Estou de carro. - ela disse amargurada. - Ficarei bem. Eu te amo. 

- Também te amo. - ele respondeu enquanto a acompanhava até a porta e a via partir.

Jasper, eu e o Grandão já estávamos deitados no sofá assistindo a tv, um jogo dos Lakers. Minha barriga doía a cada movimento. Eu me punia, me amaldiçoava, me xingava, me desprezava mentalmente, sentia nojo de mim mesma pelo  atentado ao meu querido Grandão. Era horrível, pensar na hipótese de seduzir meu amigo, meu irmão. Não era possível que logo naquele momento em que as coisas estavam tão bem, eu perdesse o controle de mim mesma! Isso era inaceitável. Conversamos por algumas horas, todos nós. Eu não falava diretamente com Edward. Estava com medo de voltar a me exaltar novamente... As palavras dele ainda estavam entaladas em minha garganta. Pedi licença a todos e fui para meu quarto, já não resistindo mais ao cansaço e ao sono. 

Arrumei minha cama, coloquei uma calça de moletom vermelha (com desenhos tribais de veludo negro) e um top (também de veludo negro) bem confortável que pertencia ao conjunto do pijama. Respirei fundo me olhando no enorme espelho do banheiro. Eu estava com o cabelo um pouco úmido, a pele bronzeada, e meus olhos estavam verde escuro, eu me sentia poderosa; um pouco enlouquecida . Coloquei ambas as mãos na barriga, em cima de onde doía, a dor parecia ter se expandido pelo tronco inteiro. A pele estava quente no lugar em que toquei. Uma forte vertigem me atingiu, seguida de outra rodada de dores insuportáveis. Agarrei as duas mãos na borda da pia e arfei. Trinquei os dentes para não gritar, sentia meus órgãos sendo repuxados e torcidos novamente. Ouvi duas batidas na porta e me assustei. 


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Notas finais do capítulo

Bem, este capítulo e o próximo, em minha humilde opinião, são os mais marcantes até agora...



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