Enquanto seguiam para o Olimpo, Caleb decidiu que nunca mais pegaria carona com Zeus enquanto vivesse. O deus havia convocado alguns pégasos cinzentos e os atrelou à biga.

Uma coisa sobre esses pégasos: Os animais voavam a uma velocidade alarmante.

- Como você conseguiu quebrar as correntes? – Iole perguntou de repente para ele e parecendo um pouco enjoada, Caleb não a culpava.

- O sangue de Zeus as corroeu como uma espécie de ácido, mas ele ainda estava preso dentro da própria mente, usei a corda como uma espécie de, hum, ligação com a mente do Lord Zeus. Quando cortei a ligação da mente com o sonho, ele despertou. Aprendi isso no acampamento. – Caleb deu de ombros como se não fosse nada demais e tentando conter a própria náusea. – O truque é fazer o sangue do deus cooperar com você, afinal é extremamente mágico.

- Obrigado moleque. Sou grato a você. – Zeus falou, então olhou para Iole com um quê de raiva e de orgulho, talvez. – Quanto à menina, tenho que me reunir com o conselho para saber qual será o destino dela.

Iole suspirou.

- O senhor não poderia simplesmente me matar agora? – Zeus pareceu ponderar a pergunta.

Caleb prendeu a respiração. Afinal, o que ela estava fazendo? Ainda estava viva. Não seria melhor mantê-la assim pela maior quantidade de tempo possível?

- Admito que adoraria matar você criança, mas as Moiras decidiram que você devia viver até hoje, então ainda deve ter alguma utilidade para elas, e além disso, tenho que dar a Hera uma oportunidade de se explicar. Ou pelo menos tentar. – O deus falou entre os dentes e olhou para frente, algo no que ele disse não convenceu Caleb completamente. – O resto da minha família acha que não sou sensato, mas estão extremamente enganados. Apenas tenho problemas com meu temperamento, só isso.

Caleb não sabia como responder a isso, nem Iole, então ficaram o resto da viagem em silencio, o que não foi muito, pois poucos minutos depois o senhor dos céus pousava a carruagem em um piso de mármore tão branco que parecia reluzir.

Caleb olhou em volta e não conseguia acreditar no que estava vendo, esqueceu-se completamente que há poucos minutos estava completamente enjoado. Trocou um rápido olhar com a garota ao seu lado e viu que ela também estava surpresa com o que via.

Uma cidade grega nova em folha se estendia à frente deles, com fontes, templos, jardins e muito mais além do que os olhos podiam ver. E tudo rebrilhava em branco e prata, mas Zeus não parecia disposto a deixar Caleb e a garota observarem mais detalhes do lugar.

Desceu da biga e alguns dos moradores se aproximaram, tomaram as rédeas dos pégasos enquanto o deus se afastava dali. Caleb notou que havia algumas ninfas e sátiros ao redor.

- Andem semideuses. – O deus falou em um tom contido, porém claramente era uma ordem para que se apressassem. – O conselho precisa se reunir e vocês serão a primeira pauta.

Caleb pegou a mão da garota e seguiu Zeus.

O senhor dos céus arrancava muitos olhares das ninfas e deusas menores por quem passava, mas não parecia prestar atenção enquanto subiam os degraus de pedra que levava a um palácio maior que todos os outros. A sala dos tronos. Supôs Caleb e sentiu seu estômago se contorcer em nervosismo.

Enquanto passavam Caleb notou o olhar de alguns dos moradores do Olimpo para ele e a garota ao seu lado, alguns pareciam tensos ou preocupados, outros surpresos e até mesmo admirados.

Quando entraram pelas portas duplas de ouro maciço, Caleb soltou uma exclamação baixa. A sala era enorme, caberia com folga quatro estádios de futebol, com estacionamento incluso. Era exatamente a mesma sala que viu em seus sonhos.

Mas o mais impressionante eram os seres que estavam ali, embora todos estivessem discutindo em altas vozes. O garoto tentou distinguir cada deus, mas era um tanto complicado. Ele viu sua mãe, uma menina, porém em tamanho gigante. Conseguiu visualizar Atena rapidamente. Ele notou que todas as deusas usavam vestidos em estilo grego e sandálias, mas todas pareciam lindas. Os deuses do sexo masculino estavam discutindo entre si, mas Caleb não sabia dizer quem era quem.

Todos os olimpianos estavam na forma gigante e brigavam entre si, mas quando viram Zeus e os dois semideuses parados nas portas, todos voltaram para seus devidos lugares em seus tronos em silencio mortal.

Caleb olhou ao redor e viu sua mãe, ela fixou sobre ele aqueles olhos dourados por algum tempo, então sorriu levemente, o garoto não conseguiu se conter e retribuiu o sorriso.

