O Filho De Ártemis escrita por Marina Leal, DiasLuiza


Capítulo 3
A verdade


Notas iniciais do capítulo

Que bom que estão gostando! Aproveitem o cap!

Marina falando aqui, bom, eu não sei o ponto de vista de todos, mas sinceramente, o meu é que Ártemis não ia simplesmente romper o juramento por se apaixonar, então a minha mente maluca deu um jeitinho dela ser mãe dele sem precisar estar com um homem.



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Caleb ficou parado, era como se tivesse ouvido aquilo e sua cabeça tentasse processar as palavras daquela mulher em sua mente e se recusasse a acreditar naquilo ao mesmo tempo.

– Quem é você? – Foi a primeira coisa que saiu de seus lábios e que estava correndo a curiosidade dele desde o momento que havia acordado.

A mulher sorriu, mas o gesto não acalmou Caleb, pelo contrário, o deixou ainda mais nervoso. Ele olhou para sua mãe, mas ela olhava para a outra mulher.

– Sou Ártemis, a deusa da caça e da lua. – Ela disse quando ele voltou a olhar em seus olhos. – E sua mãe.

– Não. – Ele disse dando um passo para trás no mesmo momento, a negação não era apenas para a mulher parada à sua frente, era para a sensação de que ela estava falando a verdade e ele não podia aceitar isso. – Não.

Ela suspirou e Caleb olhou para a mãe em desespero.

– Ártemis é sua mãe, Caleb. – Ela falou e se aproximou lentamente dele, que pôde enfim notar a diferença que tanto procurava, sua mãe tinha orelhas ligeiramente pontudas e seus olhos estavam tingidos de verde, não de vermelho, de tanto chorar.

Como ele não havia notado antes?

– Com certeza você pode ver a semelhança entre nós. – A mulher, Ártemis, disse interrompendo sua confusão mental e ele concordou com a cabeça, ainda olhando para o rosto de elfo de sua mãe.

– Mas como? – Caleb perguntou. – Nos mitos gregos é dito que você é uma deusa virgem, assim como Atena e Héstia. Como poderia ser minha mãe se é virgem?

O olhar da deusa faiscou com irritação por um momento, antes de mudar para compreensão.

– Eu deveria ter imaginado que seu sangue falaria alto. – Ela disse e Caleb não sabia dizer se aquilo era um olhar de orgulho ou não. – A mitologia lhe atrai naturalmente, não é?

Caleb assentiu e a mulher sorriu levemente e surpreendentemente deu as costas a eles.

– Venham comigo. – Ela disse para Caleb e Layla enquanto se encaminhava para as árvores.

Ele hesitou em ir atrás dela por um momento, mas como sua mãe a seguiu, Caleb não teve muita escolha senão ir também. Eles não foram muito longe e se depararam com uma tenda prateada armada no círculo de proteção das árvores.

Seu queixo caiu até que ele sacudiu a cabeça e seguiu sua mãe para dentro da tenda. Apenas para ficar em um estado de choque maravilhado, em toda a tenda estavam esticadas peles de animais de todos os tipos, dos mais raros aos mais comuns.

Mas a peça que retirou seu fôlego não era a pele de um animal. Era um arco de prata, lindamente esculpido de forma que parecia chifres de gazela e naquele instante ele se convenceu que aquela era a deusa Ártemis, realmente.

– Sente-se Caleb. – A deusa disse e ele voltou seu olhar para ela.

Deus, aqueles olhos o assustavam.

Ele notou que ela havia se acomodado em algumas almofadas próximas a uma pequena fogueira no meio da tenda. Ele fez o que ela pediu e sentou-se em frente a ela.

Ela o encarou por um momento antes de falar:

– Você não seria um semideus se eu não tivesse interferido, mas teria convivido com mitos por sua vida inteira. – Ele franziu a testa.

– Como assim? – Disse demonstrando sua confusão.

– Talvez deva contar a ele, minha senhora. – Disse sua mãe olhando para Ártemis. – Desde o princípio.

A deusa assentiu com os olhos ainda presos no rosto de Caleb, que se moveu desconfortável.

– Muito bem, não tenho prática em lidar com filhos, pois nunca tive outro antes de você, me desculpe seu eu parecer um pouco fria ou deixar sua cabeça mais confusa, ainda preciso me acostumar com isso. – Disse buscando os olhos dele que pensou “Nem me fale”, mas não disse nada. – Há 42 anos atrás, eu tive uma Caçadora que quebrou seu juramento. Seu nome era Betanny Marie Steven e ela era mortal.

Caleb permaneceu quieto enquanto a deusa fitava o vazio por um instante, como se organizasse os pensamentos, antes de voltar a olhar para ele.

– Ela se apaixonou. – Ártemis respondeu a pergunta silenciosa presente nos olhos dele. – E como regra geral, minhas Caçadoras não podem ter envolvimento com homens, exatamente igual a mim. Ela não podia mais me acompanhar em minhas aventuras. Mas como ainda era virgem eu arrumei uma família para ela, um último favor por todos os anos que ela havia dedicado a mim.