- Eu, Zeus, Lord dos céus. Declaro que esta seção do conselho está iniciada. – Disse o deus que já havia assumido a mesma forma que os outros deuses e sentava-se em seu trono. Parecendo muito melhor que antes.

Os deuses apenas o encararam e depois curvaram a cabeça. Caleb notou que a deusa do lado de Zeus não tirava os olhos de Iole.

- Aproximem-se semideuses. – Ele falou apontando para Iole e Caleb, que se aproximaram bem devagar pelo espaço central que ficava entre os tronos. Ele podia sentir o cheiro de ozônio no ar ao redor deles, apertou levemente a mão da garota para acalmá-la, mas seus próprios dedos tremiam.

- Conte-nos o que aconteceu durante sua missão semideus. – Zeus falou quando Caleb ergueu os olhos para encará-lo.

- Fala Caleb. – Ele ouviu a garota atrás dele murmurar e soltar sua mão.

Então Caleb contou, tudo o que passou até o momento que libertou Zeus, até mesmo sobre Iole, o que causou uma pequena comoção entre os deuses.

- O que você fez Hera? – Um deles perguntou parecendo ultrajado, mas Caleb não tinha curiosidade suficiente para olhar quem.

- Não a julgue. – Era a voz de Ártemis e o garoto sentiu um calafrio na espinha. – Talvez Lady Hera tenha arranjado um modo de ter a menina sem se envolver com um mortal. Se há alguém aqui com esse direito é ela.

- E nesse caso ela não teria traído Zeus, no sentido literal da palavra. – Completou outra deusa, e Caleb poderia jurar que esta era Atena.

- Isso não importa! – Falou outro deus. – As duas crianças não podem ficar vivas!

Caleb estremeceu ao som dessas palavras, parecia que esse deus em particular estava mais do que disposto em matá-los ele mesmo.

Então Zeus olhou para a esposa e todos se calaram novamente.

- E como você explica essa menina ser sua filha? – Ele perguntou parecendo zangado.

A deusa não se encolheu como Caleb teria feito, na verdade ela se endireitou no trono, lançou um olhar de aviso para Caleb e Iole e contou a todos os deuses sobre as condições de como havia dado a luz à Iole.

Sobre o casal que havia pedido a ela um meio de salvar a filha de ambos e como poupou a vida da menina por ter se agradado da vida que ambos tinham juntos. Como a escondeu dos outros deuses e que quando viu a oportunidade de tirá-la da obscuridade, a aproveitou. Era impossível não notar o carinho que a deusa tinha em relação à semideusa.

- Eu só quero pedir que poupem a vida de Iole, mesmo que isso custe a minha, poupem a vida dela. Por favor – Caleb disse quando a deusa parou de falar sobre Iole.

Olhou ao redor e alguns deuses pareciam desconfortáveis, mas quatro deusas olhavam com ar de aprovação ao pedido dele. Eram elas: Ártemis, Atena, Afrodite e Hera. Sendo que a última parecia muito grata também.

Ele ouviu um gritinho de: “Ai! Que romântico!” que fez suas bochechas arderem.

Zeus olhou ao redor, os deuses pareciam divididos em seu interior sobre como proceder com aquele assunto. Claramente temiam ofender Hera, pois sabiam que a rainha dos deuses poderia tornar suas vidas um verdadeiro inferno caso matassem sua única filha. Mas não apreciavam a ideia de dois semideuses que não deveriam existir.

- Quem acredita que esses semideuses devem permanecer vivos? – Caleb ouviu o deus perguntar depois de refletir por um momento o pedido dele.

Nove mãos se ergueram no ar. (Poseidon, Deméter, Atena, Ártemis, Afrodite, Hefesto, Hades, Hera e Hermes) e Caleb conteve um suspiro de alivio, claramente a maioria.

- Muito bem. Temos uma maioria. Os semideuses Caleb Steven e Iole Jones permanecerão vivos até segunda ordem. – Zeus falou em tom definitivo ao olhar para os outros deuses.

Quando Caleb percebeu que estavam prestes a ser dispensados ele lembrou de algo.

- Ah, Lord Zeus? – Ele chamou timidamente e o deus voltou seus olhos para ele. – Temos dois amigos a quem ainda temos que prestar nossa ajuda, Alícia, filha de Hermes e Steve, filho de Deméter, o senhor poderia...? – Ele não concluiu a pergunta.

O deus coçou a barba por um momento, parecendo um tanto surpreso com o pedido do garoto, então murmurou um “está certo”, acenou com a mão, tudo escureceu e o mundo virou de cabeça para baixo.