A mente dele começou a dar voltas e mais voltas, mas se obrigou a permanecer de boca fechada enquanto ela continuava com a história. Ele parecia mais auto-consciente de sua própria existência, como se sua vida fosse uma espécie de crime.

– De tempos em tempos eu e algumas de suas antigas companheiras íamos visitá-la, até que eu parei com as visitas. – A deusa suspirou tristemente. – Foi um rompimento difícil, mas, um dia ela teria que viver sem mim. E por algum tempo me mantive afastada, mas por algum motivo eu me tornei curiosa pela vida dela e um dia fui vê-la, sozinha, e ela me contou que estava grávida e que o pai da criança havia morrido. Seu nome era John Erik Cooper, eu pesquisei e descobri que ele também era mortal.

Caleb se sentiu estranhamente vazio com aquela notícia. Seu pai estava morto. Nunca iria conhecê-lo.

– Três meses depois de minha última visita à sua mãe mortal, Caleb, eu a procurei novamente, mas recebi a notícia que ela estava internada em um hospital. – A dor na voz dela era tão profunda que Caleb desejou com todas as forças poder removê-la de dentro da deusa. – Apareci no hospital e a encontrei, quase morta, em um quarto. Por algum milagre você ainda estava com ela. Assim que me viu pareceu ter tomado uma decisão. Estendeu a mão em minha direção e eu a segurei, sua voz estava fraca, mas eu consegui distinguir suas palavras.

Ela parou por um momento e olhou para o fogo, seu rosto estava rígido pelas lembranças, seu olhar voltou para ele.

– “Minha senhora”. Ela disse para mim e quando tentei silenciá-la, sua mão apertou mais forte a minha e o seu pedido final foi feito. – A deusa falou fixando seus olhos dourados nos dele. – “Salve meu bebê, senhora. A vida dele lhe pertencerá, se torne a mãe dele em meu lugar e na hora certa conte a ele a verdade. Salve-o, eu sei que você pode!”.

Caleb estremeceu tentando imaginar a cena, a deusa apertando a mão de sua mãe, que pedia com suas últimas forças para salvá-lo.

– Eu estava em choque, meu filho, entenda. Ter um filho contraria o juramento de virgindade que eu fiz, mas também, eu não havia tido contato com um homem, não seria um filho nascido da luxúria e da submissão, mas sim da compaixão. – Ela disse. – E como ela havia sido uma excelente caçadora, eu desejei salvar a criança. – A deusa deu um leve sorriso em seguida fez uma careta e Caleb quase riu. – Decidi rapidamente salvar o filho de Betanny, mas havia um problema: Como eu faria isso? – Ela sorriu e inclinou a cabeça levemente para o lado. – Então pensei em como minha irmã Atena veio ao mundo, meu pai engoliu a mãe dela e Palas nasceu meses depois, saindo da cabeça partida de meu pai.

Caleb abriu a boca para falar algo, mas fechou novamente enquanto tentava entender os sentimentos mistos que passavam em si, pois já tinha uma boa ideia do que Ártemis fez para se tornar sua mãe e, se fosse isso, em teoria ela não havia quebrado seu juramento. Ela nunca se envolveu com um homem e havia tido um filho mesmo assim.

– Não engoli sua mãe. – Ela falou calmamente. – Mas não sei se vai querer que eu explique como concebi você sem fazer isso.

Caleb considerou por um momento.

Eu quero saber? Pensou tentando descobrir. Talvez, nesse caso seja melhor imaginar que saber. Uma voz respondeu no fundo de sua mente.

Ele se balançou lentamente para frente e para trás. Ele imaginava o que ela havia feito, e a ideia era repulsiva o suficiente para que ele preferisse manter aquela parte da história em sigilo.

– Não... Senhora. – Respondeu por fim. – Mas... Por que não me contou ou procurou antes? Por que agora? E por que não estou mais seguro?

A deusa o estudou brevemente, considerando as questões justas que ele fazia, mas a verdade o assustaria, então ela decidiu por continuar com a história, não estava surpresa por ele não pedir mais detalhes.

– Quando você nasceu. – Ela disse e Caleb franziu a testa para a evidente resposta evasiva de suas perguntas. – Layla me ajudou... E Atena. Ela foi a única a quem tive coragem de recorrer e entendeu minha escolha. Deixei você com Layla, por ser um garoto, não pude manter você comigo, se fosse uma menina, na idade certa eu juntaria você à Caçada e ninguém, além de Atena, Layla e as Moiras, saberia de sua existência.

Caleb suspirou, além de ser o filho de uma promessa quebrada e precisar ser mantido escondido, não podia ficar perto de sua mãe, devido a uma escolha dela.

– Me perdoe meu filho, se eu não tivesse interferido, você não existiria. – A deusa disse e ele pôde sentir a tristeza e talvez o arrependimento em sua voz. – Ou talvez fosse apenas um adolescente normal, mas nunca saberemos, e agora, temo ter detonado tudo o que construí para você, pois agora que sabe o que é, os monstros virão atrás de você.


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Notas finais do capítulo

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